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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Penny Jordan. Todos os direitos reservados.

CONQUISTADA PELO XEQUE, N.º 1125 - Novembro 2012

Título original: Taken by the Sheikh

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1337-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

– Portanto, as negociações correram bem, não foi?

Drax franziu o sobrolho e fechou os olhos arrogantes sobre o igualmente arrogante nariz aquilino. Embora o seu irmão o tivesse recebido com o seu habitual calor no seu regresso ao pequeno emirato árabe que governavam juntos, Drax tinha a sensação de que o seu irmão gémeo, Vere, tinha alguma coisa na cabeça que não lhe contara.

– As negociações em Londres correram muito bem – confirmou.

Vere e ele governavam Dhurahn juntos há quase uma década. Tinham acedido ao poder precisamente depois do seu vigésimo quinto aniversário, depois da morte dos seus pais num acidente de carro, numa visita de estado.

Apesar da sua proximidade, nunca tinham falado sobre aquele momento terrível: a perda do seu pai, forte e impulsivo, e da sua bela mãe irlandesa. Não existira necessidade. Ao serem gémeos, tinham compreendido os sentimentos do outro de modo instintivo. Fisicamente eram idênticos, mas no que se referia às suas personalidades, às vezes, Drax achava que eles eram as duas partes que compunham uma peça: partilhavam as mesmas bases, mas ambos manifestavam um desejo de conduzir a sua vida partilhada por caminhos diferentes.

Drax viera directamente do aeroporto para a sala privada de reuniões do seu irmão, sem sequer se preocupar em passar pelos seus próprios aposentos para mudar de roupa. Portanto, enquanto Vere estava vestido com a tradicional túnica azul-escura bordada a ouro e usava a cabeça coberta, Drax vestia um elegante fato azul. O casaco aberto deixava ver uma camisa branca bem engomada e uma gravata discreta de seda vermelha.

Apesar de os seus modos de se vestirem não poderem ser mais diferentes, o aspecto físico, magnífico e idêntico, de ambos causava impacto.

Os dois eram altos e de ombros largos, com os mesmos olhos verdes ligeiramente fundos e o mesmo perfil de predador. O seu sangue berbere, misturado com o francês e depois irlandês, tinha-lhes conferido uma aura de poder e sensualidade que ia muito mais além da simples beleza, o que teria sido perigoso num homem. Quanto mais em dois de força imponente.

– Ambos sabemos que não somos o único país do Médio Oriente que quer estabelecer-se, não só como o centro financeiro árabe com maior reconhecimento mundial, mas com boas relações com o resto dos centros financeiros do planeta. Dos diferentes contactos que estabeleci em Londres, fiquei com a sensação de que somos a opção favorita. Deixei claro que Dhurahn está preparado para oferecer um enclave de cinquenta hectares de terreno para construir os edifícios necessários para desenvolver o projecto e que favorecemos o uso do código comercial inglês pelos seus princípios de justiça e igualdade. Também disse que prevemos alcançar um nível de transacções semelhante ao de Nova Iorque, Hong-Kong ou Londres com uma segurança jurídica que permitirá que os investidores possam confiar. Mas já chega de falar do que se passou em Londres, Vere. Tens alguma coisa em mente.

Vere arqueou um sobrolho como reconhecimento silencioso da astúcia do seu irmão.

– Sim – admitiu. – Temos um problema.

– Que problema?

– Enquanto estavas em Londres, entraram em contacto connosco o soberano de Zuran e o emir de Khulua.

Drax esperou. Não havia nada de estranho em os seus vizinhos mais próximos entrarem em contacto com eles, tinham boas relações. Dhurahn não tinha as grandes reservas de petróleo de que desfrutavam aqueles dois países, mas um longo rio tornava as suas terras férteis e ricas, e transformara-se no celeiro que fornecia produtos frescos a Zuran para o seu crescente sector turístico. Os anos de batalhas ensanguentadas sobre as areias do deserto tinham ficado para trás e as gentes de Dhurahn viviam em paz com os seus vizinhos, desfrutando de uma prosperidade que beneficiava todos.

Mas certos métodos tribais de garantir a paz ainda se mantinham.

– Ambos, o soberano e o emir, não se sabe como, ouviram rumores dos nossos planos – disse Vere, num tom seco. – Não é que me tenham dito muito, mas é evidente porque estão, de repente, tão interessados em consolidar as actuais boas relações que temos.

– Isso é o que estás a contar-me... Mas o que é que não estás a contar-me? – exigiu Drax, consciente de que o seu irmão escondia alguma coisa. – Manter boas relações com os nossos vizinhos parece ser uma coisa lógica...

– O que os dois querem falar connosco é de casamentos.

– Casamentos? – Drax franziu o sobrolho.

Tinham trinta e quatro anos. Um dia, é claro, ambos se casariam, escolhendo as suas esposas, pensando no futuro do país, mas esse momento ainda não tinha chegado. Antes, havia coisas mais importantes para fazer: estabelecer Dhurahn como o centro financeiro mais potente da região.

– Os nossos casamentos – repetiu Vere, sério. – O teu com a filha mais velha do emir e o meu com a mais nova do soberano.

Olharam um para o outro.

– Esses casamentos estreitariam os nossos laços com os dois países, e o seu desenvolvimento também ficaria vinculado ao de Dhurahn – assinalou Drax. – Estamos entre os dois países e damo-nos bem com ambos, mas há aspectos com que eles não concordam. O emir nunca aprovou a decisão do soberano de aumentar o desenvolvimento de Zuran na indústria turística. Agora, nós mantemos o equilíbrio de poder entre eles e, em muitos sentidos, a nossa posição é a mais forte.

– E, por muito que não o admitas, o emir está ciumento do sucesso financeiro de Zuran e ansioso por o igualar. Se acedermos à sua sugestão, ambos tentarão utilizar os vínculos familiares para exigirem maiores alianças e apoios, e acabarão por conseguir o nosso poder. Não podemos permitir que isso aconteça. Além do mais, teoricamente poderá chegar uma altura em que a nossa lealdade mútua a Dhurahn poderá entrar em conflito com a lealdade exigida pelas nossas esposas e as suas famílias.

– E, se não acedermos, arriscamo-nos a ofender tanto o emir como o soberano e podemos chegar a ter más relações com ambos. E não podemos permitir-nos isso. Acabaria com os nossos planos de estabelecer Dhurahn como o centro financeiro e comercial da zona.

– Sim.

– Não podemos deixar-nos manipular assim – disse Drax, zangado, passeando pela sala.

– Nenhum dos dois quer ver-se preso aos nossos vizinhos por um casamento – reconheceu Vere. – Dhurahn tem de ser governado a pensar no seu próprio futuro e é nosso dever garanti-lo.

– Mas, como tu dizes, se recusarmos, arriscamo-nos a ofender dois homens muito poderosos – disse Drax. – A menos, é claro, que lhes digamos que rejeitamos a sua oferta porque já temos outro compromisso matrimonial. Desse modo, deixariam de nos pressionar e não se sentiriam ofendidos.

– E quando descobrissem que não vamos casar-nos?

– Têm de descobrir? – perguntou Drax, mantendo a frieza. – Ambos sabem que a tradição da nossa família é tomar uma única esposa. Também não é uma missão impossível encontrar duas mulheres, as mulheres adequadas, com as quais possamos casar-nos e depois...

– As mulheres adequadas?

– Sabes ao que me refiro – Drax encolheu os ombros. – Do tipo descartável: moralmente decentes, para que possam ser aceites e o suficientemente ingénuas para acederem a um divórcio sem muita publicidade e por um pouco de dinheiro.

– Oh, desse tipo! – exclamou Vere, cínico. – Uma virgem inocente, disposta a apaixonar-se por um xeque e tão agradecida por ele se casar com ela que aceitará um divórcio sem pedir um tostão. Achas que isso ainda existe? Eu acho que não – disse, seco, a Drax. – Claro, se a encontrares, casar-me-ei sem colocar nenhum problema, mas ambos sabemos que esse tipo de mulheres que aceita um casamento breve não costuma ser a virgem que a nossa gente espera. A realidade é que é mais provável que sejam umas aventureiras que exigirão uma quantia exorbitante para participarem no casamento temporário e que venderão a história assim que possam. E esse tipo de atenção mediática não é a que precisamos para sermos vistos no mundo como homens íntegros – abanou a cabeça. – Não, Drax, parece a solução perfeita para o dilema, mas acho que é impossível encontrar sequer uma mulher assim tão perfeita, quanto mais duas... Além disso, suficientemente depressa para acabar com as exigências do emir e do soberano de que nos casemos com as suas filhas.

Os olhos de Drax brilharam.

– É um desafio, mano?

– Sei que é melhor não te desafiar, Drax – disse Vere, entre gargalhadas, – mas se conseguires encontrar essa mulher...

– Duas mulheres – corrigiu Drax. – Prometo-te que as encontrarei, Vere. E tu terás a primeira.

– Hum... – Vere não parecia muito convencido. – Muito bem, mas entretanto, a única maneira de mantermos os nossos vizinhos afastados é continuarmos a negociar com o soberano e o emir sem nos comprometermos com nada. Convidaram-nos para uma visita não oficial a Zuran – continuou Vere. – E acho que devias ser tu a ir, Drax.

– Achava que o soberano te queria a ti para a sua filha, dado que és o mais velho – disse Drax, ardiloso, – mas queres que eu vá como táctica dilatória. Porque não? É verdade, querem falar contigo em Londres – disse. – Disse-lhes que estarias disponível assim que eu chegasse a Dhurahn.

– Um dos benefícios de governarmos os dois: pode estar sempre um aqui e o outro onde faça falta.

– Mas és tu quem prefere ficar aqui no deserto – assinalou Drax. – Eu agradeço por ter de ir cuidar dos nossos negócios em qualquer sítio.

– Uma associação perfeita, construída sobre uma confiança que nada pode destruir e lealdade absoluta.

Em silêncio, apertaram as mãos e, depois, à maneira árabe, abraçaram-se com intensidade.

Capítulo 1

 

– És uma inútil! Não consigo perceber porque respondi à tua candidatura de emprego. Dizes que tens um mestrado em Gestão de Empresas e não consegues sequer fazer o mais simples que te peço.

Sadie ouvia, com a cabeça baixa, a reprimenda da sua chefe libanesa, consciente de que, se olhasse directamente para a madame Sawar, notaria a hostilidade que havia no seu olhar. E Sadie não podia permitir-se dar à madame a oportunidade de a ameaçar, como fizera tantas vezes nos últimos dois meses, de lhe reter os salários que ainda lhe devia.

Ser acusada tão injusta e vingativamente era bastante mau, mas ter de permanecer ali de pé e receber uma reprimenda, num tom de voz suficientemente alto para que o resto dos empregados da casa Sawar pudessem ouvi-la, era muito pior. Era típico da sua patroa, reconheceu Sadie, ter escolhido o momento em que desfrutava do seu tempo livre para comer nos jardins do edifício de estilo tradicional de Zuran. Sadie sabia perfeitamente que, embora não conseguisse vê-los, a maior parte do pessoal estaria escondida entre as sombras do edifício a ouvir a reprimenda.

Também não teriam podido evitar ouvi-la com os gritos que a madame Sawar estava a dar. Inclusive, poderia ouvir-se na rua, pensou Sadie, triste. Não era a única receptora da raiva da sua patroa. Mal passava um dia sem que a madame perdesse as estribeiras com alguém.

Sadie poderia ter-se defendido das acusações injustas, é claro, e ter-lhe dito que, para além do mestrado, se doutorara com distinção. E poderia ter-lhe dito também que, por muito que a madame se arrependesse de a ter contratado, ela arrependia-se muito mais de ter aceitado o emprego. Mas a verdade era que não podia permitir-se perder o emprego; a sua patroa tinha-lhe retido o salário desde que começara a trabalhar.

– Não tenho razão para carregar semelhante peso morto na minha empresa. Estás despedida!

– Não pode fazer isso! – exclamou Sadie, forçada pelo pânico a entrar no confronto verbal que queria evitar.

– Achas que não? Garanto-te que posso. E não penses que sairás daqui e arranjarás outro emprego – disse a madame. – Não conseguirás. As autoridades de Zuran impõem penas severas aos ilegais que tentam tirar o emprego à população local.

Ilegal! Sadie já não tinha outro remédio senão defender os seus direitos.

– Não estou ilegal! – protestou. – Sabe-o. Garantiu-me quando aceitei este emprego que trataria de todos os trâmites. Lembro-me de ter assinado todos os impressos... – estava a começar a sentir-se ligeiramente nauseada por causa do pânico e do calor que sentia na cabeça.

Vira-se obrigada a suportar a diatribe da madame ao sol, enquanto ela permanecia à sombra.

Sadie pôde ver um olhar de satisfação nos olhos da mulher de meia-idade.

– Não me lembro de ter dito nada semelhante. E, se te ocorrer reclamar, será pior para ti.

Sadie mal podia acreditar no que estava a ouvir. Tinha pensado que a sua situação era má, mas nem pouco mais ou menos o que enfrentava naquele momento.

Sem trabalho, sem dinheiro e sem nenhum estatuto legal em Zuran, a sua situação era realmente grave.

Seis meses de trabalho como licenciada em Gestão de Empresas num dos principais fundos de capital de risco de Londres não tinham sido impedimento para que tivesse de ceder o seu lugar ao filho da última amante de um dos membros do conselho de administração do banco. Pelo menos, eram os rumores que lhe tinham chegado. Fora mais fácil do que acreditar na explicação de um dos seus colegas de que a tinham mandado embora porque não aguentava o ambiente de testosterona em que trabalhava.

Um trabalho de alto nível e bem remunerado no sector financeiro que a teria tornado completamente independente de um ponto de vista económico, fora o seu objectivo desde a altura da universidade e desabara por causa daquela contrariedade inesperada nas suas expectativas profissionais.

Os seus pais tinham-se divorciado no princípio da sua adolescência. A sua mãe voltara a casar-se com um homem endinheirado com filhos. Quando a sua mãe tinha começado a relação com aquele que depois se tornaria o seu padrasto, ele dedicara muito tempo a Sadie, dizendo-lhe o quanto a amava como filha. Mas, assim que a sua mãe se casara com ele, mudara completamente, incutindo nela a crença de que o amor masculino, tanto o sexual como o paternal, era algo que alguns homens podiam gerir de acordo com a sua conveniência.

Depois de a sua mãe se casar com ele, Sadie crescer a suportar os comentários desagradáveis sobre a incapacidade do seu pai para a sustentar tão bem como ele sustentava os seus filhos. Sentira-se dividida entre a raiva que sentia contra os seus pais por se terem divorciado e o amor protector para com o seu pai, que também voltara a casar-se e tinha uma esposa jovem, e uma família igualmente jovem, e lhe parecera mais velho e abatido do que nunca. O seu pai não era um homem com dinheiro.

Fora o seu orgulho o que a impedira de pedir apoio económico ao seu padrasto para poder ir para a universidade e esse orgulho deixara-lhe o pesado fardo de um crédito de estudos. A perda do seu primeiro emprego supunha ter de se apresentar diante do seu padrasto e pedir-lhe ajuda, ajuda que ele dera aos seus filhos; os dois tinham tido um carro e um apartamento antes de começarem a trabalhar, e isso era a última coisa que ela queria fazer.

Ainda conseguia recordar como gozara com ela quando dissera que ia estudar Gestão de Empresas. Tinha-lhe sugerido que faria melhor em arranjar um marido rico que a sustentasse.

– Afinal – fora o seu comentário – tens a beleza... e o corpo necessários.

Sim, tinha-os, mas Sadie jurara a si mesma, quando vira o modo como o seu padrasto se comportava com a sua mãe, fazendo-a compensar na cama o seu apoio económico, que ela nunca deixaria que nenhum homem tivesse aquele tipo de poder sobre ela. Nem dentro, nem fora do casamento. E obstinara-se a essa promessa de tal modo, que acabara, sem ser o seu objectivo, por permanecer casta e sem parceiro. Para ela, a sua independência sexual e económica estavam fortemente inter-relacionadas. Os trinta anos eram uma idade muito perigosa para uma rapariga que fora testemunha de uma relação como a que a sua mãe mantivera com o seu padrasto.

Quando vira o seu actual emprego anunciado nas páginas de um jornal de distribuição nacional, entusiasmara-se tanto que tivera de repetir a si mesma que haveria centenas de candidaturas e que, certamente, não teria nenhuma hipótese.

Mas, quando Monika al Sawar a entrevistara e lhe dissera, expressamente, que queria contratar uma mulher com as suas habilitações, «porque o seu marido era o árabe típico e não toleraria que trabalhasse com outro homem», as suas esperanças tinham aumentado.

O trabalho que Monika lhe descrevera parecera-lhe perfeito, um desafio entusiasmante com muitas possibilidades de promoção. O negócio de Monika, dissera-o a Sadie, incluía o desenvolvimento de um novo complexo residencial dentro do despertar de Zuran para o turismo, a compra de propriedades naquele país e todas as operações financeiras associadas. Monika até lhe dissera que o que pretendia era uma assistente jovem e entusiasta para a formar no cargo de conselheira financeira.

Sadie ficara radiante quando lhe dera o trabalho, apesar de o prometido voo em primeira classe até Zuran se ter ficado por um em classe turística e a promessa de um adiantamento para fazer frente ao pagamento do seu crédito de estudos nunca se ter materializado.

Depois, chegara a revelação de que o alojamento que lhe tinham prometido não era um apartamento moderno num edifício novo, mas um quarto na casa al Sawar. E o que era mais preocupante, Monika retinha do seu salário as despesas de alojamento e alimentação. A difícil tentativa de Sadie de comentar a sua insatisfação com a situação tinha suposto o início das reprimendas que já se tornavam familiares da parte de Monika, enquanto continuava a reter-lhe o salário.

Sadie estava desesperada porque os recursos com que tinha chegado tinham diminuído consideravelmente, mas não permitiria que Monika se desse conta disso.

– Muito bem, então, vou-me embora – disse Sadie, calmamente. – Mas só depois de me pagar todos os salários que me deve.

O grito de fúria que a outra mulher lançou fez Sadie cambalear e deve ter sido ouvido em toda a casa.

E também na rua, onde Drax tinha estacionado o carro alugado que preferira à limusina com motorista que lhe tinham oferecido, sobretudo pela privacidade que lhe garantia. Pôs-se ao lado de Amar al Sawar. O agradável idoso fora um grande amigo do pai dos gémeos e nenhum dos dois deixava de o visitar quando ia a Zuran. Drax encontrara-o daquela vez no palácio real e aceitara, resistente, o seu convite para voltar para casa com ele. Nem Drax, nem Vere gostavam da segunda esposa do amigo do seu pai.

– Oh, meu Deus, parece que Monika está um pouco zangada! – desculpou-se Amar. – E tinha tantas esperanças de que, desta vez, ficasse com a nova assistente. Uma jovem maravilhosa. Inglesa e muito bem-educada, também uma boa rapariga. Modesta e de natureza doce.

Se realmente fosse assim, não era companheira para Monika, pensou Drax.

– Não consigo entender porque uma mulher tão bonita decidiu trabalhar em vez de se casar. Se eu tivesse um filho, seria exactamente o tipo de mulher que quereria como sua esposa.

Amar surpreendera Drax. O idoso era da geração que seguia os velhos costumes e procurava nas mulheres as virtudes que muito poucas possuíam. Drax suspeitava que o idoso, que não combinava com a sua esposa agressiva, se arrependia profundamente de ter permitido que Monika o obrigasse a casar-se com ela.

Os dois homens conseguiam ouvir perfeitamente o som penetrante da sua fúria, proveniente do interior do pátio.

– Salários? Esperas que te pague por teres quase arruinado o meu negócio? Pois! Tu é que devias pagar-me. Dá-te por satisfeita por não te exigir nenhuma indemnização. Se fosses inteligente, ias-te embora agora, neste instante, antes que mude de ideias e ponha os meus advogados a tratar disto.

Antes que Sadie pudesse dizer alguma coisa, Monika virou-se e afastou-se, deixando-a no meio do jardim.

– A minha roupa... – começou a dizer, demasiado aturdida pelos gritos de Monika. – O meu passaporte...

– Zuwaina já arrumou as tuas coisas todas. Pega nelas e vai-te embora! – exclamou Monika, triunfante, enquanto uma empregada aparecia no pátio com a mala de Sadie numa mão e o passaporte na outra.

Sentiu uma repulsa profunda ao pensar que Monika tinha tocado nas suas coisas, mas a verdadeira causa do enjoo era a realidade que enfrentava. Sem emprego, sem dinheiro, sem bilhete de volta para casa. Só conseguia pensar em pedir a ajuda do consulado britânico, embora isso supusesse uma longa caminhada pela cidade.

Abriram-se as portas do pátio e entraram dois homens vestidos com o fato tradicional árabe. Um deles era o marido da sua patroa, um homem agradável e educado que fazia Sadie desejar o avô que mal recordava. O outro homem... Sadie fez um som involuntário com a garganta, esbugalhou os olhos e sentiu que o coração lhe pulsava descontrolado. O outro homem era tão incrivelmente masculino, era tão cheio de força e sexualidade, que hipnotizava. Tudo o que conseguiu fazer foi ficar a olhar para ele. Não, não só a olhar, mas também ficar espantada e boquiaberta. Sadie riu-se mentalmente de si mesma.

Tinha consciência de que estava a corar enquanto ele se virava. Assim, não só pôde vê-lo de perfil, mas também de frente. Ver os seus surpreendentes olhos verdes. Tremiam-lhe tanto as mãos que quase lhe caiu a mala.

O que estava a acontecer-lhe? A sua resposta instintiva e imediata à sua reacção física foi refugiar-se na negação e dizer a si mesma que o que estava a acontecer se devia ao facto de ter as defesas baixas devido ao ataque de Monika. Mas não podia ignorar que um único olhar daqueles olhos verdes a deixara totalmente a descoberto e despojada das defesas a que sempre recorrera para manter o sexo à distância.

Sem dizer, nem fazer nada, ele fora capaz de atravessar as suas barreiras e torná-la tão intensamente consciente do seu poder sexual, que todo o seu corpo se transformou numa massa disforme e hipersensível nas terminações nervosas relacionadas com o sexo.

Então, o desejo físico era assim! Aquela corrente ardente e imparável de intensidade dolorosa, aquela mistura perigosa de desejos e promessas que a possuía e dominava todos os seus pensamentos e sentimentos, fazendo com que mudasse do que era para outra coisa, de um modo tão rápido como se tivesse caído nas mãos de um feiticeiro.