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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Maureen Child

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma dança perfeita, n.º 707 - Outubro 2014

Título original: The Last Santini Virgin

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5879-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

– Tira a mão, fuzileiro – disse Gina Santini com firmeza, – se não queres perdê-la.

O sargento de artilharia, Nick Paretti, riu entre dentes. Depois, lenta e deliberadamente, subiu a mão para as costas, longe do seu traseiro.

– O que é que se passa, princesa – perguntou? – Estou a deixar-te nervosa?

«Nervosa não está nem vagamente perto do que sinto», pensou Gina. Durante as últimas três semanas e meia, passava três noites por semana nos braços daquele homem. E não era fácil.

Embora a irritasse a arrogância de Nick, o verdadeiro problema era a atracção que ele despertava nela. Não fazia sentido tentar argumentar com as suas hormonas. Mas, por amor de Deus, como é que podia sentir tal formigueiro com um homem cujo objectivo na vida não parecia ser outro senão irritá-la.

– Estás novamente a conduzir – a voz profunda dele estremeceu-a, como sempre.

Gina inclinou a cabeça um pouco para trás e olhou para os olhos do seu par de dança.

– Talvez não fosse preciso se tu te lembrasses dos passos.

– E talvez eu me lembrasse se tu não te entretivesses a mudar de ritmo – resmungou ele.

Ela respirou fundo e contou até dez. Depois, até vinte. Não, continuava furiosa. Tentou libertar a mão direita daquele braço de ferro, mas foi como tentar puxar um comboio com um carro. Um mês antes, as aulas de dança tinham-lhe parecido uma excelente ideia. No entanto, como iria calcular que lhe atribuiriam como par um homem demasiado alto, demasiado largo e demasiado teimoso?

– Olha, general – começou.

– Sargento de artilharia – corrigiu. – Ou Nick.

Aparentemente, sentia-se magnânimo nessa noite.

– Nick – disse com vontade de cooperar, – ambos estamos a pagar muito dinheiro por estas aulas. Não achas que deveríamos trabalhar juntos para ver se aprendemos alguma coisa?

– Eu faço a minha parte, querida – cravou os seus olhos azuis nos dela. – O problema começa quando tu também queres fazer a minha parte.

Muito bem, tinha um pequeno problema com a condução da dança. Mas era melhor do que ceder à sua tendência de esborrachar-lhe os pés.

– Perfeito. Conduz tu. Mas desta vez, tenta não pisar-me.

Ele arqueou uma negra sobrancelha.

– Se não tivesses uns pés tão grandes, não incomodariam.

Gina ficou tensa. Era um pouco sensível com o tamanho dos pés. Tinha culpa de não ter herdado o trinta e seis da mãe?

– Acredites ou não – disse, – ninguém ainda teve problemas com os meus pés.

– Que sorte – murmurou.

– E não me chames querida – atirou-lhe. Olhou em volta da sala. Mais cinco pares deslizavam sem esforço pelo reluzente chão de madeira. E ninguém parecia ter de andar constantemente à bulha com o par. – Será necessário ter de discutir desta maneira em cada aula? – sussurrou, mais para si mesma do que para ele.

– Acabam-se as discussões, princesa – inclinou a cabeça para ela e manteve o tom de voz baixo, – desde que aceites que eu sou o homem e que é suposto ser eu a marcar o passo.

Estaria a pensar grunhir e bater no peito a seguir?

– E bom – continuou ele enquanto a música os envolvia, – estás pronta?

– Como nunca – aceitou Gina.

– Em frente, então.

Fez uma pausa e ela observou-o a ouvir com atenção a música, concentrado no ritmo. Depois, respirou fundo e conduziu-os ao centro da pista. Enquanto executavam a primeira volta, ele ofereceu-lhe um sorriso fugaz.

Com o coração acelerado, Gina ficou contente por o sorriso ter desaparecido quase de imediato. Aqueles sorrisos esporádicos deixavam-lhe os nervos em franja. Nenhum homem a afectara, alguma vez, daquela maneira. E não tinha sequer a certeza se gostava. Por outro lado, também não podia fazer grande coisa a esse respeito.

Assim que os juntaram como par, saltaram faíscas por todo o lado. Mas não umas faíscas polidas, seguras e controladas. Não, eram primárias e básicas. Brilhos ardentes e luzes brilhantes, aliados a uma iminente sensação de perigo.

Gina conteve o fôlego, afastou aquele pensamento da sua cabeça e concentrou-se na situação. As luzes fluorescentes do tecto pareceram-lhe difusas enquanto dançavam. No chão, as sombras dos pares em movimento oscilavam como se houvesse um outro mundo sob os seus pés e Gina e Nick, tal como os restantes, fossem eles próprios os verdadeiros reflexos.

– Estás a ver, já estamos a acertar mais – murmurou ele e a sua voz vibrou nas costas dela.

– Não sejas convencido – avisou ela pouco antes de darem um ligeiro tropeção.

– Um pouco de optimismo não faz mal nenhum – franziu a testa.

«E um pouco de ritmo também não», acrescentou ela em silêncio. Pela enésima vez desde que a tinham juntado com Nick Paretti, questionou-se sobre o que faria ele ali. Ela tinha uma razão perfeitamente válida: adorava dançar. Pelo menos, até ali.

Mas ele era um mistério. Um fuzileiro naval grande e musculado que, pelo seu corte de cabelo militar e sapatos brilhantes, não parecia o tipo de homem que se iria inscrever em aulas de dança. As granadas tinham alguma coisa a ver com ele. As valsas não.

Além disso, era demasiado atraente. Cabelo preto, olhos azuis penetrantes, queixo quadrado, um nariz que parecia já ter levado um ou dois murros, o que não a espantaria nada, e uma boca que conseguia esboçar um sorriso brincalhão que lhe provocava um formigueiro pelo corpo todo.

Santo Deus.

A música terminou e Gina largou os seus ombros. Nesse mesmo instante, teve uma espécie de sensação de perda, mas minimizou a questão. Tinha-se, simplesmente, habituado a senti-lo colado a ela.

– Acho que esta dança correu muito bem – comentou a professora, a senhora Stanton, no limite da pista. Tinha o cabelo loiro, apanhado num carrapito no alto da cabeça, e enquanto caminhava entre o grupo de dançarinos, a saia remexia-se em torno dos seus joelhos. – Quase todos estão a fazer excelentes progressos – acrescentou, lançando a Nick um olhar de pura admiração feminina, o que despertou em Gina a vontade de dar um pontapé em qualquer coisa. – Mas, senhoras, devem lembrar-se de confiar nos vossos pares. A pista de dança não é lugar para travar uma guerra dos sexos.

– Humm – murmurou Nick. – Achas que se referia a ti?

– Mas tu não tens nenhum país para invadir? – perguntou Gina com dureza.

Ele riu e abanou a cabeça.

– E agora, turma – disse a senhora Stanton ao regressar à aparelhagem de som, – um cha-cha-cha.

– Oh, Deus...

O desagrado de Nick foi o que Gina precisava para se animar.

– Que se passa, general? Estás assustado? – perguntou.

– Sargento. Sargento de artilharia, para ser mais preciso – olhou-a furioso. – Já te repeti isto uma ou duas vezes.

– Como se isso me importasse – encolheu os ombros.

– És... – respirou tão fundo que o seu peito atingiu proporções enormes.

– Melhor do que tu no cha-cha-cha? – concluiu por ele.

– Nem em sonhos – olhou-a com as pupilas brilhantes.

– Ena, general – sorriu. – Isso soa-me a um desafio.

– Interpreta como quiseres – alargou os ombros.

– Oh, que suavidade – gozou quando ele a puxou para si.

– Sabes uma coisa? – comentou, pensativo – tu és um dos motivos por que existe a guerra dos sexos.

Gina apoiou a mão esquerda no ombro dele e deslizou a direita na esquerda dele.

– Claro, Gina Santini é a mãe de todos os problemas entre os sexos.

– Não tu, pessoalmente – continuou, apertando-lhe a mão direita com mais força do que a necessária. – As mulheres como tu.

– Ah! – assentiu com um sorriso trocista. – Referes-te às mulheres que não desmaiam quando vêem tipos com ar de guerreiro como tu?

Ele voltou a respirar fundo e expirou devagar.

– Dançamos ou não?

Ela pestanejou.

– Estou à tua espera. Tu és o líder inquestionável, lembras-te?

Com um resmungo, Nick começou a mover-se ao ritmo da música. Gina concentrou-se em seguir os passos dele em vez de tentar adivinhar o curso que estabeleciam pela pista. Sabia que Nick odiava o cha-cha-cha, mas ela adorava. Havia algo no modo em como a segurava para aquela dança, a maneira como as suas ancas se roçavam.

«Oh, oh, o melhor é que mude de rumo», pensou.

Deram uma volta e pensou para si mesma que a sua geração perdera muito com as novas danças, mais contorcionistas, tão populares actualmente. Era muito mais gratificante a proximidade das danças de salão.

«Demasiado», reflectiu ao sentir a pélvis de Nick contra a sua. Sentiu uma explosão interior e fechou os olhos brevemente. Ao abri-los, encontrou os dele e percebeu neles um brilho ardente. Uma das mãos dele desceu a curva do seu traseiro e Gina teria jurado que sentia a sua marca de calor.

– Muito melhor, Sargento e Gina – disse a senhora Stanton, quando passaram ao seu lado.

Automaticamente, ela ficou tensa e levantou o queixo.

– És a preferida da stôra – murmurou Nick, com um sorriso.

– E tu és o delinquente.

– Como adivinhaste?

Estava a falar a sério? Na verdade, só lhe faltava que escrevessem «Mau Rapaz» na testa com um marcador.

– Sou bruxa.

– É uma pena que não sejas uma bruxa mais alta.

Com um metro e sessenta, não era uma amazona, mas também não era propriamente uma anã.

– Eu não sou baixa – informou-o. – Tu é que és anormalmente alto.

– Só meço um metro e noventa, o que não faz de mim um Godzilla.

– Depende do ponto de vista.

– Não estava a tentar provocar a III Guerra Mundial – suspirou, exasperado. – Só estou a dizer que fico com um torcicolo de olhar para ti.

– Pois não penses que é muito agradável estar toda a noite de pescoço esticado.

Era ridículo discutir por nada, embora fosse muito mais seguro do que concentrar-se no que ele lhe fazia sentir. As suas ancas voltaram a roçar e Gina corou, com o corpo acordado pela proximidade de Nick.

 

 

Ao aproximar-se de Gina, Nick perguntou-se se era necessária tanta sensualidade para dançar. Esperava que ela não chegasse a sentir a erecção que lhe cingia ainda mais as calças. Ela parecia tão pequena e indefesa nos seus braços. No entanto, assim que esse pensamento entrou na sua cabeça, deu-lhe vontade de rir. Gina? Indefesa? Sim, como um tigre esfomeado.

Aquela pequena mulher era capaz de dar o que recebia e quase tinha começado a desejar aquelas aulas que tinham lugar três vezes por semana. Tinha uma boca impertinente que o fazia desejar beijá-la, um corpo compacto, bem curvado nos sítios adequados e uma cabeça mais dura do que a sua.

No conjunto, tratava-se de uma mulher que despertaria o seu interesse se por acaso ele estivesse à procura de uma mulher, o que não era o caso. Calculava que poucos homens seriam cativados por uma mulher que discutia daquela forma. Mas Nick tinha sido educado no seio de uma família italiana clássica, onde o amor se media de acordo com as oitavas que a voz atingia enquanto se gritava.

Uma vez, a sua mãe dissera-lhe que as discussões eram o sal do casamento. E se isso era verdade, então os seus pais tinham 36 anos de intensa vida conjugal. Sorriu para si mesmo, ao reviver essas recordações. Os seus dois irmãos, os seus pais e ele mesmo, sentados à mesa durante o jantar, discutindo política, religião, história ou até sobre quem era mais forte, o Super-Homem ou o Homem Aranha. A família Paretti era palradora mas feliz.

O cha-cha-cha chegou ao fim e os pares pararam, voltando-se para a senhora Stanton à espera das suas instruções. Nick soltou a mão de Gina, depois fechou os dedos para sentir o vazio da ausência dos dedos dela.

– E terminamos por aqui – indicou a professora.

Afastou a decepção que o invadiu. Ali, as horas passavam demasiado depressa.

– Mas quero que todos pensem numa coisa – continuou. – O Concurso de Baile Amador de Bayside é no próximo mês, e convidaram-nos a inscrever três pares da nossa escola – uma onda de conversas emergiu e desapareceu quando a senhora Stanton acrescentou: – Na próxima semana, escolherei os três pares que representarão a minha pequena escola de dança, por isso dêem o vosso melhor e boa sorte para todos.

Nick captou o brilho entusiasmado nos olhos de Gina.

Uma competição?

Em público? Nem pensar.