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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Emily McKaskle

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Mãe de aluguer, n.º 708 - Outubro 2014

Título original: Surrogate and Wife

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5880-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

– Estamos grávidos.

Kate Bennet tentou não levantar os olhos ao céu ante o absurdo comentário da sua irmã.

– Não me digas?

Como mãe de aluguer para a sua irmã, Beth e para o seu cunhado, Stewart, Kate sabia melhor do que ninguém que estavam «grávidos». A sua mão deslizou até ao seu ventre, onde o menino começava já a notar-se. Mas nesse preciso instante o estômago fez barulho, fazendo com que maldissesse o primeiro trimestre de gravidez.

Beth tomou a sua mão quando ia tomar a chávena de chá.

– O quê?

– Estamos grávidos, o Stewart e eu.

Kate deixou a chávena.

– O Stewart e tu?

– Sim.

– Grávidos?

Beth assentiu, com o seu sorriso beatificamente maternal, os seus olhos brilhantes de felicidade.

O estômago de Kate voltou a dar um salto, mas tentou conter as náuseas.

– Vocês vão ter um filho? Além do que eu vou ter para vocês?

– Sim.

Kate saltou da cadeira e correu para a casa-de-banho. Mal lhe deu tempo a inclinar-se sobre a sanita para vomitar o pequeno-almoço.

Esteve de joelhos no chão da casa-de-banho largos minutos, com um nó na garganta, angustiada e atónita. Só a voz de Beth do outro lado da porta a tirou da sua estupefacção.

– Kate, estás bem?

Se estava bem? Bom, sentia como se o mundo estivesse a girar em direcção contrária... juntamente com o seu estômago. Quanto ao resto, estava estupenda. Depois de lavar a cara e as mãos no lavatório, abriu a porta e ficou a olhar para a sua irmã.

– Como é possível?

Beth puxou-a pelo braço.

– Vem à cozinha. Vou fazer-te outro chá.

Kate deixou-se levar até à cadeira e observou a sua irmã a dar voltas pela simples e caseira cozinha.

– Nós ficámos tão surpreendidos como tu.

– Mas o Stewart e tu não podem ter crianças. É impossível, não é?

– Era muito improvável, mas não impossível.

De facto, tinham tão poucas possibilidades de conceber que o médico tinha recomendado não usar o esperma de Stewart para inseminar Kate e usaram o de um amigo de Stewart, Jake.

– Não tinha dito que só havia 0,2% de possibilidades que tu ficasses grávida?

– E assim é. Mas tivemos uma sorte imensa – suspirou Beth, pondo uma chávena sobre a mesa. – Chá?

– Como podes estar tão tranquila? – exclamou Kate, à beira da histeria.

– Suponho que porque tive mais tempo para me acostumar à ideia...

– Desde quando vocês sabem?

– Há uma semana. Levava algum tempo a suspeitar, mas não me atrevia a confiar em que tivesse havido um milagre. Como os meus períodos sempre foram tão irregulares e depois de tantos anos a tentar... enfim, não queria criar ilusões mesmo que não me tivesse vindo o período.

– De quanto tempo?

– Quatro meses.

– Quatro meses? De quanto estás?

– De dezoito semanas.

– Dezoito semanas? Eu estou só de três meses – exclamou Kate. – Ou seja, que os sintomas que tu tinhas, esses que achávamos que eram por simpatia... eram reais.

Beth sorriu timidamente.

– É verdade, não tinha pensado nisso, que tola. Olha, sei que isto complica tudo, mas o Stewart e eu sempre quisemos ser pais...

– E vocês continuam a querer este menino, não é?

– O Stewart e eu o falámos e decidimos que essa é uma decisão que vocês devem tomar, o Jake e tu.

– O Jake e eu? Que queres dizer?

– Tecnicamente, o menino é vosso...

– Não, nada disso! – interrompeu-a Kate. Sim, bom, tecnicamente o menino era seu e de Jake, mas ela não tinha querido ser mãe. – Este menino é teu. Teu e do Stewart. Este era o acordo.

Depois levantou-se e começou a passear pela cozinha, olhando para a sua irmã com incredulidade. Naquelas circunstâncias, Beth não parecia tão transtornada como deveria.

– Sim, já sei que este era o acordo. Mas as coisas mudaram.

– Não podes negar-te a educar este menino. Não to permitirei – replicou Kate, fulminando a sua irmã com o olhar. Pelo menos, tentou fulminá-la com o olhar, mas outra onda de náuseas obrigou-a a agarrar-se à mesa, arruinando o efeito.

Beth correu para o seu lado.

– Senta-te, querida. Não deveria colocar-te a questão assim. Não pode ser bom para o menino.

– Tu sabes o que não é bom para o menino? Esta conversa – disse-lhe Kate.

– Naturalmente, o Stewart e eu educá-lo-emos se tu decidires que não o queres. Mas queremos que, pelo menos, tu penses. É o teu filho biológico quer queiras admitir quer não, já estabeleceste uma conexão com ele.

Kate ficou sem palavras. De que estava a falar a sua irmã? Não entendia que a única forma de fazer aquilo era não ter conexão alguma com o bebé?

– Eu não...

– Sei que tens – interrompeu-a Beth. – Portanto não tem sentido discutirmos. O importante é que agora estamos à espera de duas crianças. Eu e o Stewart adoraríamos ficar com os dois, mas se tu e o Jake...

– Que tem o Jake a ver com isto?

Beth suspirou, exasperada.

– O menino que tu levas aí dentro também é dele. Se algum dos dois decidia ficar com ele, o Stewart e eu estamos dispostos a aceitar.

Atordoada pelo absurdo da situação, Kate enterrou a cara entre as mãos para controlar um ataque de riso histérico.

– Se algum dos dois decidir ficar com o menino? Tu apercebes-te do ridículo que é isso, não te apercebes?

Mas Beth, que a olhava com a sobrancelha franzida, não parecia dar-se conta de nada.

– Porquê?

– Eu tenho o instinto maternal de um agrafador. Mais absurdo do que esperar que eu queira o menino é esperar que o queira Jake Morgan.

– O Jake não é tão mau.

– Pode ser um bom tipo, mas estamos a falar de um homem que se introduz em edifícios em chamas quando todos os outros saem a correr.

– Na verdade, agora é investigador, ou seja, já não entra em edifícios em chamas. Agora entra quando só sobram os rescaldos.

– Muito bem, quando sobram os rescaldos. É igual.

– Bom, pelo menos o filho dele não brincará com fósforos – disse Beth, a tentar animá-la.

Kate apontou para a sua irmã com o dedo.

– Tu podes rir-te agora, mas esses são os genes que herdará o teu filho.

Beth soltou uma risadinha.

– Não me preocupam os genes de Jake. É bonito, encantador, rápido e...

– Exactamente. É uma dessas pessoas que acha que pode fazer o que lhe apetece só porque é bonito, encantador e rápido.

– Porque é que tu és tão dura com ele? Não costumas julgar as pessoas.

– Sou juíza, Beth. O meu trabalho consiste em julgar as pessoas. Além disso, sei que tenho razão. Com as famílias separadas e os maus pais que vejo no Tribunal todos os dias, o meu trabalho consiste em separar o trigo do joio. E asseguro-te que nem Jake Morgan nem eu queremos ter este menino.

– Pensa nisso. Talvez mudes de opinião.

– Sim. Quando as galinhas tiverem dentes. Não é impossível, mas eu diria que é altamente improvável.

 

 

Apesar de sua determinação em esquecer o assunto, Kate continuava a pensar na conversa com a sua irmã no dia seguinte, enquanto tentava terminar um relatório. Passavam das seis e quase toda a gente tinha saído do Tribunanl, mas nem sequer o silêncio lhe permitia concentrar-se.

Como não ia pensar na oferta de Beth de ficar com o menino? Kate levou uma mão ao ventre, pensativa.

Meu filho.

Ficou com um nó na garganta e, por uma primeira vez, não tentou conter essa emoção. Que aconteceria se ficasse com o menino?

Inexplicavelmente, não lhe parecia tão horrível. Era como se ficar com o seu filho tivesse sido o que, inconsciente, desejava fazer, mesmo que a lógica lhe dissesse que isso seria uma irresponsabilidade.

Mas amava aquele bebé que crescia dentro dela. Mesmo que ainda não soubesse se era menino ou menina, o instinto dizia-lhe que ia ser uma menina. E tinha seguido à letra os conselhos do seu ginecologista para se assegurar de que nascia sã. Sim, aquela ia ser a menina mais sã do mundo. E, se estivesse nas suas mãos, teria sempre o melhor.

Isso incluía os melhores pais. Kate sabia, sem a menor dúvida, que Beth seria muito melhor mãe que ela. Algumas mulheres, como a sua irmã, estavam mais capacitadas para serem mães do que outras. E tinha certeza de que ela era das segundas.

De repente, zangada consigo mesma por dar tantas voltas ao assunto, guardou os papéis na pasta e saiu do escritório. Mas o rápido passeio até ao estacionamento não aliviou a sua irritação.

E quando se encontrou com Jake apoiado no seu Volvo, a irritação transformou-se em enfado.

Não sabia o que era, mas havia algo em Jake Morgan que a tirava do sério. Não era só a segurança em si mesmo, um traço do qual tinha aprendido a desconfiar há muito tempo atrás. Talvez fosse o seu olhar sensual, que parecia despir uma mulher e fazer amor com ela ao mesmo tempo, talvez a testosterona que parecia emanar por todos os seus poros.

Era muito tudo. Muito masculino, muito encantador, muito bonito. E muito vaidoso.

– Que fazes aqui?

Jake levava uns jeans gastos que se ajustavam às suas coxas. A sua única defesa contra o inusual frio daquele dia de Maio, uma camisa de flanela sobre uma camisola.

Muito típico. Provavelmente, pensava que era muito homem para colocar um casaco. Ou talvez soubesse o bonito que estava com essa camisa de lenhador e não queria estragar o efeito.

– Vim ver-te.

– Já imaginava. Esperas as mulheres sempre meio escondido num estacionamento? Qualquer um poderia pensar que tu és um assediador.

Jake sorriu, irónico.

– Tu sempre a fingir que não tens sentido do humor.

– Eu não gosto de brincar com estas coisas.

– Não, claro que não – disse ele, colocando-se sério. – É que quando cheguei já tinham fechado o Tribunal.

– O guarda costuma ir-se embora às cinco e meia.

– Já imaginava. Mas esta é a minha única hora livre em toda a semana e temos que falar.

– Porquê?

– Não olhes para mim com essa cara. Só quero falar da situação.

– Então fala.

– Queres que falemos no estacionamento? Aqui perto há um restaurante. Além disso, está frio.

 

 

A ideia de partilhar um jantar com Jake fez com que Kate sentisse um calafrio de apreensão. Georgetown, noutros tempos uma tranquila cidade universitária, tinha-se transformado, como muitos outros lugares do Texas, numa capital abarrotada de gente. A histórica praça, situada em frente aos Tribunais, com as suas lojas e restaurantes típicos, era uma das zonas que a distinguia da menos elegante e muito maior cidade de Austin.

Além disso, não queria jantar com Jake. Muito íntimo, muito parecido com um encontro.

– Devias ter vestido um casaco.

– Referia-me a ti, tens pouquíssima roupa.

Sim, desde que ficou grávida tinha sempre frio. Mas isso era algo que não pensava contar-lhe. Falar dos sintomas da gravidez era mais íntimo do que jantarem juntos.

De repente, Kate apercebeu-se do quão íntima era a relação deles, quer isso lhe agradasse quer não. O laço que partilhavam era mais profundo do que o laço sexual que costumava acompanhar a intimidade. Tinham criado uma vida juntos.

Uma parte de Jake estava a crescer dentro dela.

Essa ideia deixou-a nervosa. Não queria jantar com ele, não queria falar com ele sequer, mas provavelmente havia coisas sobre as quais deviam falar.

– Muito bem, jantemos juntos então.

Quinze minutos depois estava em frente a Jake Morgan num restaurante da praça, com uma chávena de chá frente a ela, à espera de um prato de torta de milho com molho picante.

Enquanto tomava o chá estudava o seu acompanhante, que tinha uma mão apoiada no recosto do sofá. Nessa postura, os seus ombros pareciam ocupar o espaço todo.

Jake era diferente dos outros homens que conhecia. Homens com fatos de casacos feitos à medida para que os seus ombros parecessem mais largos do que eram na verdade. Kate olhou para as suas mãos, grandes, quase musculosas, de dedos longos e unhas curtas. Eram umas mãos muito masculinas. Duras, quase.

Nunca tinha prestado atenção às mãos de outro homem! Não, de certeza que não. Havia algo muito pessoal em olhar para as mãos de Jake, algo que a fazia sentir-se um bocado coscuvilheira.

– Bom, vamos ser sinceros, sei que não gostas de mim – disse ele então.

– Não te conheço o suficiente para decidir se gosto de ti ou não.

– Bom, não simpatizas comigo.

Não podia discutir isso porque era verdade. Só se tinham visto num par de ocasiões e nunca tinha podido relaxar-se quando Jake estava presente. Não sabia muito bem como explicar. E isso punha-a muito nervosa. Além disso, sendo sincera consigo mesma, não podia negar que se sentia ligeiramente atraída por ele.

Porquê? Porquê Jake Morgan?

Talvez essa repentina atracção fosse devida ao bebé. Talvez o seu corpo soubesse de alguma forma que aquele homem era o seu pai. Se este fosse o caso, tinha mais uma razão para manter as distâncias.

– Não, não simpatizo muito contigo.

– Mas estamos juntos nisto.

– Não estou de acordo. Os que estão nisto são o Stewart e a Beth. A tua parte no assunto já terminou.

– Isso era certo antes, mas agora...

– Nada mudou.

– Não podes ser tão ingénua.

– Asseguro-te de que sou de tudo menos ingénua – replicou Kate.

– Muito bem, não és ingénua. Mas terás que admitir que as coisas agora são diferentes.

– Sim, são diferentes, mas encontraremos uma solução.

– Mas tu contavas com que a Beth e o Stewart pudessem cuidar de ti, ajudar-te durante os últimos meses da gravidez. E agora Beth tem que cuidar de si mesma.

– Tu achas que não posso cuidar de mim sozinha? Desculpa, mas há anos que vivo sozinha. Muito mais tempo do que a maioria das mulheres da minha idade.

– Não me referia a isso.

– Então, a que te referias?

– Pelo me disse Beth, não teve um primeiro trimestre muito agradável e a coisa vai piorar. O segundo trimestre não será tão mau, mas quando estiveres de seis ou sete meses...

– És um perito em gravidezes? – interrompeu ela.

Jake fez um trejeito.

– Não, mas cinco dos meus colegas tiveram filhos no último ano e meio. Tive que ouvir todo o tipo de queixas sobre desejos, dores de rins, mulheres que não podem atar os atacadores dos ténis...

– Pois a menos que estejas a pensar mudar-te para a minha casa, não vejo como é que podes ajudar-me – riu Kate, irónica. Mas parou de rir ao comprovar que ele estava muito sério. – Estás a brincar não é? – murmurou, esperando que ele soltasse uma gargalhada. – Mas não, nem piscou os olhos sequer. – Estás a falar a sério? Achas que deveríamos viver juntos?