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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Susan Bova Crosby

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Coração desgarrado, n.º 710 - Novembro 2014

Título original: Heart of the Raven

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5882-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Capítulo Dezassete

Volta

Capítulo Um

 

Cassie Miranda sentiu um arrepio enquanto entrava com o carro pelo caminho de Wolfback Ridge. Aquele lugar era assustador, pensou. Onde estavam o céu azul e a temperatura agradável que a tinham acompanhado desde a Golden Gate até Sausalito?

Até há minutos atrás, aquele dia de Setembro parecia um postal ilustrado. Era um daqueles dias nos quais os fotógrafos paravam para retratar a baía de São Francisco e os executivos paravam de trabalhar para ir ver um jogo dos Giants.

Mas, então, sem avisar, o céu cobrira-se de nuvens. Mesmo por cima de Wolfback Ridge. Cassie olhou pelo retrovisor. Como imaginava, atrás via-se um céu completamente azul.

Então, viu a casa, um edifício de vidro e madeira com uma vista espectacular sobre São Francisco e a ponte mais famosa do mundo… se a vista não estivesse tapada pelo frondoso bosque que rodeava a propriedade. Nem um único raio de sol era capaz de penetrar aquela compacta folhagem.

Era óbvio que o seu novo cliente requeria uma privacidade anormal.

Ela não se importava com excentricidades… até certo ponto. Se quisesse ver pessoas normais todos os dias, não seria detective privada.

Cassie estacionou sob uma árvore retorcida que parecia ter mais de cem anos. Sendo uma rapariga da cidade, pensou que seria um carvalho, mas a única coisa que ela sabia de carvalhos era que davam bolotas. E não via qualquer bolota por ali. Pegando na sua pasta e no casaco, saiu do carro. Estava tudo silencioso. Um silêncio inquietante. Como se os pássaros tivessem medo de chamar a atenção.

Cassie olhou em volta enquanto vestia o casaco, e um arrepio percorreu-lhe as costas. Alguém estava a observá-la.

– Era uma escura noite de trovoada… – murmurou, tentando levar aquilo na brincadeira. Mas não achou piada nenhuma.

Suspirando, puxou a trança, presa no casaco, para fora e deixou-a cair sobre as costas. O facto de os pássaros não cantarem fê-la pensar em que podia haver algum animal selvagem por ali… A presença de um predador faria com que os pássaros se calassem, não? Ao menos era isso que acontecia nos filmes.

Um lobo, talvez. No fim de contas, aquele lugar chamava-se Wolfback Ridge, «A Serra dos Lobos».

Cassie olhou para a casa. Os vidros eram escuros. Estaria o seu cliente a observá-la? Até mesmo o seu nome soava gótico: Heath Raven.

Devia ser um homem obscuro e misterioso, talvez até um pouco desfigurado. Atormentado.

Não, que estupidez, coisas da sua imaginação. O seu chefe, em Los Angeles, entregara-lhe o caso: uma pessoa desaparecida. Quando falara com o cliente ao telefone, pareceu-lhe uma pessoa normal. E quando procurou o seu nome na Internet, descobriu que era um arquitecto muito conhecido. Não podia ser tão estranho. Aproximou-se da casa, as suas botas faziam a gravilha crepitar. O massivo edifício impedia que penetrasse ali o mais ínfimo raio de sol.

Cassie confiava no seu instinto e o seu instinto dizia-lhe para dar meia-volta e fugir a correr, que o homem que vivia naquela casa de vidros baços ia conseguir despertar os seus demónios pessoais, mesmo aqueles que estavam escondidos há anos. Mas nesse preciso momento, a porta abriu-se.

O homem que viu no alpendre não era desfigurado. Não, mas também não era como imaginara: alto, moreno, com o cabelo um pouco comprido de mais, feições angulosas, olhos verdes-claros penetrantes e sim, atormentados.

Magro, mas com um corpo fibroso.

– Senhorita Miranda? – perguntou ele, com uma voz perfeitamente normal.

– Sim, boa tarde – respondeu ela, oferecendo-lhe um cartão que a identificava como Cassie Miranda, da ARC Segurança e Investigação.

– Eu sou Heath Raven. Entre, se faz favor.

Estava vestido com umas calças de ganga e um pólo encarnado. Uma indumentária normal.

Todavia, não havia nada normal naquele homem.

A casa estava silenciosa como uma igreja. Os móveis da sala pareciam ser novos, assim como a lareira, que parecia nunca ter sido usada. Os enormes janelões deviam deixar passar a luz, mas não havia luz naquela casa. Era escura e triste… especialmente triste, como se estivesse de luto.

Cassie puxou do seu caderno e da caneta e sentou-se no sofá.

– Quem é a pessoa desaparecida, senhor Raven?

– O meu filho. O meu filho desapareceu – respondeu ele, apertando os dentes.

Cassie ergueu o olhar. O filho? Uma criança? Aquele não era um caso para a sua empresa, mas sim para a polícia.

– O que foi que a polícia disse?

Ele negou com a cabeça.

– Mas se o seu filho desapareceu…

– A mulher que está grávida do meu filho desapareceu deixando uma nota – explicou, então. – E a polícia não quer fazer nada porque ela é uma adulta e foi-se embora voluntariamente.

Parecia furioso. Seria com a mulher ou com a polícia? Em qualquer um dos casos, era compreensível.

– Posso ver a nota?

Ele saiu da sala por um momento e Cassie aproveitou para respirar à vontade. Se soubesse que se tratava de uma criança… não teria ido. Mas estaria preparada. Quando havia uma criança pelo meio, os casos costumavam ser estafantes e, regra geral, deprimentes.

Heath Raven regressou minutos depois.

– Aqui tem a nota – murmurou, oferecendo-lhe um papel cor-de-rosa.

 

Querido Heath,

 

Tenho de pensar nisto tudo muito bem. Não me procures. Eu telefono-te.

Eva.

 

Não era precisamente uma carta de amor, pensou Cassie.

– Quando foi que a recebeu?

– Chegou hoje de manhã pelo correio.

– É a sua esposa?

– Não. Estivemos juntos uma única noite, há oito meses. Pedi-a em casamento várias vezes, mas disse sempre que não.

– Por que se foi embora?

– Não a maltratei, se é isso que está a pensar – respondeu ele.

– Estou só a tentar perceber a situação. É o meu trabalho.

Ele passou uma mão pela cara, impaciente.

– Eu não saio muito. Normalmente as pessoas vêm cá quando preciso de alguma coisa. A Eva trabalhava como secretária no escritório do meu advogado e costumava vir cá trazer-me documentos. Depois de quase um ano a vê-la uma vez por semana, fomos para a cama. Uma vez. E ficou grávida.

– Quando nasce a criança?

– Daqui a três semanas – respondeu ele, andando pela sala.

– Tem a certeza que é sua?

Heath Raven vacilou por um segundo.

– Não tenho razões para pensar que não é.

Cassie estava certa de que pensara nisso mais do que uma vez. E parecia convencido.

– Muito bem. O senhor sabe para onde pode ter ido?

– Não faço a mínima ideia. Costumava vir cá uma ou duas vezes por semana, contava-me o que o ginecologista ia dizendo, conversávamos um bocadinho… E é tudo. Não fiz nada que a obrigasse a desaparecer. Ela aceitou partilhar a custódia do filho comigo. Tínhamos uma relação amigável.

Uma relação amigável? Aquilo soava um pouco estranho.

– O senhor dá-lhe dinheiro?

– Dou.

– Vou precisar de mais pormenores, senhor Raven.

– Senhorita Miranda, a Eva vai ter um filho meu e quero que o rapaz cresça bem cuidado. Isso começa logo na gravidez. Eu queria que viessem viver para aqui, mas a Eva recusou-se, de modo que lhe ofereci dinheiro para que fosse ao melhor ginecologista. Se quiser, posso mostrar-lhe uma cópia dos cheques… mas o que é que isso interessa?

– Interessa porque estabelece um padrão. Talvez tenha fugido porque pretende extorquir-lhe mais dinheiro mantendo o rapaz como… refém, digamos. Na carta diz que ela entrará em contacto e, no entanto, o senhor ligou para a minha agência. Se confiasse nela, esperaria, simplesmente.

Ele afastou o olhar, apertando os punhos. As emoções daquele homem, contidas a muito custo, fascinavam-na.

– O meu filho morreu há três anos. O meu único filho. Não quero perder este também.

A sua dor irrompia na sala como um lamento e Cassie assentiu com a cabeça, compreensiva. Tinha vinte e nove anos e vira muito sofrimento na sua vida, mas nada tão terrível como perder um filho.

O seu próprio sofrimento… não, não ia pensar nisso.

– Vou ajudá-lo – disse, finalmente.

– Obrigado.

– O que acha que a Eva quer dizer com essa nota?

– Não faço ideia.

– Tinha algum namorado?

– Não, que eu saiba.

– E família?

– A Eva não costumava falar da sua vida. Sei que os seus pais moram na costa leste, mais nada.

– Muito bem. Já temos alguma coisa, mas vou precisar de mais informação. O apelido deles, a morada… Tudo o que souber sobre ela.

Heath Raven assentiu.

– Vamos até ao meu atelier.

Cassie seguiu-o por umas escadas até uma enorme sala com dois estiradores cobertos de planos e vários computadores.

Uma das paredes era de vidro e estava coberta pelos estores. Todos os estores estavam fechados.

 

 

Heath agradecia a eficiência de Cassie Miranda. Mesmo antes de ter começado a fazer-lhe perguntas, viu que era uma pessoa que dava atenção aos pormenores. A sua camisa branca bem engomada e as calças de ganga novas diziam que era uma pessoa meticulosa, organizada.

E também estava cheia de energia. Mexia-se depressa, falava depressa, e sabia o que estava a perguntar.

Não podia dizer que tinha escolhido bem porque ligara para a agência e perguntara pelo chefe, Quinn Gerard, mas Gerard estava fora da cidade, daí estar ali ela.

Era alta e tinha presença, com as suas botas texanas. Chegava-lhe por cima do ombro, e ele media um metro e oitenta e cinco. Tinha o cabelo castanho preso numa trança que quase lhe chegava à cintura. Os seus olhos, azuis-escuros, podiam ser perspicazes ou compreensivos. Iam dar-se bem.

Naquele momento, estava a tomar nota de qualquer coisa no seu bloco. Tirara o casaco de cabedal e deixara-o pendurado nas costas de uma cadeira, e levava um coldre… com uma pistola. Não esperara aquilo, mas não sabia por que ficava surpreendido. Se Quinn Gerard tivesse aparecido com uma pistola ter-lhe-ia parecido perfeitamente normal.

– Qual é a marca da arma?

– Sig Saber, calibre quarenta.

– Você sabe disparar?

– O que é que o senhor acha? – sorriu ela. Parecia muito segura de si, e isso agradou-lhe. – Não ando sempre com ela, mas não sabia o que ia encontrar.

– Pois claro.

– Muito bem… – disse ela então, batendo com a caneta no caderno. – Dizia que a Eva trabalhava no escritório do seu advogado.

– Isso mesmo. Está de baixa de maternidade desde há uns dias.

– É cedo, não acha? Agora as mulheres trabalham praticamente até que rompem águas.

– Não saberia dizer-lhe.

A sua ex-mulher parara de trabalhar mal casaram.

– É um escritório importante?

– Torrance & Torrance.

– Ah, é muito importante – murmurou Cassie. – Eu trabalhei para o Oberman, Steele e Jenkins durante cinco anos como investigadora privada, pelo que conheço bem os gabinetes de advogados de São Francisco. A Oberman dedica-se ao direito penal e a Torrance ao direito civil, mas devem operar da mesma forma.

– É possível.

– Suponho que a Eva deve ter alguns amigos no escritório… numa empresa tão grande deve haver, pelo menos, um colega com o que ia almoçar. Vou tentar saber.

– Não pode fazer isso.

– Como?

– Não pode falar com as pessoas do gabinete.

– Mas tenho de falar com eles…

– Não.

– Porquê?

– Porque ninguém sabe nada sobre a nossa relação. Na Torrance & Torrance têm regras muito estritas sobre as relações entre funcionários e clientes. Podem despedi-la.

– Ninguém sabe que o senhor é o pai da criança?

– Não.

– Ah, estou a ver.

– A Eva gosta muito do que faz. Não lhe quero causar problemas.

– Bom… está bem, vamos esquecer isto de momento. Sabe onde mora?

Heath deu-lhe um cartão e Cassie apontou a morada no seu caderno.

– Partilha o apartamento com uma colega, a Darcy. Não sei o seu segundo nome.

– Já esteve em casa dela?

– Não.

– Então, aquela noite foi mesmo a única coisa que houve entre ambos? Nunca mais saíram juntos?

– Nunca – disse ele. Admiti-lo fazia com que parecesse sórdido. E não tinha sido sórdido. Ele não se tinha aproveitado de Eva. Ela estava interessada, mais do que isso até. Na verdade, andara atrás dele durante muito tempo.

Cassie olhou de novo para o cartão.

– Este é o número de telefone dela?

– É o telemóvel.

– Imagino que já ligou para ela.

– Está desligado. Sempre desligado.

– Muito bem – Cassie apontou o número de telefone e devolveu-lhe o cartão. – Alguma vez lhe falou dos amigos?

– De uma rapariga que se chama Megan. E de um rapaz que se chama Jay.

– O que foi que ela contou deles?

– Que é com quem costuma sair aos fins-de-semana.

– Acha que o Jay não podia ser namorado dela?