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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Barbara Schenk

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Há três anos, n.º 714 - Novembro 2014

Título original: A Cowboy’s Promise

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5885-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Volta

Prólogo

 

Dizem que o último sentido que se perde é o do ouvido.

E ele não o tinha perdido. Por enquanto.

Mas a luz era cada vez mais forte. Conseguia ver sombras à distância, silhuetas das pessoas de quem se tentava aproximar.

– Segura-o, raios te partam! – a voz chegava como se estivesse muito longe.

– É isso que estou a tentar fazer!

Mas, aquela outra voz penetrou na sua consciência.

– Está a perder muito sangue! Despacha-te!

– Vou o mais depressa que consigo!

– Pois então tenta ir ainda mais! Se não chegarmos cedo, não vai sair desta.

Por um momento, a luz ficou mais forte e depois perdeu a intensidade. As vozes converteram-se em murmúrios desconexos. Conseguia ouvir um som metálico…

– Abre a porta.

– Está a sangrar por todo o lado!

– Aperta com força, raios!

– Isso é o que estou a fazer!

A luz voltou a brilhar. Os rostos ficaram reconhecíveis. Conseguia mesmo determinar as feições. Conseguia ver o seu pai.

Seria o seu pai aquele homem sorridente? Tinham passado tantos anos…

O pai de Charlie morrera quando ele tinha três anos. E as vagas lembranças que tinha do seu progenitor não eram as de um homem feliz.

Mas naquele momento parecia feliz, com a sua mãe, os dois a sorrirem de mãos dadas. E com Lucy do seu lado. A sua mãe morrera quando ele tinha dez anos; cinco anos depois foi a sua irmã.

Lucy, raios, como pudeste morrer daquela forma?

Charlie tentou aproximar-se da luz e chamar alguém.

– Estamos a perdê-lo!

– Eu sei, eu sei! Vá, depressa!

Então deixou de ouvir vozes. Não interessavam. Só tentava chegar até Lucy.

Tinha tantas coisas para lhe contar desde que ela se foi embora… Sobre a Joanna, a professora que o protegera para que ele não morresse na rua como a sua irmã. Sobre Chase, o marido de Joanna, que o ensinara a ser um homem.

Então viu outros rostos.

Viu o Chase e a Joanna. Viu os filhos deles. Emerson, Alex e Annie, que se converteram em irmãos para ele.

Mas… Eles não estavam mortos. Nenhum deles!

Então…

Charlie olhou à sua volta, perplexo.

Viu o seu melhor amigo, Herbert, do colégio e DeShayne e López, os miúdos com quem saía no liceu, todos vivinhos da silva. Viu Gaby, o seu agente, com que falara na semana anterior e o seu velho amigo Miles. Susana Cavanaugh e os seus filhos, Patrick e James.

E continuava a olhar… Estava à procura de uma cara em particular.

Uma mulher.

Onde estava?

Cait!

Chamou-a mas não houve resposta.

Cait!

Todas as pessoas, o seu pai, mãe, irmã, amigos, todos o olhavam em silêncio.

Chegou ao lado deles, mas em vez de os abraçar e lhes dizer qualquer coisa, passou entre eles procurando como um louco em redor.

Cait!

Silêncio. Vazio.

Não estava ali.

Ia morrer e ela não estava com ele. Não o acompanhava até à eternidade. Claro que não.

Como poderia estar se ele não a deixara fazer parte da sua vida?

Capítulo Um

 

Abuk, Ásia Ocidental

 

Já não existia hospital. Só havia uma montanha de entulho.

O taxista que o levara abanou a cabeça.

– Eu bem lhe disse.

Pelo menos, isso pensou Charlie, porque não percebia o idioma. Dera-lhe o nome do hospital quando saíra do aeroporto e o condutor começou a falar ao mesmo tempo que abanava a cabeça.

– Não, não. Não existe – dizia uma e outra vez.

Mas Charlie insistira. Não tinha dado a volta ao mundo para desistir à primeira dificuldade.

Não percebeu que o «não existe» significava que o hospital tinha desaparecido.

Estava um calor sufocante que o fazia sentir-se ainda mais enjoado do que estava quando saíra do avião. Embarcara em Los Angeles vinte horas ante, fazendo escalas em Amesterdão e Istambul antes de apanhar o longo voo até Abuk.

Estava a fazer uma viagem contra a opinião dos médicos. Quatro médicos de bata branca aconselharam-no a não fazer uma viagem tão longa porque na sua condição seria extenuante.

– Estiveste em coma, clinicamente morto. Perdeste litros de sangue e mal consegues andar. Não creio que fiques melhor se te aventurares num país em ruínas.

Estavam enganados, pensava Charlie.

Ia fazer a única coisa que o poria melhor. Ia recuperar o tempo perdido. Ia à procura da Cait.

Ela era o motivo de ele estar vivo.

– Onde há outro hospital?

O taxista apontou para norte e para sul e Charlie teve de procurar no dicionário para encontrar a palavra «perto».

O homem concordou e voltou a arrancar alegremente.

A cidade tinha mudado muito em dois anos. A guerra a que ninguém chamava guerra estava mais ou menos controlada, contudo, dois anos antes ouviam-se tiros e explosões por toda a parte.

Não havia bandos muito certos e uma pessoa arriscava a vida cada vez que saía à rua. Podia ser-se morto por um dos bandos como pelo outro. O país ficara completamente em ruínas.

E ainda estava.

Dois anos antes, Charlie estivera ali para fazer fotografia. Era o seu trabalho e fazia-o bem. Encontrava a dor e a desgraça e mostrava-a ao mundo a preto e branco para que ninguém esquecesse o que se estava a suceder, mesmo que fosse no país mais longínquo.

Durante cinco anos os seus retratos estiveram expostos nas melhores galerias de Paris e Nova Iorque. O seu livro, Inumanos, que continha, entre outras, duas fotografias lá tiradas, converteu-se no best-seller do ano enquanto ele se recuperava no hospital.

É isso o que se consegue quando se é quase morto.

– Parvoíces – dissera a sua agente, Gabriela del Castillo. – O teu livro vende-se porque emociona. Porque tocas no coração das pessoas, Charlie.

– E o terem-me enfiado três balas no corpo também ajuda.

– Três balas! Quase te mataram! – exclamou Gaby. – A sério que estou preocupada contigo.

– Pois deverias ficar contente – sorriu ele. – As vendas não podiam ser melhores.

– Eu não sou tão mercenária. Realmente preocupas-me, seu idiota. Não consigo entender como não estás morto.

Charlie sabia-o.

Porque não podia ir para o outro mundo sem Cait.

Não tinha contado a Gaby. Não tinha contado a ninguém.

Falar da eternidade e de experiências próximas da morte não era o seu estilo.

Para Gaby e todos os outros, Charlie Seeks Elk era um homem duro, pragmático, realista, sem rodeios. A última pessoa na terra que acreditaria em experiências extra-corporais ou mensagens do Além.

Só que no dia em que dispararam sobre ele viu uma luz. Viu a sua família, todos eles falecidos anos antes. Viu os seus amigos e soube que estariam juntos na eternidade. Aquilo deveria tê-lo deixado contente.

Mas sem Cait, não.

Deixou-a há dois anos por não estar preparado para casar e ter filhos, fizera-o pelos dois. Sentia-se forte, nobre, independente… um homem com uma missão e que não queria ter amarras a nada.

Mas isso foi antes de se enfrentar com a eternidade… sem a Cait do seu lado.

Procurou-a instintivamente. Não sabia que o faria quando chegasse o momento. Mas, claro, nunca antes estivera clinicamente morto.

Desde então, soube qual era a única coisa que lhe interessava.

E tinha de a encontrar.

O taxista guiava por ruas semi-desertas, ladeadas por edifícios em ruínas. Há dois anos, aquela zona estava apinhada de pessoas. Centenas de pessoas andavam de um lado para o outro à frente da janela do quarto onde tantas vezes tivera Cait nos seus braços.

Mas já não havia nada em pé, apenas uma parede rodeada de entulho. Charlie fechou os olhos.

Quando voltou a abri-los, viu que no final da rua estavam a preparar o terreno para levantar um edifício. O taxista disse qualquer coisa e assinalou, a sorrir.

Charlie percebeu algumas palavras: «paz, esperança».

Só havia um buraco no chão, mas já era alguma coisa. Nem que fosse a possibilidade de um novo edifício, de um lugar onde viveriam famílias, onde as crianças pudessem brincar.

– Sim – murmurou Charlie, apoiando a cabeça nas costas do assento.

Esperava encontrar Cait no outro hospital.

Mas não estava lá.

A organização não-governamental para a qual trabalhava saíra do país, explicou-lhe o director.

– Só vêm quanto há alguma situação de emergência. E, felizmente, já não há.

Charlie apoiou-se no balcão de betão para conseguir manter-se de pé. A cabeça estava às voltas e a perna doía-lhe imenso.

– E noutro hospital? Poderá estar noutro hospital?

– A não ser que tenha deixado o seu trabalho para ficar no país… – murmurou o homem. – Mas só se tiver um bom motivo para isso.

Cait poderia ter um bom motivo.

– E os órfãos da guerra?

O director olhou-o perplexo.

– Órfãos?

– Havia muitas crianças no hospital – respondeu Charlie. – Crianças que tinham sido feridas, que perderam os pais, crianças abandonadas. Ela pensava em adoptar uma…

Cait pensara adoptar uma miúda de quatro anos com um braço destroçado e com os olhos pretos mais expressivos que Charlie alguma vez vira. Resi.

O director do hospital deixou fugir um suspiro.

– Eu não sei nada dos órfãos – murmurou, tirando um papel com várias moradas. – O melhor será que pergunte neste lugares.

Apertando o papel como se a sua vida dependesse daquilo, Charlie saiu dali. Tinha de dormir. Tinha de tomar os seus remédios.

E, mais do que isso, tinha de encontrar Cait.

Foi de um orfanato a outro e em cada um descrevia a miúda, Resi. Em todos perguntou por uma enfermeira americana, Cait Blasingame. E em todos era recebido com sorrisos de compaixão.

– Não, temos muita pena.

– Não conhecemos ninguém com esse nome.

– Não sabemos nada.

Nem Resi nem Cait.

Charlie ficou em Abuk à procura durante três dias. Foi a todos os hospitais, a todas as clínicas, ao consulado, aos jornais… A todo o lado.

Se estivesse lá, tinha-a encontrado.

No final, ficou doente. No final, estava com febre altíssima. No final, teve de aceitar que Cait desaparecera.

Encontrá-la novamente naquele lugar tinha sido uma possibilidade remota. Tinha de o admitir.

Durante a sua recuperação, a única coisa em que pensava era em ficar bom para voltar até Abuk e dizer-lhe o que não dissera dois anos antes.

«Casa comigo».

Durante três meses esperou, sonhou e fez planos. Prometera-se a ele mesmo encontrá-la.

Mas Cait não estava lá.

Onde poderia encontrá-la?

 

 

Valeu a pena? – perguntou Gaby, olhando-o com uma mistura de pena e irritação.

– Referes-te ao quê?

Charlie não queria visitas. Dissera-o à enfermeira. Estava a rejeitar visitas desde que voltara para Los Angeles.

Só que a Gaby tinha demasiado carácter para que uma enfermeira lhe dissesse o que devia ou não fazer. E, naquele momento olhava-o como se fosse um anjo vingador.

– As fotos.

– Não fiz fotos.

Gaby ficou em silêncio. Charlie vivia para fazer fotografias. E se não tinha feito fotos era porque estava morto.

– Então, foste para quê? – perguntou-lhe finalmente.

O antigo Charlie, o sério, o pragmático e independente, teria respondido «para nada». Teria olhado para ela com uma expressão de gelo, como costumava fazer quando alguém tentava meter-se na sua vida privada.

Mas o novo Charlie tinha outra perspectiva da vida. Além disso, estava tão fraco depois de uma semana de transfusões e antibióticos que o muro começava a derrubar-se.

– Estava à procura de uma pessoa.

Não contara a ninguém, nem sequer aos seus melhores amigos, Chase e Joanna Whitelaw, que praticamente se converteram nos seus pais adoptivos aos dezasseis anos.

Tê-lo-ia feito, mas Chase e Joanna tinham viajado para a Europa com as crianças. Era uma viagem que estavam a preparar há algum tempo e o plano original era encontrarem-se com ele em Atenas. Mas isso foi antes de receber os três tiros.

Joanna quis cancelar a viagem, mas Charlie negou-se rotundamente.

Estava bem, garantiu-lhe. Não só para que fizessem a viagem dos seus sonhos, como também para ficar sozinho, para que Joanna não tentasse impedir-lhe a viagem para Abuk.

Eles não sabiam que tinha ido e que já estava de volta. Não sabiam que estava mais uma vez no hospital e Charlie não fazia intenções de lhes dizer.

Mas Gaby apanhara-o com as defesas em baixo.

– E quem é essa pessoa tão importante? – perguntou-lhe a sua agente, com o tom de voz mais suave que alguma vez utilizara.

– Uma mulher que conheci… uma enfermeira. Chamava-se Cait.

– Chamava-se?

– Não está morta… pelo menos, espero – murmurou ele. Não queria pensar sequer nisso. – Mas, desapareceu.

– Não está em Abuk?

– Não. E não sei onde está. Trabalha para uma organização não-governamental que envia médicos e enfermeiras para os países em guerra e de certeza que deve ter ido para outro campo de batalha.

– Já telefonaste para essa organização?

– Claro que sim. Mas não querem dizer-me nada. De acordo com eles, é uma informação confidencial – explicou Charlie, fazendo um gesto de angústia.

– Sabes onde vive a sua família?

– Não. Ela é de Montana. Costumava dizer-me que era o melhor sítio do mundo – sorriu ele.

Na sua mente, conseguia ver a imagem de Cait quando lho dizia, orgulhosa.

«Deverias ir lá algum dia. É lindo»

«Eu? Nem louco. Eu gosto de cidades grandes».