Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2006 Nalini Singh
© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.
Verdades de um casamento, n.º 720 - Dezembro 2014
Título original: Secrets in the Marriage Bed
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Publicado em português em 2006
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-5890-9
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
www.mtcolor.es
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Epílogo
Volta
– Estou grávida.
Caleb Callaghan sentiu o coração a parar.
– O quê?
– Estou grávida. De três meses. O médico acabou de o confirmar – disse Vicky, passando a mão pelos cabelos loiros.
A mente dele começou a funcionar a grande rapidez. Aquilo era a oportunidade de que ele estivera à espera há mais de dois meses e não iria deixá-la escapar. Aproximou-se dela e ajoelhou-se ao lado dela.
– Tens o nosso bebé dentro de ti – comentou maravilhado.
Em apenas alguns segundos a sua vida passara de ser um inferno para o paraíso.
«Se a Vicky está grávida não se vai poder divorciar de mim», disse para si próprio.
Ela, como se lhe tivesse lido o pensamento, negou com a cabeça.
– Isto não muda nada, claro – mas não com a segurança com que gostaria de o ter feito.
Ele aproveitou o momento. Aquela era a batalha mais importante da sua vida e iria lutar com unhas e dentes. Se fosse preciso, até recorreria ao jogo sujo.
– Muda tudo – disse ele, agarrando-lhe a mão, feliz por poder voltar a tocá-la.
– Não.
Desde que se tinham separado, há alguns meses, ele tinha tentado tudo para recuperar a sua mulher. Mas tinha fracassado. No entanto, se ela estava grávida, não lhe seria fácil justificar o divórcio.
– Como é que não muda? O bebé é meu.
A mão dela crispou-se dentro da dele.
– Não me intimides, Caleb – advertiu ela.
Ele tinha que repensar a forma de a abordar. Não ia permitir que ela o afastasse da sua vida mas sabia que, se a pressionasse demais, perdê-la-ia. Mas Victoria tivera sempre um bom coração.
– Eu tenho direito de acompanhar esta época contigo. Também é o meu primeiro filho, e talvez o único que virei a ter – disse-lhe e viu que o rosto dela espelhava uma multidão de emoções.
– Queres voltar a viver em nossa casa, não é? – disse ela, referindo-se ao chalé com vista para St. Marys Bay, perto do centro de Auckland.
– Vou voltar para a nossa casa – disse ele. Isso não era negociável. – Não vou deixar que te divorcies de mim enquanto tiveres o nosso filho no teu ventre.
E assim, teria seis meses para a convencer que valia a pena salvar aquele casamento e que uma união de cinco anos não devia acabar assim tão apressadamente.
Quando se tinham separado, ela tinha-lhe pedido para ele lhe dar espaço. Ele acedera a tudo aquilo que lhe fora possível. Telefonava-lhe apenas uma vez por dia e visitava-a algumas vezes durante a semana para se certificar de que estava tudo bem. Mas tudo isso tinha de acabar naquele momento. Agora queria recuperar a sua mulher.
– Este bebé é um presente, Vicky. É a nossa oportunidade de nos reconciliarmos. Não a deixes passar ao lado.
O olhar dela tornou-se mais suave. Ele pôs-se de pé, levantou-a e puxou-a para si. Os seus corpos tinham sempre encaixado na perfeição.
– Vou pedir para trazerem a minha bagagem do hotel – disse ele, que odiava o hotel porque não era o seu lar nem nunca o seria. – Vai correr tudo bem – acrescentou, convencido das suas palavras.
Acontecesse o que acontecesse, ele não a ia perder. Ela era tudo para ele.
Vicky deixou que Caleb a abraçasse mas sabia que estava a cometer um erro terrível. Tinha tido tantas saudades de estar entre os braços do seu marido… Nos dois meses em que tinham estado separados, ela tinha tido saudades dele todos os dias. Ela sabia que devia ter rejeitado os convites dele para a almoçar, jantar fora ou para tomar um café, mas tinha aceitado. E essa forma de agir ameaçava repetir-se.
– Não é preciso que vivas lá em casa para partilhares isto comigo.
Ele afastou-a ligeiramente de si para a olhar nos olhos.
– Claro que é preciso. Queres criar o nosso bebé como te criaram a ti? Mal sabendo quem é o pai?
Ela conteve a respiração.
– Sabes onde é que deves magoar, não é?
O que ela menos queria era que o seu filho crescesse sentindo que algum dos seus pais não o amava.
Ele soltou-a e pôs as mãos nas ancas.
– Não vou suavizar a realidade: se insistires na nossa separação, e depois no divórcio, é um facto que o nosso filho ou filha passará o resto da sua vida entre a casa de um e a casa do outro.
– Achas melhor que cresça no meio de um campo de batalha?
– Claro que não – respondeu ele, levantando a voz. – Mas, Vicky, ou me deixas voltar para casa para começarmos a solucionar os nossos problemas, ou aceitas a alternativa.
– Isto está a ir depressa demais… Preciso de tempo.
– Tiveste dois meses. É tempo mais do que suficiente – respondeu ele, apertando o maxilar.
Não era suficiente, pensou ela. Tinham-se visto várias vezes por semana durante os dois meses de separação, mas não tinham falado daquilo que precisavam de falar.
– Caleb, vê isto do meu ponto de vista. Acabo de saber que estou grávida. Se, para além disto, tu ainda me pressionas, vai ser demais para mim.
– Quanto mais tempo me mantiveres afastado de ti, menos tempo teremos para esclarecer as coisas antes da chegada do bebé – respondeu ele. – Não vou voltar atrás portanto é melhor que digas que sim.
Se ela não tivesse já tomado a sua decisão antes deles terem aquela conversa, talvez aquela afirmação dele a tivesse feito repensar o assunto. Mas, apesar de muitas coisas de Caleb serem um mistério para ela, Vicky sabia que ele não quereria estar à margem daquela gravidez. Por essa razão, tinha pensado muito nas condições sob as quais o permitiria voltar para casa.
– Está bem – disse ela, e assim que pronunciou as palavras, já estava a lamentá-las.
Tinha-lhe aberto uma porta e ele entraria a arrasar. Mas era a felicidade do seu bebé que estava em jogo.
– É a decisão acertada, querida – comentou ele, com arrogância. – Vais ver, vai tudo correr bem.
Ela franziu o sobrolho perante a sua atitude e ia avisá-lo que as coisas seriam muito diferentes desta vez.
– Ouve, podes instalar-te cá em casa, mas…
Ele fez um gesto para a calar, sorriu, e pôs a mão sobre o ventre de Vicky. Ela sobressaltou-se, surpreendida. Aquele gesto fazia com que a gravidez parecesse mais real até do que quando o médico lhe deu a notícia.
– Não queres que o bebé nos oiça a discutir, pois não? – disse ele.
Vicky sentiu um nó no estômago. O comportamento dele voltava a repetir-se: ela falava e ele não a ouvia.
– Caleb, quero que saibas…
– Depois – disse ele e tirou-lhe os cabelos da cara. – Temos todo o tempo do mundo.
Caleb estava atónito: as coisas dele estavam todas no quarto dos convidados.
– Que raios significa isto? – perguntou ele à sua mulher, que o observava a partir da porta, com os braços cruzados e os olhos semicerrados.
Não se parecia nada com a mulher que o tinha permitido abraçá-la algumas horas antes. Ela endireitou-se e enfrentou-o.
– Isto é o que acontece por não ouvires as minhas objecções em voltares a viver aqui. E é o que acontece quando se avança na vida a pisar toda a gente – respondeu, com uma voz dura, muito diferente do tom suave que costumava empregar com ele. – Disseste «depois». Bom, isto é «depois». Podes ficar cá em casa mas não penses que vais voltar a entrar na minha vida como se nada tivesse acontecido. Para mim, é como se ainda estivéssemos separados.
Ele sentia-se incapaz de se mexer. Nos cinco anos em que tinham estado casados, ela nunca lhe falara daquela maneira.
– Querida… – começou ele.
– Não, Caleb. Não vou deixar que me forces a fazer uma coisa para a qual ainda não estou preparada.
– Assim, não estás a dar uma oportunidade de melhorarmos as coisas – protestou ele. – Não vamos conseguir solucionar os nossos problemas se me desterras para este quarto e ainda por cima não paras de me ameaçar com o divórcio.
– Também não vamos fazer as coisas à tua maneira – respondeu ela, com as faces coradas por ele lhe estar a fazer frente. – Queres que volte tudo a ser como antes, como se não tivesses estado a viver num hotel nos últimos meses… Eu era uma pessoa deprimida quando éramos casados. É essa a mulher que queres voltar a ter?
As palavras dela magoaram-no.
– Nunca te queixaste e, de repente, um dia disseste-me que querias o divórcio. Como é que eu podia saber que não eras feliz? Eu não consigo ler-te o pensamento.
Vicky cerrou os punhos.
– É verdade, não consegues. Mas não terias que o fazer se te tivesses dado ao trabalho de me ouvir em vez de insistir que as coisas se fazem à tua maneira, ou então não se fazem.
Caleb estava cada vez mais furioso. Desde o dia em que se tinham casado tinha feito todos os possíveis para cuidar dela e para a proteger. Era assim que ela lhe agradecia?
– Tu nunca quiseste tomar decisões nem iniciativas, portanto fazia-o eu.
– Será que alguma vez te ocorreu que eu queria mais da vida do estar ao teu serviço? As pessoas crescem e mudam, Caleb. Nunca pensaste que isso me poderia acontecer?
Aquela pergunta abrandou o seu crescente aborrecimento. Ela tinha razão: para ele, Vicky continuava a ser a jovem noiva de dezanove anos com quem se casara há cinco anos. Devido à diferença entre eles, não apenas de idade mas também de experiência, ele assumira com naturalidade o comando do casamento.
Isso não significava que ela não tivesse as suas próprias virtudes. Aliás, ela era muito madura para a sua idade e era uma pessoa com iniciativa que tinha sabido ocupar o lugar de esposa de um jovem advogado com intenções de se tornar no melhor. Uma das coisas que mais o tinha atraído tinha sido a sua força de carácter escondida por trás de um sorriso tímido.
Ele tinha vinte e nove anos quando se casara e tivera uma vida dura. Ela, com dezanove anos, a quem a vida ainda não tinha posto à prova, vivia num ambiente onde todos respeitavam certas regras. Caleb estava habituado a tomar decisões e tinha feito a mesma coisa com o seu casamento.
Pela primeira vez em muito tempo, Caleb olhou para Vicky sem que as recordações dela o cegassem. Continuava magra e muito bela, com olhos azuis e uns cabelos sedosos. Mas já não tinha aquele olhar inocente de outrora.
Quando eram casados, ela recorria a eles para tudo. Mas naquele momento, o seu olhar era distante e ocultava um mundo de segredos ao qual ele não conseguia aceder. Caleb sentiu um espasmo ao aperceber-se que não fazia ideia de quem ela era sob aquela elegante máscara.
– Não, imagino que nunca pensei nisso – admitiu ele, algo impensável para alguém que baseava a sua vida na confiança em si próprio e nos seus instintos.
Vicky ficou boquiaberta.
– Mas não me deites as culpas todas a mim – acrescentou ele.
Tinham ambos parte da responsabilidade do fracasso do seu casamento e, se tencionavam reconstruí-lo, tinham que ser sinceros um com o outro.
– Tu já sabes como é que eu sou. Se me tivesses falado disso, eu teria tentado fazer alguma coisa. Não gosto que sofras.
Era por essa razão que nunca a repreendera por aquilo que ela não era capaz de lhe dar: paixão e desejo. Esse vazio tinha-o magoado mais do que qualquer outra coisa, e ainda o magoava. Mas ele era incapaz de magoar a sua querida mulher, nem sequer para mitigar um pouco a sua própria dor. Desde o primeiro momento, a única coisa que desejara fora fazê-la feliz.
Ela abanou a cabeça.
– É isso mesmo, Caleb. Não quero que me resolvas as coisas. O que preciso é que…
– É o quê, Vicky? Diz-me – urgiu ele, dando-se conta que era a primeira vez que lho perguntava.
Que tipo de marido fora ele se não se tinha preocupado com as necessidades dela? Inclusive na cama, ele tinha tomado sempre a iniciativa, seguro da sua capacidade de lhe proporcionar prazer, apesar dela não o desejar com a intensidade que ele a desejava. Talvez ela tivesse precisado de algo mais, algo que ele não lhe tinha conseguido dar? E se fosse essa a razão pela qual ela nunca lhe correspondera com a intensidade que ele teria gostado?
O rosto dela tornou-se menos severo.
– Só preciso que me vejas verdadeiramente e que me ames a mim, e não a tua ideia da mulher perfeita nem a mulher que a minha avó tentou fazer de mim. Quero que me vejas a mim, a Victoria.
– Eu nunca te tentei mudar – respondeu ele.
– Não, Caleb, porque nem sequer me vias.
Isso era o que mais a tinha magoado. Ela amava Caleb Callaghan com todo o seu coração. Amava o seu riso, a sua inteligência, a sua teimosia e até o seu mau temperamento. Mas isso não era o suficiente. Um amor assim e que não seja correspondido, poderia acabar por destruir aquele que ama. E, apesar daquilo que ele dizia, ela sabia que ele não lhe correspondia. Para ele, ela era uma flor frágil e exótica a quem devia proteger, inclusive dos seus próprios sentimentos. E era isso o que estava a acontecer naquele momento. Caleb cerrou os punhos e os maxilares com força mas manteve o controlo.
– Se eu não te via, então com quem é que passei os últimos cinco anos? Com um fantasma? – perguntou ele, com sarcasmo.
– Talvez tenha sido isso mesmo – respondeu ela, sem saber como transmitir-lhe aquilo que começava apenas agora a compreender. – Quem é que eu era nesse casamento, Caleb?
– A minha mulher. Isso não era suficiente? – respondeu ele, com um tom que indicava uma dor que ela nunca lhe tinha conhecido.
– A mulher do Caleb Callaghan – repetiu ela com um nó na garganta. – A sério que eu era isso?
Ele franziu o sobrolho.
– Porque é que estás a fazer essa pergunta? Claro que eras a minha mulher, ainda o és. E se acabasses com esta parvoíce de dormirmos em quartos separados, poderíamos começar a tentar reconciliar-nos.
«Se sou eu a tua mulher, porque é que fizeste aquilo com a Miranda?», gritou ela dentro da sua cabeça. Mas ainda não estava suficientemente forte para o enfrentar. Ainda só tinham passado quatro meses desde aquele acontecimento e ela ainda tinha a ferida aberta…
– Não é nenhuma parvoíce, Caleb. Isto é a realidade, portanto, pela primeira vez na tua vida, presta atenção ao teu casamento! – exclamou ela, deu meia-volta e saiu do quarto.
Ele resmungou e atirou qualquer coisa contra a parede mas não foi atrás dela. Aliviada, Vicky entrou no quarto quase a desmoronar-se emocionalmente. Uma coisa era imaginar-se a enfrentar Caleb e outra era estar mesmo à frente dele. Durante os anos de casamento, ela nunca lhe tinha dito aquilo que queria porque tinha sido demasiado fraca para se opor à força dele. E o facto dele estar novamente em casa, assustava-a. E se ela voltasse a ficar deprimida e deitasse a perder tudo aquilo que ganhara nos meses em que estivera separada dele?
Tinham sido meses nos quais examinara a sua vida sob um olhar crítico. E aquilo que descobrira não era agradável. Mas estava a encarar de frente os seus erros e a ilusão que o seu casamento tinha sido. Conseguir que Caleb fizesse o mesmo era uma dura batalha. Mas ela tinha começado a lutar há dois meses, quando lhe pedira o divórcio.
Tinha sido um gesto gerado pelo desespero. Ela queria que ele deixasse de ser condescendente consigo próprio e tinha querido também fazer-lhe ver que não tinham uma vida em comum, mas apenas sobreviviam. Apesar do que ela sofrera devido ao que acontecera com Miranda na viagem de negócios a Wellington, não tinha querido renunciar aos sonhos que os tinham unido no início.
Mas já nem por esse sonho ela continuaria a esconder-se por trás da máscara de um casamento perfeito, quando a verdade é que estava desfeito. Portanto, ela deitou o isco e ficou à espera que ele respondesse. E ele tinha-o feito. Não a tinha abandonado. Apesar de ter saído de casa, tinha mantido um contacto diário com ela.
A notícia inesperada que iam ter um filho oferecia-lhes a oportunidade para passarem mais tempo juntos. Tempo para que ele a conhecesse melhor, para começar a compreender a mulher que havia para além da sua fragilidade, cortesia e urbanidade.
Quando soubesse como é que ela era, teria que decidir se queria ou não continuar casado e se queria lutar por aquele casamento. Vicky não fazia tenções de voltar a ser a esposa cosmopolita e a perfeita anfitriã. A questão era se Caleb queria uma mulher independente e que não precisasse de lhe pedir dinheiro nem um lugar na sociedade, uma mulher que não fechava os olhos perante as infidelidades do seu marido, uma mulher que já não recearia pedir-lhe o divórcio se ele não a amasse.
Caleb estava de mau humor. Tinha pensado que iria passar a noite com a sua mulher mas, em vez disso, ela tinha-o afastado para o quarto dos convidados. Ele não tinha conseguido dormir só de pensar que a sua mulher estava a apenas alguns metros e que não a podia tocar. De manhã, quando o despertador tocou, tinha-se levantado com os nervos à flor da pele.
Porque é que lhe estava a fazer aquilo? Ela nunca se tinha comportado de uma forma tão irracional. Como é que podia esperar que fingissem estar separados se viviam sob o mesmo tecto e ela estava grávida de um filho seu? Para ele, um casamento significava partilhar a cama. Além disso, ele sentia muito a falta dela. Será que ela não sentia o mesmo?
Tomou um duche rápido, vestiu um fato e entrou na cozinha à espera de ser recebido com frieza. Vicky deu-lhe uma chávena de café. Aquilo animou-o porque ultimamente ela já não fazia nada por ele. Sentou-se num dos bancos e saboreou a sensação de estar novamente em casa. Apesar das muitas horas que tinha dedicado à sua carreira de advogado, tinha restaurado aquela casa com as suas próprias mãos. Tinha sido a sua forma de se afastar do mundo competitivo no qual passava grande parte da sua vida.
Quando se casara com Vicky, a casa estava apenas parcialmente restaurada. Ele tinha estado à espera que ela protestasse mas, na verdade, tinha-se mostrado entusiasmada com o trabalho que ainda havia por fazer, tendo grande parte sido feito por ela própria.
Um ano depois, o resultado fora uma casa com a marca da sua personalidade. Alguns dos momentos mais felizes de casamento tinham-nos passado cobertos de tinta ou de serradura.
– Pensava que me ias dizer para me fazer à vida.
– E que te alimentasses de comida congelada? – perguntou ela, preparando uns ovos mexidos com bacon.
Caleb sabia cozinhar. Tivera que aprender quando era criança, obrigado pelas circunstâncias, para que ele e a sua irmã se pudessem alimentar devidamente enquanto os seus pais se ocupavam das suas vidas e se esqueciam deles. Mas, desde o primeiro dia que tinham passado juntos, Vicky assumira o controlo da cozinha. Um dos prazeres mais secretos de Caleb era desfrutar por a sua mulher se preocupar com ele ao ponto de querer cozinhar para ele. Foi por isso que sofreu tanto quando ela deixou de o fazer.
Ele segurou na chávena de café e no prato de ovos mexidos com bacon que ela lhe entregou e sorriu.
– Não me vais acompanhar?
O pequeno-almoço era uma das poucas refeições em que tinham horários comuns. O que é que ela diria se soubesse que, desde o dia que se tinham separado, ele tinha preferido não tomar o pequeno-almoço porque não conseguia suportar que ela não estivesse ao seu lado? Não lhe ia contar, claro.
Ela fez uma careta.
– Acho que vou esperar mais uma hora ou duas.
– Estás bem, querida?
Ela esboçou um lindo sorriso.
– São apenas enjoos matinais. É a primeira vez que os noto.
– Nunca tinhas tido? – perguntou ele, fascinado pela vida que crescia dentro dela.
Tinha esperança que ela não o afastasse daquela experiência da mesma forma que o afastara da sua cama.
Ela abanou a cabeça.
– Não. Isto tem o seu próprio ritmo. Mas tenho sorte porque, até agora, está a ser uma gravidez muito tranquila. Come ou vais chegar atrasado.
Ele obedeceu enquanto a observava a andar pela cozinha vestida com umas calças de ganga e um casaco verde que convidava a acariciá-lo, de tão suave que parecia. Caleb teve que se conter para não lhe acariciar o corpo. Os três meses de gravidez ainda não se notavam e ela estava com a mesma figura de antes. Mas, tal como ele aprendera na noite anterior, as coisas tinham mudado.
Ela tirou umas torradas da torradeira, barrou-as com manteiga e deu-as a Caleb. Quando lhe ia entregar o prato, ele reparou num envelope cor-de-rosa que estava em cima da bancada da cozinha.
– O que é aquilo?
– Uma carta da minha mãe. Talvez venha a Auckland daqui a uma ou duas semanas para ver como é que eu estou. Come – disse ela e guardou o envelope no bolso das calças.