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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Anna DePalo

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

A vingança do magnata, n.º 722 - Dezembro 2014

Título original: Tycoon Takes Revenge

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5891-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Volta

Capítulo Um

 

As coscuvilhices são notícias que se adiantam a si mesmas embrulhadas em cetim vermelho.

Liz Smith, cronista.

 

Suave, com dinheiro e acostumado a obter tudo com facilidade.

Em poucas palavras, pensou Kayla com desprezo enquanto o via aproximar-se dela respirando elegância, aquele homem representava tudo o que tinha aprendido a evitar graças à história da sua família.

Noah Whittaker. Vira-o assim que chegou à festa que se realizava num dos melhores hotéis de Boston para celebrar a publicação da autobiografia de um piloto de Fórmula Um já retirado.

Então veio-lhe à cabeça o título que tinha escrito sobre ele para a edição do Boston Sentinel: Apanhado com Fluffy, abandonado por Huffy. Será Buffy, a Caça Homens, a próxima conquista de Noah?

Kayla imaginava que Noah não teria achado graça nenhuma, mas ela não fazia as notícias, só informava. O certo era que ele lhe dava muito material com o qual trabalhar, não em vão se tinha transformado numa personagem essencial da sua coluna. Escrever sobre ele resultava muito simples. Conhecia perfeitamente os da sua espécie. Agia como se o mundo inteiro fosse um coquetel preparado especialmente para ele, tal como fizera o pai de Kayla.

Observou-o enquanto se aproximava e tratou de eliminar uma irritante sensação de nervosismo. Não havia motivo algum para estar nervosa. Sabia que para muitas mulheres, Noah Whittaker era sinónimo de pecado; no entanto Kayla tinha sido vacinada contra os homens como ele mal nascera… embora fosse capaz de apreciar os seus atractivos de maneira completamente desapaixonada. Tinha o cabelo curto, grosso e cor de bronze polido a fogo, media mais de um metro e oitenta e tinha corpo de atleta. Tinha tido uma breve e meteórica carreira como piloto de corridas, mas agora era conhecido por ser o vice-presidente da Whittaker Enterprises, o conjunto de empresas que a família possuía em Carlyle, perto de Boston.

Noah deteve-se em frente a ela.

– Kayla Jones, não é assim? – fez uma pausa, marcando os masculinos rasgos do seu rosto. – Ou deveria dizer – acrescentou num tom que denotava uma leve troça… – a senhorita Segundo os Rumores?

Kayla ergueu automaticamente o queixo. Se pretendia desconcertá-la, ia ter uma boa decepção; tinha experiência de sobra para enfrentar a mordacidade dos ricos e privilegiados.

– Exactamente, é impressionante que se lembre.

Ele torceu a boca para esboçar algo parecido a um sorriso.

– Não poderia esquecer-me depois de ter despedaçado a minha vida social. Isso consta dos seus deveres como cronista de coscuvilhices do Boston Sentinel?

Desta vez ficou tensa. Tinham-se visto em vários actos sociais, mas aquela era a primeira vez que Noah Whittaker se dignava a falar com ela.

– Prefiro o termo cronista de sociedade. Escrevo para a secção de estilo do Sentinel.

– É assim que se chama agora a secção de ficção dos jornais?

Tentou soltar uma gargalhada depreciativa.

– Se não tivesse ouvido tantas vezes essa frase, acharia que trata de me ofender.

Ele baixou a cabeça, como se estivesse a considerar as suas palavras.

– Depende das suas intenções. Está a tentar deliberadamente espalhar mentiras sobre mim, ou trata-se simplesmente de uma vantagem adicional do seu trabalho?

– Para sua informação, tudo o que aparece nos meus artigos está perfeitamente contrastado e comprovado; asseguro-me sempre que as minhas fontes sejam fidedignas.

– É evidente que tem de se assegurar melhor.

– Estamos a falar da minha coluna de hoje?

– Exactamente. Essa, a da semana passada e a anterior também. Pergunto-me que terão em comum todas elas.

– Não é necessário ser sarcástico – disse ela. – Sou consciente de todas as vezes que o mencionei nos meus artigos.

– A sério? – perguntou com repentina suavidade. – Também é consciente que, por sua culpa, Eve Bernard, ou Huffy, ou mal-humorada, como lhe chama, acabou comigo?

Pelo que Kayla tinha ouvido, Eve tinha feito algo mais que acabar com ele. Segundo as testemunhas com as quais falara, Eve deu-lhe a notícia acompanhada de uma bofetada… na presença das dezenas de convidados que assistiam a uma festa no sábado à noite. Um fotógrafo do Sentinel conseguiu retratar Noah segurando Eve pelos braços e olhando-a furiosamente.

Mas que queria dizer com isso de ter sido culpa sua?

– E isso ocorreu como resultado do meu artigo? – perguntou com cepticismo. – Não seria porque o senhor andou a brincar com Fluffy? – ao ver o modo como a olhava, corrigiu: – quero dizer, com Cecily.

Noah desatou a rir cinicamente.

– Brincar? Que vocabulário tão excelente utilizam os senhores jornalistas. Suponho que fazem tudo o que for necessário para escrever as suas insinuações.

Kayla moveu a cabeça, abandonando qualquer tentativa de ser correcta.

– O que o senhor disser – com o canto do olho viu que um grupo de convidados tinha começado a dirigir olhares curiosos na direcção deles. – O caso é que existe uma foto sua e de Cecily beijando-se à porta do clube Kirkland.

– Todos sabemos que uma imagem vale mais que mil palavras – respondeu ele. – Neste caso vale mais que mil mentiras. No entanto, caso se tivesse dado ao trabalho de investigar um pouco, em vez de se fiar numa simples instantânea, teria descoberto que Cecily me apanhou completamente de surpresa.

– Que sorte para si.

Noah fez caso omisso daquelas palavras.

– Verá, a Cecily tem a estranha ideia que as intrigas a ajudarão a lançar a sua incipiente carreira como actriz… e mais ainda se o tipo com o qual aparecer for rico ou famoso. Esse foi o motivo pelo que se colou a mim mal viu o fotógrafo do seu jornal.

– Então talvez devesse equacionar se deve continuar a sair com actrizes imaturas sedentas de publicidade – sugeriu Kayla docemente. – Ou com modelos não muito espertas. Agora que penso… – fingiu ter de fazer um esforço para dar com outro exemplo, – creio lembrar-me também de uma participante num reality show.

– Dado que por enquanto a lista não inclui nenhuma jornalista de boatos – começou a dizer, observando-a de ponta a ponta, – não acho que deva colocar em dúvida o meu bom gosto.

– Pelo que observei, o seu gosto limita-se às loiras platinadas.

– Está a chamar-me superficial?

– Se se dá por aludido…

Noah abanou a cabeça.

– Tão jovem e tão amargurada.

Amargurada? Não, Kayla considerava-se cautelosa, mas era assim que devia ser qualquer mulher que se esforçava sozinha por chegar ao fim do mês. Era assim que tinha de ser a filha de um hábil arrivista e da sua jovem amante. Mas, evidentemente, o senhor Whittaker não fazia a menor ideia do que os comuns mortais tinham de passar.

Contra-atacou em voz alta:

– Nós, os jornalistas devemos pensar para trabalhar e não parece que tal capacidade tenha muita relevância entre os critérios pelos quais o senhor escolhe as suas namoradas.

– Tenha ou não, é algo que não incumbe a ninguém, excepto a mim.

– Para sua informação, não me baseei unicamente na fotografia. Telefonei à Eve e ela confirmou-me que pensava acabar consigo por culpa do incidente.

– Porque a Eve preocupa-se muito com a sua imagem pública. Acreditou em mim quando lhe disse que a senhora tinha interpretado mal as coisas, porque ela sabe como é Cecily, mas, segundo ela, devia parecer que me castigava pelo meu comportamento.

Kayla teve de controlar o impulso de sorrir.

– Bom, temo que isso não seja culpa minha.

– Claro que é – protestou ele. – Não deixa de publicar rumores luxuriosos que estão a arruinar a minha vida social.

– Pois procure outra jovem aspirante a estrela – replicou ela. – Aproveite porque julgo que Buffy, a caça homens, está livre.

– Ah, esse é outro tema – disse com evidente tensão. – Não necessito que me procure namorada. Sobretudo se se trata de alguém que é considerada uma barracuda com saltos.

– Que cruel. Deveria considerar a ideia de abrir os seus horizontes.

Noah apoiou uma mão na parede, deixando-a muito perto da cabeça de Kayla, que, automaticamente, se afastou dele. Ele continuou a olhá-la com um sorriso nos lábios.

– Pergunto-me por que lhe resulto tão fascinante. Será que gostaria de ser uma dessas mulheres com quem saio?

– Não diga tolices – retorquiu ela.

Olhou-a mais uma vez, detendo-se na sua mão desnuda, sem anel algum e deixando os seus olhos passearem-se pelo seu peito antes de voltar ao rosto, invadido por uma expressão de indignação.

– Parece um pouco tensa. Que foi? Talvez gostasse que houvesse na sua vida um pouco mais de emoção?

– Não, obrigada. A minha mãe ensinou-me a afastar-me de homens como o senhor.

– Claro. Isto começa a fazer sentido. A intrépida repórter está reprimida.

– Não estamos a falar de mim – lembrou-lhe friamente. Que desfaçatez. Ele não sabia nada da sua vida. Absolutamente nada.

– Parece-lhe bem publicar as vidas dos demais, mas a sua é intocável, é isso que pensa?

– Não há nada no meu passado tão interessante como um acidente fatal – replicou em seguida.

Mal as palavras saíram da sua boca, percebeu que se tinha excedido. Podia ser um completo cretino que achava que o dinheiro e apelido o tirariam de qualquer apuro, mas não devia ter mencionado uma tragédia como aquela.

O seu gesto endureceu-se.

– Alegre-se que assim seja.

– Desculpe-me – disse ela, afastando-se dele em busca da saída mais próxima.

 

 

Noah ficou a olhar para ela enquanto se afastava.

– Problemas?

Nas suas costas, encontrou Sybil LaBreck, colunista de sociedade do Boston World.

– Só uma pequena rixa de apaixonados – respondeu sarcasticamente, mas ao ver como Sybil abria os olhos de par em par, percebeu que a jornalista levara a sério a sua frívola resposta.

Sybil era a maior concorrente de Kayla no mundo da imprensa de sociedade. Perto dos sessenta anos, Sybil parecia uma versão actualizada da esposa de Pai Natal, mas o certo era que tinha a habilidade de descobrir a roupa suja mais escondida.

Agora olhava-o, perplexa.

– Mas ultimamente tem sido muito visto com essa modelo… como se chama? Eve.

Noah esteve a ponto de lhe dizer que estava a brincar, mas então viu que aquela era a oportunidade perfeita para devolver o golpe a Kayla.

– A minha relação com Eve não era mais do que uma fachada para distrair os paparazzo. Eve obtinha a propaganda que buscava e Kayla e eu conseguíamos um pouco de privacidade. O trato perfeito.

– Não compreendo. Na semana passada, a Eve deu-lhe uma bofetada por tê-la enganado! – lembrou de repente Sybil.

– Uma maneira estupenda de tornar público o fim de nossa falsa relação, não lhe parece? – perguntou Noah, deleitando-se em privado com a manchete da coluna de Sybil no dia seguinte.

A jornalista abriu a boca, certamente para averiguar os detalhes, mas ele interrompeu-a com suavidade:

– Com licença – disse fixando o olhar no outro extremo da sala. – Acabo de ver alguém que devo cumprimentar.

– Claro – respondeu Sybil, desviando-se para o lado.

Noah deitou-lhe um último olhar com o qual comprovou que parecia um gato acabado de conseguir apanhar a sua presa.

Enquanto se dirigia ao balcão, pensou no sucedido com a autora de Segundo os Rumores. Se o seu jornal se editasse a cor, a coluna de Kayla não seria mais que uma sucessão de exclamações rosa; aqueles textos eram o mais parecido às coscuvilhices que partilhavam as integrantes das irmandades universitárias enquanto pintavam as unhas. Embora também fosse certo que aquela coluna não fazia suspeitar como era a sua autora. Nessa noite vestia um ajustado vestido preto que lhe marcava os seios generosos e deixava ver uma boa extensão das suas elegantes pernas. O cabelo cor de mel caía-lhe como uma cortina sobre os ombros descobertos. Tinha os olhos grandes e sempre bem abertos e os lábios carnudos. Noutras circunstâncias, teria dito que aquela mulher era o seu tipo: loira, de seios grandes e muito bela.

No entanto, nem sequer o atractivo embrulho podia ocultar o facto de que Kayla Jones supunha um perigo para ele.

A sua reputação de playboy transformava-o em objecto da imprensa e da troça dos seus irmãos mais velhos, Quentin e Matt, e da sua irmã mais nova, Allison. Mas o certo era que trabalhava muito como vice-presidente da Whittaker Enterprises, o negócio familiar que o seu pai, James, tinha criado. A sua formação no prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachussets era-lhe de grande ajuda para gerir aquele negócio.

Não ia martirizar-se por lhe agradar desfrutar da companhia de modelos e actrizes quando podia sair da prisão que às vezes parecia o escritório; não pensava negar-se um pouco de diversão. Além disso, não era comum encontrar gente atraente no mundo de loucos dos computadores.

Pediu um coquetel ao empregado sem poder deixar de franzir a testa. Essa Kayla tinha tido o descaramento de gozar dele pelo acidente que tinha acabado com a sua carreira de piloto de corridas. Deus sabia que se pudesse voltar atrás no tempo e apagar aquele terrível acidente que custara a vida a outro piloto, o teria feito. Mas parecia que a imprensa não o compreendia.

As cicatrizes do seu corpo tinham-se curado, mas as da alma não desapareceriam nunca.

Já com o coquetel na mão, voltou a pensar que era uma pena ter de perder a reacção de Kayla ao ver o artigo de Sybil.

Mas então… um sorriso apareceu no seu rosto.

Tirou o telemóvel. O número que queria figurava na sua agenda pois tinha-o utilizado antes e depois de numerosos encontros: a floricultura Bloomsville.

 

 

Na manhã seguinte, o primeiro indício que disse a Kayla que algo ia mal foi o enorme ramo de rosas vermelhas que encontrou na sua mesa do Boston Sentinel. No início, pensou que se tratava de um erro e olhou em redor tratando de buscar uma resposta. No entanto, depois encontrou a nota que acompanhava as flores.

Kayla, obrigado por uma noite maravilhosa.

Observou o cartão uma e outra vez, mas não encontrou nada que dissipasse a sua confusão ou lhe desse a menor pista sobre quem lhe enviara o ramo… nem sequer o nome da floricultura.

Interessante. Quem lhe teria mandado aquelas flores? Há já um par de meses que não saía com ninguém, desde aquele encontro com um produtor de rádio depois do qual tinha decidido que entre eles não havia química.

Sentou-se à mesa com a intenção de ligar à recepcionista para que a informasse dos visitantes, mas, como era seu costume, primeiro viu os títulos das notícias na Internet; especialmente os de sociedade. Tinha adquirido o hábito de ler os artigos da concorrência para estar ao corrente do que faziam os seus rivais.

Ao chegar à página de sociedade do Boston World, viu a fotografia a branco e preto de Sybil LaBreck, que a olhava fixamente, tratando de atrair a sua atenção para a manchete do seu artigo: Amizades Perigosas: a relação secreta de Noah Whittaker e da jornalista Kayla Jones, também conhecida como a senhorita Segundo os Rumores.

Ficou gelada, pestanejou e voltou a olhar.

Não. Mas ali continuava o título.

Leu o resto do artigo enquanto notava como o estômago lhe dava voltas.

Sybil afirmava que Noah e Kayla estavam juntos há algum tempo e que, na noite anterior, durante a festa, tinham tido uma pequena disputa de amantes. Finalmente insinuava que os ataques que Kayla lançara a Noah na sua coluna não eram mais que uma cortina de fumo para ocultar a relação clandestina que havia entre eles.

A mente de Kayla pôs-se a funcionar a mil à hora. Talvez Sybil os tivesse visto a discutir na noite anterior e tivesse chegado à errónea conclusão que tinha presenciado uma briga de apaixonados. Ou talvez… uma possibilidade mais sinistra veio-lhe à cabeça… talvez alguém tivesse feito crer a Sybil que havia algo entre eles.

Levantou a vista do computador e deparou com o estranho olhar de um dos seus colegas da secção de saúde. Teria corrido já o boato da notícia de Sybil? Voltou a olhar para o ramo de flores e de repente compreendeu a sua procedência.

Noah. O grande cretino. Fosse ele o causador ou simplesmente o beneficiário, ia dizer-lhe um par de coisas.

Procurou o número de telefone da Whittaker Enterprises e, segundos depois, estava a falar com a secretária de Noah:

– Quem deseja falar com ele? – perguntou a secretária mal ela pediu para falar com Noah.

– Kayla Jones.