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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Christine Flynn

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

A filha do senador, n.º 1176 - Novembro 2014

Título original: The Reluctant Heiress

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Julia e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5898-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Volta

Prólogo

 

Jillian Hadley esperava sempre por Setembro para fazer a sua lista de objectivos para o ano novo. Enquanto a maioria das pessoas planeava a sua vida nova a partir do dia um de Janeiro, ela esperava pelo início do novo ano escolar para fazer uma lista de objectivos, coisas que queria resolver e hábitos que queria perder.

Não era que se rebelasse contra as convenções, embora estivesse habituada a fazer as coisas à sua maneira. O desejo de independência com que crescera impulsionava-a a fazer as coisas quando lhe parecesse mais lógico. Um novo ano escolar era, logicamente, um novo começo.

Transformara-se num hábito ligar a televisão para ter um pouco de companhia assim que entrava no duplex cómodo e pequeno a que chamava lar. Levou a sua mala de viagem para o quarto, tipicamente feminino, acendeu a luz e deixou-a sobre a sua cama com colcha branca.

Era professora no Liceu Thomas Jefferson há oito anos e apenas não fizera a sua lista uma vez. Fora no ano anterior. Um ano terrivelmente mau para ela, embora houvesse detalhes que preferia não recordar desses tempos. Abriu a mala e começou a tirar o seu conteúdo.

Em apenas três meses, a sua mãe ficara muito doente, o seu ex-namorado dissera-lhe que não queria casar-se com ela e a sua mãe morrera. Fora como se as coisas não tivessem parado de piorar. Apenas se apercebera de como bloqueara os seus sentimentos quando, por sorte, toda a dor viera à superfície no Verão anterior.

Tirou um colar de orquídeas cor-de-rosa pálido da mala e disse para si que os maus tempos tinham acabado. Nunca ia esquecer a perda da sua mãe. Beth Hadley fora a sua melhor amiga, a sua heroína e a mulher mais forte que conhecera. No entanto, ia sobreviver bem sem Eric Chandler.

Ficou surpreendida ao aperceber-se de que superara bem a ruptura com o homem com quem pensara casar-se. Esse facto e o facto de o seu relógio biológico não parar levou-a a tomar a sua primeira resolução.

Nesse ano, se o treinador Gunderson a convidasse para sair outra vez, diria que sim. Era um homem agradável. Um pouco calvo, mas agradável. Ela sabia bem como era difícil encontrar um homem digno de confiança. Um homem que não fosse casado, comprometido ou que não fosse homossexual. Também ia evitar comer bolos na sala de professores, ia aprender a tocar guitarra e ia considerar seriamente a possibilidade de alisar o seu cabelo comprido. Talvez até pudesse cortá-lo e pintá-lo de alguma cor diferente.

Sentiu um optimismo renovado e deu as boas-vindas à mudança. As suas férias no Maui tinham acabado. Trouxera um colar de orquídeas, um sari estampado que provavelmente nunca usaria, fotografias para mostrar aos seus alunos e um bronzeado excelente.

Não se importou que as suas férias fossem apenas uma lembrança. Não sentiu a depressão do regresso ao trabalho e à sua vida normal. Embora estivesse cansada por ter passado onze horas num avião, sentiu-se cheia de vontade de começar o ano escolar e de conhecer os seus novos alunos. Então a voz masculina do apresentador das notícias da noite chamou a sua atenção.

Com o coração acelerado, olhou para a televisão.

«… aventura no meu casamento. Essa aventura resultou numa filha que eu desconhecia até ela ter entrado em contacto comigo, depois da morte da sua mãe no ano passado. As fotografias de Bradley Ashworth provam esse encontro. Como sabem, Bradley era casado com a minha filha mais nova, Tess. Quando Tess lhe disse que queria divorciar-se porque não suportava os maus tratos físicos e mentais, ele disse-lhe que eu tinha uma aventura e utilizou as fotografias para chantagear a minha filha».

Na televisão, um homem de cabelo grisalho falava num tom solene. Os seus olhos cinzentos olhavam com intensidade para as câmaras.

Jillian tentou concentrar-se nas palavras do homem. Estava a tentar proteger a sua família e a sua reputação. A sua filha Tess deixara que todos acreditassem na versão de Ashworth: que se divorciara dele porque estava farta do seu casamento e porque queria estar com outros homens.

Jillian recordou o escândalo de quando a bonita Tess Kendrick agarrara no seu filho e saíra do país no ano passado. Então, ela pensara que Tess não passava de uma mulher mimada. Pela forma como os meios de comunicação social tinham divulgado a notícia, toda a gente pensara o mesmo.

Toda a gente conhecia o homem que estava a falar. O poderoso senador era um dos homens mais ricos do país. Quando era jovem, apaixonara-se por uma princesa e ela renunciara ao seu reino para se casar com ele. Desde então, o seu casamento e os seus quatro filhos foram tratados pela imprensa como realeza americana.

Jillian crescera a ouvir os contos de fadas que a imprensa contava sobre os Kendrick. No liceu, as suas amigas e ela costumavam coleccionar os artigos publicados sobre a família, sobretudo sobre as filhas. Ashley era apenas alguns anos mais nova do que Jillian. Tinham usado vestidos de marca e vestidos de noite. Tinham andado nas melhores escolas privadas e tinham guarda-costas e empregados. Tinham passado os Verões no palácio da sua avó na Luzandia. Os seus irmãos mais velhos eram muito atraentes e as raparigas eram tão impressionantes como a sua mãe, uma mulher loira que estava sentada ao lado de William Kendrick perante as câmaras.

O coração de Jillian acelerou ainda mais. A sua mãe fora a única pessoa que ignorara tudo sobre os Kendrick e a sua celebridade. Nunca a ouvira comentar nada sobre nenhum membro da família. Sempre que lhe mostrara uma fotografia das filhas em algum baile ou a montar a cavalo, a sua mãe fizera sempre algum comentário neutro e mudara de assunto. Jillian pensara que a vida dos ricos e famosos não interessava à sua mãe, uma mulher prática e trabalhadora.

Contudo, dois dias antes da morte da sua mãe, esta contara a Jillian quem era o seu pai.

Ela era a filha ilegítima de quem o homem falara e ele prometera não o revelar.

A câmara mostrou a imagem de um jornalista que, com uma expressão grave, repetia o que William dissera sobre os maus tratos sofridos por Tess e sobre a chantagem do seu ex-marido.

Jillian nem sequer reparou que não tinham revelado o seu nome. Apenas pensou que William Kendrick quebrara a sua promessa. Vira-o uma única vez. A dor, o ressentimento e uma mistura de outras emoções tinham-na levado a procurá-lo uns meses depois da morte da sua mãe. Então, deixara bem claro ao seu pai que não queria que a sua relação fosse pública. William concordara com ela e ela compreendera que também estava interessado em evitar um escândalo. Prometera-lhe que não ia falar da sua existência a ninguém, apenas à sua esposa.

Jillian apercebeu-se de que estava a tremer. Não sabia se se sentia triste, atordoada ou furiosa quando o apresentador das notícias começou a especular sobre a identidade e o paradeiro da filha ilegítima de William Kendrick. A única coisa que sabia era que a sua mãe nunca deixara de amar William. Confessara-lho no seu leito de morte. Ela respeitava a sua mãe, a mulher que a criara sozinha, porém, não conseguia imaginar que pudesse sentir afecto pelo seu pai. A sua mãe fora magoada pelo mesmo homem que, naquele momento, estava a traí-la também, revelando o seu segredo.

Enquanto via uma imagem de Tess e de Bradley e outra de William na sua juventude, sentiu que estava a entrar num pesadelo.

 

 

Capítulo 1

 

Ben Garrett trabalhava bem sob pressão. Sentia uma explosão de adrenalina quando tentava enfrentar desafios impossíveis. Para ele, todos os obstáculos eram possíveis de ultrapassar. Contudo, aquilo de que mais gostava era de influir na opinião pública. Tinha sempre sucesso e era por isso que os seus clientes lhe pagavam tão bem.

Com o seu fato impecável, foi até à porta das traseiras do duplex modesto no bairro operário de Hayden, Pensilvânia. O Volkswagen verde que estava estacionado à frente da garagem era de Jillian Hadley, por isso, ela tinha de estar em casa.

Ben era especializado em relações com os meios de comunicação social para os clientes de alto nível do grupo Garrett: políticos de Washington D.C. e ricos e famosos que queriam ver a sua imagem enaltecida ou mudada por completo. Acabara o seu mestrado em Yale há quinze anos e conseguira uma boa reputação como perito em situações de crise. Por isso, o seu pai, o sócio mais antigo da prestigiosa empresa de relações públicas, e William Kendrick, o melhor amigo e cliente mais antigo do seu pai, tinham insistido que ele se ocupasse pessoalmente da menina Hadley.

A boa notícia era que ia conseguir encontrá-la antes que a imprensa o fizesse. A má notícia era que tinha pouca informação sobre a filha de William Kendrick. A única coisa que sabia dela era que dava aulas no liceu, que o seu encontro com William não correra bem e que ninguém fora capaz de a avisar da conferência de imprensa do dia anterior.

Não havia um único jornal, televisão ou emissora de rádio que não tivesse falado de Tess, a filha de William que fora chantageada pelo seu ex-marido, sobre a aventura que William tivera e sobre a sua filha ilegítima. A notícia até tinha ultrapassado as fronteiras do país. O London Daily Star anunciara a «Crise em Camelot», onde viviam os Kendrick, com grandes cabeçalhos na primeira página. Os jornais de Paris, de Roma e a Internet mostravam Tess a pagar pelos pecados do seu pai e especulavam sobre a possibilidade de que a filha ilegítima tivesse sido subornada em troca do seu silêncio.

Como ninguém sabia o que Jillian ia dizer, Ben tinha de fazer com que as cartas jogassem a favor da família Kendrick. Para além disso, William insistira que a protegesse dos meios de comunicação social, para proteger também a sua família de qualquer comentário negativo que pudesse fazer.

Ben abriu uma pequena porta no pátio das traseiras e entrou. Tinha vinte e quatro horas para cumprir o seu objectivo com a menina Hadley. Enquanto olhava para as horas no seu Rolex, esperou que tudo corresse tão bem como a conferência de imprensa que ele mesmo organizara no dia anterior.

O pátio era muito semelhante aos pátios das casas adjacentes. O duplex estava rodeado de árvores e de canteiros de flores. No entanto, a sua atenção concentrou-se numa mulher morena e esbelta.

Ben reconheceu o seu perfil delicado e o seu cabelo comprido, escuro e sedoso das fotografias que lhe tinham mostrado no dia anterior.

Por uns segundos, percorreu as curvas dela com o olhar. Levava uma t-shirt branca e uma saia verde até aos joelhos, o que não tinha nada que ver com os conjuntos de marca que todas as mulheres do seu círculo social costumavam usar, incluindo as sofisticadas Kendrick. Se levava maquilhagem, não se notava. Quando ela o viu, aproximou-se dele e ele conseguiu ver que estava muito bronzeada e que não parecia ter trinta e três anos.

Ben franziu o sobrolho. Não esperara que Jillian tivesse um aspecto tão… natural. Também não se preparara para que o sorriso generoso dela desaparecesse ao vê-lo melhor.

Pela forma como Jillian sorrira, era óbvio que o confundira com outra pessoa. Pelo menos, não esperara encontrar-se com um desconhecido.

Sem querer intimidá-la, Ben ficou parado junto da mesa do jardim e apontou para a casa.

– Toquei à campainha, mas ninguém abriu a porta – disse, para explicar a sua presença no pátio. – Sou Ben Garrett, menina Hadley. Sou o chefe de relações públicas do senhor Kendrick.

Jillian sentiu um aperto no coração quando aquele homem de olhos azuis atraente sorriu. O seu tom de voz mostrava reserva e amabilidade e reflectia os traços fortes e sensuais do seu rosto. No entanto, ela estava demasiado incomodada por o encontrar ali para parar para pensar nessas coisas.

– William disse-me que ia enviar alguém quando telefonou esta manhã – disse. A verdade era que William Kendrick lhe telefonara duas vezes e a sua secretária também. Tinham deixado várias mensagens no atendedor de chamadas na noite anterior. – Lamento que não o tenha avisado antes.

– Antes? – perguntou, levantando as sobrancelhas.

– Para lhe dizer que não era necessário vir cá.

Jillian olhou para as pedras e ramos que recolhera para levar para as suas aulas. Ainda faltavam alguns dias para que as aulas começassem e as reuniões de professores já tinham começado. No entanto, só se falava da filha misteriosa de William Kendrick e da aventura que perturbara o casamento modelo do milionário e de Katherine Kendrick. Quase todos apoiavam a mulher traída, a bela Katherine. Afinal de contas, o seu marido fora infiel e tivera uma filha com outra mulher.

Aquela outra mulher fora a sua mãe.

Jillian tentara manter-se à margem daquelas conversas e ignorar as coisas que não desejava ouvir. Quando Carrie Teague, uma colega, lhe perguntara o que pensava sobre o escândalo, ela respondera que estava cansada da viagem e que só conseguia pensar em dormir e nas aulas. O seu comentário, por sorte, provocara algum interesse pelas suas férias e tinham mudado de assunto.

Pelas mensagens que tinha no seu atendedor de chamadas na noite anterior, Jillian sabia que William tentara localizá-la antes da conferência de imprensa e sabia que William apenas quisera limpar o nome da sua filha Tess. Também sentira um grande alívio ao saber que não revelara o seu nome nem o seu paradeiro à imprensa. No entanto, continuara sem mudar de opinião sobre ele. As suas razões para sentir um grande ressentimento pelo seu pai continuavam firmes.

Num mundo ideal, nunca teria ouvido o nome de Kendrick, disse Jillian para si, e Ben Garrett não estaria no seu pátio.

Ben ficou parado, a observá-la.

– Penso que a minha presença é necessária.

A forma como estava a observá-la enervou Jillian. Para que não reparasse como as suas mãos tremiam, cruzou os braços.

– Disse que é relações públicas?

– Sim.

– Então, honestamente, não temos nada para falar. Eu não tenho nada que ver com o público. William disse-me que ninguém conhecia a minha identidade – disse. – Sou feliz no anonimato. Os Kendrick têm as suas vidas. Eu tenho a minha. Quero que continue assim.

Jillian manteve o olhar firme. Como as suas palavras, a sua expressão mostrava convicção. No entanto, pela sua linguagem corporal, Ben compreendeu que estava desiludida com William e com o que fizera.

Jillian desviou o olhar e, com ansiedade, apertou os braços.

Ben sentiu-se aliviado ao saber que preferia permanecer no anonimato. Não seria possível, porém, pelo menos, significava que não desejava vender a sua história aos jornais. Por outro lado, encontrou outro motivo de preocupação. Se Jillian dissesse à imprensa o que acabara de lhe dizer, os jornalistas iriam persegui-la para saber porquê.

Ben tentou pensar como podia ajudá-la a enfrentar tudo o que ia acontecer.

– As coisas não são assim tão simples, menina Hadley. William não disse à imprensa quem é, mas não é possível evitar que descubram. Dentro de uns dias, os repórteres vão invadir a sua casa.

– Se ninguém lhes disse quem sou, como vão encontrar-me? – perguntou.

– Um dos advogados de William descobriu que um jornal pagou uma fortuna a alguém para conseguir cópias das fotografias que William se recusou a mostrar na conferência de imprensa – explicou Ben. – Numa delas, vocês estão juntos e parece que estão a abraçar-se…

– Não houve abraço nenhum… – disse, confusa.

– Outra mostra-vos como se estivessem a discutir. Estão ao lado de um Volkswagen verde com matrícula da Pensilvânia. William diz que é o seu carro. Talvez o jornal em questão já saiba quem é e qualquer jornalista que se preze vai utilizar os seus contactos para descobrir a quem pertence a matrícula do carro. Tal como fez o advogado de William.

– Foi assim que me encontrou?

Ben abanou a cabeça e deu um passo para ela.

– Já sabíamos que vivia em Hayden – recordou. – Bastou-nos procurar o seu nome na Internet.

– Estou na Internet? – perguntou, desconcertada.

– Quase toda a gente está – repôs Ben. – O advogado procurou o número da matrícula só para ver se qualquer outra pessoa que o fizesse conseguiria encontrá-la. Vão encontrar o seu nome e a sua morada. Depois de a reconhecerem como a mulher das fotografias, o anonimato passará à história.

A primeira impressão que Ben tivera da mulher que tinha de proteger era que pertencia ao tipo de pessoas que tinham uma vida discreta. Tendo em conta onde vivia, parecia ser uma mulher modesta com uma vida pouco complicada. Não queria que o mundo a conhecesse. Não queria fama nem notoriedade. Pelos vistos, a única coisa que desejava era manter tudo na mesma.

Ben não tinha culpa que a vida de Jillian estivesse prestes a ficar de pernas para o ar. No entanto, alguma coisa na forma como ela tentava ocultar a sua apreensão fez com que sentisse uma compaixão inesperada.

– Venderam as fotografias? – perguntou, sem conseguir compreender a magnitude do problema. – Quem tinha acesso a elas?

Ao levantar os braços, Jillian fez com que a sua t-shirt se ajustasse aos seus seios exuberantes. Ben ficou com dificuldade em respirar. Reparou na forma delicada dos ombros dela e nas suas pernas longas e esbeltas. Costumava preferir mulheres sofisticadas. Contudo, descalça na erva, com os seus caracóis despenteados, Jillian pareceu-lhe uma deusa da fertilidade.

No entanto, Ben sentiu um nó na garganta ao deparar-se novamente com o olhar de ansiedade nos olhos dela. A compaixão que sentia era desconcertante e pouco habitual para um homem que se transformara num cínico.

– O ex-marido de Tess Kendrick, Bradley Ashworth – respondeu Ben. – Supomos que as vendeu como vingança pela forma como William o expôs na conferência de imprensa.

Ben esperou que ela mostrasse medo e que cooperasse um pouco.

– Talvez saibam quem sou, mas não sou obrigada a falar com eles.

– Isso não vai impedir que invadam a sua vida. É por isso que estou aqui – disse, tentando fazer com que Jillian se apercebesse da gravidade da situação. – O meu trabalho é ajudá-la a lidar com a imprensa – afirmou, ocultando que fazer com que ela dissesse o apropriado também fazia parte do seu trabalho. – Tenho a certeza de que virão. Se não for hoje, é amanhã. É impossível fugir disto.

Era óbvio que aquela mulher não sabia como era vulnerável, disse para si. Para não parecer impaciente, tentou suavizar o seu tom.

– William quer que saiba que não vai abandoná-la. Garanto-lhe que não quer enfrentar isto sozinha.

Durante uns segundos, Jillian não disse nada. Para ela, já era demasiado desconcertante estar cara a cara com um dos sócios do seu famoso pai. Contudo, Ben Garrett era desconcertante em si mesmo. Era um homem seguro de si mesmo, muito persuasivo nos seus argumentos e convencido de ter razão. Mesmo assim, mais incomodativa do que a sua persistência era o impacto físico que a sua presença produzia nela.

Aquele homem possuía a mesma aura de autoridade e de influência que sentira em William, mas de uma forma mais elementar. Estava a quase quatro metros dela, contudo, conseguia sentir a energia que irradiava, como um campo magnético, e ela não era imune àquele poder.

Jillian pensou que era um homem habituado a conseguir o que queria. Era o tipo de homem que os outros invejavam e por quem as mulheres ficavam loucas. No entanto, ficar louca por um desconhecido não estava na sua lista de objectivos para o novo ano escolar. Nem que um estranho lhe dissesse o que tinha de fazer.

Sentindo um desejo imperioso de que aquela situação acabasse e, sobretudo, de que aquele homem se fosse embora, Jillian usou o tom de «fim da discussão» que costumava utilizar quando um aluno era demasiado obtuso.

– Senhor Garrett, por favor, diga ao seu cliente que agradeço o seu interesse, mas posso lidar com isto sozinha. Se consigo lidar com trinta rapazes, também consigo lidar com alguns jornalistas.

– Serão mais do que alguns.

– Não interessa – insistiu. – Lamento que tenha vindo até aqui para nada. Tenho a certeza de que é um homem muito capaz, mas não quero ter nada que ver com William. Nem quero a sua ajuda.

Jillian reparou em alguma coisa parecida com compaixão nos seus olhos azuis intensos. Não soube com certeza se era sincera ou calculada.

Nunca devia ter ido ver William, disse para si.

Ben preparou-se para lhe responder. Era óbvio que aquela mulher não fazia ideia do que estava prestes a acontecer. Ele vira grandes políticos e directores corporativos a deixarem-se levar sob a pressão da imprensa e não fazia ideia do que ela era capaz de dizer ou fazer quando a encontrassem. No entanto, não lhe pareceu uma boa ideia pressioná-la. Jillian Hadley podia ser tão inocente como um bebé em relação ao que a esperava, porém, era uma mulher independente. Precisava da sua cooperação e não ia conseguir isso à força.

Portanto, Ben preparou a sua retirada. No entanto, não estava disposto a aceitar a derrota. Simplesmente, ia deixar que o tempo funcionasse a seu favor. Enfiou a mão no bolso do casaco e tirou um cartão-de-visita. Anotou o seu número de telemóvel e deu-lho. A brisa levou-lhe o cheiro de Jillian, um pouco exótico e muito mais sensual do que esperava de uma professora de escola.

– Telefone-me quando mudar de ideias.

– Isso não vai acontecer – insistiu Jillian, porém, aceitou o seu cartão. – Obrigada na mesma.

– De nada – murmurou e virou-se para sair do pátio.

Quando Ben desapareceu, Jillian guardou o cartão no bolso da sua saia e respirou fundo.

Jillian pensou que era estranho que tivesse desistido tão facilmente. Com um aperto no peito, apressou-se a entrar em casa. Se a imprensa a encontrasse, os dias seguintes podiam ser um pouco desagradáveis. Contudo, ela já sobrevivera a tempos desagradáveis antes.

Passara muito mal depois da morte da sua mãe. O seu mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo. Depois de finalmente ter conseguido voltar ao normal, não estava disposta a deixar que a sua vida se complicasse novamente. Muito menos por causa de William Kendrick. Podia lidar com a situação, disse para si, e podia fazê-lo sozinha. Não precisava de Ben Garrett.

Ou isso pensara antes de lhe telefonar, desesperada, apenas vinte e quatro horas depois.