desj1040.jpg

 

HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Natalie Anderson

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Coração ferido, n.º 1040 - setembro 2017

Título original: Pleasured by the Secret Millionaire

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-316-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

A cidade de Sidney: sol, praia e compras. A única coisa que faltava era o sexo.

Sienna sorriu enquanto abria caminho por entre os magníficos corpos deitados na praia, na areia quente que lhe escaldava as solas dos pés.

Se alguma vez regressasse ao médico, aquele seria o único conselho que seguiria: uma semana de férias para se preparar antes da grande aventura. A primeira vez que ninguém sabia nada sobre a sua saúde ou história, o novo começo pelo qual tinha esperado ao longo de toda a sua vida.

Parou para ceder passagem a um casal, tentando não invejar o diminuto biquíni vermelho da mulher, que mostrava mais do que tapava. E tinha o corpo e a coragem necessários para usá-lo. Sienna não tinha nenhuma daquelas coisas. Não queria aqueles olhares, a mal disfarçada curiosidade ou compaixão. Não queria perguntas, ponto. Por isso é que trazia vestida uma t-shirt de gola alta. Mas a minissaia era mais mini que saia. E sim, tinha-se apercebido de que alguns homens estavam a olhar para ela. Mas, como sempre, ela não ligava nenhuma.

E nunca mostraria o seu decote como tinha feito aquela mulher.

Irritada, acelerou o passo. Como é que iria acabar com a sua lista de objetivos para o novo ano se não conseguia suportar o olhar de um estranho por um segundo?

De repente, sentindo-se melancólica, atravessou a marginal para se dirigir à zona dos bares, restaurantes e cafés. Não era a sua intenção para o novo ano viver a vida ao máximo? Talvez devesse ir dançar com as raparigas que tinha conhecido na pensão na noite anterior. Pelo menos, poderia ver como elas se divertiam. Mas era precisamente daquilo que estava farta: de ficar a um canto, sem conseguir divertir-se também.

Ali não havia ninguém que lhe dissesse aquilo que não devia fazer, aquilo que não podia fazer. Mas também não havia ninguém que lhe dissesse aquilo que podia e aquilo que devia fazer.

Oxalá Lucy estivesse ali, aquela louca amiga que tinha coragem e coração para tudo. A pessoa que a tinha feito rir apesar das suas desilusões durante aqueles anos.

Mas queria fazê-lo apenas porque precisava de provar a si própria que era capaz de fazê-lo. Só aí acreditaria em si e faria com que os outros também acreditassem.

Sienna olhou para o relógio. Já passava das quatro e as pessoas tinham saído dos restaurantes para regressarem ao trabalho… bem, todos excepto os turistas. O restaurante e o café a alguns metros da pensão tinham as portas abertas para arejar no dia quente que fazia em Sidney, com uma tempestade de Verão à porta. E esperava que chegasse rapidamente porque ela não estava habituada àquele ar irrespirável.

Então, ouviu alguém a tocar bateria e um som de guitarra, seguido de uma voz masculina:

– Um, dois, três…

Estavam a testar o som. De repente, Sienna sentiu-se como se estivesse em casa e, sem hesitar, entrou num bar que estava fechado para os clientes. Estavam quatro tipos em cima de um palco, todos de calções e t-shirts. Sienna ficou encostada a uma coluna, desfrutando do ar das ventoinhas de tecto e a olhar para o baterista com um ar de inveja.

– Lamento, não pode estar aqui. O bar ainda não está aberto.

Contrariada, Sienna desviou o olhar do baterista para olhar para o homem que se dirigia a ela.

E pestanejou, várias vezes, para tentar concentrar o olhar. Santo Deus. Será que havia mesmo homens assim? Era o tipo de homem que faria com que uma mulher começasse a fazer exercícios pélvicos porque, certamente, continuar com o ritmo no quarto iria exigir um esforço extra.

Sienna ficou tensa, principalmente na zona pélvica.

Uns olhos cinzentos com pontinhos verdes estavam pousados nela, rodeados por longas pestanas e cobertos por umas sobrancelhas escuras. Uma bela combinação. Mas foi a sua boca que a fez engolir em seco. Tinha os lábios mais generosos e sensuais que alguma vez tinha visto num homem.

Sienna pestanejou mais uma vez antes de desviar o olhar. Mas tinha-se concentrado no que trazia vestido: uns calções de surf e uma t-shirt sem mangas. Embora estivesse vestido com aparente despreocupação, o conjunto assentava-lhe na perfeição.

No entanto, foram as mãos que mais chamaram a sua atenção. Tinha os braços cruzados, aquelas mãos grandes de dedos compridos a tocar nos abdominais. E as unhas tão cuidadas como se tivesse feito a manicura.

Só podia ser gay, pensou.

Sem conseguir evitar, virou um pouco a cabeça… E viu que ele estava a olhar para ela. E o olhar de censura tinha-se transformado em admiração, luz verde, atração.

Não, não era gay.

– Importa-se que fique um pouco? – parecia ter ficado sem voz. E se continuasse a olhá-la daquela forma, não iria conseguir formular uma frase que fosse.

«Meu Deus, é lindo de morrer! ».

Ele continuava a olhá-la e Sienna devolveu-lhe o olhar, intrigada por saber se o verde dos seus olhos se avivava. A sua postura, com os braços cruzados, destacava-lhe a largura dos ombros.

Por fim, o estranho abriu a boca para dizer algo, mas o vocalista tomou a palavra:

– Não há problema, Rhys, pode ficar. Podes trazer o outro amplificador? – o rapaz parecia ter-se esquecido de que tinha um microfone na mão e Sienna respirou fundo. Tal como o lindo estranho.

Rhys, chamava-se Rhys.

Ele olhou para o palco, como se tivesse acabado de recordar o local onde estava. Sienna viu que os dois homens trocavam olhares, mas não se importou. Tinha estado ao longo de toda a sua vida com bandas de rock e sabia o que achavam que era: uma fã. Mas não era, não naquele dia. A partir daí, não o seria para nenhum dos músicos. Rhys seria o agente? Nunca tinha visto um tão lindo.

Depois, viu-o aproximar-se do balcão para ir buscar um amplificador.

O cantor sorriu-lhe.

– Senta-te um pouco se quiseres, linda.

Esboçando um sorriso, Sienna sentou-se a uma das mesas e estendeu as pernas. Poderia descansar ali um pouco, refrescar-se com o ar das ventoinhas e deixar que o ritmo da bateria a animasse um pouco.

Dois minutos depois, Rhys passou a seu lado com uma caixa preta que deixou em cima do palco antes de regressar ao balcão.

Sienna não conseguia parar de olhar para ele. Mas não iria conseguir refrescar-se completamente porque apenas de olhá-lo ficava com calor.

Enquanto tentava concentrar-se nos músicos não conseguia parar de olhá-lo de soslaio. Ele nem sequer tentava disfarçar que estava a olhar para ela. Estava de costas para o balcão, de braços cruzados, olhando-a fixamente.

Sienna tentou concentrar-se na música e conseguiu-o durante alguns minutos… mas continuava a pensar naquele homem lindíssimo. Quando se virou para tirar alguma coisa de trás do balcão esqueceu-se de que deveria disfarçar e acompanhou-o com o olhar. Por debaixo da t-shirt era só músculo, um espécime masculino perfeito.

Ela, tal como a maioria das pessoas, sabia apreciar a beleza e aquele homem era perturbador.

Rhys agarrou numa garrafa de água mineral e, após tê-la levantado para ela como quem faz um brinde, bebeu um gole.

Com a garganta seca, Sienna apercebeu-se de que tinha sede. E não era propriamente de água.

«Como é que seria beijar aquele homem?», questionou-se. Sentiu um arrepio, mas tentou acalmar-se. O seu sorriso de troça tinha-a deixado alerta. Parecia ter lido os seus pensamentos e, pela sua expressão, não lhe parecia má ideia.

Portanto, virou-se para ver a banda e desta feita decidiu concentrar-se apenas naquilo. Não ia olhar para ele. Embora o desejasse.

Era precisamente aquilo de que tinha andado à procura e nunca tinha imaginado encontrar: um homem que poderia ser apelidado de «o homem mais sexy do planeta». Um homem que, com apenas um olhar, lhe estava a dizer que era linda.

Mas aquele olhar mudaria no momento em que a visse nua. A atração transformar-se-ia em compaixão e depois em medo. Sienna detestava ver medo nos olhos de um amante porque não a fazia sentir-se desejada ou normal e, por uma única vez, apenas por uma vez, queria ser normal.

O número um na sua lista de objetivos para o novo ano, tinha escrito no seu diário naquela manhã, na praia. E desta feita, estava a falar a sério, ia concretizar pelo menos um dos seus objetivos.

Iria conseguir fazê-lo?

Sienna suspirou, erguendo a gola alta da sua t-shirt. Não, impossível. Os amantes despiam-se e ela não o ia conseguir fazer porque nessa altura a diversão teria fim e daria lugar à compaixão.

Tentou concentrar-se na bateria mas, mais uma vez, teve de olhar de soslaio para o balcão.

E teve uma desilusão porque já lá não estava. Tinha partido.

Fim da fantasia.

Mas ela sabia como recuperar a alegria porque já o tinha feito muitas vezes. Portanto, levantou-se e dirigiu-se ao palco.

– Desculpa, sei que isto é um pouco estranho e não há problema nenhum se disserem que não, mas… podem deixar-me tocar bateria um pouco? – Sienna olhou para os músicos com o coração a bater descompassadamente.

– Tocas bateria?

– Sim, mas estou de férias e estou há já algum tempo sem fazê-lo…

Esperava que não pensassem que era uma fã desesperada. A sério, a única coisa que queria era tocar bateria.

– Uma pausa vem mesmo a calhar. Anda, está bem.

– Obrigada – Sienna sorriu, encantada, enquanto subia os degraus do palco.

O baterista deu-lhe as baquetas esboçando um sorriso e ela prendeu o cabelo num laço que escondeu na gola da t-shirt. Depois de ter colocado o banco à sua altura, flexionou os pulsos e virou as mãos duas vezes. Depois agarrou nas baquetas, encolheu os ombros para trás e começou a mover os pés, procurando mentalmente o ritmo, sentindo que o seu corpo estava a voltar a ganhar vida. Era exatamente daquilo que precisava.

Depois começou a bater nos pratos, movendo as mãos, os pés, todo o corpo em simultâneo mas ao mesmo ritmo para criar um estrondo enorme.

 

 

Rhys Maitland estava ao fundo do bar e teve de fechar a boca para não ficar de queixo caído. Estava em território desconhecido desde que aquela loira tinha entrado no bar e o olhara com os seus enormes olhos azuis. O seu cérebro não conseguia funcionar de forma normal desde então. A única coisa na qual conseguia pensar era em despi-la e tinha a sensação de que com ela estava a acontecer o mesmo porque não parava de olhar para ele. Aquele tinha de ser um bom prenúncio.

Tinha bebido um gole de água para se acalmar um pouco, mas estava nervoso e tinha decidido ficar na entrada para olhar para ela sem ser visto porque receava ter um ataque cardíaco.

Os olhos daquela rapariga eram a arma mais poderosa do mundo.

Portanto ali estava, a olhar para aquela beleza no palco. Parecia baixa por detrás da bateria, mas sabia que era muito alta. E muito magra, quase invisível. E, no entanto, ali estava, a tocar bateria de uma forma que o tinha deixado a ele, e ao resto da banda, estupefactos. Tinha inclinado o cabelo para trás, mas enquanto tocava algumas madeixas começaram a cair sobre a sua cara e os seus ombros. Que Deus o ajudasse. Por muito que quisesse, não conseguia desviar o olhar. E sentia um absurdo ataque de ciúmes ao ver como os outros a olhavam.

Além disso, nos seus olhos azuis tinha visto algo, um reconhecimento. Não do seu nome, não de quem era, mas um reconhecimento primitivo, básico.

Viu um brilho de desejo.

Evidente desde que tinha entrado no bar com aquela minissaia que mostrava as suas longas pernas, as sandálias de pele quase invisíveis. Era como qualquer outra beleza daquelas que passeavam pela praia e, no entanto, totalmente diferente. Não tinha a confiança das outras. Tinha entrado, como quem tenta disfarçar qualquer coisa. E depois os seus olhos, tão azuis como o mar, tinham-se pousado nele e, além de um brilho de hesitação tinha visto outro de desejo; uma contradição que o tinha surpreendido.

E o aborrecimento que o perseguira durante as últimas semanas tinha desaparecido por completo.

Tim chamou-o do balcão.

– Já alguma vez viste uma coisa assim?

Rhys negou com a cabeça.

– É a rapariga mais atraente que vi ao longo de muito tempo.

Felizmente, até mesmo Tim sabia que tinha de se calar e desfrutar do espectáculo.

Minutos depois, embora pudessem ter ficado a olhar para ela durante horas, ela parou de tocar. Após ter-se levantado, deu as baquetas a Greg, o baterista.

– Obrigada, estava mesmo a precisar.

– Quando quiseres – Greg tropeçou quando ia buscar as baquetas, a olhar para ela e não para os obstáculos que tinha no seu caminho.

Tim aproximou-se da beira do palco.

– Sou o Tim. Tens de vir ver-nos tocar esta noite.

– Sim, claro – a sorrir, a loira desceu do palco e Rhys cerrou os punhos ao ver aquelas pernas em ação. – Muito obrigada, rapazes. Agora sinto-me muito melhor.

Deveria ter percebido que todos estavam com a língua de fora, mas saiu do bar tranquilamente, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo, como se ninguém estivesse a olhar para ela.

Sentir-se-ia mesmo melhor? O sangue de Rhys tinha-se transformado em lava. Também ele se sentia melhor. E sabia que ela o poderia levar ao céu.

Viu-a dirigir-se à porta com a cabeça inclinada, mas desviou o olhar quando passou a seu lado. Havia cinco mesas entre eles, mas poderiam ter ficado a uns milímetros, tal era a clareza que tinha visto no seu olhar. Não estava a sorrir enquanto o olhava de alto a baixo, como quem avalia. E ele também não sorriu, não moveu um músculo porque não conseguiu fazê-lo.

Aquela atração implacável outra vez. Desejava tomá-la nos seus braços…

Às quatro da tarde, com os seus amigos a ver?

Por fim, ela saiu do bar e Rhys olhou para o palco, lembrando-se de que precisava de respirar.

– Que belo corpo – disse Tim. – E a forma como olhou para ti.

Rhys resignou-se. Sim, como tinha olhado para ele. Ainda estava a tentar recuperar.

Tinha um olhar escandaloso, umas piscinas azuis que pareciam queimá-lo, absolutamente magnéticos. Rhys sabia que era o olhar de uma mulher apaixonada por um homem, portanto havia uma hipótese.

Não, ela era uma certeza e naquele momento desejava-a como nunca antes tinha desejado uma mulher. Queria ir atrás dela, envolvê-la nos seus braços e possuí-la. E ter de controlar aquele desejo era doloroso.

Em Sidney havia imensas mulheres bonitas e Rhys tinha conhecido algumas delas mas, de repente, aquela rapariga magra de t-shirt e minissaia tinha-o deixado perdido.

– Assim que souber quem tu és, será tua – brincou Tim.

Rhys franziu a testa. Não sabia quem era e ele não queria que soubesse. Não queria ver a atração nos seus olhos substituída pelo símbolo do dólar. Queria explorar o desejo que sentia por ela sem os preconceitos e a ganância como obstáculos.

Era estrangeira, pensou. Tinha um sotaque neozelandês e usava a roupa que usaria uma turista de mochila. Também ele estava fora do seu espaço, numa parte da cidade à qual raramente costumava ir e que quase lhe parecia um território estrangeiro; um onde, felizmente, não era conhecido.

Por instantes, o que havia entre eles era uma página em branco e ele não queria preenchê-la. O que queria era algo físico. O seu corpo quis unir-se ao dela assim que a viu, portanto não ia sair daquele bar até voltar a vê-la.