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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Sheri Henry-WhiteFeather

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Matrimónio ou vingança, n.º 816 - Junho 2016

Título original: Marriage of Revenge

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8381-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

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Capítulo Um

 

– Devia ter-te pedido há muito tempo – disse Aaron Trueno a Talia Gibson. Ele amava-a. Odiava-a. E, no fundo, sabia que a tinha magoado muito.

Mas ela também o magoara a ele.

Talia olhou para ele confusa.

– Porque é que estás a falar do passado. Aqui, agora? – apontou para o escritório onde se encontravam. – Enquanto estamos a trabalhar?

– Porque é assim que o sinto.

– Não tens o direito de culpar-me por isso.

– Ah, não? – olhou para ela da sua secretária. – Foste tu quem acabou a relação.

– E tu casaste com a Jeannie.

– Sim, depois de me teres abandonado.

– Não dês a volta às coisas – Talia estava vestida com um tailleur de design e um colar de ouro, tão bonita como sempre. – Dei-te a tua oportunidade, e casaste com ela em vez de casares comigo.

– A minha oportunidade? – perguntou ele, sentindo-se preso no seu gabinete, apesar de ter uns grandes janelões com uma vista magnífica sobre Los Angeles. Embora tivesse casado com Jeannie, nunca a amara como devia. Estavam divorciados há pouco mais de um ano, mas o casamento desintegrara-se pouco depois de o filho deles nascer. – Foi mais um ultimato que outra coisa.

– Queria um compromisso.

– Chateando-me cada vez que estávamos juntos? Tentando forçar que te pedisse em casamento?

– Não fiz isso.

– Fizeste, sim.

– E por isso casaste com a Jeannie? Porque eu te pressionava e ela não? Sê realista, Aaron.

– Ao menos, a Jeannie voltou a casar.

– Sim, e com um homem que não é índio nativo, acreditas? Encontrou maneira de ser feliz com alguém que não é da sua mesma cultura.

– O marido dela não é como tu, Talia. Ela respeita as origens dele.

Ela olhou-o fixamente com os seus olhos azuis.

– Não me deste a oportunidade para respeitar as tuas.

– Estivemos juntos cinco anos. De quanto tempo precisavas mais?

– Não era uma questão de tempo. Era uma questão de princípios. Nunca me apresentaste à tua família.

– Dás-te muito bem com o Thunder – atirou ele, referindo-se ao seu primo e sócio ao mesmo tempo. – Trabalhas para os dois.

– O Thunder não conta. Não é um índio tradicional. E o Dylan também não – acrescentou, referindo-se ao irmão mais novo de Thunder.

Aaron não respondeu. O que podia dizer? Que quando era pequeno e o seu pai estava quase a morrer, lhe tinha prometido que casaria com uma mulher da mesma etnia que a sua mãe? Talia sabia isso. Sabia o que podia esperar dele.

Obviamente, tudo isso eram águas passadas. «Ou deviam ser», pensou ele. Só que Talia ainda o deixava louco.

Olhou para o dossier que tinha sobre a mesa. Deviam estar a discutir um caso. Aaron era co-proprietário da SPEC, uma empresa que oferecia grande variedade de serviços de protecção pessoal e de investigação, e Talia era a sua melhor detective há onze anos. Durante aquele tempo, nunca tinha permitido que os sentimentos se misturassem com o trabalho. Era o que eles diziam. Mas era mentira, um fardo que ambos deviam suportar. Frequentemente viam-se obrigados a enfrentar-se com os seus sentimentos.

Como nesse dia.

Aaron sabia que nunca se devia ter envolvido com ela. Mas há onze anos atrás, quando ela entrara na SPEC com o seu Curriculum, ele desejou-a de imediato.

Assim que o contactou, decidiu seduzi-la, embora Thunder o avisasse de que estava a meter-se em terreno pantanoso. Talia não era o tipo de mulher que um homem podia seduzir ou, pelo menos, não sem consequências. Mas Aaron não foi capaz de resistir, ignorando os conselhos do seu primo.

– Era suposto ser só uma aventura – disse ele, olhando para Talia com os olhos semicerrados.

– E foi – disse ela. – Até que fomos idiotas ao ponto de nos apaixonarmos.

– Sim, idiotas – Aaron franziu o sobrolho. Às vezes desejava ter casado com ela.

– Como está o Danny? – perguntou ela, tentando mudar de assunto.

– Muito bem – No sábado faz cinco anos. Queres vir à festa?

– Sei a data de aniversário dele.

– Claro que sabes. O Danny ainda tem o carneirinho de peluche que lhe mandaste para o hospital.

– A sério? Lembro-me que estavas tão assustado, tão preocupado porque era tão prematuro.

Aaron assentiu, consciente de que Talia se interessara muito pelo estado do pequeno. Mas não queria pensar na sua bondade, não enquanto estivera casado com outra mulher. O que desejava era agarrar Talia e castigá-la, beijando-a de forma apaixonada.

– Devíamos pôr-nos a trabalhar – disse ela.

Aaron não conseguia parar de pensar em beijá-la.

– O caso de Julia Alcote – insistiu ela, e lembrou-lhe que Julia e a sua mãe, Miriam, tinham desaparecido de propósito, para fugir aos credores a quem tinham pedido dinheiro emprestado para nunca mais o devolver.

Mas o que Julia e Miriam não sabiam era que tinham contratado um homem para as procurar.

«E para as matar», pensou Aaron.

– Tens razão – disse ele. – Devíamos pôr-nos a trabalhar.

Talia olhou para o seu ex-amante e alegrou-se por não estar a olhar para ela com olhos de desejo.

Precisava de se concentrar no seu trabalho, de não ficar presa ao passado.

Obviamente, o seu passado era relevante. Talia queria fazer os possíveis para ajudar o FBI a localizar Julia e Miriam antes do assassino.

– O Thunder sugeriu que planeemos uma operação disfarçada.

– Disse-me a mesma coisa a mim.

– E concordas?

Ele encolheu os ombros.

– Tu e eu sempre trabalhámos bem juntos.

– Temos de informar o FBI sobre as nossas averiguações. São os principais investigadores e acordámos partilhar com eles toda a informação.

– Devíamos concentrar-nos nos perfis de personalidade que os agentes criaram para Julia e Miriam – apontou para o relatório que tinha sobre a mesa. – Isso vai ajudar-nos na operação.

Talia pegou no dossier, mas não o abriu. O relatório chegara no dia anterior e, entretanto, Aaron já o tinha memorizado.

– De acordo com isto, o mais provável é que a Miriam já tenha convencido a Julia a que se esconda no Nevada para se poder dedicar ao jogo às escondidas.

– Sim, mas também diz que o mais provável é que a Julia conheça as artimanhas da sua mãe – ele tirou-lhe o dossier. – Porque é que não começamos pelos Ludopatas anónimos e confirmamos se a Julia conseguiu convencer a mãe a assistir às reuniões?

– Vou arranjar a lista de centros de Ludopatas Anónimos no Nevada.

– Acho que nos devíamos concentrar nas reuniões abertas, àquelas que podem assistir os familiares e amigos. Duvido que a Julia deixe a Miriam ir sozinha. Quem sabe? Talvez tenhamos sorte e as encontremos numa reunião. Ou ao homem – acrescentou.

– Está feito. Esse será o nosso plano. Podemos averiguar as coisas sem levantar suspeitas. Logicamente, devem ter uma cláusula de privacidade.

– Para proteger os membros? Não vamos expor os segredos de ninguém. Além disso, sabes que as pessoas adoram falar. Se andaram por lá, alguém nos há-de falar da Julia e da Miriam, mesmo que haja uma cláusula de privacidade.

– Especialmente se o resto dos participantes ganharmos a confiança deles. Podemos fingir que um de nós é um ludopata e o outro é familiar.

– E se fingirmos que somos um casal?

– Um casal? Não tem piada, Aaron.

O desejo invadiu de novo o seu olhar.

– Pareço estar a gozar?

«Não», pensou ela. Parecia capaz de seduzi-la de novo e de conseguir que voltasse a apaixonar-se por ele.

– Não quero ser a tua mulher.

– Isso é o que vai fazer que o nosso plano funcione. O nosso casamento podia estar em perigo. Podemos tirar partido da química que há entre nós. Do calor. Da raiva.

Tinha razão. Parecia tudo real.

– Então, devias ser tu o ludopata. És tu que estás a arruinar o nosso casamento.

– Claro. Porque não? Tenho muito jeito para isso – disse cinicamente. – Pergunta à Jeannie. Ela conta-te tudo sobre o péssimo marido que fui.

– É suposto sentir-me melhor assim? – naquele momento, Talia fazia os possíveis para se proteger. Tinha crescido numa casa cheia de homens com um pai pedreiro e três irmãos a transbordar de testosterona. Estava habituada a lutar pelos seus direitos. – Prefiro não pensar sobre que tipo de marido foste.

– Será melhor que comeces a habituar-te ao meu terrível temperamento, se vais fingir que és a minha esposa – passou os dedos pelo cabelo. Aaron tinha um cabelo sexy, escuro e liso.

Ela olhou para ele com o sobrolho franzido. No geral, era um homem sensual. Era uma mistura entre os White Mountain Apache e os índios P.

– E por falar em casamentos… O Thunder já te disse alguma coisa sobre o casamento dele?

– Sim, mas ainda estão a fazer planos.

– Acho que o Thunder me vai pedir que seja o padrinho.

– Não me surpreende nada. Acho que a Carrie me vai pedir que seja a sua dama de honor.

– Isso significa que vamos ser um casal durante a cerimónia.

Ela endireitou os ombros.

– Hei-de sobreviver.

– Tens a certeza, Tai?

Ela desejou dar-lhe um pontapé. Ele costumava chamar-lhe Tai quando estavam na cama, a acariciar-se, a beijar-se e a provocar-se.

– Claro que sim.

– E o que é que se passa afinal com a festa do Danny?

– O quê?

– Hás-de sobreviver a isso também – abriu a gaveta da sua secretária e entregou-lhe um convite dos anos do seu filho. A festa era em casa da sua ex-mulher. – Vais ou não?

Apesar de Talia não responder, estava a pensar se a família de Aaron estaria na festa, se ele lhe ia dar a oportunidade de os conhecer.

Sabia que, tanto tempo depois, já não se devia importar com isso.

Mas importava-se.

 

 

Na manhã seguinte, Talia estava a servir-se um café na cozinha da sua casa, vestida para ir para o escritório.

Tocaram à campainha e dirigiu-se à porta para abrir, pensando que era o carteiro.

Mas estava enganada.

Ao abrir a porta, deu de caras com Aaron.

Ele não disse nada. Simplesmente, olhou-a de cima a baixo.

– O que é que estás aqui a fazer?

– A avançar no nosso dia – esboçou um sorriso. – Ou preferias que saltasse sobre os teus ossos?

«Preferia», pensou Talia. Queria ir para a cama com ele. Queria que voltasse a ficar doido por ela e depois, deixá-lo apeado, no seu Porsche de milhares de dólares. Entre o sucesso da SPEC e a riqueza dos Pechanga, Aaron estava bem acomodado. Passava o seu tempo entre o luxuoso loft que tinha na cidade e a casa carérrima que tinha na sua terra natal. Não que ela conhecesse essa casa. Ele nunca a levara lá.

– Devia denunciar-te por assédio sexual.

– E eu devia denunciar-te por todas as memórias excitantes que me deixaste.

– Tu é que me perseguias, Aaron.

– E tu adoravas.

Sim, ela desfrutava sendo sua amante. Mas não com o terrível desejo que sentia de se transformar em sua esposa.

– Apetece-me um café – disse ele.

– Então, vai buscar um.

– Obrigada, vou sim – entrou e dirigiu-se à cozinha.

Talia seguiu-o. Vivia num apartamento de duas assoalhadas. Era uma casa dos anos trinta e ela alugara-a porque estava decorada à época.

Chantilly Lace, a sua gata favorita, entrou na cozinha.

– Olá, Lacy – disse Aaron. Acabou de servir o café e pegou na gata.

Lacy esfregou-se contra a sua camisa. Todos os gatos de Talia adoravam Aaron.

Talia dedicava-se a criar gatos-de-bengala. Eram gatos que originariamente foram criados cruzando um gato doméstico com um leopardo asiático e que se pareciam muito com o seu antepassado selvagem.

– Tens gatinhos? – perguntou ele.

Ela negou com a cabeça.

– Vendi a última ninhada. O Thunder comprou uma das crias.

– Ah, é verdade. Chamou-o Spot – acariciou a gata. – E o que é que o Thunder está a fazer agora?

– Bem mais do que tu.

– O que é que queres dizer com isso?

– Nada – ela adorava a forma como Thunder tinha encaminhado a sua vida. Vivia com a mulher que amava e esperava, ansioso, o nascimento do seu filho.

Aaron deixou Lacy no chão e reparou nas meias que Talia tinha vestido.

– Estás com aquelas meias que vão até à coxa? Oh, céus, adoro…

De súbito, ela sentiu-se nua.

– Incomodas-me.

– Estou a preparar-te para quando estivermos a fingir que somos um casal.

– Ah, era a isso que te referias quando falaste de avançar no dia?

– Era – acabou de servir o café. – Temos de voltar a sentir-nos confortáveis no âmbito doméstico.

– Nunca vivemos juntos.

– Não, mas passámos muito tempo aqui. É parecido – sentou-se na mesa da casa de jantar. – Porque é que não me preparas o pequeno-almoço?

– Ovos mexidos com arsénico?

Ele riu-se.

– Estás a ver? Já somos casados.

– Nesse caso, quero metade de todos os teus bens.

– Falas como uma verdadeira mulher – deu um gole. – Mas estava a falar a sério do pequeno-almoço.

E ela estava a falar a sério sobre ir para a cama com ele e deixá-lo apeado. O seu café ficara frio. Frio como o seu coração. Perguntava-se como reagiria ele se levantasse a saia, lhe mostrasse as ligas e se sentasse ao seu colo.

O mais provável era que desfrutasse de cada momento.

– Vamos, Tai, estou cheio de fome.

Estava a dizer aquilo com duplo sentido? Sacana. Provavelmente, lera-lhe o pensamento.

Resignado, começou a preparar o pequeno-almoço.

«O Aaron é um enigma», pensou ela. Um detective de cidade, um índio americano tradicional e um antigo militar do grupo de operações especiais.

Fez ovos com bacon para os dois. E conseguiu não sujar a sua camisa branca nem a sua gravata cinzenta.

– Fizeste a lista dos grupos de Ludopatas Anónimos que há no Nevada? – perguntou ele.

– Sim – ela pensou pôr um pouco de vodca no sumo de laranja. Para se acalmar. Para parar de o desejar. Costumavam fazer amor na cozinha, na bancada.

– Podias ter o cabelo moreno.

– O quê?

– Durante o caso.

– Porquê? – perguntou ela, pensando na mulher de pele e cabelo escuro com quem ele tinha casado.

Ele aproximou-se dela e acariciou-lhe uma madeixa loira.

– Porque mudaria o teu aspecto.

Ela estremeceu ao sentir a sua carícia e retirou-se. Não queria que ele se apercebesse da sua vulnerabilidade.

– Talvez me torne ruiva.

Ele deixou os pratos sobre a mesa e sentou-se.

– Mmm… muito sexy.

Ela também se sentou.

– Uma ruiva sem piada nenhuma.

– Duvido – começou a comer e mudou de assunto. – Será melhor que apareças na festa no sábado.

– Porquê? Já não somos namorados.

– Sim, somos – olhou-a fixamente. – És a minha nova esposa.

– A tua esposa a fingir – disse irritada.

– Pergunto-me se a minha família pensará que é mentira. Ou se eras capaz de os impressionar.

Ela não respondeu. Sabia que estava a provocá-la para que assistisse aos anos do seu filho.

E ela estava disposta a morder o isco.