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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Sara Orwig

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Cala-te e beija-me, n.º 2206 - janeiro 2017

Título original: Shut Up and Kiss Me

Publicado originalmente por Silhouette® Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9406-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

«Em que outras coisas estranhas o poriam as Forças Especiais», pensava Michael Remington, observando o elegante escritório de advogados Slocum e Clay, na rua principal de San Antonio, no Texas.

Paredes revestidas a madeira, pavimentos de carvalho, cadeirões de pele… e uma advogada que era a melhor decoração de todas. Com uns cabelos loiros sedosos que não devia usar apanhados, levantou-se para o cumprimentar e Mike fixou as fabulosas pernas dela. No entanto, para além das pernas, tinha uma cara e um corpo que faziam com que um homem pensasse num quarto… até lhe ver os grandes olhos azuis, mais gelados do que os fiordes noruegueses.

Mal a ouvia enquanto lia o testamento de John Frates. Os seus melhores amigos das Forças Especiais estavam sentados ao seu lado: o duro, Jonah Whitewolf, que tinha sangue de comanche e um dos melhores peritos em bombas que alguma vez conhecera e, ao lado dele, Boone Devlin, piloto de helicópteros.

Pouco depois de resgatarem John Frates, tinham-se separado e não se tinham voltado a ver até àquele dia, dia um de Abril. Mike estava desejoso de falar com eles para recordar os velhos tempos…

Deviam agradecer a John Frates estarem ali reunidos mas nem John nem a sua mulher estavam vivos; tinham morrido quando o seu barco se afundou na costa da Escócia.

Era muito estranho ser recordado num testamento simplesmente por ter feito o seu trabalho, pensou Mike. Tinham resgatado John Frates quando o sequestraram na selva colombiana, mas aquilo fazia parte de uma missão.

Ao ouvir o seu nome, Mike voltou a olhar para a advogada. Era linda e assim que entrou no escritório, houve faísca entre eles. Mas não das boas. Quando vira a carta do escritório de advogados assinada por S.T. Clay, pensara que se tratava de um homem. Mas S.T. Clay era uma mulher e a confusão parecia tê-lo incomodado.

Se isso significava tanto para ela, deveria assinar Savannah Clay, pensou ele. Não usava aliança e isso não o surpreendia. Podia ser linda mas não era simpática.

– Ao Michael Remington – estava a dizer naquele momento, – com quem estarei em dívida para sempre, deixo-lhe a minha posse mais preciosa: a custódia da minha filha, Jessie Lou Frates.

Mike quase saltou da cadeira, como se tivesse levado uma descarga eléctrica. O ar não lhe chegava aos pulmões.

Jessie Lou Frates? Uma criança? Deixara-lhe a custódia da sua filha? Sabia que John Frates o incluíra no testamento mas nunca mencionara uma criança. E, que ele soubesse, não havia nenhuma filha quando ele lhe telefonou.

Mike não sabia nada sobre crianças e não tinha em mente formar uma família. Na sua carreira como militar tivera que passar por uma série de situações perigosas mas nunca estivera tão nervoso como naquele momento.

Mal ouvia aquilo que Savannah dizia ou as perguntas dos colegas até que, por fim, se dirigiu a ele:

– Está muito calado, coronel Remington. Tem alguma pergunta?

Ele olhou para aqueles fabulosos olhos azuis.

– Sim, tenho muitas perguntas, menina Clay. Se tivesse um momento, conversaria consigo depois de os meus companheiros saírem.

Os rapazes começaram a protestar mas, levantando a sua mão imponente, a menina Clay calou-os.

Meia hora mais tarde, depois de Jonah e Boone se terem despedido, Savannah Clay fechou a porta do escritório e virou-se para ele.

Mike não se levantou.

– Eu não tenciono ficar com nenhuma criança a meu cargo – anunciou. – O John Frates nunca me falou de uma criança.

– Sei que lhe telefonou – respondeu ela.

– Telefonou-me há alguns anos para me dizer que se casara e que me queria deixar algo no seu testamento mas não falou de uma filha – insistiu Mike.

Savannah fez um gesto de incredulidade.

– Quando a Jessie nasceu, o John e a mulher mudaram o testamento – a advogada voltou para o seu lugar atrás da secretária e, apesar da surpresa que acabara de receber, Mike reparou no movimento sensual das suas ancas. – Por favor, sente-se.

– Eu não posso ser responsável por uma criança – repetiu ele.

– O seu bem-estar económico estará garantido pelo testamento. Ficará com a casa de Stallion Pass, e uma comissão fiduciária para quando a Jessie chegar à maioridade, outra para as despesas e um milhão e trezentos mil dólares na sua conta à ordem a partir de amanhã – voltou a repetir Savannah Clay, como se estivesse a explicar as coisas a uma criança.

– Não ponha nada na minha conta à ordem. Não me ouviu? Não vou ser o tutor de nenhuma criança!

– Os Frates não tinham parentes. Não há ninguém que possa ficar com ela. Só tem cinco meses – insistiu a advogada. Falava alto e devagar, como se ele fosse surdo. – De outra forma, seria o Estado a ficar com ela.

– Lamento mas terá que ser assim mesmo – disse Michael. – Há muitas crianças neste país sob a tutela do Estado e eu não fico com elas.

Os olhos gelados de Savannah encheram-se de fogo.

– O John Frates tinha-o em alta estima e pôs a vida da filha nas suas mãos. Falava maravilhas de si…

– Isso é um grande elogio mas ele estava agradecido porque eu o resgatei. Isso não muda a minha decisão.

– Olhe para isto – insistiu Savannah, afastando-se da secretária para se sentar ao lado dele, com um envelope na mão. Quando cruzou as pernas, a atenção de Mike desviou-se por momentos. Depois, quando tirou uma fotografia do envelope e lha pôs sobre o joelho, o breve contacto provocou-lhe um calor inesperado abaixo da cintura. – Esta é a Jessie.

Ele olhou para a fotografia de uma criança sorridente de cabelo encaracolado, olhos azuis e faces rechonchudas.

– É linda mas não vou mudar de opinião.

– Posso perguntar porquê? – Os seus joelhos quase tocavam nos de Savannah Clay e Mike teve de afastar o olhar.

– Sou solteiro e quero continuar a sê-lo. E não sei nada sobre crianças.

– Talvez tenha chegado o memento de aprender.

– Não, não é o melhor momento para ter filhos – respondeu ele, cada vez mais aborrecido. – Vou começar a trabalhar para a CIA. Terei que viajar muito… não posso tomar conta de uma criança.

– Isso é muito egoísta da sua parte, coronel Remington. Está a rejeitar uma quantia de dinheiro generosa e uma criança linda simplesmente porque quer ser livre…

– Ah, por fim percebeu.

Aquela mulher tinha os olhos mais azuis que alguma vez vira e umas pernas fabulosas. Mas Mike estava desejoso de se afastar dela e a da sua indesejada herança.

– Já assinou o contrato com a CIA?

– Não, ainda não, mas isso não é importante.

– É solteiro? Há alguma mulher na sua vida? – insistiu ela.

– Neste momento, não.

– Não me surpreende – disse Savannah. Mike começou a ficar encolerizado.

– Olhe, doutora Clay, a senhora não é precisamente a mulher mais simpática do mundo.

Contra tudo aquilo que ele previra, ela deu uma gargalhada. Tinha uns dentes brancos lindos e quando ria era ainda mais atraente. Era Átila, o rei dos Hunos, em forma de mulher.

– Está a ficar nervoso. Isso quer dizer que tem consciência.

– Não significa nada disso.

Savannah olhou para o relógio.

– Está a ficar tarde. Vamos jantar qualquer coisa e, entretanto, falaremos do assunto – disse, levantando-se.

– Não, obrigado – respondeu Mike.

Mas, enquanto falava, tirou o casaco e soltou o cabelo. Quando abanou a cabeça, uns longos cabelos loiros caíram-lhe nas costas, como se fosse um anúncio. Mike estava transfigurado. Ele conseguiria pôr as suas mãos à volta da cintura dela.

– Costuma rejeitar o convite de uma mulher? Ou tem receio de que eu o possa convencer? – perguntou Savannah.

Ele arqueou a sobrancelha e teve vontade de lhe dar um tabefe. Se tivesse um pouco de senso comum, diria que sim e sairia do escritório a assobiar. Mas tinha-a diante de si, com os seus cabelos loiros e um brilho de desafio nos olhos… e um corpo que faria com que a maioria dos homens se esquecessem de tudo.

– Não, não costumo rejeitar o convite de uma mulher bonita – disse, em voz baixa. – Não tenho medo mas nunca me convencerá.

– «Nunca» é uma palavra muito ambígua, coronel Remington.

– Tendo em conta que vamos jantar juntos, vamos pôr de lado as formalidades. Eu chamo-me Mike.

– Está bem – disse ela, oferecendo-lhe outro dos seus lindos sorrisos. – Senta-te, Mike. Demoro apenas um minuto.

Dava ordens como se fosse um general. De uma forma mais amável mas com a mesma autoridade. Mike passeou pelo gabinete, menos por curiosidade do que para não ter que lhe obedecer. Ela entrara noutro gabinete, deixando a porta aberta, e ele reparou num sofá de pele e num bar… A profissão devia estar a correr-lhe bem.

Enquanto esperava, tirou o telemóvel do bolso para telefonar a um dos companheiros.

– Boone, tenho que falar com a advogada esta noite sobre a herança do John, portanto temos que cancelar o jantar. Isto é absurdo, eu não posso tomar conta de uma criança.

– Parecia que te tinham dado um tiro – disse o amigo.

– Isto foi pior – admitiu Mike.

– Ficámos os três surpreendidos. Ninguém estava à espera de nada disto… O que achas de tomarmos o pequeno-almoço amanhã? Às oito no átrio?

– Óptimo – disse Mike. – Então, vemo-nos nessa altura.

Depois de desligar continuou a andar pelo gabinete, observando os títulos que tinha pendurados na parede e os livros de direito nas prateleiras enquanto se lembrava da sua chegada ao escritório de advogados umas horas antes…

Depois de entrar no edifício revestido a ladrilho com um letreiro dourado sobre a porta onde se lia Slocum e Clay, advogados, dissera à bonita morena da recepção que tinha uma reunião com S.T. Clay. Ela respondera-lhe que o esperavam e indicou a primeira porta à direita.

– Desculpe, estou à procura de S.T. Clay. É a secretária dele?

– Não, não sou a secretária dele. Eu sou a S.T. Clay – respondeu ela, estendendo-lhe a mão. – Savannah Clay.

– Ah, estava à espera de um homem.

– Pois sou uma mulher. E o senhor deve ser o coronel Remington.

– Como adivinhou?

– O John Frates fez-me uma descrição. Disse que era um homem directo e autoritário.

Michael percebeu que não começara com o pé direito. Quando apertou a mão ficou à espera de um aperto de mão firme e Savannah Clay não o decepcionou.

– Fui directo mas creio que ainda não comecei a ser autoritário.

– E no meu escritório, não o será – respondeu ela. – Por favor sente-se. Virei ter consigo dentro de instantes.

Saiu do gabinete por um momento. Ele autoritário? Aquela mulher poderia dar lições a um regimento de cavalaria.

Mike voltou ao presente. Começara mal mas o jantar podia ser interessante. Perguntou-se se beijá-la seria como beijar uma escultura de gelo… ou haveria uma mulher real debaixo daquela fachada?

«Nunca o saberás», pensou.

Savannah voltou pouco depois.

– Desculpa ter-te feito esperar. Tinha que fazer uns telefonemas.

Quando chegaram ao átrio, um homem alto, loiro e muito bronzeado saiu do seu gabinete com uma rapariga ruiva.

– Troy, Liz, vou jantar com um cliente – disse Savannah. – Apresento-vos o coronel Remington. Mike, este é o meu sócio, Troy Slocum e uma das nossas advogadas, Liz Fenton.

Troy Slocum, vestindo um elegante fato azul e uma gravata de seda, olhou-o de alto a baixo:

– Então, este é o fantástico coronel Remington, o homem em quem John Frates estava sempre a falar.

– Não me parece que «fantástico» seja o melhor adjectivo, mas essas coisas acontecem quando se salva a vida de alguém. Estava somente a fazer o meu trabalho – disse Mike, olhando para o homem com desconfiança. Não sabia porquê, mas o seu instinto não costumava enganá-lo.

– Desculpem mas eu e a Liz temos uma reunião – disse Troy, despedindo-se com alguma brusquidão.

– Disse algo errado?

– Não ligues – sorriu Savannah. – Apesar de não haver razão para isso, o Troy sente ciúmes de alguns homens.

– Quantos sócios tens?

– Só o Troy, mas temos mais dois advogados: a Liz e o Nathan Williams.

Mike indicou o seu carro, estacionado à porta.

– Não, iremos no meu – disse Savannah, tirando as chaves da mala. – Eu sei onde vamos.

Mike interrogou-se se ela lhe iria abrir a porta do carro mas não o fez. Enquanto ele lhe abria a porta, Savannah entrou, oferecendo-lhe outra panorâmica das suas pernas.

– Fala-me da tua vida, coronel.

– Mike.

– Mike, fala-me da tua vida.

– Acabo de pedir uma baixa no serviço portanto a minha vida está a ponto de mudar. Mas suspeito que tu saibas muitas coisas sobre mim.

– Sim, sei algumas. Trinta e seis anos. Nasceste no Montana. Andaste numa escola de pilotos antes de ires para o Exército. És solteiro. Tens um irmão mais novo, o Sam, que vive em San José. E outro, o Jake, que vive a Oeste do Texas. Os teus pais mudaram-se recentemente para a Califórnia. Isto é tudo o que sei. A tua história tem muitas lacunas.

– Nem tantas – disse ele.

Era uma rapariga lindíssima mas sob aquela fachada tão sedutora havia uma mulher agressiva e muito segura de si própria.

Conduzia a toda a velocidade, com a janela descida, fazendo mexer o cabelo. Sabia que ele a olhava mas isso não parecia incomodá-la. O que havia entre eles que fazia com que saltassem chispas? O que é que o fazia sentir-se aborrecido e atraído ao mesmo tempo?