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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Teresa Southwick. Todos os direitos reservados.

FANTASIAS COM O CHEFE, N.º 1353 - Novembro 2012

Título original: The Surgeon’s Favorite Nurse

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1318-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Hope Carmichael tinha um dom especial para detetar os problemas. Quando viu entrar aquele homem no seu gabinete, soube logo que seria um problema.

Jake Andrews, licenciado em Medicina, era considerado como um solteiro de ouro entre as enfermeiras do Mercy Medical Center. Usava um fato preto, impecável, Armani e uma gravata vermelha, elegante, que parecia dizer às mulheres: «Acompanha-me a casa, se queres divertir-te.» O sorriso sensual, o cabelo preto, fabuloso, e o rosto contribuíam para completar a sua imagem de homem sedutor.

– Olá, sou Jake Andrews – disse, a modo de cumprimento.

Hope permaneceu de pé, atrás da secretária. Em circunstâncias normais ter-se-ia aproximado para lhe apertar a mão. Mas dessa vez, sem saber bem porquê, não o fez.

– Sei quem é o senhor.

– Não me lembro de termos sido apresentados. Nunca esqueceria uma mulher tão bonita.

Se lhe tivessem dado um cêntimo por cada vez que ouvira essa cantilena... Mas o que podia esperar... Era do domínio público no hospital. Havia três médicos da sua especialidade, mas os outros dois tinham casado recentemente e ficara só ele, Jack Andrews, como emblema e símbolo do solteiro de ouro. O último playboy ativo. Ela aceitara aquele trabalho e, quer quisesse, quer não, tinha de se entender com ele.

Há duas semanas que chegara a Las Vegas para desempenhar o cargo de coordenadora de traumatologia do Mercy Medical West, o terceiro hospital que entraria em funcionamento dentro de meses. Durante a sua preparação no Mercy Medical Center, uma colega apontara para Jake Andrews ao passar junto delas. Era por isso que o conhecia.

– Tem razão – afirmou ela. – Não nos apresentaram oficialmente.

– Felizmente, estou aqui para corrigir essa falha – replicou ele, estendendo-lhe a mão.

Ela hesitou antes de lhe apertar a mão. Há muito que não se relacionava com homens e, muito menos, com um homem como ele.

Decidiu finalmente aproximar-se dele para lhe apertar a mão.

– Hope Carmichael, doutor Andrews.

– É um prazer. Mas chama-me Jake.

Ela sentiu uma súbita onda de calor ao sentir o contacto e ver o seu sorriso descarado.

– É um prazer conhecer-te – disse ela.

– O prazer é meu. Mas diz-me uma coisa, como sabias quem eu era? – perguntou ele, com um sorriso trocista.

Ela tentou controlar-se. A sua responsabilidade consistia em organizar o novo departamento de traumatologia, não em escolher o cirurgião chefe, o lugar que aquele homem pretendia. Mas sabia que, se estivesse ao seu alcance, o doutor Andrews seria o último em quem votaria.

– Por um simples processo de eliminação – respondeu.

– Desculpa? – indagou ele, aparentando confusão, mas, no fundo, muito divertido com a situação.

– Já me tinham apresentado os outros dois candidatos.

– Claro, compreendo. Adversários muito dignos – disse Andrews, aproximando-se dela e apoiando-se num canto da mesa, com uma pose muito estudada. – É uma pena que nenhum deles vá conseguir o lugar.

Hope pensou nos outros dois candidatos, o doutor Robert Denton e a doutora Carla Sheridan, ambos com cerca de quarenta anos. Denton era um homem pequeno e estudioso, que a fazia pensar em Albert Einstein. A médica era uma profissional e uma trabalhadora incansável.

– Sei que a direção do hospital ainda não se decidiu por ninguém – referiu ela, voltando a sentar-se. – Como podes ter a certeza de que vai ser para ti?

– Porque essa nomeação significa muito mais para mim do que para qualquer outro. Além disso, sou o melhor médico de traumatologia de Las Vegas.

Houve um brilho especial no olhar, enquanto pronunciava aquelas palavras. Um desejo de triunfo. Uma paixão pelo poder. Hope não se recordava de ter visto nada parecido nos outros dois médicos.

– Se é isso que queres, espero que sejas escolhido – disse ela.

– Eu também. E agora, mais do que nunca – replicou, olhando para ela de cima a baixo com uma expressão de admiração e aprovação.

– Estás a namoriscar comigo?

Arrependeu-se de ter pronunciado aquelas palavras. Ele poderia pensar que estava a tentar procurar os seus elogios. Mas nada estava mais longe da realidade. Tudo isso deixara de existir para ela há mais de dois anos, desde o primeiro aniversário de casamento com Kevin.

O doutor Andrews não confirmara, nem negara explicitamente as suas intenções, mas isso era algo que realmente não importava. Aquele era um jogo que requeria dois jogadores e ela não estava interessada em participar. A entrevista começara a tomar um rumo perigoso que, por outro lado, não tinha nada a ver com o trabalho e era o momento de deixar as coisas bem claras.

– Na verdade, doutor...

– Jake, lembras-te?

Estava a tentar esquecê-lo, mas era difícil ao vê-lo sentado na mesa, naquela posição e sorrindo daquela forma tão sedutora e sensual. Noutro tempo, talvez tivesse reagido de outra maneira, mas agora não queria que nenhum homem se aproximasse dela.

Namoriscar significava despertar sentimentos e, com eles, a dor e o sofrimento. A perda de Kevin magoara-a muito e ela não queria voltar a sofrer.

– Jake...

Parou ao ouvir o nome daquele homem nos seus lábios. Jake. Um nome forte, heroico e masculino. Mas em que estaria a pensar? Não desejava estar com nenhum homem e ainda menos com um herói. Embora, a julgar pelo rumor que corria no hospital, Jake Andrews estava longe de ser um cavalheiro disposto a atirar a sua capa ou a sua bata de cirurgião para a lama, para que passasse uma dama. Tinha mais de playboy, do que de cavalheiro.

– Estavas a dizer que...? – perguntou Jake, dando distraidamente uma olhadela aos papéis que havia na mesa.

– Estou aqui para fazer um trabalho e...

– Não és daqui, pois não?

– Não. Sou do Texas. De Mansfield, uma pequena cidade entre Dallas e Fort Worth.

– Sim, bem me pareceu notar uma pronúncia agradável do sul na tua voz.

Estava a namoriscar outra vez com ela?

– Como estava a dizer, a minha função é organizar o departamento de traumatologia e ter tudo em ordem para quando o Mercy Medical West abrir as portas aos pacientes.

– Fala-me de ti, Hope – pediu Jack, imitando a pronúncia do seu nome. – Não, deixa-me adivinhar... Tens duas irmãs. Uma chama-se Faith e a outra Charity.

– Bom, a verdade é que... – replicou ela, sem conseguir evitar um sorriso.

– Vejo que acertei! Fé, Esperança e Caridade. As três virtudes.

– Sim, Faith é a mais velha das três e Charity a mais nova. Eu estou no meio.

– O que te levou a querer ser enfermeira?

– Desde muito cedo, senti o desejo de ajudar as pessoas.

– Estou a ver. Portanto, foi uma chamada do coração e não o desejo de ter uma profissão bem remunerada, para ganhar a vida e ajudar a família.

Era estranho, mas acertara em cheiro. Fora exatamente o que acontecera. E tivera culpa que o homem que amara estivesse no lugar errado, no momento errado.

– Ser enfermeira é uma profissão muito nobre – disse ela, mais acalorada do que gostaria. – E muito necessária. Há muitas causas no mundo.

– Muitas causas? – perguntou, olhando para ela muito pensativo. – Quais, por exemplo?

– Os milhões de pessoas que passam fome, os que não têm um lar onde viver, as adolescentes grávidas, o aquecimento global do planeta, as doenças das crianças do terceiro mundo.

– O perigo de extinção do urso panda...

– Preservar o ecossistema, sim – replicou ela, num tom de desafio. – Estás a gozar comigo?

– Deus me livre – respondeu ele, com uma expressão exagerada de inocência. – Mas pensei que o serviço comunitário era só para os delinquentes.

– Não gostas de ajudar os outros?

– Sou médico – replicou ele, evitando a resposta.

– Não me refiro a ajudar as pessoas em troca de dinheiro.

– É o meu trabalho.

– O que te levou a ser médico? – perguntou-lhe, repetindo a pergunta dele.

– Sempre fui um aluno que se destacava – respondeu, olhando para os papéis que tinha na mão. – Na escola, destacava-me em Matemática e Ciências. E os médicos ganham muito dinheiro.

– Ou seja, não o fizeste para ajudar as pessoas – replicou ela, num tom acusador.

– Ajudo as pessoas com o meu trabalho. E, em troca, recebo uma recompensa.

– Ena! – exclamou ela, com ironia. – Vamos dar as mãos e sentir o amor.

– A medicina é um negócio. A cirurgia é uma intervenção invasiva, para salvar ou melhorar a vida de um paciente. Mas continua a ser um negócio. Sabes isso tão bem como eu porque, além da tua formação como coordenadora de traumatologia, tens um mestrado em assistência sanitária.

– Como sabes tudo isso?

– Vamos trabalhar juntos e preciso de conhecer as tuas aptidões profissionais. Não quero nenhuma falha no serviço quando o departamento abrir ao público. Qualquer queixa significaria um reverso sério para a minha reputação. Não quero correr nenhum risco na minha carreira.

Portanto, isso era a única coisa que o preocupava! Como podia ser tão arrogante?

– Perdoa a minha franqueza, mas acho que és um canalha.

– Obrigado – disse ele, afastando-se da mesa. – Vindo de uma mulher como tu, é quase um elogio.

– Fico feliz por pensares assim. E agora, se me desculpares, tenho muito trabalho para fazer.

– Falando do teu trabalho... Pedi um tipo especial de instrumentos cirúrgicos. É de fabrico alemão. Lamento dizer-te, mas não o vi na lista de pedidos – salientou, apontando para os papéis que estivera a ver distraidamente.

– Não o viste, pela simples razão de não existir nenhum pedido desse material.

– E como é possível?

– Era muito caro – replicou ela. – Todos os cirurgiões têm as suas preferências, mas faz parte do meu trabalho reduzir os instrumentos cirúrgicos aos que usamos habitualmente.

– Mesmo que isso impeça de conseguir os melhores resultados ao operar um paciente?

– Se és tão bom cirurgião como presumes, certamente, bastará um descascador de batatas e uma colher de sopa para fazer as melhores intervenções do mundo.

– E se isso não for para mim?

– Então, teria de chegar à conclusão de que possivelmente não estás à altura do que se espera de ti neste departamento – replicou, muito séria, olhando para ele fixamente e acrescentou, depois de um silêncio tenso e longo: – Jake, tu és o meu chefe.

– Não. Ainda não.

– E mesmo que fosses...

– Vejo-te hoje à noite, Hope – interrompeu ele, esboçando um sorriso arrogante e sensual.

Ela sentiu desconforto e um calor intenso por dentro que a perturbou por um instante, mas apercebeu-se depressa de que ele estava à espera de uma resposta. Tentou recordar-se da pergunta.

– Esta noite?

– Sim, o hospital dá uma receção para os altos dignitários do Estado e da cidade. Será um desfile de personalidades. Uma verdadeira montra. Conta-se com a presença do governador – Jake parou à porta e pôs as mãos nos bolsos das calças. – Vais, não vais?

– Sim, estou a cargo das visitas guiadas ao departamento. E tu?

– Seria uma indelicadeza da minha parte não estar presente no momento em que se anunciar o meu nome como o novo médico chefe de traumatologia – retorquiu, esboçando um sorriso malicioso antes de sair do escritório.

Ela respirou profundamente, tentando recuperar o controlo. O coração estava acelerado. Sabia que se se olhasse ao espelho, veria a sua cara com expressão arrebatada. E tudo por aquele médico, o homem mais arrogante e desesperante que vira. Um homem que, tal como previra assim que o vira a entrar no escritório, ia complicar-lhe a vida.

Mas não estava disposta a correr mais riscos naquela noite.

 

 

Jake não se incomodava com os compromissos oficiais do hospital mas, certamente, nunca estivera tão entusiasmado como naquele momento. E tudo por uma razão: Hope.

Deixara o carro no estacionamento do Mercy Medical Center e encaminhava-se naquela noite fria de janeiro para as instalações modernas do hospital.

O desenho arquitetónico funcional, misturado com um toque artístico, conseguia fazer com que o edifício fosse agradável, tanto para a vista como para o espírito. As paredes estavam pintadas em cada andar de uma cor diferente, azul, lavanda, verde ou amarelo, e o mobiliário e o chão eram em tons que se harmonizavam perfeitamente.

Os gabinetes de consulta e as salas de cirurgia estavam equipados com a última tecnologia. O departamento de traumatologia ia ser a joia da coroa do hospital, ao mesmo tempo que contribuiria para dar maior prestígio à sua carreira. Talvez conseguisse, finalmente, sossegar a voz interior que lhe repetia que sempre seria aquele pobre rapaz sem lar, indigno de sair com a rainha da festa do liceu.

Ao chegar ao vestíbulo, as portas duplas de vidro abriram-se automaticamente, permitindo que chegasse até ele o murmúrio da multidão que formava redemoinhos no interior. Os homens de smoking ou fato escuro e as mulheres com vestidos de noite abarrotavam o vestíbulo do hospital, habitualmente tranquilo e sereno. Os empregados, com calças pretas e camisa branca, deambulavam com bandejas cheias de canapés e copos de champanhe.

Jake deu uma olhada pela sala, à procura de uma loira. Mas não de uma loira qualquer. Hope tinha cabelo cor de mel e os olhos cor de avelã mais bonitos que já vira.

Mas era a boca que lhe despertava maior interesse. Os lábios carnudos, perfeitamente desenhados e ligeiramente curvos nas comissuras, eram tentadores.

Olhou para o relógio. A festa devia ter começado há quase duas horas, a julgar pela quantidade de gente que via. Se ela não estava a atender os dignitários, onde estava? Enquanto decidia o que fazer, o ex-congressista Edward Havens, agora presidente do conselho de administração do hospital, subiu para o estrado montado para o efeito e, de microfone na mão, apresentou-se à assistência.

Depois, apresentou o governador, o senador ... Depois das palavras de etiqueta, sorriu e anunciou que o médico chefe de traumatologia era o doutor Jake Andrews.

Jake cumprimentou cortesmente toda a gente que aplaudia e apertou, simbolicamente, a mão daqueles que o abordaram. Estava contente. A nomeação era a consolidação da sua carreira. Todo o seu esforço tinha valido a pena. Agora, seria ele a decidir a sua vida. Ninguém voltaria a olhar para ele como um mendigo.

Continuou a olhar para a multidão, mas não conseguiu ver Hope. Percorreu o vestíbulo de um extremo ao outro, sem êxito. Decidiu ir ao escritório dela.

Rodou a maçaneta da porta e abriu-a. Estava ali.

– Toc, toc – disse, batendo suavemente à porta.

– Doutor... Jake – disse, espantada, ao vê-lo.

Depois, fechou a porta e entrou. Na mesa, havia um computador e um bom monte de pastas. Havia várias caixas abertas no chão. Parecia que tinham entrado ladrões, tinham desarrumado tudo, mas tinham acabado por não levar nada.

– Queres ir dar uma volta? – convidou ele.

– Lamento. É muito tarde.

A expressão do seu olhar passou da surpresa à tristeza. Ele perguntou a si mesmo o que poderia ter tornado aquela mulher tão desventurada. Depois, perguntou porque se preocupava tanto com ela. Seria por o ter insultado há algumas horas?

– Estás a perder a festa – disse Jake, com as mãos nos bolsos.

– Isso a que tu chamas festa é o meu trabalho e estou a fazer cinco minutos de descanso.

– Queres um pouco de companhia? Gostaria de tratar de um assunto contigo.

– Suponho que não terás vindo para me dizer que precisas de ligaduras com desenhos do Bugs Bunny, pois não?

– Não andas muito longe – respondeu, aproximando-se o suficiente para inalar o perfume dela. – Estive a examinar a composição da equipa de traumatologia e pergunto-me porque não há especialistas de admissões no grupo.

Hope pôs as mãos nas ancas e semicerrou os olhos.

– Portanto, queres bisturis de marca, ligaduras com motivos do Bugs Bunny e um assistente pessoal?

– Sim.

– Sabes que isso significa mais de cento e cinquenta milhões de dólares?

– Julgo ter ouvido esse valor em algum lugar – respondeu ele, sem saber bem o que dizia porque concentrava toda a atenção nela, no vestido preto e justo que usava e nos sapatos de salto agulha que tornavam as pernas incrivelmente longas.

– Suponho que também ouviste dizer que a implementação de um novo serviço significa sempre uma perda de dinheiro ao princípio, visto que não há fontes de lucro.

– Sim, faz sentido – disse ele, sem desviar o olhar dos lábios dela.

Conhecia bem as mulheres e sabia que se sentia atraída por ele, embora tentasse escondê-lo.

– A minha função é garantir que se cumpra o orçamento. Sabes o que é um orçamento?

Sim, sabia. Mas também sabia que ter dinheiro era um requisito prévio, para poder gastá-lo. A mãe não tivera dinheiro suficiente para pagar a hipoteca do apartamento depois de o pai os deixar, foram despejados e ficaram na rua quando ele tinha apenas treze anos.

Aquelas lembranças tristes e longínquas enchiam-no de humilhação.

– Penso que um especialista em admissões poderia gerar alguns custos adicionais ao princípio, mas a longo prazo seria um benefício para o departamento – opinou ele.

– Falas a sério?

– É óbvio.

Sem dúvida, ela devia conhecer muito bem o seu trabalho, por isso, aquela atitude defensiva devia ser algo pessoal. Agora era a ocasião de lhe demonstrar que não era a única que sabia como funcionava um departamento médico.

– Gostaria de saber como um especialista em admissões pode melhorar os lucros – adiantou ela.

– Alegra-me que faças essa pergunta – disse ele, aproximando-se o suficiente para sentir o calor do corpo dela. – Tenho a certeza de que estás a par das quantias das dietas e gastos diários, e que terás ouvido falar dos GDD.

– Claro. Os grupos de diagnóstico.

– Certo! Portanto, também saberás que todos os problemas ou doenças têm um preço estipulado. Tal como um fato de banho ou um gorro num centro comercial.

– O que queres dizer?

– Um especialista de admissão é necessário para estabelecer os protocolos necessários, para analisar todos os casos que entram nas urgências, a fim de verificar toda a informação sobre o seguro do paciente ou de qualquer outra ajuda financeira que possa ter. Sem uma faturação correta, com todos os dados do paciente perfeitamente analisados, os pagamentos poderiam atrasar-se indefinidamente ou ficar por receber e isso seria uma perda que o teu orçamento seria incapaz de suportar, por muito bem estruturado que estivesse.

– Importas-te mais com o dinheiro do que com a medicina, não é? – perguntou ela, num tom desafiante.

– É uma pergunta de resposta difícil. Não podemos permitir-nos a prestar mais atenção à medicina do que ao dinheiro. Não é possível um, sem o outro. No fim, é um negócio como outro qualquer e se não cobrir os gastos tudo desaparecerá, não poderemos ajudar ninguém e a comunidade perderá o seu centro de saúde.

– Talvez a memória me falhe, mas não estou a falar com o mesmo médico que há apenas algumas horas, neste mesmo lugar, quis fazer um pedido muito caro de instrumentos cirúrgicos?

– Isso não importa.

– O que importa? – perguntou ela. – Bom, não quero saber. Tenho de ir.

Tentou sair do escritório a toda pressa para evitar a presença dele, mas tropeçou naqueles sapatos altos que usava. Ele apressou-se a segurá-la nos braços, para evitar que caísse.

Seria mentira dizer que não tinha pensado em beijá-la, mas nunca costumava agir movido por um impulso. No entanto, estava ali junto dele e sentia as suas curvas sedutoras a tocar-lhe o corpo e o coração acelerado.

Não conseguia pensar noutra coisa senão em beijá-la. Inclinou a boca para a dela.