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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Harlequin Books S.A. Todos os direitos reservados.

O REFÚGIO DA NOIVA, N.º 1454 - Abril 2013

Título original: The Restless Billionaire

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2922-0

Editor responsável: Luis Pugni

Imagens de capa:

Mulher: LUBA V NEL/DREAMSTIME.COM

Cidade: PEFOSTUDIO/DREAMSTIME.COM

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Os Wolfe

 

Uma dinastia poderosa em que os segredos e o escândalo nunca dormem.

 

A dinastia

Oito irmãos muito ricos, mas sem a única coisa que desejam: o amor do seu pai. Uma família destruída pela sede de poder de um homem.

 

O segredo

Perseguidos pelo seu passado e obrigados a triunfar, os Wolfe espalharam-se por todos os cantos do planeta, mas os segredos acabam sempre por vir à superfície e o escândalo está a começar a despertar.

 

O poder

Os irmãos Wolfe tornaram-se mais fortes do que nunca, mas escondem corações duros como o granito. Diz-se que inclusive a mais negra das almas pode curar-se com o amor puro. No entanto, ainda ninguém sabe se a dinastia conseguirá ressurgir.

 

 

As minhas companheiras «Wolfe»: Sarah, Janette, Caitlin, Lynn, Robyn, Jennie e Kate. Obrigada pela vossa ajuda e pelo vosso ânimo ao longo do caminho!

Capítulo 1

 

Aneesa Adani estava num pesadelo, só que estava acordada. Lutou contra uma onda de pânico quando a sua irmã mais nova e as suas tias a guiaram para o lugar onde o seu noivo esperava para a tomar como esposa.

O sari nupcial elaborado que usava constrangia os seus movimentos e acrescentava uma sensação de claustrofobia. Pendiam-lhe joias da cabeça, das orelhas, do pescoço, dos braços e das mãos, fazendo-a sentir-se pesada. Lutando contra a urgência desesperada de se libertar e fugir, pensou mais uma vez que ela era a única culpada da sua situação. Se não tivesse sido tão ingénua, tão complacente, talvez não estivesse ali.

Foi empurrada para a frente e, de repente, os convidados e os seus pais viram-na a chegar. Ouviu-se um sussurro entre os convidados que estavam no enorme e belo pátio interior, iluminado com o brilho sedutor de centenas de lanternas. Aquele pátio era a peça central de um dos hotéis mais exclusivos de Bombaim, a joia da coroa. A opulência do local aterrorizava-a naquele momento e a realidade do que estava a fazer atingiu-a.

Com uma sensação terrível de fatalidade iminente, Aneesa avançou, contrariada, mas, então, um pequeno movimento chamou a sua atenção para um lado. Olhou e, por um instante, ficou ofuscada pelo olhar azul de um homem. Estava entre as sombras, mas isso não conseguia esconder que era alto e bonito, tanto que a distraiu momentaneamente do que tinha à volta.

Ao ver aquele desconhecido moreno, que, sem dúvida, entrara para bisbilhotar o casamento mais prestigiado do ano, a realidade voltou a atingi-la, como se aquele homem representasse algum tipo de escapatória e de libertação para ela. E soube naquele momento que não fora capaz de esconder o medo, nem a confusão no olhar. Ele vira tudo e Aneesa só podia estar agradecida por ser um desconhecido. Desviando o olhar, preparou-se mentalmente e dirigiu-se para o seu destino...

 

 

Sebastian Wolfe ainda tremia ligeiramente depois do olhar ardente que partilhara com a noiva.

Afastou a sensação incómoda. Tinha de admitir que nunca vira uma noiva tão bonita. Sorriu com ironia. Não era que ele tivesse alguma intenção de ver uma noiva a avançar para ele. Vinha de uma família muito extensa com muitos meios-irmãos, era filho de um homem que se casara três vezes, que tivera muitas aventuras e que era pai de oito filhos. Sebastian não tinha precisamente um conceito elevado da santidade do casamento.

Fazendo um grande esforço, concentrou-se mais uma vez no que o rodeava e não no campo de minas que era a sua família, que se tinha dispersado aos quatro ventos assim que pudera escapar da mansão Wolfe.

No meio do pátio interior enorme havia um caramanchão, coberto de tecidos vaporosos sob o céu do entardecer. A noiva, embora fosse de estatura média, tinha um porte régio e elegante que a fazia parecer mais alta.

O seu rosto era uma máscara suave de concentração e, dado o ritual elaborado dos casamentos indianos tradicionais, não podia culpá-la. Dava-lhe a impressão de que consistiam numa seleção impressionante de encontros minuciosamente elaborados, cada um mais importante do que o anterior e que seguiam um código estrito. Durava vários dias e culminava naquela cerimónia. O ar estava aromatizado pelo incenso queimado.

Pouco antes, Sebastian tinha presenciado a chegada do noivo numa cadeira de ouro, vestido com uma túnica de seda dourada e calças a combinar. Fora recebido pela família da noiva com o rosto tapado por um véu de calêndulas frescas.

Em seguida, as mulheres trouxeram a noiva, que tinha os braços delicados cobertos de braceletes dourados, prateados e vermelhos. Sebastian vira as tatuagens de hena que lhe adornavam as mãos até ao antebraço. Com o sari brilhante vermelho e dourado, o penteado elaborado e a peça de pérolas e diamantes que tinha na testa, parecia uma princesa indiana.

A lembrança do olhar que tinham trocado produziu-lhe um calafrio no peito. Era estranho, mas tinha a sensação de ter visto algo parecido a pânico e a desespero nos seus olhos castanhos grandes.

Franziu o sobrolho. Devia estar enganado, porque, naquele momento, ao ver os noivos a trocarem as grinaldas, parecia muito serena. E, no entanto, não era tremor o que via nas suas mãos delicadas?

Sebastian repreendeu-se mentalmente. O que lhe importava o estado emocional de uma desconhecida no dia do casamento? A única coisa que lhe importava era que corresse tudo bem na festa.

Aquele hotel era mais um da sua cadeia bem-sucedida de hotéis ao longo do mundo. O luxuoso hotel Bombay Grand Wolfe. E ele estava ali para assistir ao casamento do ano, de Aneesa Adani com Jamal Kapoor Khan, duas das estrelas mais importantes de Bollywood.

Segundo o relatório que as suas Relações Públicas tinham elaborado sobre o casamento, Aneesa Adani fora coroada Miss Índia alguns anos antes e, depois de uma carreira bem-sucedida como modelo, começara a trabalhar nos filmes de Bollywood, tornando-se a sua maior estrela com uma lista enorme de sucessos. O romance e o posterior casamento com o companheiro de sucessos, Jamal Kapoor Khan, convertê-los-ia no casal mais poderoso do cinema indiano durante os próximos anos. Estavam no epicentro da adulação das massas, o que não era nada desdenhável num país com mais de um bilião de habitantes.

Sebastian olhou à sua volta e observou, satisfeito, os guardas fortemente armados e os agentes à paisana misturados com os membros da sua equipa. Nada fora deixado ao acaso e confiava plenamente nas medidas estritas de segurança e na discrição que podia garantir em todos os seus hotéis. Essa era uma das razões pelas quais o Bombay Grand Wolfe fora escolhido para celebrar aquele casamento, além da sua beleza.

De onde estava, podia ver a lua a brilhar sobre o mar Arábico e o contorno iluminado do Arco do Triunfo da Índia, o ponto mais representativo de Bombaim.

Sebastian esperava experimentar a satisfação habitual que se apoderava dele quando vivia um momento assim, quando tinha a rara oportunidade de observar dos bastidores o trabalho que fizera, o momento em que levantava a cabeça o suficiente para reconhecer os frutos do seu sucesso, mas não chegou. E foi então que se apercebeu de que estava há bastante tempo sem a experimentar.

Ligeiramente perturbado por aquela ideia, voltou a olhar para a tenda, onde os noivos estavam sentados em tronos régios, em cima de um estrado.

O rosto delicioso da noiva continuava a ser uma máscara fria de serenidade, mas Sebastian sentiu um arrepio na nuca, como se tivesse pressentido que se tratava apenas de uma fachada.

E, então, experimentou algo muito mais terreno entre as pernas. Vestida com o traje nupcial elaborado, só conseguia ver partes da sua pele morena, uma visão provocadora da curva da cintura e da parte posterior da anca sob o corpete justo. Imaginou o toque sedoso daquela pele, que, sem dúvida, seria tão suave como uma pétala de rosa.

Para seu desagrado, Sebastian apercebeu-se de que estava a comer a noiva com os olhos a meio da cerimónia e que o mero facto de olhar para ela estava a excitá-lo de uma maneira que não sentia desde que acabara a sua última aventura há algumas semanas. Também se apercebeu de que tinha ciúmes do noivo a um nível básico, porque seria ele a descobrir os segredos da beleza exótica da nova esposa.

Sebastian recriminou-se. Não tinha nenhuma dúvida de que Aneesa Adani era como todas as jovens da classe média-alta. Uma pequena princesa. O seu casamento com aquele homem não passava do passo seguinte para uma vida de luxo e indolência, apesar da sua carreira como atriz. E também não tinha nenhuma dúvida de que não seria uma virgem ruborizada na sua noite de núpcias. Apesar da castidade dos filmes de Bollywood, no mundo real as estrelas eram tão promíscuas como em Hollywood e tinha vários meses de relação altamente publicitada com aquele homem.

Apesar daquelas asseverações, necessitou de mais esforço do que estava disposto a reconhecer para se afastar dali. Viu um dos seus assistentes mais próximos pacientemente à espera do seu próximo passo. Sebastian agradeceu a distração e afastou os pensamentos perturbadores sobre aqueles olhos.

Saiu do pátio, deixou o casamento para trás e sorriu com tristeza. A sua mente pregara-lhe uma partida, talvez o ritual e o incenso o tivessem afetado. Dirigindo-se para a zona da receção, uma fusão magnífica de estilo mourisco clássico e desenho português, ignorou os olhares de admiração que a sua estatura e o seu corpo despertavam. A atenção das mulheres era algo que nunca faltava a Sebastian, nem aos seus irmãos. Conseguiam-na sem nenhum esforço desde que tinham uso da razão.

Alguns minutos mais tarde, depois de falar com o diretor do hotel, entrou no seu elevador privado e sentiu a constrição habitual que experimentava ao estar dentro de um fato e a necessidade familiar de fazer desporto para libertar a mente. O desporto era como uma droga para Sebastian, uma saída que utilizava desde sempre. Tinha-o ajudado a escapar do caos da sua infância disfuncional e agora ajudava-o a escapar dos confins rígidos da sua vida. Também acalmava a insatisfação que sentia cada vez com mais frequência e ajudava-o nas noites frequentes em que tinha sorte se conseguisse dormir três horas.

Sebastian não reparou nas linhas impávidas do seu rosto ao espelho do elevador. Tinha aprendido há muito tempo a arte de projetar uma fachada controlada, embora por dentro estivesse cheio de contradições, mas os seus pensamentos voltavam invariavelmente ao casal que estava lá em baixo. Não tinha a mínima dúvida de que com o tempo a realidade se tornaria evidente. E, num país que tinha uma das taxas de divórcio mais baixas do mundo, quase sentia pena do casal, já que era pouco provável que lhes permitissem escapar da sua união, sobretudo se tivessem filhos.

Sebastian repreendeu-se. Quem era ele para os julgar? Apertou os lábios, mal-humorado. Afinal, ele não tivera uma infância precisamente normal.

Enquanto pensava neles, as portas abriram-se e Sebastian entrou na suíte de cobertura do Grand Wolfe, a melhor do hotel. Quando tirou o casaco e a gravata, desejou mentalmente o melhor do mundo ao casal lá em baixo e afastou da mente a imagem da noiva deliciosa.

 

 

Aneesa mal era consciente do ritual nupcial que estava a ter lugar à sua volta. Sentia-se intumescida por dentro e por fora, e sabia que aquela sensação era uma maneira de se proteger, embora perigosamente débil.

A cabeça doía-lhe, como vinha acontecendo desde que o seu mundo confortável, privilegiado e seguro explodira há duas noites. Tinha ido ao quarto de hotel de Jamal para o surpreender, com a esperança de o animar a dar mais um passo na sua relação casta.

A ideia de chegar virgem à noite de núpcias enchia-a inexplicavelmente de medo. Talvez então já soubesse que o que Jamal e ela partilhavam não era normal e tentara provocá-lo de alguma forma. Nunca entendera a reticência do seu noivo à parte física da sua relação.

Em vez de o encontrar a ler tranquilamente o novo guião, o que lhe dissera que ia fazer, encontrara-o na cama. Com o seu assistente. Um homem.

Aneesa sabia que ainda não tinha assimilado completamente o impacto daquele momento. Tinha ido à casa de banho e vomitara com força. Então, o amante de Jamal tinha desaparecido e ele tinha tentado acalmá-la.

Aneesa recordava-lhe o rosto belo, uma máscara de compaixão e condescendência, quando lhe perguntara como era possível que não o soubesse quando todas as suas amigas estavam a par. E Aneesa estivera prestes a vomitar outra vez quando recordara os olhares maliciosos que ela tomara por ciúmes. Também teve de reconhecer que de entre aquelas amigas, que estavam naquele momento reunidas no pátio daquele hotel exclusivo, não havia uma única em que sentisse que podia confiar.

Fora-lhe difícil reconhecer como a sua vida se tornara superficial e a facilidade com que deixara os seus amigos para trás quando se tornara famosa.

No espaço de uma noite, a sua vida tinha sofrido uma mudança subtil, mas sísmica. E, nos dois dias posteriores, Aneesa tinha passado de ser uma jovem relativamente mimada a alguém mais maturo e menos ingénuo. O impulso de encontrar consolo em culpar os outros fora fútil, pois sabia que ela também era culpada da situação.

A advertência seca que Jamal lhe fizera naquela noite ainda ecoava nos seus ouvidos e tinha sossegado o seu impulso de pedir ajuda ou conselho.

– Se pensares por um segundo em fugir deste casamento, terás de te despedir da tua carreira para sempre. Quem quereria casar-se contigo depois de semelhante escândalo? Porque podes ter a certeza de uma coisa: se partires e tentares salvar a cara contando a verdade às pessoas, negá-la-ei e enfrentar-te-ei. Este casamento é o meu passaporte para a respeitabilidade. Os nossos filhos farão toda a gente acreditar que somos o casal perfeito. E quem vai acreditar em ti em vez de em mim, o seu adorado Jamal Kapoor Khan?

Aneesa sabia que tinha razão. Se alguma vez tentasse revelar a verdade, seria crucificada pelos milhões de fãs devotos de Jamal. Embora ela fosse famosa, ele era-o muito mais. Não voltaria a fazer um filme na Índia. Além disso, era a primeira da sua família a casar-se. A sua querida avó paterna tinha quase noventa anos e dizia que continuava agarrada à vida só para a ver a casar-se.

Aneesa também sabia que, embora pensassem que a sua família nadava na abundância, a verdade era que o seu pai andava há algum tempo a esforçar-se para manter à tona o negócio de sedas. Só a sua mãe e ela sabiam a verdade, e aquele casamento salvaria financeiramente o seu pai.

No entanto, sabia que o seu pai preferiria enfrentar a ruína à ignomínia de não poder pagar o casamento da filha. Estava muito orgulhoso de não ter permitido que Aneesa o ajudasse a nível financeiro. Embora não cobrasse tanto como as atrizes de Hollywood, para os padrões índios era uma mulher rica.

E como ia contar aos seus pais o segredo de Jamal? Eram muito conservadores. A respeitabilidade fazia parte do seu sobrenome, ficariam destroçados. A pressão na cabeça aumentou e sentiu uma dor mais intensa.

Podia sentir o peso do olhar de Jamal à sua esquerda e não foi capaz de se virar para ele. Conhecia muito bem a adoração falsa que lhe veria desenhada nas feições belas. Era uma expressão que tinha aperfeiçoado ao longo de muitos anos de filmes. Uma expressão que a tinha enganado quando se tinham conhecido no seu primeiro filme e que tinha acreditado ser sincera.

Não era de estranhar que a tivesse enganado com tanta facilidade, pensou naquele momento, com amargura. Vira uma jovem mimada, imatura e tremendamente ingénua. Ela tinha caído rendida perante a sua atuação, seduzida pela sua beleza e pelas suas palavras. Para não falar da atenção que lhe dedicava e do seu modo de a lisonjear. Agora, teria de viver com aquela vergonha durante o resto da vida.

Os seus pensamentos foram bruscamente interrompidos quando o sacerdote lhes pediu que se levantassem. Estavam a aproximar-se da parte mais sagrada da cerimónia. Depois, Aneesa sabia que as suas possibilidades de escapar desapareceriam para sempre.

A ponta do seu sari e a do casaco comprido de Jamal estavam atadas e estavam prestes a rodear o fogo sagrado sete vezes enquanto pronunciavam as sete bênçãos, cada uma delas sobre diferentes aspetos do casamento.

Quando começaram a caminhar devagar à volta do fogo, Aneesa sentiu novamente uma pontada de pânico. O intumescimento que sentia deu lugar a tremores.

Os seus sonhos de criança de se apaixonar e casar-se já tinham sido destruídos. Agora, tinha os olhos bem abertos e cada passo que dava com Jamal à volta do fogo aproximava-a mais de um futuro de sofrimento e de dor. Como teria filhos num casamento assim, no qual o pai se deitaria com a mãe só para procriar e manter uma fachada?

Naquele instante, Aneesa recordou os olhos azuis penetrantes do homem que vira entre as sombras e, de repente, um impulso mais forte atravessou-a. No meio do pânico e do choque, agiu com uma segurança de movimentos que a surpreendeu. Parou, agachou-se e desfez rapidamente o nó que unia o seu sari ao casaco de Jamal. Ouviu como ele suspirava e sussurrava:

– Aneesa, o que achas que estás a fazer?

Então, ela desceu do estrado. Com o coração a pulsar-lhe com força, dirigiu-se diretamente para o seu pai, que a olhava boquiaberto, e agarrou-lhe a mão. Era consciente de que toda a gente estava paralisada pela surpresa e soube inconscientemente que devia aproveitar-se da situação. Levou a mão do seu pai aos lábios e depositou um beijo, dizendo-lhe, com os olhos cheios de lágrimas:

– Lamento imenso, papá, não posso fazer isto. Devolver-te-ei o dinheiro. Por favor, perdoa-me.

E saiu a correr.

Aneesa não sabia para onde corria, só sabia que tinha pouco tempo antes que as pessoas reagissem e o seu pai mandasse alguém atrás dela. Também não podia pensar na confusão e no desgosto dos seus pais, porque se iria abaixo. E também não podia regressar. Parou, com o coração a pulsar-lhe com força no peito. Tinha subido vários lances de escada quando viu o que parecia um elevador para o pessoal. Aneesa esperava que a levasse para um lugar longe do pátio e mais tranquilo, onde pudesse analisar a situação em que se encontrava. Queria ar puro e sentia a roupa mais apertada do que nunca.

O elevador subiu em silêncio e, em seguida, parou com suavidade. As portas abriram-se e encontrou-se no que parecia ser uma lavandaria, embora muito luxuosa.

Aproximou-se da porta e abriu-a com o coração na boca. Pelos vistos, estava numa suíte enorme com muitos quartos. Estava tudo em silêncio. Não havia ninguém. Assumiu que tivesse encontrado uma das suítes vazias do hotel gigantesco. Deixou escapar um grande suspiro de alívio e dirigiu-se para a cozinha escura. Viu uma sala de jantar elegante e, mais à frente, uma porta enorme de vidro que dava para um terraço aberto. Observou a linha do horizonte de Bombaim. Não se tratava de uma suíte normal, era a suíte de cobertura.

Quando pensou na sua suíte nupcial, com a cama de casal coberta de pétalas de rosas, sentiu que suava. Dirigiu-se quase a tropeçar no sari para as portas de vidro e tentou abri-las para receber ar fresco.

Quando o conseguiu por fim, saiu para o exterior, tirou a grinalda pesada do pescoço e atirou-a ao chão. Deu-lhe a impressão de que se acendera uma luz por perto, mas não tinha a certeza. Quando se aproximou do corrimão, inclinou a cabeça para trás e ouviu os sons caóticos do trânsito de Bombaim muito mais baixo.

O coração começou a pulsar-lhe mais devagar. Então, ouviu uma voz profunda a dizer:

– Não me digas que estás a pensar em saltar...

Aneesa gritou.

Capítulo 2

 

Aneesa virou-se tão depressa, que se sentiu enjoada e agarrou-se com as duas mãos ao corrimão. E, então, viu-o sob a iluminação ténue. Reconheceu-o imediatamente pelos olhos azuis penetrantes, que pareciam dois cubos de gelo. Era o homem que vira lá em baixo, entre as sombras. E também viu algo que lhe tinha passado completamente despercebido no terraço: uma piscina ultramoderna iluminada.

O homem estava de braços cruzados, com aspeto despreocupado, como se estivesse habituado a que mulheres histéricas vestidas de noiva entrassem no seu terraço. Tinha o cabelo molhado e colado ao crânio perfeito, e os dentes apertados. Arqueou uma das suas sobrancelhas escuras e Aneesa foi consciente, mais uma vez, de como era extraordinariamente bonito. Foi uma reação física que nunca experimentara com Jamal, nem sequer quando acreditava estar apaixonada por ele.

Aquela certeza chocou-a.

– Não deverias estar a beijar o noivo neste momento?

As suas palavras lacónicas e a imagem que as acompanhava deram vontade de vomitar a Aneesa.

– A única coisa que deve preocupar a Jamal neste momento é a sua prezada reputação – disse, sem pensar.

Ao escutar a sua própria voz no meio do silêncio, sentiu outra vez angústia. Tinha de partir. Sair dali. No entanto, quando tentou mexer-se, apercebeu-se de que lhe tremiam as pernas. Para seu horror, dobrou-se pela cintura como uma boneca de trapos.

Aconteceu tão depressa, que Aneesa não teve tempo de se dar conta de que o homem tinha saído da piscina e agachado à frente dela. As gotas de água deslizavam pelo seu corpo musculoso. Umas mãos grandes levantaram-na pelos braços e, de repente, ele pegou-lhe ao colo como se não pesasse nada.

– Eu... Lamento imenso... Não sabia que havia alguém aqui. Fugi... Tinha de fugir. Irei... Não deveria estar aqui.

Aneesa era consciente de que lhe tremiam os dentes e de que o homem a segurava sem nenhum esforço enquanto atravessava as portas e entrava num salão luxuoso, acendendo as luzes enquanto avançava. Colocou-a sobre o sofá luxuoso com delicadeza e, em seguida, agachou-se para a observar. Se antes lhe tinha parecido bonito, de perto era simplesmente impressionante.