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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Penny Jordan. Todos os direitos reservados.

À DISPOSIÇÃO DO MAGNATA GREGO, N.º 22 - Setembro 2013

Título original: The Wealthy Greek’s Contract Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português en 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

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I.S.B.N.: 978-84-687-3404-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Prólogo

 

Ilios Manos olhou para a terra que pertencia à sua família há quase cinco séculos.

Fora ali, naquele promontório rochoso que se erguia sobre o Mar Egeu no noroeste da Grécia, que Alexandros Manos tinha construído uma cópia de uma das criações mais famosas de Palladio, a Villa Emo.

A lenda da família contava que Alexandros Manos, um rico comerciante grego com a sua própria frota que comercializava entre Constantinopla e Veneza, fizera negócios com a família Emo e a inveja apoderara-se dele perante a nova mansão de Emo. Tinha copiado em segredo os desenhos que Palladio fizera da villa, levando-os para a Grécia. Ali mandara construir a sua própria mansão e dera-lhe o nome de Villa Manos, declarando sagrados tanto a casa como a terra sobre a qual se elevava. Deviam passar de geração em geração e não podiam pertencer a nenhum homem que não tivesse o seu sangue.

Alexandros Manos tinha criado ali um feudo pessoal. Um pequeno reino onde ele era o monarca absoluto.

Ilios sabia que aquele promontório de terra rodeado pelo Mar Egeu e com as montanhas do norte da Grécia atrás tinha significado tudo para o seu avô e que o seu pai dera a vida para o manter. Do mesmo modo que o seu avô tinha perdido a riqueza para o proteger, mas não tinha protegido os filhos que concebera, tinha-os sacrificado para manter o pacto tanto com o passado, como com o futuro.

Ilios tinha aprendido muito com o seu avô. Tinha aprendido que, quando se carrega a responsabilidade herdada de ser descendente de Alexandros Manos, deve-se atender o dever acima dos próprios sentimentos. Inclusive negá-los se for necessário para assegurar que a chama sagrada do dever da família para com a villa seja passada. A mão que carrega a tocha pode ser a de um mortal, mas a tocha em si é eterna. Ilios tinha crescido a ouvir as histórias do seu avô sobre o que significava ter o sangue de Alexandros Manos nas veias e sobre estar preparado para sacrificar qualquer coisa e qualquer pessoa para assegurar que a tocha fosse transferida sã e salva.

Agora era o seu dever carregá-la. E também lhe correspondia a responsabilidade de fazer o que o seu avô não conseguira: devolver à família a sua fortuna e grandeza.

Quando era criança, Ilios prometera ao seu avô que encontraria uma maneira de restabelecer a sua grandeza e o seu primo Tino rira-se dele. Voltara a rir-se quando Ilios lhe dissera que a única maneira de poder pagar as dívidas era se lhe vendesse a metade da propriedade que lhe correspondia pelo seu avô.

Ilios olhou para a construção que tinha diante dele, o seu belo rosto estava marcado com a história humana de tantas gerações de homens poderosos e obstinados. Parecia esculpida em mármore pelas mesmas mãos que tinham esculpido as imagens dos heróis gregos da mitologia. Os olhos castanhos com reflexos dourados, herança da mulher que Alexandros trouxera das terras nortenhas, estavam cravados no horizonte.

Tino já não se ria, mas estaria a planear a sua vingança, tal como fizera desde que eram crianças. Tino sempre quisera o que tinha o seu primo mais novo e não encararia aquela humilhação de ânimo leve. No que se referia a Tino, ser o filho do irmão mais novo supunha estar em desvantagem... Algo de que culpava Ilios.

Ilios era consciente da reputação que tinha por exigir o impossível daqueles que trabalhavam para ele com o propósito de conseguir algo impossível para aqueles que lhe pagavam para fazer exatamente isso.

Não havia magia negra, nem artes obscuras, como muitos pareciam pensar sobre o modo como fizera fortuna no negócio da construção. Só havia determinação e trabalho árduo para obter sucesso. O negócio de Ilios não estava manchado pela corrupção, nem por acordos duvidosos selados em quartos escuros, mas pelo trabalho árduo. Conhecia o seu negócio de baixo a cima, pois fora assim que começara. Inclusive agora, nenhum encargo levava o nome da Manos Construction enquanto ele mesmo não tivesse verificado até ao último detalhe. O orgulho e o sentido de honra que alimentavam o seu trabalho, algo que tinha herdado do seu avô, encarregavam-se disso.

Ilios sabia que a viagem que fizera desde a pobreza da sua infância até à riqueza de que agora desfrutava enchia muitos homens de inveja. Diziam que ninguém podia sair da penúria até à fortuna que Ilios possuía, que se contava em milhares de milhões, sendo honrado. E sabia que poucos homens desfrutariam tanto de o ver a cair como o seu próprio primo.

O sol do amanhecer banhou o seu perfil por um instante de um ouro brilhante que recordava a máscara do mais famoso de todos os macedónios gregos: Alexandre Magno. Tinha nascido naquela zona da Grécia e, conforme contava a tradição familiar, tinha caminhado por aquela península.

A uns quantos metros dali, esperava-o um dos seus capatazes e atrás dele estavam os operários da equipa de construção.

– O que quer que faça? – perguntou-lhe o capataz.

Ilios observou com expressão séria a construção que tinha diante dele.

– Destrói-a. Deita-a abaixo e aplana o terreno.

O capataz parecia chocado.

– Mas o seu primo...

– O meu primo não tem nada a dizer sobre o que se passa aqui. Destrói-a.

O capataz fez sinal aos operários e, enquanto os dentes da pesada maquinaria mordiam a construção, Ilios virou-se e foi-se embora.

Capítulo 1

 

– Então, o que vais fazer? – perguntou Charley, ansiosa.

Lizzie olhou para as suas irmãs mais novas. O desejo de as proteger a qualquer custo impulsionou a sua decisão.

– Só há uma coisa que posso fazer – respondeu. – Terei de ir.

– O quê? Vais a Tessalónica?

– É a única maneira.

– Mas não temos dinheiro.

Aquela era Ruby, de vinte e dois anos, a mais nova da família. Estava sentada à mesa da cozinha com os seus gémeos de cinco anos, aos quais tinha permitido uma hora extra de televisão para que as irmãs pudessem falar dos problemas que se abatiam sobre elas.

Não, não tinham dinheiro... E isso era culpa dela, reconheceu Lizzie, sentindo-se culpada.

Seis anos antes, quando os seus pais tinham morrido afogados sob uma onda terrível quando estavam de férias, Lizzie jurara que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para manter a família unida. Deixara a universidade e começara a trabalhar numa firma prestigiada de design de interiores em Londres, seguindo o seu sonho de se tornar designer. Charley fora para a universidade e Ruby estava à espera de fazer os exames do ensino secundário.

A sua família era amorosa e unida, e o choque de perderem os seus pais fora arrasador... Especialmente para Ruby, que no seu desespero procurara amor e consolo nos braços de um homem que a abandonara e que a deixara grávida dos adoráveis gémeos.

Além disso, tiveram de enfrentar outros problemas. O seu bonito e maravilhoso pai e a sua encantadora mãe, que tinham criado para elas um mundo de felicidade de conto de fadas, tinham vivido precisamente assim, num conto de fadas que não tinha nada a ver com a realidade.

A casa de estilo georgiano de Cheshire onde tinham crescido estava hipotecada. Os seus pais não tinham seguro de vida, mas muitas dívidas. Por fim, não lhes restara outra alternativa senão vender a maravilhosa casa familiar para poderem pagar as dívidas.

Com o bume do mercado imobiliário e a sua necessidade de fazer o possível para apoiar e proteger as suas irmãs, Lizzie utilizou as suas pequenas poupanças para montar um negócio no sul de Manchester. Charley poderia continuar os estudos na Universidade de Manchester e Ruby poderia começar do zero.

Ao princípio, as coisas correram bem. Lizzie conseguiu contratos para desenhar o interior de vários edifícios novos e através deles chegaram encomendas de vários proprietários para que lhes decorasse os lares. Graças a esses êxitos, Lizzie teve a oportunidade de comprar uma casa muito maior a um dos promotores imobiliários para os quais trabalhava... Embora, óbvio, com uma hipoteca muito maior. Na altura, parecera-lhe que tinha sentido. Afinal, com os gémeos e elas as três, necessitavam sem dúvida de espaço, tal como tinham necessitado de um carro maior. Ela utilizava-o para ir aos sítios onde trabalhava e Ruby para levar os meninos à escola.

Mas então tinham chegado as restrições aos créditos e da noite para o dia tudo mudara. O mercado imobiliário desabou e, óbvio, também as comissões de Lizzie. O dinheiro que pusera numa conta-poupança não rendera tanto como esperava e as coisas começavam a ficar negras no aspeto económico.

Naquele momento, Charley era chefe de projetos de uma empresa local e Ruby dissera que poderia arranjar emprego, mas as irmãs não queriam que o fizesse. Queriam que os gémeos tivessem a sua mãe em casa, tal como elas em crianças. E como Lizzie dissera seis meses antes, quando as coisas começassem a ficar feias, poderia trabalhar por conta alheia. Além disso, vários clientes deviam-lhe dinheiro. Desenvencilhar-se-iam.

Mas fora demasiado otimista. Não tinha conseguido trabalho porque as empresas locais não contratavam pessoal devido à crise. Muitos dos seus clientes tinham cancelado os contratos e outros ainda lhe deviam grandes quantias que suspeitava que nunca receberia.

De facto, as coisas estavam tão mal que Lizzie já tomara a decisão de ir ao supermercado da vila perguntar se podia trabalhar lá, mas então chegara a carta e agora elas... Ou melhor, Lizzie estava ainda mais desesperada.

Dois dos seus clientes mais recentes, para os quais trabalhara em muitas ocasiões, tinham-lhe pedido que desenhasse os interiores de um pequeno edifício de apartamentos que tinham comprado no norte da Grécia. Os apartamentos, situados num belo promontório, seriam o primeiro passo de um luxuoso e exclusivo empreendimento turístico que, quando estivesse terminado, incluiria villas, três hotéis de cinco estrelas, um porto, restaurantes e tudo o necessário.

O cliente dera-lhe carta-branca para decorar tudo ao estilo do bairro londrino de Notting Hill.

Notting Hill ficava muito longe das industrializadas Manchester ou Cheshire, mas Lizzie sabia exatamente o que os seus clientes queriam: paredes brancas, casas de banho e cozinhas elegantes, chão brilhante de mármore, móveis de vidro, plantas e flores exóticas...

Lizzie fora ver os apartamentos com os seus clientes, um casal de meia-idade com o qual nunca tinha chegado a dar-se bem. Sofrera uma desilusão com o aspeto arquitetónico dos apartamentos. Esperava algo criativo e inovador, que ao mesmo tempo se adaptasse àquela paisagem intemporal, mas o que vira estava completamente desenquadrado. Tratava-se de um edifício retangular de seis andares de duplexes, que nada tinha a ver com as moradias de luxo que ela esperava.

Mas quando expressara as suas dúvidas aos seus clientes, sugerindo que os apartamentos seriam difíceis de vender, tinham-lhe assegurado que estava a preocupar-se desnecessariamente.

– Olha, o facto é que conseguimos um preço tão baixo do construtor que não poderíamos ficar a perder mesmo que o quiséssemos – brincara Basil Rainhill.

Pelo menos, Lizzie assumira que se tratava de uma brincadeira. Às vezes, não era fácil sabê-lo com Basil.

Vinha de uma família com dinheiro, como a sua esposa lhe dissera.

– Nasceu em berço de ouro e, é óbvio, Basil tem olho para os investimentos. É um dom, sabes? É de família.

Só que agora o dom tinha desaparecido, deixando uma montanha de dívidas. Basil Rainhill dissera a Lizzie que, já que não podia pagar-lhe o que lhe devia, ia entregar-lhe vinte por cento do edifício de apartamentos grego.

Lizzie teria preferido que lhe pagassem o dinheiro que lhe deviam, mas o seu advogado tinha-lhe aconselhado que o aceitasse, portanto, tornara-se sócia dos apartamentos com os Rainhill e Tino Manos, o grego que possuía o terreno.

Fizera o que pudera com as possibilidades limitadas do edifício, cingindo-se à sua regra de procurar móveis o mais perto possível de onde estivesse a trabalhar, e ficara satisfeita com o resultado final.

Mas agora tinha recebido aquela carta ameaçadora de um homem do qual nunca tinha ouvido falar, o qual insistia em que fosse a Tessalónica para se reunir com ele. Assegurava que havia «certos assuntos legais e financeiros referentes à sua sociedade com Basil Rainhill e o meu primo Tino Manos que precisa de resolver pessoalmente» e incluía as palavras aterradoras e sinistras: «Se não responder a esta carta, ver-me-ei obrigado a pôr o assunto nas mãos dos meus advogados para que ajam em meu nome».

A carta estava assinada por Ilios Manos.

Não poderia ter chegado em pior altura, mas o tom de toda a carta era demasiado ameaçador para que Lizzie se recusasse a obedecer-lhe. Por muito pouco disposta que estivesse a reunir-se com ele, as necessidades da sua família estavam em primeiro lugar para ela.

– Se esse grego tem assim tanta vontade de te ver, pelo menos poderia ter-se oferecido para pagar o teu voo – resmungou Ruby.

Lizzie sentia-se muito culpada.

– A culpa é minha. Deveria ter-me dado conta de que o mercado imobiliário era uma bolha que acabaria por rebentar.

– Não deves culpar-te, Lizzie – tentou consolá-la Charley. – Como ias saber o que estava a acontecer, se nem sequer o Governo era consciente?

Lizzie forçou um sorriso.

– Se contares ao banco porque necessitas de ir à Grécia, talvez te concedam um crédito – sugeriu Ruby, esperançada.

Charley abanou a cabeça.

– Os bancos não concedem créditos neste momento a nenhuma empresa, nem sequer às que vão bem.

Lizzie mordeu o lábio. Charley não estava a reprová-la por ter fracassado, sabia-o, mas sentia-se mal. As suas irmãs apoiavam-se nela. Era a mais velha, a sensata. Gabava-se de poder cuidar delas... Mas era um orgulho falso, construído sobre alicerces débeis, como tantas coisas naquele clima financeiro terrível.

– Então, o que vai fazer a pobre Lizzie? Tem o grego a ameaçar levar as coisas mais longe se não se reunir com ele, mas como vai fazê-lo se não temos dinheiro? – perguntou Ruby à irmã.

– Sim, temos – recordou Lizzie de repente, com alívio. – Temos o meu dinheiro do vaso e posso hospedar-me num dos apartamentos.

O «dinheiro do vaso» de Lizzie eram as moedas que ia pondo num vaso decorativo que havia no escritório. Dois minutos depois, estavam todas a olhar para o vaso, que agora estava sobre a mesa da cozinha.

– Achas que chegará? – perguntou Ruby.

Só havia uma maneira de saber.

– Oitenta e nove libras – anunciou Lizzie, meia hora mais tarde, depois de o terem contado.

– Oitenta e nove libras e quatro cêntimos – corrigiu-a Charley.

– Será suficiente? – perguntou Ruby.

– Eu farei com que seja suficiente – assegurou-lhes Lizzie, decidida.

Serviria, sem dúvida, para comprar um bilhete barato e ainda tinha as chaves dos apartamentos. Apartamentos dos quais possuía vinte por cento. Tinha direito a ficar num deles enquanto tentava sair da confusão em que os Rainhill a tinham metido.

Como caíam os capitalistas... Ou, melhor dizendo, os que não eram tão poderosos, como no seu caso, pensou Lizzie, cansada. A única coisa que ela queria era cuidar das suas irmãs e dos seus sobrinhos, protegê-los e mantê-los a salvo para que não tivessem de voltar a enfrentar o fantasma da carência com que se tinham deparado depois da morte dos seus pais.