sab573.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Teresa Ann Southwick

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Ingrediente secreto: amor, n.º 573 - setembro 2019

Título original: Secret Ingredient: Love

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-532-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

 

«O caminho para o coração de um homem é pelo estômago.»

Enquanto terminava de limpar a cozinha, Fran Carlino recordou a conversa que tivera com a mãe ao telefone e as irritantes palavras finais da senhora Carlino, pois não pretendia conquistar o coração de nenhum homem.

Acendeu a luz da sala de estar, antes de se acomodar na sua poltrona favorita. Estava cansada. Tivera um dia longo. O seu contrato com uma empresa de alimentos infantis estava a terminar, o que significava que teria de encontrar outro emprego em breve. Gostava do que fazia, porém, trabalhar por conta própria não dava estabilidade nem segurança, especialmente no que dizia respeito ao pagamento das contas.

Fazer consultoria era apenas um emprego temporário, uma escolha que fizera porque aprendera da maneira mais difícil que a indústria alimentar era cruel para uma mulher. Na escola de gastronomia ficara lisonjeada, quando o homem mais bonito da turma quisera namorar com ela. Mas descobrira que ele só a estava a usar para subir na carreira. Ele só queria saber qual era o ingrediente secreto de uma receita dela, a qual impressionara os professores. Depois de ter o coração partido, jurara a si mesma que o amor era um ingrediente que não tinha lugar na sua cozinha, muito menos na sua vida.

O seu mais recente objectivo era abrir o seu próprio restaurante. Pegou no jornal do dia e abriu-o na secção de classificados. Leu os anúncios, marcou alguns, mas nenhum era o que desejava.

– Tudo bem – murmurou, fechando o jornal. – Algo vai aparecer.

A campainha da porta tocou, assustando-a. Não estava à espera de ninguém. Levantou-se e apressou-se a ir até à porta, espreitando pelo olho mágico para ver quem era. Era um homem alto, de cabelos pretos, e não parecia estar armado. Devia ser um vendedor. Ela decidiu que era melhor abrir a porta e atendê-lo, porque seria indelicadeza ignorá-lo, mesmo que não fosse comprar o que ele estava a vender. O seu pai não perderia aquela oportunidade para dizer por que motivo ela precisava de um homem em casa, pensou Fran.

Entreabriu a porta, mantendo a corrente de segurança corrida. Afinal, apesar do que o seu pai pensava, ela não era totalmente imprudente, só por ter nascido mulher.

– Posso ajudá-lo em alguma coisa? – perguntou.

– Fran Carlino?

– Sou eu mesma.

– Quero conversar consigo.

– É o que os assassinos em série dizem – comentou ela. – Ou os vendedores. Vou poupar-nos tempo a ambos e dizer que não estou interessada em nada que esteja a vender. Por isso, vá procurar outra pessoa que esteja interessada no seu produto. Adeus.

Ia fechar a porta, mas o estranho impediu-a, colocando o pé na fresta.

– Espere – pediu ele. – Não sou vendedor. Tenho algo para lhe dar.

– É o que assassinos e vendedores também dizem – Fran olhou bem dentro dos olhos do estranho. – Agora, permita-me que eu feche a minha porta ou...

– Sou Alex Marchetti.

– Que bom para si.

Fran achou aquele nome familiar, mas não conseguiu lembrar-se onde o ouvira.

– A minha irmã, Rosie Schafer, pediu-me para lhe devolver alguns potes – afirmou ele.

Rosie, proprietária de uma livraria e amiga de Fran, estava a testar os alimentos infantis de Fran, dando-os à sua filha, Stephanie. Ela falara dos seus irmãos, mas Fran não se lembrava de ela ter dito que um deles era tão bonito. Fran pensava em abrir a porta e convidá-lo para entrar, quando a frase «cuidado com presentes de gregos» surgiu na sua mente. Alex era italiano, não grego, e trazia potes de comida para crianças, mas ainda assim o aviso aplicava-se.

– Não precisava de os ter trazido – declarou ela. – Eu disse a Rosie para não os devolver.

– Tecnicamente, ainda não lhos dei. Se abrir a porta, poderei entregá-los.

– Deixe o saco junto da porta.

Fran não sabia se devia amaldiçoar o seu pai ou agradecer-lhe pelos anos de cinismo, que a condicionaram a desconfiar das pessoas. A sua própria infeliz experiência reforçava o pensamento dele, fazendo-a ter grande cautela com os homens.

– Vou buscá-los depois – disse ela.

– Está com medo de mim?

«Estou, mas não pelo motivo que você pensa», comentou Fran consigo mesma.

– Como vou saber que é quem diz ser? – indagou.

– Vou provar-lhe a minha identidade.

Alex tirou a carteira do bolso e mostrou a carta de condução. A fotografia e o nome no documento mostravam que ele era mesmo Alex Marchetti. A descrição física dele também combinava: um metro e oitenta e cinco, oitenta quilos, cabelos pretos e olhos castanhos.

– É mesmo Alex Marchetti – admitiu Fran.

– Vai abrir a porta e permitir que eu entregue os potes? Se a carta de condução não foi suficiente para a convencer, tenho uma proposta para si.

– O meu pai deu-me diversos conselhos sobre situações como esta.

«E quando o meu pai morrer, os meus quatro irmãos assumirão o seu lugar», pensou ela.

– É uma proposta de emprego – informou Alex.

Aquilo aguçou o interesse de Fran. Ela recordou que Rosie dissera que a sua família possuía uma cadeia de restaurantes. Já que ficaria sem emprego em breve, por que não ouvir o que ele tinha a dizer?

– Tudo bem. Podemos conversar, mas primeiro tire o pé da fresta – quando o seu pedido foi atendido, abriu a porta. – Entre.

– Obrigado. A minha irmã disse que você é uma excelente especialista em culinária.

– Tenho orgulho de dizer que ainda não recebi nenhuma reclamação.

Alex sorriu e Fran ficou arrepiada. Era um sorriso encantador, capaz de iluminar o coração de uma mulher por vinte e quatro horas. Correcção: iluminar o coração dela por vinte e quatro horas, talvez até quarenta e oito.

Por causa da sua reacção instintiva, Fran estava pronta para agradecer o facto de ele ter trazido os potes e pedir-lhe educadamente que se fosse embora, porém, ainda precisava de ouvir a proposta de emprego.

– Eu ia fazer chá – afirmou. – Quer uma chávena? Ou prefere café?

– Não quero nada, obrigado.

Alex seguiu-a pela sala de estar até à pequena cozinha, dividida em duas por um balcão. Fran acendeu o fogão e colocou a chaleira com água a ferver. De soslaio, observou-o. Os Marchetti tinham uma cadeia de restaurantes muito bem sucedida. A pequena, mas aconchegante, cozinha do apartamento de Fran devia ser muito diferente das cozinhas a que Alex estava habituado. Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças.

– A minha irmã disse que você presta consultoria – comentou. – Comentou que a comida para bebés que criou é deliciosa. A minha sobrinha adora-a.

– Tenho de acreditar nas palavras da sua irmã, pois infelizmente não tenho um feedback directo dos meus pequenos consumidores – Fran foi até ao armário e tirou o açucareiro. – O que mais é que Rosie contou?

– Que tem bom gosto.

– Gentileza dela.

Fran virou-se a tempo de ver Alex observá-la de cima a baixo. Aquilo, e o ar de apreciação dele, fizeram com que ela se perguntasse se os irmãos Marchetti só conversaram sobre comida.

– Concorda com a sua irmã? – perguntou Fran, colocando o açucareiro sobre o lava-louça.

– Ainda não experimentei a sua comida, mas o seu apartamento é muito bonito e aconchegante.

– Obrigada. Tentei usar objectos que reflectissem a minha personalidade. Por que será que tenho a sensação de que Rosie não estava a falar sobre comida ou decoração, quando disse que tenho bom gosto?

Alex ergueu as sobrancelhas, com expressão admirada.

– Ela não mencionou que é muito perceptiva – disse. – Na verdade, recitou um longo monólogo sobre Fran Carlino, contando que tem um metro e setenta e olhos cor de mel, grandes e cintilantes. Também disse que é concisa, além de charmosa e graciosa como um...

– Se disser «botão de rosa», expulso-o daqui.

– Tudo bem, embora tenha sido essa a imagem que ela usou. Foi então que perguntei o que é que tudo isso tinha a ver com a sua comida.

– Então, ela também falou sobre a minha comida.

Alex moveu a cabeça afirmativamente.

– Ela disse que a comida para bebés que desenvolveu é simples e pura, excelente para crianças com alergias. E eu perguntei-me se desenvolveu algo mais.

– Também criei sonhos assados, com zero por cento de gordura. E uma receita de sopa desidratada. Trabalhei com legumes congelados, para que ficassem crocantes depois de preparados.

– E quanto aos conservantes, nos alimentos para bebés?

– É muito fácil preparar a comidinha deles sem aditivos químicos e então congelá-la – explicou Fran. – Como um teste de mercado, dei várias amostras de papinha a Rosie. Até agora, o produto parece ser muito bom. O segredo é simplicidade. Não ponho muito tempero, para não agredir o organismo sensível dos bebés.

– Parece uma excelente ideia. Noites em claro com um bebé a sofrer de indigestão podem gerar publicidade negativa.

Ela tirou do armário uma chávena e um saquinho de chá.

– Percebe de publicidade? – perguntou.

Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça.

– Sou vice-presidente do departamento de publicidade do Grupo Marchetti. Estou à procura da pessoa certa para supervisionar a minha última pesquisa e desenvolver um projecto para a empresa. Rosie disse que você é uma óptima nutricionista e cozinheira.

– Frequentei uma escola de gastronomia. Neste momento, trabalho por conta própria. Mas já sabe disso.

– Preciso de consultoria para desenvolver uma linha de produtos congelados. Quero colocar a ementa Marchetti no maior número possível de casas do país.

A chaleira assobiou e Fran tirou-a do lume. Pôs água quente na chávena, onde já estava o saquinho de chá, então olhou para Alex.

– É uma proposta interessante – comentou.

– Pretendo fazer com que a companhia entre no ramo de alimentos congelados. Sabe que é um negócio que movimenta quatro bilhões de dólares por ano?

«Não, mas sei que você é incrivelmente atraente», comentou ela consigo mesma.

– São toneladas de batatas e cenouras congeladas – disse.

– Exactamente. Acho que está na hora de investir noutros produtos. Foi o nosso pai quem abriu o primeiro restaurante Marchetti. Quando ele se aposentou, o meu irmão mais velho, Nick, assumiu a companhia e expandiu-a, criando a cadeia de restaurantes actual. Planeio fazer o mesmo, só que numa direcção diferente.

Fran apoiou os cotovelos no balcão e o queixo nas mãos.

– Síndrome do segundo filho – brincou.

– Como?

– Está a sofrer de síndrome do segundo filho. Na Idade Média, o primeiro filho herdava o castelo e o filho seguinte ficava em segundo plano. Nick levou o Grupo Marchetti ao sucesso e você agora também quer ser notado.

Alex franziu a testa.

– Só há uma coisa errada nessa teoria – disse.

– E o que é?

– Sou o terceiro filho.

– Ah! Quaisquer filhos após o primeiro e o segundo são pagos para não fazerem nada. Isso faz com que a síndrome seja duas vezes mais intensa.

Por que sentiria Fran aquele absurdo desejo de o provocar? Talvez porque ele fosse muito sério. Ou talvez porque achava a sua instantânea atracção por ele desconcertante. Fosse qual fosse o motivo, ela não conseguia resistir à vontade de conversar um pouco mais com ele.

– Disse que sou duas vezes mais intenso? – indagou Alex, malicioso.

Missão cumprida, pensou ela, observando-o a fazer um grande esforço para reprimir um sorriso.

– Não, eu disse que a síndrome é duas vezes mais intensa para o filho número três. Está a competir com mais dois irmãos, por aprovação, afeição e pelo direito de ocupar um lugar no castelo.

Alex observou-a a girar o saquinho de chá na água quente, colocar duas colheres de açúcar e mexer.

– Acho a sua teoria interessante – comentou. – E pode haver um pouco de verdade nela.

– A sério?

– Se a síndrome do segundo filho significa que quero que os meus pais e os meus irmãos tenham tanto orgulho de mim quanto tenho deles, é isso exactamente que desejo.

– Viu? – Fran tinha passado pelo mesmo processo. No seu caso, porém, não havia possibilidade de alguém ter orgulho dela. Ergueu a chávena e tomou um gole de chá. – Boa sorte.

– Tem irmãos?

– Quatro irmãos mais velhos.

– Não é de admirar que você e Rosie se tenham dado tão bem.

Ela movimentou a cabeça afirmativamente.

– Temos em comum um pai e quatro irmãos que mais parecem guarda-costas – comentou.

– Então, percebe logo quando alguém sofre da síndrome do segundo filho.

– Entre outras coisas.

– Como o quê? – indagou Alex.

– Como casamento e filhos. No caso das mulheres, ainda não nos afastámos da sociedade feudal.

– Explique-se.

Fran tomou mais um pouco do chá.

– A mulher trabalha a um ritmo alucinante para cuidar dos filhos e do marido, e o que é que recebe em troca? – questionou. – Só um lugar para viver, comida e roupas.

– Não acha que a sua concepção é muito cruel? A minha mãe e a minha irmã parecem ter encontrado a felicidade numa família, especialmente na maternidade, e sentem-se muito bem recompensadas.

– Exagerei um pouquinho. Mas, de acordo com as minhas primeiras observações, a maternidade mais parece escravidão do que satisfação. Digo à minha mãe para ter uma vida própria, mas ela insiste em dizer que tem uma. Não acho que esteja a obter satisfação pessoal suficiente para me motivar a seguir os passos dela. Mesmo contra a vontade do meu pai.

– Como assim? – indagou ele.

– Ele acredita que o lugar da mulher é em casa. A realização pessoal da minha mãe é cuidar do marido e dos filhos. Ele queria que eu fosse professora.

A expressão de Alex ficou séria e Fran perguntou-se o que tinha dito para que ele tivesse aquela reacção.

– Porquê professora? – prosseguiu ele com certa tristeza no olhar.

– É uma boa carreira para uma mãe, porque quando ela termina de dar aulas, os filhos também estão a sair da escola. E nas férias ficam todos juntos.

– O que há de errado nisso?

– Para começar, ser professora foi ideia do meu pai, não minha – respondeu Fran. – E...

– Essa parece uma longa e interessante história. Podemos sentar-nos?

– Claro! Que indelicadeza a minha!

Fran não tinha o hábito de ser rude, mas aparentemente o seu cérebro entrara em curto-circuito.

– Vamos para a sala de estar – sugeriu.

Alex virou-se e seguiu o caminho de volta para o outro aposento, e ela aproveitou para o olhar de cima a baixo. Ele acomodou-se numa poltrona.

– Bem confortável – comentou.

– Também acho. Era da minha avó – Fran sentou-se no sofá e sorriu tristemente. – Ela morreu há alguns anos.

– Acho que ela era muito especial para si.

Fran concordou, movendo a cabeça.

– Era a mãe do meu pai – explicou, – e visitava-nos com frequência. Éramos muito chegadas. Ela financiou a minha rebelião.

– Rebelião?

– Fazer o curso de gastronomia. O meu pai recusou-se a pagá-lo. Disse que, se eu gostava de cozinhar, devia casar-me e fazer comida para um único homem, em vez de para dezenas de estranhos.

– Onde estudou gastronomia?

– São Francisco.

Alex ergueu as sobrancelhas, espantado.

– Tão longe! – fez uma pausa, então perguntou: – Ainda sente saudades da sua avó?

– Todos os dias. Eu adoro essa poltrona, porque é bom ter algo que lhe pertenceu.

– Quer que eu lhe dê a minha opinião de psicólogo amador?

– Não. Chega de psicologia barata.

– Combinado.

Trocaram um aperto de mãos, selando o «pacto». Fran puxou a sua, abruptamente, e rezou para que Alex não tivesse percebido a sua agitação. Não desejava sentir-se atraída por ele. Não era nada pessoal, mas, após o seu desastre, não estava interessada em ter um relacionamento sério com um homem, especialmente com um do ramo da indústria alimentar. Ao menos se Alex não fosse tão sexy, sentado na poltrona da sua avó... Por que motivo fora olhar pelo olho mágico da porta? Porque fora movida pela curiosidade.

O que a fez lembrar que estava curiosa para saber a segunda das razões que tinham levado Alex ao seu apartamento. Ele admitira que estava à procura de uma cozinheira e nutricionista, porém, não parecia impressionado com o currículo dela. Não havia muita possibilidade de ele lhe oferecer o emprego. Era uma pena, pois aquela seria uma oportunidade maravilhosa.

Mas Alex tinha dito que estava lá por duas razões e só tinha revelado uma.

– Disse que está aqui por duas razões. Uma delas é o facto de estar à procura de uma cozinheira e nutricionista. E a outra?

– Alguém quis que nos conhecêssemos, esperando que algo surja entre nós.