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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

 

© 2010 Jackie Braun Fridline. Todos os direitos reservados.

UM XEQUE NA CIDADE, N.º 1333 - Junho 2012

Título original: Sheikh in the City

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0303-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversion ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

– Penso que já adivinhei quem é o hóspede de honra – disse Arlene Willians, da porta da cozinha, enquanto observava às escondidas a sala de jantar dos Henderson, ricamente mobilado. Babs e Denby Henderson costumavam convidar para as suas noites em Park Avenue autoridades poderosas, académicos famosos, dramaturgos premiados e membros da nobreza europeia. Emily Merit, a chef que passara cinco anos a encarregar-se dos jantares, não tinha dúvida alguma de que o convidado de honra daquela noite seria, igualmente, digno de admiração.

– Então, diz-me – pediu, enquanto servia as sobremesas.

– Penso que pode ser o modelo dos anúncios de roupa interior.

– O que está em todos os autocarros da cidade e nas estações de metro? – perguntou Emily, levantando o olhar.

– E juravas que não voltarias a olhar para um homem... – respondeu Arlene, sorrindo.

– E não o fiz, mas é impossível não reparar nesses anúncios.

Arlene voltou a dar uma vista de olhos à sala de jantar e comentou, num tom pensativo:

– Ou poderia ser o ator que faz de agente da CIA no Restless Nights. Ambos têm a mesma boca sensual.

Emily revirou os olhos. Jurara não voltar a relacionar-se com homens, mas já perdera a conta do número daqueles que tinham feito Arlene babar-se, só no último mês.

– Afasta-te da porta e vem ajudar-me com as sobremesas.

– Oh, vêm para aqui!

Emily franziu o sobrolho. Espetadores, exatamente o que necessitava. Não gostava que entrasse gente na cozinha enquanto trabalhava, sobretudo, se se aproximassem unicamente para seduzir a sua ajudante. Embora, tecnicamente, aquela não fosse a cozinha de Emily, o princípio era igual.

– Está com a senhora Henderson – acrescentou Arlene, enquanto deixava que a porta se fechasse.

Emily relaxou um pouco ao ouvi-lo. Julgava saber a razão da visita. Conhecera Babs há cinco anos, através do seu noivo de então, Reed, que tinha negócios com Denby, o marido de Babs. Certo dia, quando uma empresa de cateringue falhara aos Henderson, horas antes do jantar, Reed propusera que contratassem Emily. Naquela época, acabara de sair da escola de hotelaria e só tinha organizado almoços e jantares para a família e amigos. Sentira-se aterrorizada, para não dizer algo pior. Mas, naquela noite, a sua comida tivera um grande êxito e os Henderson tinham-se transformado no trampolim da sua carreira.

Como cliente, Babs podia ser frívola e exigente, mas conhecia muita gente que era tão rica como ela e encarregara-se de a apresentar a Emily. Graças ao patrocínio dos Henderson, Emily tinha renovado a cozinha do seu apartamento modesto, sem ter de recorrer às poupanças para o restaurante que sonhava vir a ter um dia.

O mais provável era que Babs trouxesse o convidado à cozinha, para o apresentar. Na opinião de Emily, o facto de ser um possível cliente era mais importante do que a profissão a que se dedicava, mesmo que realmente se tratasse do modelo que mostrava os abdominais e músculos dos braços nos anúncios de roupa interior.

Arlene agarrou na bandeja com as sobremesas e saiu da cozinha precisamente na altura de Babs entrar com o homem misterioso. Babs usava um vestido Dior e perfumara-se com Chanel, como era habitual. O seu penteado impediu que Emily visse bem o seu acompanhante.

– Emily, querida, esta noite superaste-te – proclamou Babs, no seu tom teatral característico. O seu sorriso brilhava tanto como o fio de diamantes que exibia no decote. – Todos os convidados adoraram o salmão com ervas – virou-se e segurou no homem pelo braço, para o pôr ao seu lado. – E isso inclui o meu convidado especial...

– Chama-me Dan – interrompeu ele.

Não era o modelo de roupa interior mas, de qualquer forma, Emily ficou boquiaberta. Não podia culpar a sua ajudante por ter passado metade da noite a olhar para ele, embevecida. Meu Deus, era muito bonito! Podia cair morta ali mesmo. No entanto, aquele nome de uma só sílaba não condizia com ele. Era muito simples, muito... Ocidental. Por isso, franziu o sobrolho e perguntou:

– Dan?

– É uma alcunha – disse ele, com um sotaque que Emily não soube identificar, mas que lhe produziu um efeito intenso, pois as hormonas começaram a chispar como as hortaliças a fritar. Incomodava-a não ser totalmente imune, como deveria sê-lo depois do que se passara com Reed.

– Verifiquei que, quando estou no seu país, muitos acham mais fácil pronunciar esse nome do que o meu verdadeiro – acrescentou ele.

Emily pensou que tinha lógica, mas continuava sem acreditar que aquele homem se chamasse assim. Também não se parecia com o modelo com quem Arlene o tinha confundido, apesar de ter corpo para o ser. Era alto e de constituição atlética, que se via realçada pelo fato que usava. No entanto, tinha a cara mais angular e masculina do que o modelo em questão, e enigmáticos olhos castanhos. O cabelo era da cor do ónix e usava-o curto, mas não o suficiente para uma mulher não sentir a urgência de introduzir os dedos nele.

Estendeu a mão, mas só para apertar a dele.

– Emily Merit.

Sentiu a palma quente na dela e o leve apertão, em nada parecido com a forma condescendente com que alguns homens lhe apertavam a mão. Foi mais fácil concentrar-se no apertão do que na estranha reação do seu corpo face ao contacto.

Quando se soltaram, Emily esticou a bata de trabalho. Normalmente, não se gabava, mas a perfeição física daquele homem tornou-a dolorosamente consciente de que tinha o cabelo preso num coque severo, coberto com uma rede para o cabelo e que a pouca maquilhagem que pusera naquela manhã, provavelmente, já desaparecera.

– Como te dizia, Dan – observou Babs, – o senhor Henderson e eu não consentiríamos que outra pessoa fizesse estes jantares. Pensamos que Emily é a melhor cozinheira de Manhattan.

Dan assentiu e sorriu com tanto calor como lhe apertara a mão. Emily sentia-se como se estivesse dentro de um forno.

– Então, tem de ser minha.

Percebia o duplo sentido das suas palavras? Devido à sua expressão insossa era difícil de saber. Sem conseguir evitá-lo, Emily começou a balbuciar de modo ridículo.

– Mas não... Nem sequer sei o seu apelido.

– Vou remediá-lo, se me permitir. É Tarim – a sua expressão deixara de ser insossa. Elevou as comissuras dos lábios e a gargalhada iluminou os seus olhos escuros. Estava claro que achava aquilo divertido.

Não era o caso de Emily, visto que ele se divertia às suas custas. Meu Deus, o que se passava? Não era próprio dela e isso para não mencionar como era pouco profissional. Embora não devesse ter sido necessário, teve de recordar que era uma chef respeitada e solicitada, que se licenciara numa das melhores escola de hotelaria do país, e não uma adolescente estúpida que falava com a estrela da equipa de futebol da escola.

– Se me perdoarem – disse Babs, – tenho de voltar para a festa. Emily, promete que não o entreterás durante muito tempo. O resto dos meus convidados está desejoso de desfrutar da sua companhia.

– Tê-lo-á de volta o mais depressa possível – disse ela, com um sorriso tenso. E era o que tencionava fazer. Falar de negócios e acompanhá-lo à porta. Assim que ficaram sozinhos, perguntou:

– Como posso ajudá-lo, senhor Tarim?

– Chama-me Dan, por favor. Posso chamar-te Emily?

– Certamente – o seu nome, que sempre lhe tinha parecido vulgar e antiquado, parecia quase exótico quando ele o pronunciava.

– Quero dar um jantar antes de me ir embora de Manhattan, para corresponder à generosidade de quem me tem convidado durante a minha estadia.

– É a primeira vez que vem a esta cidade? – perguntou-lhe, cortesmente, ao mesmo tempo que lançava um olhar rápido para o relógio.

– Não, venho várias vezes por ano, sobretudo em negócios. Solicitei os serviços de outro cozinheiro nos meus jantares, mas a comida que fizeste esta noite fez-me mudar de opinião.

– Obrigada. É muito adulador.

E sentia-se adulada. Via-se que a roupa dele era cara, o que significava que podia permitir-se contratar a empresa de cateringue que quisesse. Perguntou-se quem teria contratado antes, mas não fez a pergunta diretamente. Descobriria de modo discreto. Era bom saber com quem tinha de competir. Bom para o negócio e, dependendo de quem fosse, bom para o seu ego. Nos últimos anos, sacrificara-se e matara-se a trabalhar para ganhar uma clientela e uma reputação de qualidade. Saber que os seus esforços tinham dado frutos, tornava mais fácil aceitar o alto preço que significara para a sua vida privada.

Pensou em Reed. Tinham namorado durante seis anos. Todos, incluindo ela, tinham suposto que acabariam por casar. Mas, ao olhar para trás, percebia as falhas que se tinham tornado progressivamente maiores e mais profundas, enquanto ela perseguia o seu sonho. Enquanto cozinhar fora um passatempo ou um emprego a tempo parcial, Reed estivera orgulhoso dela. Quando se tornara uma verdadeira profissão, rendera-lhe muito dinheiro, causara rebuliço suficiente para ela aparecer no New York Times e o entusiasmo de Reed esfriara consideravelmente. Quando ela começara a sonhar com abrir um restaurante, fizera o possível para a dissuadir, citando estatísticas dos estabelecimentos que fracassavam em cada ano. Por fim, procurara outra, a irmã de Emily.

– A lista de convidados será curta, não mais de seis, para além de mim – dizia Dan, o que a devolveu ao presente.

– Quando tenciona celebrá-lo? – perguntou, ao mesmo tempo que revia mentalmente o calendário de compromissos.

– Dentro de dois sábados. Sei que falta pouco – disse, com expressão de desculpa. – Como te disse, normalmente, contrato outra pessoa para se encarregar dos jantares. Mas espero que possas arranjar tempo na tua agenda. Como disse à minha anfitriã, és a melhor.

Os seus lábios entreabriram-se de maneira encantadora mas, nessa ocasião, Emily, perdida nos detalhes do jantar, conseguiu não prestar atenção ao fogo que a consumia.

 

 

Dan, que também era conhecido como o xeque Madani Abdul Tarim, não se conformava com nada que não fosse o melhor. Graças à sua posição e riqueza, nunca tivera motivos para o fazer. No entanto, não se considerava uma pessoa exigente, mas com critério. O jantar daquela noite fora de primeira classe, embora tivesse de reconhecer que não esperava que a chef fosse tão jovem. Nem tão atraente. Apesar do cabelo preso daquela forma horrível, não podia negar o interesse que, como homem, sentia por ela, embora, obviamente, não tencionasse fazer nada a respeito disso. Como o comunicado oficial do seu noivado ia ser feito em breve, já não podia ter outras relações, nem informais, nem de nenhum outro tipo. Apesar de tudo, Emily Merit fizera-o desejar que o seu futuro não tivesse sido decidido quando era apenas um menino.

Dan culpava os olhos dela, que eram uma bonita mistura de verde e azul, que lhe recordavam o mediterrâneo, onde a sua família tinha uma residência de verão. Emily tinha um olhar direto e firme, que deixava claro que se considerava igual. Gostava disso, já que o seu título e posição intimidavam muitos homens e mulheres. Talvez esse fosse o motivo de não ter permitido que a sua anfitriã o apresentasse formalmente e de ter dito a Emily que se chamava Dan. De vez em quando, preferia o anonimato para esquecer quem era. Como costumava dizer-lhe o pai, quando governasse Kashaqra teria de velar pelos interesses de todos os habitantes do país. Isso não implicava que não preferisse levar a sua avante, portanto, insistiu.

– E então?

– Infelizmente, já me contrataram para fazer o almoço e o bolo da celebração do aniversário de um menino de cinco anos.

– Manter-te-á ocupada todo o dia? – não lhe parecia ser uma grande obrigação.

– Na maior parte dos casos, não – respondeu com ironia. – Mas a festa será celebrada fora da cidade, a uma hora daqui, em Connecticut, e os pais exigem um festim.

– Não estás de acordo com o menu que escolheram – supôs ele.

– Acredito – reconheceu ela, ao fim de uns segundos, – que um menino dessa idade não vai gostar do que escolheram. Ao fim e ao cabo, não é uma coincidência que seja necessário adquirir o gosto por certos alimentos.

– O que te pediram? – perguntou Dan, rindo-se entredentes, cativado pela sua franqueza. – Canapés de caviar?

– Quase – disse ela, sorrindo e, ao fazê-lo, formou-se uma covinha na face direita, que dava um ar atrevido às suas feições clássicas. – Pelo menos, consegui convencer a mãe para que o aperitivo não fosse foie gras, mas rolinhos de presunto. De todos os modos, tenho a certeza de que vai sobrar muita comida, já que a senhora não mudou de opinião a respeito da vitela com vinho, nem da guarnição de vegetais assados.

– Suponho que não estarás disponível.

Ela mordeu o lábio inferior, gesto que lhe pareceu inexplicável e alarmantemente sensual.

– Talvez possa resolver de outra forma – disse. – Tenho uma ajudante que poderia encarregar-se da festa de aniversário. Claro que tudo depende da hora a que deseja que sirva o jantar.

Madani não sabia se o alívio que experimentava se devia ao facto de Emily lhe fazer o jantar ou de ter a oportunidade de voltar a vê-la.

– Sou muito flexível quando a situação o exige. Quando nos vemos para falar dos detalhes?

– Estou livre amanhã de manhã.

Ele tinha três reuniões seguidas antes do meio-dia, mas concordou. Como acabara de dizer, era flexível quando a situação o exigia. E aquela exigia-o, embora se recusasse a analisar porquê.

Emily foi buscar um cartão e deu-lho.

– Levanto-me cedo. Podemos encontrar-nos a partir das nove.

Quando Madani se aproximou do seu motorista, continuava a ter o cartão na mão e sorria.

– Espero que tenhas passado uma noite agradável – disse Azeem Harrah.

Azeem não só era o motorista, como também era o seu confidente e, às vezes, o seu guarda-costas, e viajava sempre com ele para o estrangeiro. Eram amigos de infância. O pai de Azeem era deputado do parlamento de Kashaqra. O tio dele fazia parte do supremo tribunal. Azeem era uma pessoa educada, às vezes, muito franco, mas acima de tudo, leal a Madani e a Kashaqra.

– Muito agradável. Os Henderson são anfitriões generosos e a comida estava... Deliciosa – respondeu Dan e o seu sorriso tornou-se mais amplo.

– Conheço esse sorriso – disse Azeem, rindo-se enquanto seguiam no Mercedes. – É por causa de uma mulher.

– Enganas-te, meu amigo – respondeu Madani, ficando sério. – Isso já acabou.

– Porquê?

– Sabes muito bem, embora não estejas de acordo com a minha decisão.

– Não estou, porque não foi uma decisão tua – replicou Azeem. – Parece incrível que estejas disposto a aceitar um casamento por conveniência. Tu!

Em Kashaqra, sabia-se que Madani tinha opiniões muito mais progressistas do que o pai, apesar de o xeque Adil Hammad Tarim ter mudado muito com os anos.

– Sabes as razões que tenho.

– O teu pai goza de boa saúde, sadiqi – disse Azeem, usando a palavra árabe para «amigo». – O ataque cardíaco que sofreu no outono passado foi leve.

Não lhe parecera ser o momento. Madani fechou os olhos e recordou o rosto cinzento do pai antes de desmaiar. Estavam a discutir esse mesmo assunto. Os casamentos por conveniência podiam ser anulados num número limitado de circunstâncias, mas nenhuma delas podia aplicar-se a Madani. Mesmo assim, dada a posição de Adil, era possível, mas o pai não queria ouvir falar disso. O casamento dele fora por conveniência e correra bem, por isso, achava que o do filho seria igual.

– O meu noivado com Nawar é o que ele deseja, é a sua vontade.

Azeem abanou a cabeça. Não entendia e Madani não esperava que o fizesse.

– Bom, ainda não estás noivo. Não há nada de mal em teres uma última aventura.

Madani olhou pela janela e deixou que a conversa acabasse. Não estava oficialmente noivo, era verdade. O noivado com Nawar seria anunciado mais tarde, no verão. Mas não era livre. Na verdade, do seu ponto de vista, nunca fora.

 

 

Emily chegou a casa à meia-noite. Estava cansada e cheia de energia ao mesmo tempo. Para além do enigmático Dan, outros dois convidados para o jantar dos Henderson tinham pedido o seu cartão. Como era habitual, os Henderson tinham pago muito bem. Embora tivesse de contratar duas pessoas para preparar o jantar e servi-lo, uma vez deduzidos os gastos, salários e imprevistos, restava uma boa soma para pôr na sua conta de poupança, na segunda-feira de manhã.

Teve de fazer três viagens para descarregar a carrinha e levar tudo para o seu apartamento, no quarto andar, de onde também geria o seu negócio. Depois, tivera de a levar para o parque de estacionamento pago, perto dali. De volta ao apartamento, quisera cair no sofá, mas demorara mais vinte minutos a guardar os utensílios para manter a comida quente na mesa e os pratos de servir, antes de poder pôr os pés doridos na mesa de café da sala de estar.

O monte de correio, sobre o qual apoiava os calcanhares, chamou-lhe a atenção. Só dera uma olhadela apressada aos envelopes antes de ir para casa dos Henderson. A maior parte continha contas e, outros, propaganda. Só havia uma carta que precisava de resposta. Baixou os pés e procurou-a. Sem abrir o envelope grosso, soube o que havia lá dentro: O convite para o casamento da irmã mais nova.

Praguejou, abriu o envelope e tirou um cartão cor de marfim. A qualidade do papel e as letras gravadas teriam custado aos pais uma fortuna, mas nada era suficiente para Elle. A irmã de Emily não fazia nada de mal. Os pais nem sequer achavam censurável que se casasse com o ex-noivo de Emily, que ainda não era quando Elle começara a sair com ele. Pelo contrário, tinham pedido a Emily para ficar mais «atenta» e, depois, que estivesse «contente» por a irmã mais nova e inconstante ter decidido assentar.

 

Ellen Lauren Merit e Reed David Benedict têm a honra de o convidar para o seu casamento...

 

Emily não continuou a ler e espremeu o convite. Por respeito à árvore que tinham cortado para fabricar o papel, decidiu atirá-lo para a reciclagem em vez do lixo normal. Mas não tinha intenção alguma de «honrar» Elle e Reed com a sua presença, quando dissessem «sim, aceito», assim como também não ia ceder ao desejo da mãe, de que fosse dama de honra e fosse à festa. Não se tratava de não conseguir perdoá-los. Queria acreditar que estava acima disso, apesar da sua traição monstruosa. Mas nenhum dos dois reconhecera a dor que lhe tinham causado, nem lhe tinham pedido desculpa. Exatamente o contrário. Elle tinha manipulado a sua relação ideal com o noivo da irmã, para demonstrar que o verdadeiro amor não podia negar-se.

– É o destino, Emily, a resposta para as minhas orações. Reed e eu fomos feitos um para o outro – tivera a desfaçatez de afirmar. Como se Emily tivesse de se sentir muito melhor, por saber que a irmã tinha desejado o seu noivo desde o princípio.

Reed não fora romântico, nem ideal, mas culpara Emily pela sua infidelidade.

– Se não estivesses sempre tão ocupada a fazer almoços e jantares, terias percebido como me sentia triste – dissera, quando ela descobriu a sua nova relação.

O comentário fora como um murro no estômago de Emily.

– Tenho um negócio, Reed – um negócio que ele estivera disposto a ajudá-la a criar e a crescer quando lhe parecera conveniente.

– Não me recordes – queixara-se, com cara de nojo. – Ultimamente, és muito solicitada.

– Tenho de te pedir perdão por ter tido êxito?

– Não, mas não devias surpreender-te que tendo tanto tempo livre, tenha procurado outra.

– Essa outra é a minha irmã! – gritara ela.

– Elle compreende-me. Não quer ter uma profissão que lhe exija trabalhar muito. Quer apoiar-me, para que possa ter sucesso na minha.

Emily olhara para ele, boquiaberta, e perguntara-se se Reed sempre fora tão machista ou se o êxito crescente dela fizera aparecer o machismo que tinha dentro dele. Fosse o que fosse, o sangue fervia-lhe.

– Portanto, as mulheres não podem ter uma profissão que lhes exija trabalhar muito, nem tentar tornar os seus sonhos realidade e esperar que os namorados continuem com elas. É isso que estás a dizer?

– O que digo é que nenhum homem quer ser menos importante do que a ambição de uma mulher.

Embora fosse evidente que Reed pensava que uma mulher tinha de estar contente por ser menos importante do que a ambição de um homem, a sua forma de acabar com ela conseguira fazer com que Emily decidisse que, se só tinha direito a um verdadeiro amor, era mais seguro para o seu coração que fosse a cozinha.

Suspirou, levantou-se e dirigiu-se para o quarto que, há um ano, numa vida anterior, tinha partilhado com o homem que em breve se casaria com a sua irmã.