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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Emily McKaskle. Todos os direitos reservados.

PROCURO MARIDO, N.º 1084 - Agosto 2012

Título original: The Tycoon’s Temporary Baby

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0601-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Jonathon Bagdon só queria que a sua secretária voltasse para casa.

Já tinham passado sete dias desde que Wendy Leland partira para assistir ao enterro de um familiar; sete dias de problemas na empresa de Jonathon. Primeiro, desfez-se o acordo com a Olson Inc de que a própria Wendy tratara e, depois, esqueceu-se de um prazo de entrega porque o empregado que a substituía tinha apagado a sua agenda da Internet.

Mas os problemas não acabaram aí. Outro dos empregados enviou o último protótipo do departamento de investigação e desenvolvimento para Pequim, em vez de o enviar para Bangalore; a chefe de recursos humanos tinha ameaçado demitir-se e nada menos que cinco mulheres tinham saído a chorar do escritório de Jonathon. Além do mais, a cafeteira tinha-se estragado e nem sequer podia tomar uma chávena de café.

Definitivamente, aquela não fora a melhor semana da sua vida.

Jonathon Bagdon só queria que a sua secretária voltasse para casa. Sobretudo, porque os seus dois sócios estavam fora da cidade e ele tinha de dar os últimos retoques a uma proposta para um contrato muito importante.

Olhou para a sua chávena e considerou a possibilidade de pedir a Jeanell, a chefe de recursos humanos, que fosse comprar uma cafeteira. No entanto, Jeanell ainda não tinha chegado. Os empregados apareciam a partir das nove e eram sete da manhã.

Naturalmente, podia ir a um bar ou ir ele próprio comprar a cafeteira; mas estava tão envolvido que não tinha tempo para nada. Se Wendy estivesse ali, teria aparecido uma cafeteira nova como por artes mágicas. E, claro, o acordo com a Olson Inc. não teria sofrido o menor percalço.

Quando Wendy estava no escritório, as coisas funcionavam. Jonathon não sabia como o fazia, mas nos cinco anos em que ocupara o lugar de secretária de direção tinha-se tornado tão indispensável para a empresa como para ele próprio. De facto, se tomasse a última semana como exemplo, Wendy já era mais indispensável do que ele: um pensamento do mais deprimente para um homem que tinha criado um império a partir do nada.

Fosse como fosse, tinha a certeza de uma coisa.

Quando Wendy voltasse, faria o possível para que ela jamais voltasse a partir.

 

 

Wendy Leland chegou pouco depois das sete à sede da FMJ. O sensor de movimento ativou as luzes quando ela entrou e se inclinou para correr a capota do carrinho de bebé que trazia. Peyton, o bebé, franziu a testa sem chegar a acordar. A menina palrava enquanto Wendy empurrava o carrinho até um canto relativamente escuro, por trás da sua mesa.

Depois, sentou-se no cadeirão, tranquilizou-se um pouco e olhou em volta.

Aquele cadeirão fora durante cinco anos o lugar de onde vigiava os seus domínios. Tinha servido como secretária de direção os três sócios da empresa, Ford Langley, Matt Ballard e Jonathon Bagdon.

Wendy tinha estudado em várias das universidades mais prestigiadas do país e a sua formação era um pouco excessiva para o lugar, apesar de não ter o doutoramento em nenhuma das suas licenciaturas. A sua família continuava a pensar que estava a desaproveitar o seu talento, mas ela gostava do trabalho. Era variado e sempre cheio de desafios. Gostava tanto que não teria deixado a FMJ por nada no mundo.

Por nada, salvo pelo bebé que dormia no carrinho.

Quando saiu de Palo Alto e se dirigiu ao Texas para assistir ao enterro da sua prima Bitsy, não podia imaginar o que a esperava. Desde que a mãe lhe ligara para lhe dizer que Bitsy tinha falecido num acidente de trânsito, a semana transformou-se numa sucessão de sustos.

Wendy não fazia ideia que Bitsy tinha um bebé. Para dizer verdade, nenhuma pessoa da família sabia. Mas tinha e, de repente, ela tinha-se tornado na tutora de um bebé órfão de quatro meses.

As implicações da custódia eram de proporções dramáticas. Se Peyton Morgan tivesse chegado com uma mina de ouro, a sua família não teria brigado mais pela pequena. E se Wendy queria manter a custódia da pequena, não teria mais remédio que fazer o que tinha prometido que jamais faria: pedir a sua demissão da FMJ e voltar para o Texas.

Wendy disse para si própria que era típico de Bitsy. Arranjava problemas até depois de morta.

Ao pensar nisso, soltou uma gargalhada; mas o riso teve o estranho efeito de lhe recordar a dor pela perda da prima.

Fechou os olhos com força e apertou as mãos contra as pálpebras. Estava tão cansada que, se se rendesse à tristeza nesse momento, estaria a chorar durante um mês inteiro.

Depois teria ocasião de chorar. Agora havia coisas mais urgentes.

Ligou o computador. Na noite anterior tinha redigido a sua carta de despedimento e tinha-a enviado a si mesma por correio eletrónico. Claro, poderia tê-la enviado diretamente a Ford, Matt e Jonathon. Inclusive falara com Ford, ao telefone, quando ele lhe ligou para lhe dar os pêsames. Mas preferiu imprimir a carta, assiná-la e entregá-la em mãos a Jonathon.

Devia-o a ele e à JMF. Além do mais, queria aproveitar esses momentos para se despedir da Wendy que tinha sido até então e da vida que tinha tido em Palo Alto.

O computador arrancou e emitiu o zumbido familiar que a serenava sempre. Uns segundos depois, abriu a carta de despedimento e dispôs-se a imprimi-la. O som da impressora ressoou nas paredes do escritório. Era cedo e ainda não tinha chegado ninguém. Ninguém salvo Jonathon, cujo horário era extenuante.

Depois de assinar a carta, deixou-a na mesa e dirigiu-se à porta que separava o seu escritório do escritório do seu chefe.

Antes de abrir, suspirou e apoiou uma mão nela. O contacto da madeira maciça pareceu-lhe tão fiável e robusto que sentiu a necessidade de se apoiar mais. Ia precisar de todas as forças que pudesse reunir.

 

 

– A Wendy não tem a culpa de nada – disse Matt Ballard em tom de recriminação.

Matt estava nas Caraíbas, em lua de mel, e tinha dito a Jonathon que pusesse a conferência de manhã cedo porque a esposa, Claire, lhe tinha proibido fazer mais de um telefonema de negócios por dia.

– É a primeira vez em cinco anos que tira uma baixa por motivos pessoais – continuou.

Jonathon lamentou ter-lhe ligado. Tinha razões de peso para falar com o sócio, mas agora parecia que se estava a queixar por queixar.

– Eu não disse que tem a culpa...

– Quando ia ela voltar? – perguntou Matt.

– Supunha-se que voltaria há quatro dias. Disse que estaria fora durante dois ou três dias, no máximo. Mas, após o enterro, ligou para dizer que demoraria um pouco mais.

– Não te preocupes – recomendou-lhe Matt. – Teremos tempo de sobra quando eu e o Ford voltarmos. Lembra-te que o limite para a apresentação dessa proposta não se esgota até dentro de quase um mês.

O «quase um mês» da frase de Matt era precisamente o que preocupava Jonathon. Era tão impreciso e inquietante como o «um pouco mais» de Wendy. Jonathan era um obcecado pela exatidão. Se tivesse de apresentar uma oferta a uma empresa cujos ativos ascendiam a vários milhões, ele dava-se ao trabalho de averiguar quantos milhões eram. E se tivesse quase um mês para apresentar uma proposta, queria saber o que se entendia por «quase».

Como não queria arguir com o seu sócio, cortou a comunicação. O contrato com o Governo estava a deixá-lo louco; especialmente, porque tinha a sensação de ser o único que se preocupava.

Durante os anos anteriores, o departamento de investigação da FMJ tinha desenvolvido um sistema de dispositivos que podia regular e controlar a despesa energética nos edifícios. O sistema da FMJ era o mais eficaz e o mais avançado do ramo. Desde que o instalaram na sede da empresa, tinham poupado trinta por cento em eletricidade. Se fechassem o acordo com o governo, o sistema instalar-se-ia em todos os edifícios federais do país.

Depois, somar-se-ia o setor privado e o sucesso do sistema aumentaria as vendas do resto dos produtos da FMJ. Era lógico que Jonathon estivesse entusiasmado com a perspetiva. Afinal de contas, podiam ganhar muito dinheiro.

Tudo o que tinha feito durante dez anos, todo o seu trabalho, dependia daquele contrato. Seria crucial para o futuro da empresa.

Acabava de fechar o seu computador portátil quando ouviu uma pancadinha na porta. Não podia ser o substituto de Wendy. Era demasiado cedo. Mas Jonathon não se atreveu a albergar a esperança de que Wendy tivesse voltado.

Inclinou o cadeirão para trás e atravessou o escritório que partilhava com Matt e Ford. Quando abriu a porta, Wendy caiu literalmente nos seus braços.

 

 

Wendy continuava apoiada na porta quando Jonathon a abriu de repente. Não foi estranho que ela caísse sobre ele. Mas teve uma surpresa ao encontrar-se entre os seus braços, apoiada desta vez no seu duro peito.

Então, apercebeu-se de várias coisas. A primeira, o aroma intenso do gel de banho de Jonathon; a segunda, a incrível largura do seu peito e a terceira, a suave e barbeada silhueta da sua mandíbula, que foi o que viu ao erguer o olhar.

Normalmente, Wendy via-se negra para ignorar a atração por Jonathon Bagdon, um verdadeiro sonho para qualquer mulher. Ele parecia sempre a ponto de franzir a testa, o que aumentava o seu ar pensativo. E o seu sorriso, que exibia poucas vezes, era tão devastador por si só como pelas covinhas que se lhe formavam nas faces.

Não era demasiado alto; media pouco menos de um metro e oitenta, mas a fortaleza do seu corpo compensava o que lhe faltava em altura. Os seus músculos eram mais apropriados para brigas de bar do que para negociações empresariais. Wendy nunca tinha visto o seu peito nu, mas ele costumava tirar o casaco do fato e arregaçar a camisa quando estava a trabalhar, portanto admirava-o com bastante frequência.

Ergueu a cabeça um pouco mais, contemplou os seus olhos de um tom castanho-esverdeado e sentiu algo completamente inesperado. Uma tensão que não tinha sentido antes. Uma ligação. Ou quiçá, algo que em geral não se atrevia a sentir porque era demasiado inteligente para se meter em sarilhos.

Ele engoliu em seco. Fascinada, ela observou os músculos da sua garganta, que estavam a escassos milímetros do seu rosto.

Por fim, afastou-se dele. Wendy foi consciente de que Jonathon a seguia com o olhar, e ainda mais consciente de que a sua indumentária era pouco apropriada para trabalhar. Era a primeira vez que se apresentava no escritório de calças de ganga e, obviamente, também era a primeira vez que lá aparecia com a sua t-shirt preferida, de um grupo de punk. No entanto, aquele ia ser o seu último dia na FMJ e precisava de se sentir confortável.

Desejou que Jonathon deixasse de olhar para ela com tanta intensidade.

Wendy conhecia aquele olhar porque o tinha sentido várias vezes ao longo dos anos; mas até esse momento, não se tinha dado ao luxo de sentir algo a seu respeito. Jonathon Bagdon tinha muito sucesso entre as mulheres e tinha partido uns quantos corações. Wendy tinha prometido a si própria que jamais faria parte dessa lista.

Tentou convencer-se de que o desejo que sentia por ele era consequência do seu esgotamento. Ou talvez, da sua vulnerabilidade emocional. Ou quiçá, de alguma disfunção hormonal estranha.

Em qualquer caso, não tinha importância. Afinal de contas, estava prestes a partir para sempre.

 

 

Jonathon quis voltar a abraçá-la. Obviamente, resistiu à tentação. Mas quis fazê-lo de qualquer forma.

Manteve uma mão na porta e meteu a outra no bolso das calças, numa tentativa de dissimular o efeito que Wendy lhe causara. Por mais ridículo que fosse, o seu corpo tinha reagido com desejo por uns quantos segundos de contacto físico com a tentadora secretária. Tinha ficado duro como uma rocha.

Já tinha sentido desejo por ela, mas normalmente conseguia controlar-se. No entanto, aquele dia fora diferente dos outros. Wendy não trazia a sua indumentária de sempre, profissional e discreta, mas umas calças de ganga desgastadas que se ajustavam à sua figura e uma t-shirt de colarinho largo que deixava ver uma das tiras do seu sutiã, rosa fúcsia.

Voltou a engolir saliva e tentou dizer algo razoável. Algo que não incluísse o pedido de tirar a t-shirt.

– Espero que tenhas tido uma boa viagem.

Ela franziu a testa e deu um passo atrás.

Ele recordou que tinha ido a um enterro e praguejou por se ter esquecido desse facto.

– Os meus sentimentos, Wendy. Apesar de confessar que estou muito contente por teres voltado.

Jonathon pensou que as suas palavras pareciam estúpidas, mas não estranhou demasiado. Não sabia o que fazer nem o que dizer quando uma mulher estava triste.

– Eu... – começou a dizer ela.

Wendy afastou-se um pouco e levou as mãos à cara. Pela tensão dos seus ombros, parecia à beira das lágrimas.

Era a primeira vez, em cinco anos, que se comportava de forma pouco profissional. Se tivesse sido diante de Ford, não se teria preocupado tanto; Ford tinha três irmãs, uma mãe, uma madrasta, uma esposa e uma filha, de maneira que estava acostumado a enfrentar esse tipo de situações. Mas Jonathon era diferente.

Seguiu-a por todo o escritório e pôs-lhe uma mão no ombro; precisamente no ombro que ficava a descoberto sob o largo colarinho da t-shirt. Só pretendia animá-la, mas o contacto da sua pele fê-lo estremecer.

Quando ela se voltou e o olhou nos olhos, distinguiu o brilho de desejo e excitou-se por sua vez.

Então, ouviu-se um gemido. Mas não vinha da garganta de Wendy.

Confundido, Jonathon deitou uma vista de olhos em redor. Como não viu nada, dirigiu-se ao escritório da secretária, que rapidamente se interpôs no seu caminho.

– Posso explicar! – disse ela, fora de si.

– Explicar? A que te referes?

Jonathon entrou no escritório de Wendy e viu o carrinho junto ao cadeirão.

– O que é isto?

– Um bebé.

 

 

O assombro de Jonathon foi tão evidente que, se não o conhecesse, Wendy teria pensado que ele nunca tinha visto um bebé.

Passou ao seu lado, caminhou até ao carrinho e balançou-o ligeiramente para tentar tranquilizar Peyton, que continuou a gemer. Então, a menina abriu os olhos e olhou-a. Ao contemplar os seus brilhantes olhos azuis, Wendy sentiu uma ferroada no peito e soube que tinha feito bem ao encarregar-se da pequena. De facto, estava disposta a fazer qualquer coisa para que ela continuasse ao seu lado.

Inclinou-se sobre o carrinho, chegou até Peyton e pegou-lhe ao colo. Embalou-a suavemente, fazendo barulhinhos carinhosos.

Jonathon franziu a testa. Wendy sorriu e disse:

– Jonathon, apresento-te a Peyton.

Jonathon olhou para Wendy, depois para a menina e à sua volta, como quem procura o objeto voador de onde tinha saído aquela criatura.

– Que faz um bebé aqui no escritório?

– Trouxe-o eu – confessou. – Não tinha ninguém que pudesse tomar conta da menina. Além do mais, não tenho certeza de que ela esteja preparada para ficar com um desconhecido... apesar de, pensando bem, eu própria ser uma desconhecida e...

Jonathon interrompeu-a.

– Espera aí, Wendy. Que raio fazes tu com um bebé? De onde é que saiu? Porque não é teu, pois não?

Ela abanou a cabeça.

– Não, claro que não é meu. Achas que em sete dias que eu estive fora fiquei grávida e dei à luz um bebé de quatro meses?

– Então?

– É a filha de uma das minhas primas. A Bitsy nomeou-me sua tutora. Agora é minha.

Jonathon ficou atónito. De facto, demorou vários segundos a falar.

– Ah, bom, compreendo... Afinal parece que a Jeanell estava certa quando insistiu para pormos uma creche na empresa. Não te preocupes com nada, Wendy. Podes deixá-la lá enquanto trabalhas. Ficará lindamente.

Wendy sentiu um vazio no estômago. Não queria deixar a FMJ. Com o decorrer dos anos, a empresa tinha-se transformado no seu lar. Trabalhar na FMJ tinha-lhe dado um objetivo, um propósito na vida. Algo que a sua família nunca tinha entendido.

Respirou fundo e disse para si própria que tinha chegado o momento de ser sincera.

– Não vou trazer a Peyton para o escritório, Jonathon. Não vou voltar ao trabalho. Vim pedir a minha demissão.