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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

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© 2007 Dolce Vita Trust

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O herdeiro oculto, n.º 941 - abril 2017

Título original: The Tycoon’s Hidden Heir

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9843-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

Subitamente, uma torrente de água gelada caiu sobre ela e levou o último resquício de calor que lhe restava no corpo… além da sua força de vontade para sobreviver. Pensou em como era irónico ir morrer assim. Ela, Helena Milton, uma pessoa cheia de vida e de sonhos. Tinha decidido viver intensamente, uma atitude que não só surpreendera como também consternara os seus pacatos pais.

Os seus pais… perguntou-se se estes chegariam alguma vez a compreender por que se fora embora, por que tinha acedido a casar-se com Patrick Davies e a conformar-se com menos que um grande amor. No fundo do coração sentiu que tomara a decisão certa… tanto para ela como, sobretudo, para eles. Os seus pais tinham feito muitos sacrifícios.

Mas ela falhara. Não conseguira evitar que o carro resvalasse naquela estrada cheia de gelo e de neve. O veículo fora parar ao rio que havia sob a ponte pela qual passava a estrada naquele troço… rio que, naquele momento, era feito da água gelada vinda da neve que se derretia nas montanhas da meseta central da Nova Zelândia.

Helena levantou os seus dedos congelados para tentar, uma vez mais, abrir as janelas do carro, mas foi inútil. Tentou partir o vidro com a mão mas não conseguiu. Com as portas fechadas e o sistema eléctrico do veículo estragado por causa da água, estava encurralada. Fechou novamente os olhos e perguntou-se para que ia mantê-los abertos se à sua volta só havia escuridão.

Sentiu-se tomada por uma espécie de raiva por causa da ideia de ir morrer daquela maneira… sozinha, sem ter realizado os seus sonhos e sem qualquer possibilidade de conseguir que um dia o seu pai se sentisse orgulhoso dela… em vez de sentir-se desiludido. A derrota tinha um sabor muito amargo.

A sua consciência aconselhou-a a render-se. Aninhou-se no banco e aceitou o frio que se lhe estava a colar aos ossos. Perguntou-se quanto tempo demoraria a morrer.

Mas, nesse exacto momento, ouviu um ruído estranho. Forçou-se a abrir os olhos e a olhar em volta. Pareceu-lhe ver uma espécie de luz no final de um túnel… tal como era sempre relatado pelos moribundos. Observou mais minuciosamente e viu umas ténues luzes provenientes da estrada que havia sobre o rio. Então, saiu-lhe um riso nervoso.

Nesse momento, uma figura escura aproximou-se da janela e uma cara pálida pressionou-se contra o vidro. Ela sentiu o carro a balançar levemente devido à pressão do rio. O homem que se aproximara do veículo movimentou os lábios, mas ela negou com a cabeça em jeito de resposta.

Não compreendia o que ele estava a dizer. Estava a mover os braços e apercebeu-se de que tinha um machado nas mãos. Foi então que o desconhecido bateu no vidro com a arma e, repentinamente, Helena compreendeu que o que ele estava a tentar dizer-lhe. Deitou-se de lado e quase nem deu pelos vidros a caírem sobre o seu corpo.

O som da água, que minutos antes estava abafado, tornou-se mais intenso naquele momento. Umas mãos fortes agarraram-na pelo casaco e ela fez tudo o que pôde para ajudar… embora sentindo que as pernas e braços se recusavam a mexer-se. Mas o homem conseguiu tirá-la pela janela do veículo e protegê-la da forte corrente da água com o seu corpo, levando-a até à margem.

Helena sentiu o prazer de saber-se viva. Tinha estado prestes a desistir. Mas, naquele momento, tudo o que queria era dormir… embora o homem que a tinha tirado do carro parecesse estar decidido a não deixá-la.

– Há alguém mais no veículo? – perguntou-lhe ele. – Vamos! Responde-me, há mais alguém lá dentro?

Lentamente, os lábios dela conseguiram começar a formar palavras. Mas tinha a voz muito fraca.

– Não. Estava eu sozinha.

– Graças a Deus. Está ferida? Perdeu a consciência em algum momento?

Helena sentiu o desconhecido a apalpar-lhe o couro cabeludo e depois o corpo enquanto ela negava com a cabeça. O ar frio da noite trespassou as suas roupas molhadas e chegou-lhe até aos ossos.

– Acho que não partiu nada. Vamos para um lugar seco.

– E as minhas coisas? E o meu carro? – conseguiu Helena perguntar apesar de ter os lábios gelados.

– Lamento. O seu carro está a afundar-se no rio. O mais importante neste momento é conseguir secá-la e aquecê-la.

O seu salvador pegou-lhe ao colo e levou-a até ao seu camião, que estava estacionado à beira da estrada com as luzes acesas. Helena esboçou um leve sorriso ao perceber que tinha sido a iluminação do veículo a dar-lhe a ideia de uma luz no fundo de um túnel.

– Por que sorri?

A voz da pessoa que a salvara era profunda, jovem. Tranquilizadora. Queria ver que aspecto tinha, mas para tal teria que fazer o esforço de voltar a cabeça.

– Luzes – sussurrou.

– Claro, luzes – respondeu ele, rindo-se.

Subiu-a para a cabina do seu camião. Depois, subiu ele e ajudou-a a recostar-se na cama que havia no compartimento atrás da cabina.

– Sabe quanto tempo esteve na água? A que horas foi o acidente?

– Acho que… pouco depois das nove.

O homem olhou para o relógio do camião.

– Então aconteceu há meia hora mais ou menos. Que raios fazia você a conduzir sem correntes por esta estrada? Não viu os sinais de aviso?

– Não… não queria parar. Tenho que chegar a Auckland.

Aquela resposta bastou para que Helena ficasse sem energias.

– Esta noite não vai a lado nenhum.

Uma repentina voz na rádio levou o homem a praguejar. Ela tentou ouvir, mas só conseguiu compreender as palavras «acidente» e «hipotermia» antes da sonolência se apoderar dos seus sentidos e ela adormecer por completo. Mas ele agitou-a levemente.

– Ouça, não adormeça ainda. Deve despir a roupa e aquecer-se. Consegue fazê-lo sozinha?

– N… não. Tenho os de… dedos demasiado frios.

Helena sentiu-se tão indefesa como uma boneca de trapos quando o homem começou a tirar-lhe as suas roupas encharcadas. Começou a estremecer.

– Estremecimentos, isso é bom. Já está a aquecer e a voltar ao normal.

Ela sentiu-se muito dolorida.

– A re… regressar? Não cheguei onde queria ir.

– Odeio ter de dizer-lhe isto, mas estamos encurralados e teremos que passar aqui a noite. Tinha esperado poder chegar um pouco mais acima até a um motel vizinho, mas as autoridades cortaram a estrada em ambas as direcções até amanhã.

Assim que ela ficou nua, ele deitou-a de lado com muita delicadeza, quase clinicamente. Então, agasalhou-a com um saco-cama. Helena mal deu pelo som da roupa dele a cair ao chão. Não conseguia parar de tremer e o saco-cama deslizou pelo seu corpo e deixou as suas costas ao frio. Mesmo assim, mal deu pelo colchão afundar-se levemente quando ele se deitou ao seu lado… apesar do calor do seu corpo ser sedutoramente bem-vindo. Suspirou ao senti-lo abraçá-la com os uns braços musculosos e fortes, adormecendo profundamente.

 

 

Quando Mason Knight acordou ainda era noite. Desorientado, deu-se conta de que tinha uma delicada e nua mulher sobre o seu corpo. Ao sentir os seios dela sobre o seu peito e como tinham as pernas entrelaçadas, não pôde deixar de excitar-se sexualmente e ter uma erecção. Recordou que na noite anterior tinha tirado aquela mulher do seu carro, que caíra ao rio, e que a levara para o camião para que aquecesse. Seguira os procedimentos de sobrevivência: despir-se, secar-se, aquecer-se… mas nada no seu treino no exército da Nova Zelândia o preparara para aquilo.

Tentou que o seu corpo recuperasse a calma, mas uma parte deste não obedeceu. Começou a pensar em coisas que apagariam até a paixão mais intensa… mas não teve sorte.

Então tentou tirá-la de cima com muito cuidado, mas ela contorceu-se sobre ele… tinha o centro da sua feminilidade tão perto da pele dele que conseguia sentir o calor que aquela parte tão íntima dela emitia. Porém, tinha a noção de que, se aquela mulher acordasse naquele momento, se iria assustar muitíssimo… e com toda a razão.

Ficou impressionado ao sentir como umas delicadas mãos femininas começavam a acariciar-lhe o peito, levando a que um intenso desejo se apoderasse dele. A mulher roçou a face contra o peito dele e suspirou.

– Preciso disto – disse com voz rouca.

– Não, o que sentes é apenas uma reacção ao acidente. Estás em estado de choque – respondeu Mason. Embora, na verdade, quem se sentisse realmente em estado de choque era mesmo ele. – Você não quer fazer isto.

– Preciso disto. Preciso de si – insistiu ela, chupando então um dos seus mamilos. – Prove-me que estou viva – sussurrou, apertando os lábios sobre a pele dele.

Então, ajoelhou-se e acariciou a dura erecção de Mason. A seguir, colocou-se sobre ele e introduziu o sexo de Mason dentro de si. Emitiu um sonoro gemido e sentiu um intenso calafrio a percorrer-lhe todo o corpo, levando-a a apoiar as mãos nos ombros do homem. Devagar, começou a fazer amor com ele e a paixão entre ambos disparou.

Mason acariciou-lhe as coxas e as ancas, por onde a agarrou com força. Incitou-a a acelerar o ritmo, começando também ele a mover-se.

Aquilo era uma loucura… e ele estava louco ao permitir que aquela mulher fizesse amor com ele. Mas, de algum modo, a coberto do anonimato oferecido por aquelas escuras horas nocturnas, parecia uma réstia da bondade ainda existente no mundo. Compreendeu que ela, ao quase ter perdido para sempre a sua vitalidade e ardor, precisava de afirmar a vida, sentir a vida… naquele exacto momento.

Atingiu o clímax com grande intensidade e cravou os dedos na pele daquela mulher ao puxá-la para si. O gemido que ela emitiu, assim como a forma com que os seus músculos se contraíram em redor dele, prolongou-lhe o êxtase até ao momento em que aquela desconhecida caiu sobre o seu corpo, estremecendo de prazer.

– Obrigada – sussurrou Helena, com a cabeça apoiada no peito de Mason.

Ele pigarreou para dizer algo, mas ela levantou um dedo e colocou-o sobre os lábios dele.

– Xiu… não diga nada – disse, adormecendo profundamente logo de seguida.

Mason abraçou-a fortemente contra o seu corpo, de um modo como nunca antes tinha abraçado nenhuma mulher. Durante aquele eterno momento, ela foi sua, só sua. Uma angustiante necessidade de reclamá-la e protegê-la do mundo tomou conta dele. Perguntou-se que raios estava a pensar. Nem sequer sabia o nome daquela fêmea! Perguntou-se quem era, que tipo de mulher poderia fazer amor com tanta paixão com um completo desconhecido para depois adormecer nos seus braços como se não pertencesse a outro lugar.

Quando começou a amanhecer continuou sem encontrar respostas. Com muito cuidado, afastou-a de si e levantou-se. Conteve um gemido ao pisar o chão frio e tocar com os dedos dos pés nas quase congeladas roupas de ambos que estavam aos pés da cama. Então, tirou umas calças de ganga e uma t-shirt do armário que estava sobre a cama.

Ligou o rádio para comprovar o estado das estradas e, quase de imediato, informaram que estas já tinham sido abertas à circulação. Chegara a hora de deixar aquele lugar. Tinha que assistir a um casamento em Auckland naquela mesma tarde. O seu chefe era muito mais velho do que a futura esposa e o casamento fora ridicularizado na imprensa. Mason respeitava o homem que lhe dera o seu primeiro trabalho fora do Exército e lhe ensinara tudo o que sabia sobre a indústria de transportes na Nova Zelândia. Considerava uma honra apoiar o seu mentor no dia do seu casamento, sobretudo tendo em conta que o filho mais velho deste, fruto do seu primeiro casamento, se recusara a assistir à cerimónia.

Mas, ao ver como se movia a mulher que estava no seu saco-cama, lembrou-se que tinha um problema por resolver.

– As estradas já reabriram – disse sobre o ombro, recusando-se a olhá-la nos olhos.

– Óptimo. Poderia deixar-me alguma roupa para vestir até a minha secar?

– Claro. Procure no armário. Também há um cinto que pode utilizar.

– Obrigada.

Mason observou a forma como ela se detinha, como se estivesse a ponderar se era sensato ou não falar do que acontecera na noite anterior. Mas, claro, chegou à mesma conclusão que ele: ia ignorar o tema de forma a que o assunto fosse esquecido. Sentiu os músculos dos ombros a ficarem tensos e agarrou o volante com força ao ouvi-la a vestir-se. Ao pensar que a sua roupa estava a acariciar a delicada pele daquela mulher, sentiu-se novamente excitado. Lutou contra a tentação de voltar-se e olhar para ela. Perguntou-se se a sua companheira também sentia a imperiosa necessidade de repetir a experiência nocturna…

Aparentemente não. Por fim, ela aproximou-se da cabina e sentou-se no banco ao lado dele. Naquele momento, e pela primeira vez, ele olhou fixamente para ela.

Raios! Parecia que aquela mulher nem tinha vinte anos. Tinha o cabelo comprido, castanho acobreado, e uns dedos delicados que o tinham guiado na noite anterior para dentro dela.

Sentiu o desejo apoderar-se do seu corpo. Olhou para a paisagem nevada que estava à frente deles, não querendo ver o que diziam os verdes olhos daquela mulher nem querendo gravar na sua memória a sua pálida e bela cara. Mas era demasiado tarde. Nunca a esqueceria. Nem o seu odor, nem as suas carícias… nada.

– Obrigada. Por tudo – disse ela então com uma voz rouca, como se lhe custasse dizê-lo.

– De nada – respondeu Mason.

Era óbvio que aquela estranha já estava arrependida da sua impulsividade.

– Para onde se dirige? – perguntou-lhe ele.

– Para Auckland, mas pode deixar-me na terra mais próxima. Tenho que fazer uma chamada.

– E isso é tudo?

Mason ouviu como ela continha a respiração e percebeu que tinha compreendido a sua pergunta.

– Sim, é tudo – respondeu aquela misteriosa mulher, olhando pela janela do camião.

 

 

Mason passou um dedo pelo colarinho da sua camisa branca e afrouxou levemente a gravata. Tinha sido assaltado por lembranças da noite anterior durante todo o dia. Por fim, enquanto se preparava para o casamento, decidira averiguar quem era aquela mulher. Quando tirassem o seu acidentado carro do rio, a matrícula deste seria um bom ponto de partida para investigar. Algumas chamadas resolveriam o problema. Então, encontrá-la-ia … para ver se podiam ter algo mais que a incrível paixão que tinham partilhado. Nunca antes sentira nada igual. Nunca tinha estado com nenhuma mulher como ela. E queria conhecê-la melhor.

Recordou tudo em que se tinha metido, quando era um adolescente, para irritar o seu pai e os cinco anos que passara no Exército… também recordou que estivera sempre a tentar encontrar esse algo que faria com que a sua vida tivesse um sentido. Esse algo que encheria o vazio que nem ele mesmo conseguia definir. E, durante um curto espaço de tempo, esse vazio fora preenchido na noite anterior. Tinha que encontrá-la. Tinha que descobrir se ela era aquilo que passara a vida a procurar.

Patrick deu-lhe uma leve cotovelada ao começar a tocar a marcha nupcial que obrigava os convidados do casamento a levantarem-se dos seus bancos. Todos guardaram silêncio ao surgir a noiva e esta começar a dirigir-se para o altar na maior e mais antiga igreja de Auckland. Os convidados fixaram os seus olhares na futura esposa de um dos homens mais ricos da Nova Zelândia e, pela primeira vez na sua vida, Mason Knight quase desmaiou ao perceber que quem estava a aproximar-se do altar era a sua amante da noite anterior.

Capítulo Um

 

Doze anos depois…

 

– É muito simples, Helena. Se não me entregas o controlo das acções que dão ao Brody metade da empresa, farei com que toda a gente fique a saber como é que tu e o meu pai se conheceram. Veremos como o teu precioso filho suportará os comentários que vai ouvir no colégio quando todos conhecerem essa intriga tão suculenta.

Helena não percebia como ele tinha ficado a saber. Sentiu o estômago às voltas. Apesar do cuidado que tivera em esconder o seu passado, sabia que era algo que poderia ter vindo a lume a qualquer momento nos últimos doze anos. E que o filho mais velho de Patrick, Evan, tivesse descoberto o caso não deveria surpreendê-la.

Sentiu o coração ferido ao pensar em Brody. Ele acabava de voltar para o seu colégio interno e andava muito preocupado desde o repentino falecimento de Patrick. Tinha ficado muito triste e fizera questão de não a deixar sozinha. Era compreensível, claro. Ela estava muito preocupada com a forma como se adaptaria o seu filho ao colégio durante aquele período tão difícil. Se Evan divulgasse o seu venenoso segredo, a vida de Brody transformar-se-ia num inferno. E não podia permitir que isso acontecesse.

Perguntou-se que poderia fazer. Desde o dia em que Patrick sofrera aquele terrível ataque cardíaco, Evan tornara-se director de marketing da empresa e exercera o seu poder como novo sócio proprietário da Davies Freight. Ficara com o lugar do pai e estava a tomar decisões que pertenciam à administração. Ela fora incapaz de detê-lo e, tendo em conta as energias que precisara dedicar a consolar Brody, já para não falar do facto de também ela estar deprimida, ficara sem forças para lutar na sala de reuniões. Naquela semana, por fim, tinha voltado ao seu escritório, de onde supervisionava a administração da empresa. E não foi preciso muito tempo para perceber que Evan tomara conta de tudo.

O filho mais velho de Patrick nunca tinha apreciado nem compreendido o amor que o seu pai sentia pela indústria, nem os seus precavidos planos de expansão. Não, tudo o que ele via era uma maneira fácil de manter o seu luxuoso estilo de vida… e de livrar-se dela. Nos documentos oficiais tudo parecia estar correcto… tinha realizado novos contratos e renovado os antigos… mas uma análise mais profunda mostrava a verdade. Se Evan continuasse com aquele estilo nos negócios, a empresa estaria falida dentro de um ano.

Ela crescera a ter de contar cada cêntimo e não ia permitir de modo algum que tal sucedesse ao seu filho.

O seu enteado olhou-a com desprezo, tornando evidente que não interessava para nada a forma friamente educada com que a tratara enquanto o seu pai era vivo… A urbanidade terminara. Helena cerrou os punhos para conter a vontade de esbofeteá-lo. Não lhe restava qualquer dúvida de que ele queria que ela fizesse precisamente isso. Com os contactos que Evan Davies tinha, poderia acusá-la de agressão e retirar-lhe a custódia do filho. E então, o seu enteado poderia fazer o que quisesse com as acções de Brody. Mas ela não ia permitir que isso acontecesse.

O que realmente a assustava, e muito, era que Evan descobrisse toda a verdade, já que teria muito prazer em destruir o seu irmão mais novo. Tinha que proteger o filho e, ao mesmo tempo, reunir coragem para honrar e cumprir os últimos desejos de Patrick.

Conteve as lágrimas que ameaçavam surgir nos seus olhos. Quando conhecera Patrick, decidira aceitar a sua ajuda em troca de fazer-lhe companhia e casar-se com ele. Nunca lhe passou pela cabeça que chegaria a amá-lo. Mas sentia mais falta do seu marido do que poderia ter imaginado … a sua mão firme a apoiá-la em tudo, a forma como a incentivava a perseguir os seus sonhos, o entusiasmo que mostrara com o bebé que nascera durante o primeiro ano de casamento. Parecera-lhe sempre que Brody o tinha rejuvenescido. Mas, infelizmente, não o suficiente para ver o rapaz cumprir os seus onze anos.