cover.jpg

portadilla.jpg

 

 

Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Stella Bagwell

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

A noite mais bonita, n.º 1170 - Outubro 2014

Título original: Redwing’s Lady

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Julia e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5893-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

 

Capítulo 1

 

O ajudante de xerife Daniel Redwing parou à frente da casa de madeira do rancho e saiu da sua carrinha. O pó vermelho continuava no ar à volta das rodas, pousando no chapéu preto e na camisa caqui que vestia. Eram os últimos dias da Primavera no Novo México e o deserto implorava por um pouco de chuva.

Maggie Ketchum lutava com insistência com a fechadura da porta do pátio, enquanto a brisa da tarde despenteava os seus cabelos ruivos. Daniel dirigiu-se para ela.

Então, Maggie conseguiu abrir a porta e correu para ele.

– Ajudante Redwing! O que está a fazer aqui? – perguntou ela, com aspecto assustado.

Daniel parou. Talvez o telefonema tivesse sido uma brincadeira, pensou esperançado. Com todas as suas forças desejou que assim fosse.

– Não telefonaste para o departamento do xerife a pedir ajuda?

Segurando o cabelo enredado com a mão, Maggie assentiu com vigor.

– Sim! Mas pensei que viria Jess. Pedi especificamente que viesse ele.

Daniel suspirou como único comentário. Jess Hastings era o cunhado de Maggie e um xerife muito bom no condado de San Juan. Mas ele não era um inepto, disse para si. Ou talvez ela não tivesse insinuado que fosse. Tentou ser justo. A mulher parecia prestes a perder a calma. Ter o seu cunhado ao seu lado num momento daqueles seria mais reconfortante do que ter um ajudante do xerife, chefe do departamento de polícia de San Juan.

– Lamento – disse ele e deu alguns passos à frente. – Supus que sabias que Jess não está na vila. Foi com o xerife Pérez a uma reunião urgente em Santa Fé. A tua chamada dizia que tinhas perdido Aaron. Já apareceu?

Aaron era o filho, de nove anos, de Maggie e o único filho que tivera antes de o seu marido Hugh Ketchum morrer num acidente no rancho com um touro. Aquela mulher já sofrera o suficiente. Daniel nem queria imaginar que tivesse de passar por mais uma tragédia.

– Não! – gritou ela e baixou a cabeça, tapando os olhos. – Oh, meu Deus, Daniel, não sei o que fazer! Procurei em todos os lados. Os peões do rancho estão à procura nos arredores mas não aparece.

Maggie engoliu os seus soluços e levantou o olhar para Daniel, implorante. Nesse momento, ele desejou aproximar-se dela e abraçá-la. Algo que queria fazer há meses com a viúva de Ketchum desde que visitara o rancho T Bar K pela primeira vez para investigar o assassinato de Noah Rider.

Conhecia Maggie Ketchum há vários anos. De vez em quando, vira a bonita viúva de Hugh na vila. Era membro da rica família dos Ketchum, que estava há mais de sessenta anos no condado de San Juan, no rancho T Bar K. Tucker e Amelia Ketchum tinham tido três filhos e uma filha: Hugh, Seth, Ross e Victoria.

Apenas os três últimos estavam vivos. Eles eram os donos do rancho, juntamente com Maggie, que herdara a parte de Seth.

Daniel nunca imaginara que ia encontrar-se com Maggie cara a cara. Não era o tipo de mulher que se movimentava no círculo social de um agente da polícia. Contudo, há quase um ano, encontrara no T Bar K o corpo sem vida de um antigo capataz do rancho, Noah Rider. Daniel tivera de interrogar vários membros da família e Maggie fora um deles. Depois, fora incapaz de a esquecer.

– Acalma-te, Maggie. Encontrá-lo-emos. Mas primeiro tenho de te fazer algumas perguntas. Vamos para o alpendre, para a sombra – sugeriu Daniel.

Ela assentiu e Daniel agarrou-a pelo braço e conduziu-a através do pequeno pátio. Um extremo do alpendre estava sob a sombra de um pinheiro. Guiou-a até à parte mais fresca, onde havia uma mesa e cadeiras de vime.

Depois de a ajudar a sentar-se, sentou-se ao seu lado e tirou o chapéu.

Os movimentos lentos e calculados de Daniel fizeram Maggie explodir com impaciência:

– Estamos a perder tempo aqui sentados! Temos de continuar à procura. Eu estaria a fazê-lo se não tivesse vindo para casa para telefonar para o departamento do xerife!

Vendo que Maggie estava prestes a ficar histérica, Daniel segurou na sua mão com força.

– Olha, Maggie, não faz sentido procurar por todos os lados sem ter uma direcção clara.

– É fácil para ti dizer isso! – exclamou Maggie, olhando para ele. – Tu não tens filhos! Não sabes como é pensar que ele...

– Pára, Maggie! – ordenou ele. – Se queres encontrar Aaron, tens de te controlar e ajudar-me. Entendes?

– Sim. Lamento muito, agente Redwing. É que estou muito preocupada e...

– Há um minuto chamaste-me Daniel – replicou ele e apertou-lhe a mão com suavidade. – Porque não continuas a fazê-lo? Se não estivesses preocupada não seria normal. E, agora que começámos a entender-nos, diz-me quando te apercebeste de que Aaron não estava cá.

– Não sei – respondeu ela, depois de respirar fundo.

– Está bem – continuou Daniel. – Quando foi a última vez que viste o teu filho?

– Por volta das onze e meia. Acabou o seu almoço e perguntou-me se podia sair para falar com Skinny. Dei-lhe permissão e pedi-lhe que voltasse à uma hora.

Skinny era o peão mais antigo do T Bar K. Tinha setenta anos e trabalhava no rancho dos Ketchum há mais tempo do que alguém conseguia recordar. Gostava de contar histórias e as crianças adoravam-no. Daniel pensou que era normal que o menino quisesse vê-lo.

Olhando para o seu relógio de pulso, Daniel viu que eram quase três horas.

– Skinny lembra-se de quando Aaron saiu de perto dele?

– Diz que Aaron nunca chegou a ir ter com ele. Portanto só posso presumir que, por uma razão ou outra, não foi para lá.

O rancho T Bar K era uma propriedade enorme de mais de cinquenta mil hectares, na base das montanhas de San Juan. Os vizinhos mais próximos viviam a quilómetros de distância e nenhum deles tinha filhos. Daniel duvidou de que Aaron tivesse ido a uma das propriedades limítrofes, porém, existia sempre uma pequena possibilidade.

– Achas que alguém pode tê-lo... raptado? – perguntou Maggie, expressando o receio que a assustava.

Os Ketchum eram uma família rica, pensou Daniel. Poderiam pagar uma grande quantia de dinheiro para recuperar um dos seus familiares se fosse raptado. Contudo, Daniel não quis acreditar que algo do género tivesse acontecido e apressou-se a abanar a cabeça.

– Não. Os únicos estranhos que vêm aqui são compradores de gado e cavalos, não pervertidos dispostos a raptar um menino.

Maggie pegou na sua mão e aproximou-se, como se assim conseguisse fazê-lo entender melhor os seus medos. Daniel podia ter-lhe dito que não era preciso, que já percebia a dor dela. Emanava dos seus olhos e da rígida posição do seu corpo.

– Mas como podes ter tanta certeza? Noah Rider foi assassinado aqui e só se descobriu muito tempo depois...

– Maggie! Esquece isso. É passado. Noah foi assassinado por um velho conhecido, Rube Dawson, um chantagista que não queria perder a sua fonte de lucros. Rube está na prisão e o crime não teve nada a ver com Aaron. Agora diz-me, o teu filho e tu discutiram à hora do almoço? Esteve zangado contigo por alguma razão nos últimos dias?

– Achas que fugiu – afirmou ela, olhando para ele nos olhos, tensa.

Daniel assentiu e, nesse momento, viu que as lágrimas deslizavam pelo rosto de Maggie. Sentiu um aperto no coração.

– Talvez.

Ela desviou o olhar e engoliu em seco.

– Aaron não parecia zangado ao almoço. Parecia estar bem. Mas zangou-se comigo ontem. Não o deixei ir acampar com um grupo de rapazes.

– Porquê?

– O que interessa isso? Não nos dirá onde está Aaron.

– Talvez sim e talvez não. Agora preciso de toda a informação disponível. E quero dizer «toda».

Mais uma vez, Maggie respirou fundo e tentou superar o terror que a invadia.

– Está bem. Não permiti que Aaron fosse porque era um grupo de meninos adolescentes. E, como Aaron só tem nove anos, não queria que convivesse com a forma de falar e comportar-se dos mais velhos.

– Terá de o fazer um dia.

– Sim. Mas preferia adiá-lo o mais possível. Portanto disse-lhe que não podia ir e que o esquecesse. É claro, deu-me as respostas habituais de um menino quando está zangado. Que era má. Que não queria que se divertisse. Que não o deixava fazer nada porque...

Maggie parou de repente e fixou o olhar nas suas mãos entrelaçadas. Daniel perguntou-se se estava a aperceber-se da cor diferente das suas peles. A dele era escura como o cobre, a dela, branca como o leite. Daniel era índio ute, da tribo Weeminuche.

– Porque o quê? – inquiriu ele.

– Porque estava demasiado assustada com a possibilidade de morrer num acidente como tinha acontecido ao seu pai.

Se era ou não verdade, não importava naquele momento, decidiu Daniel. Era óbvio que Aaron pensava que a sua mãe era superprotectora e talvez tivesse decidido desaparecer como forma de protesto.

– Encontrá-lo-emos, Maggie – garantiu Daniel e levantou-se. – Quando saiu, viste-o a ir para o pátio onde Skinny trabalha?

– Não. Ouvi a porta de trás a fechar-se e não me incomodei em olhar. Estava ocupada na cozinha.

Daniel franziu o sobrolho.

– A porta de trás? Se tivesse ido para perto dos peões, teria tido mais sentido sair pela porta principal, não achas? Posso dar uma vista de olhos na parte de trás da casa?

– Claro – disse ela e precedeu-o.

Daniel seguiu-a a alguns passos de distância. Embora estivesse a observar os arredores, não conseguiu evitar reparar nas suaves curvas das ancas de Maggie. Vestia umas calças de ganga gastas que se ajustavam ao seu rabo na perfeição e uma t-shirt cor-de-rosa pálida marcava uns seios grandes e redondos, que se mexiam ligeiramente quando caminhava. Era uma mulher voluptuosa. O tipo de mulher que os homens queriam nos seus braços e na sua cama.

Daniel não podia negar que era o que desejara desde a primeira vez que a vira. Contudo, esforçara-se por ocultar com cuidado a atracção que sentia por ela. Ele não se envolvia com mulheres. Não a sério. Depois de ter visto o que a sua mãe sofrera depois de ser abandonada pelo seu pai, não queria saber nada do casamento nem das responsabilidades que implicava.

No entanto, mesmo que não tivesse sido influenciado pelo comportamento de Robert Redwing, mesmo que achasse que conseguiria ser um bom pai e marido, era suficientemente inteligente para saber que Maggie Ketchum estava longe do seu alcance. Ela movimentava-se com os mais ricos. Podia ter qualquer homem que quisesse. De maneira nenhuma ia reparar num índio ute que crescera numa reserva dura e vivia com o modesto salário de um ajudante de xerife.

– Não há nada aqui, na verdade – indicou Maggie, assinalando a parte de trás do pátio.

Voltando para o presente, Daniel olhou para a porta traseira da casa e o pátio que parecia destinado a festas familiares, com chão de madeira e equipado com móveis de jardim. O que lhe chamou mais a atenção foi uma pequena porta que se abria para um caminho bordeado de pinheiros.

– Esse atalho dá para onde?

Maggie olhou para o caminho.

– Oh, continua mais uns metros e chega a um prado onde pastam os cavalos. Uma égua que eu monto às vezes, o seu potro, o cavalo de Aaron, Rusty, e mais outro cavalo.

– Aaron costuma ir a esse prado?

– Sim. Vai muitas vezes. Para ver os cavalos. Também se ocupa de lhes dar de comer à tarde. O atalho acaba num pequeno celeiro, onde guardamos as selas. Aaron brinca aí algumas vezes. Mas já fui até ao celeiro e chamei-o. Não está lá.

A voz de Maggie tremia. Daniel estava a sofrer ao ver como ela se sentia aterrorizada e como se esforçava por se controlar.

Não conhecia Maggie Ketchum muito bem. Falara com ela três ou quatro vezes por telefone durante a investigação do caso de Rider. Também a interrogara duas vezes pessoalmente. Contudo, fora suficiente para conhecer o que escondia atrás daqueles bonitos e tristes olhos azuis. Mesmo assim, desde a primeira vez que a vira, sentira uma atracção alarmante por ela, que não deixara de crescer nos últimos meses.

– E os cavalos? – inquiriu ele. – Viste se estavam todos?

– Não. Ao fundo do prado há outro grupo de árvores. Quando está calor, os cavalos costumam procurar a sua sombra. Não os vi, mas presumi que estariam lá.

Daniel olhou para os pés dela. Calçava sandálias.

– Talvez seja melhor mudares de calçado. Acho que devemos ir a esse prado dar uma vista de olhos.

– Está bem. Mas... em que estás a pensar? Achas que foi num dos cavalos?

– Se eu fosse menino e quisesse fugir, fá-lo-ia – afirmou Daniel e pôs as mãos nos seus ombros para a virar para a casa. – Vai preparar-te. Vou usar o rádio do carro para pedir mais ajuda. Encontrar-nos-emos aqui dentro de dois minutos.

Assentindo, Maggie correu para casa. Daniel caminhou rapidamente para a sua carrinha para contactar o departamento do xerife em Aztec.

Minutos depois, encontrou Maggie à sua espera junto da porta do jardim. Calçara umas botas de cowboy e pusera um chapéu de palha. Daniel alegrou-se por comprovar que estava suficientemente composta para pensar em proteger-se dos elementos.

– Mais dois ajudantes estão a caminho. Vão explorar o perímetro exterior do rancho, no caso de Aaron ter decidido ir a alguma casa vizinha – informou-a Daniel.

– Não consigo acreditar que Aaron fizesse algo do género. Nunca me deu nenhum problema. Não é desobediente e na escola porta-se bem... – comentou Maggie, enquanto caminhavam pelo estreito atalho.

– Talvez desta vez estivesse mais magoado do que pensaste.

Maggie não disse nada, contudo, Daniel apercebeu-se de que limpava as lágrimas com as mãos. Aquele gesto enterneceu-o e rezou para que encontrassem o menino o quanto antes.

Quando chegaram ao celeiro, viram os cavalos a pastarem ao longe. Em apenas alguns segundos, Maggie anunciou que faltava o cavalo de Aaron, Rusty.

– Vejamos se também falta a sua sela – sugeriu Daniel.

Maggie correu ao celeiro e abriu uma porta de madeira que dava para uma pequena divisão com várias selas penduradas. Bridas, esporas e outros utensílios estavam pendurados em filas ordenadas nas paredes. Uma série de mantas de montar dobradas estava sobre um balcão de madeira.

– A sela dele não está – anunciou Maggie e aproximou-se do balcão. – Nem as suas mantas favoritas. Céus, foi a cavalo! Sozinho!

A ideia de que saíra sozinho sem a sua permissão deixou Maggie atónita, que ficou a olhar para Daniel sem conseguir acreditar.

– Bom, é melhor do que ir para a estrada pedir boleia – comentou Daniel.

Saiu do celeiro e observou as marcas no terreno. Descobriu rastos de botas pequenas, acompanhadas de pegadas de cavalo.

Com o cuidado de não o incomodar, Maggie seguiu-o a alguns passos de distância, tentando manter as lágrimas sob controlo. Mais do que assustada, estava zangada por o seu filho ter feito algo tão desafiante e doloroso.

– Parece que montou aqui e se dirigiu para norte – declarou Daniel depois de alguns segundos. – Há alguma coisa nessa direcção? Uma cabana?

– Não. Apenas mais montanhas. Ross Ketchum, o meu cunhado, leva o gado para lá no final do Verão.

Daniel olhou para o sol.

– O mais provável é que Aaron tenha ido quando te disse que ia ver Skinny. Isso quer dizer que está fora há horas. A cavalo, pode ter chegado longe.

Maggie fechou os olhos durante um doloroso e longo segundo.

– Eu sei. O que vamos fazer?

– Acho que o melhor é selar dois dos teus cavalos e tentar seguir os seus rastos. Parece-te bem?

A pergunta fez com que Maggie olhasse para ele. Conhecera Daniel Redwing há alguns meses e ainda não tinha a certeza de gostar ou não do homem. Tinha uma forma espartana de falar e ela tinha quase sempre de tentar adivinhar o que quisera dizer. E, quando olhava para ela com aqueles olhos escuros, sentia-se desconcertada, quase excitada. Mas era um bom polícia. Ouvira Jess, o seu cunhado, a elogiá-lo muitas vezes e, naquele momento, o bem-estar do seu filho dependia dele.

– Claro! – respondeu ela. – Mas achas que conseguiremos alcançá-lo antes do anoitecer?

– Espero que sim. Se não for assim, levaremos cães e lanternas. Encontrá-lo-emos de uma maneira ou de outra, Maggie. Confia em mim.

Sim, tinha de confiar nele, pensou Maggie. Era a única esperança que tinha de encontrar o seu filho.

Daniel assobiou para chamar os cavalos e, numa questão de minutos, selaram-nos e seguiram em direcção ao norte. Maggie montava alguns passos atrás do ajudante de xerife, enquanto ele ia inclinado para a frente, esquadrinhando o terreno em busca de rastos de Rusty.

Na maioria das vezes, os rastos estavam quase apagados porém, de alguma forma, Daniel parecia adivinhar o caminho que o seu filho seguira e voltava a encontrar o rasto.

Enquanto subiam pelas montanhas escarpadas, Maggie estava cada vez mais assustada com a segurança do seu filho. Sobretudo, com o sol a descer cada vez mais no oeste.

Continuaram a subir pela montanha com os cavalos e Maggie expressou os seus medos:

– Há ursos lá em cima, Daniel. Se Aaron se encontrar com uma cria de urso e a sua mãe estiver por perto... – começou a dizer e interrompeu-se, aflita com os seus receios.

– Os ursos costumam assustar-se com os cavalos. Eu não me preocuparia muito com eles.

As palavras de Daniel não conseguiram acalmar os receios de Maggie. Ele não sabia o que era perder um marido. Aaron era a única coisa que lhe restava, a única coisa pela qual ela vivia. Se lhe acontecesse alguma coisa, não quereria nem conseguiria continuar a viver.

À frente dela, Daniel parou de repente e levantou a mão, indicando a Maggie que parasse.

– O que se passa? Os rastos desapareceram? – inquiriu ela.

– Não. Aconteceu alguma coisa aqui. Tenho de descer e dar uma olhadela.

O medo provocou um nó na garganta de Maggie.

– O que queres dizer com isso?

Daniel desmontou e Maggie imitou-o. Ficou parada, à espera da sua resposta. Contudo, ele ignorou a sua pergunta e afastou-se uns passos para examinar uma parte do terreno.

Enquanto o observava a baixar-se e varrer com a mão as folhas do chão, ela apertou os dentes e tentou ser paciente.

– Odeio parecer crítica mas isto não é o Oeste Selvagem. Os batedores índios foram substituídos pela tecnologia.

Daniel levantou-se, olhou para ela e caminhou alguns passos para repetir a operação.

– Ah, sim?

– Sabes bem que sim – repôs Maggie, levando a mão ao peito.

Daniel aproximou-se dela. Maggie respirou com força enquanto observava os impressionantes traços do índio: maçãs do rosto elevadas, nariz de falcão, testa larga e mandíbulas fortes. Devia ter uns trinta anos porém, quando olhou para ele nos olhos, viu um homem muito mais velho, um homem que escondia todo o tipo de pensamentos, segredos e sonhos.

– Maggie, esta terra e estas montanhas não mudaram em mil ou dois mil anos. O cavalo que o teu filho monta é o mesmo que os foragidos e cowboys montavam quando o Novo México ainda não pertencia aos Estados Unidos. Podes explicar-me como poderia a tecnologia ajudar aqui agora?

– Bom... há todo o tipo de coisas... como um helicóptero – replicou ela, corando.

– Já tinha pensado nisso – assinalou Daniel, negando com a cabeça. – Há demasiadas árvores e do céu não conseguiriam ver através delas.

– Talvez Aaron esteja em campo aberto – sugeriu ela.

– Pode estar. Mas duvido. O teu filho está a pé agora. O cavalo fugiu.

Maggie olhou para ele fixamente, não querendo acreditar, assustada.

– Olha, Daniel, sei que alguns nativos-americanos acreditam nas visões. A minha cunhada, Bella, tem uma madrinha que costuma ver coisas, mas não quer dizer que tu sejas capaz disso.

A curva dos lábios de Daniel desapareceu numa fina linha e Maggie soube que o ofendera, contudo, não conseguira evitá-lo. Não era o momento certo para recorrer ao folclore índio. A vida do seu filho estava em perigo!

– Sou um ute. Eu pessoalmente não tenho o dom das visões. Mas consigo seguir o rasto a quase tudo. Os rastos no chão dizem-me muitas coisas. Isso não pode ignorar-se.

As suas palavras firmes atingiram Maggie como pedras e os seus olhos encheram-se de lágrimas. Estava envergonhada por o ter ofendido e estava também muito assustada. A combinação fez com que explodisse em soluços.

Respirando fundo, limpou as lágrimas com o braço e fez um esforço tremendo para não perder o controlo.

– Lamento muito, Daniel. Por favor... diz-me. Diz-me o que achas que se passa com o meu filho.

Daniel puxou-a pelo braço e, sem dizer uma palavra, levou-a às duas zonas do terreno que inspeccionara há alguns minutos.

– Olha, o teu filho estava aqui. Há rastos das suas botas. O cavalo dele estava ao seu lado, aqui estão os seus rastos. Aqui, os rastos do cavalo tornam-se mais profundos, o que quer dizer que se assustou com alguma coisa e desatou a galopar montanha acima.

Sim, depois da sua explicação, Maggie também o via.

– Tens razão – assinalou ela, aturdida com as possibilidades desagradáveis que surgiam na sua mente. – Mas não é possível que Aaron tenha montado o cavalo antes de ele se ter assustado e fugido? Como sabes que está a pé?

– Porque os rastos das botas seguem os rastos do cavalo. Vês?

Daniel assinalou um caminho de rastos através das árvores. Maggie não viu os rastos de botas com clareza, porém, não quis contradizê-lo. Aprendera a lição.

– Não. Mas acredito em ti.

Maggie olhou para o ajudante do xerife e, de repente, percebeu que ele ainda segurava o seu braço. Estavam muito perto e conseguia sentir o calor que emanava do seu corpo. Daniel tinha o rosto encharcado em suor. Os seus braços, ombros e coxas eram musculados. Era um homem forte. Física e mentalmente, pensou ela, sentindo que a sua confiança nele crescia.

Os olhos escuros de Daniel mostraram preocupação. Devagar, levantou a mão e afastou uma madeixa de cabelo vermelho do rosto de Maggie.

– Pareces muito cansada, Maggie. Porque não ficas aqui e me deixas continuar?

– Não. Talvez precises de mim – afirmou ela, reunindo forças.

Daniel não disse nada, porém, não afastou a mão da face dela. Olhou para ela com intensidade nos olhos.

Maggie ficou sem fala. Sentiu-se atraída para ele. E, embora tentasse parar o movimento do seu corpo, apoiou-se nele.

Daniel pareceu compreender que precisava de contacto humano e de uns braços fortes que a abraçassem. Então, envolveu-a com os seus braços e, com uma mão, afundou a cabeça dela no seu ombro.

– Oh, Daniel. Estou tão assustada.

– Não. Não chores, Maggie – murmurou ele. – Vai correr tudo bem. Aaron é um rapaz forte e está habituado a estar ao ar livre.

A camisa de Daniel cheirava a sol e a vento e tinha um cheiro muito masculino. Maggie respirou fundo e apertou as costas dele com as mãos.

– Mas... ele... continua a subir a montanha!

Daniel acariciou-lhe as costas para a acalmar.

– Deve estar a começar a cansar-se. Daqui a pouco parará e então alcançá-lo-emos.

Maggie não respondeu. Não conseguiu. Os sentimentos provocavam-lhe um nó na garganta, sentimentos que não tinham todos a ver com o seu filho desaparecido. O que se passava com ela?, perguntou-se com desespero. O seu filho estava perdido nas montanhas, sozinho. Como podia ela pensar no homem que a acompanhava? Sentiu-se invadida pela culpa.

– É melhor irmos – disse ela e afastou-se.

Daniel agarrou na sua mão e impediu-a de se afastar dele por completo.

– Não até que saiba que estás bem – indicou.

– Bem? – perguntou ela, olhando para ele como se estivesse louco. – Bem! Como vou estar bem? O meu filho desapareceu. Estas montanhas têm quilómetros de distância. Não há nada ali em cima além de cabras, veados e ursos! Diz-me, Daniel, achas que devo estar calma?

Daniel apertou-lhe os ombros, sem a abanar, fazendo com que ela concentrasse a sua atenção.

– Tu ficas aqui. Vou continuar sozinho.

– Porquê? – inquiriu ela, com a boca aberta.

– Estás a ficar histérica. Assim, não serás de ajuda nem para Aaron nem para mim – afirmou ele, impassível.

Daniel soltou-a e dirigiu-se para o seu cavalo, contudo, ela parou-o, agarrando-o pelo braço, antes que pudesse montar.

– Como podes ser tão desumano?

– Sou polícia. É o meu trabalho manter a cabeça fria – disse ele, olhando para ela com o rosto rígido.

– E o coração também?

Durante as últimas horas na companhia daquela mulher, Daniel lutara consigo mesmo para ser um cavalheiro. Maggie era uma dama. E só complicaria as coisas se se permitisse tocar-lhe do modo como muitas vezes sonhara. Mas o ataque dela mudava tudo. Já não era um cavalheiro. Era apenas um homem.

Maggie continuou parada, à espera da sua resposta, que não chegou em forma de palavras. De repente, ele pôs as mãos nos seus ombros, apertou-a contra o peito e beijou-a.