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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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28001 Madrid

 

© 2008 Kate Walker

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Paixão ou vingança?, n.º 1171 - novembro 2017

Título original: Bedded by the Greek Billionaire

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-392-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

A chuva batia com força no pára-brisas e entorpecia a visibilidade. Estava tudo escuro e custou-lhe ler o sinal sobre a parede de pedra. Mas Angelos Rousakis não precisava de ajuda para encontrar o lugar que procurava. O caminho que chegava até à grande casa não mudara nada. Apesar dos anos passados, recordava-o bem e soube que estava prestes a atravessar a porta de entrada da propriedade.

Chovia tanto que teve de diminuir a velocidade para subir o resto do caminho íngreme com cuidado. Mas isso não o preocupava. Passara muito tempo a desejar que chegasse aquele momento e podia esperar um pouco mais. A verdade era que quase estava a desfrutar de tudo aquilo. Morria de vontade de pôr o seu plano em funcionamento e sorriu ao ver a grande casa.

Jessica Marshall vivia naquele moradia sem saber que os seus dias como dona e senhora da mesma estavam contados. Na verdade, esse dia já chegara. Ia saber numa questão de minutos o que se passava e ele teria a grande satisfação de observar a sua reacção ao ver que toda a vida dessa jovem se desabava à sua volta. Não parara de pensar nisso desde que saíra de Atenas e fora esse pensamento que fizera com que a viagem desde o aeroporto fosse menos tediosa.

 

 

– Bom, acho que já estamos prontos – indicou Jessica em voz baixa ao mordomo do seu pai.

O homem acabara de acompanhar os últimos convidados até à sala. Todos melancólicos e com casacos pretos.

– Podias pedir-lhes para levarem os seus carros até à parte dianteira da casa, por favor?

O mordomo hesitou por um segundo, parecia preocupado com alguma coisa.

– Há algum problema?

– Não, nenhum, menina – explicou o idoso. – Mas acho que seria melhor esperar um pouco mais.

– Esperar?

Jessica passou a mão pelo seu cabelo castanho e olhou à sua volta. Deu-lhe a impressão de que já estavam todos ali.

– Mas não falta ninguém, pois não?

Viu novamente a mesma expressão preocupada no rosto do mordomo, mas o homem soube recuperar depressa. Sabia que estava a esconder-lhe alguma coisa e isso inquietou-a.

– Sim, falta alguém, menina – replicou o homem, finalmente.

– Quem? – perguntou ela, enquanto procurava novamente entre os presentes.

Eram na sua maioria pessoas mais velhas, amigos do seu padrasto, e não lhe ocorreu quem poderia faltar. Todos os que apareciam na lista para o funeral de Marty já estavam ali.

– Não me ocorre quem…

– Há mais alguém… – interrompeu-a Peters. – Disseram-me que vinha mais alguém.

– Quem te disse?

– O senhor Hilton, Simeon Hilton.

Fora o advogado do seu padrasto, portanto, imaginou que o convidado que faltava era alguém que ele conhecia, mas não entendia porque é que Simeon não lhe dissera nada.

– Perguntar-lhe-ei…

Parou ao ouvir o motor de um carro poderoso à frente da casa. O som parou de repente. Não conseguia ver o automóvel da janela da sala.

– Bom, parece que já chegou a pessoa que faltava – disse a Peters. – Porque não vais abrir-lhe a porta para que possamos ir finalmente para a igreja?

Afastou uma madeixa que voltara a fugir enquanto se perguntava quem seria o convidado de que tinham estado à espera. Imaginou que se trataria de alguém importante. Afinal de contas, Simeon tinha pedido ao mordomo para não começarem o funeral sem essa pessoa. Por isso não entendia porque não falara também com ela. Pedira ao advogado para lhe dizer se havia algum convidado com o qual devesse ter maior consideração, mas Simeon não lhe dissera nada.

Ouviu a porta pesada de carvalho a abrir-se no hall e o som de vozes masculinas.

Pelo menos essa parte do mistério resolveu-se, tratava-se de um homem.

E havia alguma coisa no tom da voz com que respondeu ao cumprimento de Peters que foi muito familiar. Sem saber porquê, sentiu-se ainda mais nervosa, mal conseguia respirar. Sabia que essa voz fazia parte do seu passado e tinha a capacidade de a afectar muito, mas não sabia de onde a conhecia…

Conseguira despertar no seu interior lembranças que ela achava ter esquecido e superado completamente. Eram lembranças que tinham a capacidade de fazer com que o seu coração acelerasse e com que ficasse com falta de ar. Sentiu um nó no seu estômago.

Mas sabia que esse convidado não podia ser ele e tentou convencer-se do absurdo do seu receio. Pensava que não tinha motivos para ficar nervosa. Imaginou que os nervos sofridos durante a última semana estavam a conseguir afectá-la mais do que pensava. O enfarte de Marty causara-lhe um choque forte. Achava que estava a começar a experimentar as consequências de tantos nervos.

Peters entrou novamente na sala. Tal como fizera tantas vezes nessa mesma tarde, parou na soleira da porta e pigarreou.

– O senhor Angelos Rousakis – anunciou o homem.

Ouvir aquele nome foi como um murro no estômago. Ela, embora pensasse ter reconhecido a sua voz, nem sequer se atrevera a recordar o seu nome.

«Angelos Rousakis… Não!», disse para si, enquanto a sua mente começava a dar voltas.

Não conseguia acreditar, não achava que pudesse ser verdade. Tentou convencer-se de que estava a sonhar, de que tudo aquilo era apenas um pesadelo. Ou talvez fosse a sua mente, tão sobrecarregada de emoções nessa semana, que a fazia ouvir coisas que ninguém dissera.

Mas apareceu um homem na sala e perdeu a capacidade de pensar. Ficou gelada enquanto o observava, não conseguia aceitar o que estava a ver. Não conseguia.

Não entendia nada. Não havia nenhum motivo que pudesse explicar a sua presença na casa. Não entendia porque apareceria novamente na mansão que abandonara de maneira repentina há sete anos, quando saíra dali impulsionado pelas circunstâncias e prometendo que nunca mais voltaria.

Mas os seus olhos não podiam estar a enganá-la. A presença alta e poderosa daquele homem era demasiado evidente e enérgica para que pudesse ser sido da sua imaginação. Observou a sua cabeça morena, tinha-a levantada com orgulho e um pouco de arrogância. Olhou para os seus olhos pretos penetrantes. Parecia estar à procura de alguma coisa na divisão. Ou talvez procurasse alguém.

Encolheu-se um pouco ao vê-lo, foi instintivo. Estava muito nervosa e ainda se sentia culpada. Se não recuou para se afastar foi porque receava que o movimento atraísse a atenção desse homem. Mas ele devia ter reparado em alguma coisa, porque olhou para ela directamente nos olhos. Sabia que Angelos Rousakis conseguiria distinguir o terror no seu olhar.

Nesse instante, sentiu-se pequena e insignificante. Nem sequer conseguia mexer-se, perdera a capacidade de fugir e estava congelada no seu lugar.

Há sete anos que não via aquele homem, mas naquele momento deu-lhe a impressão de que tudo continuava igual, como se não tivesse passado esse tempo. Sentiu que voltava a ter dezoito anos e que tinha de voltar a passar pelo instante mais vergonhoso da sua vida. Quase conseguia ouvir novamente o que lhe dissera naquele dia com o seu forte sotaque grego.

– Não te enganes, pequena. Não tenho nenhum interesse em ti, não dessa maneira. Eu não gosto de brincar com meninas – dissera-lhe Angelos Rousakis e num tom deliberadamente brincalhão.

Depois daquela noite terrível, adorara saber que ele se fora embora dali e esperara não voltar a vê-lo.

Por isso não entendia o que aquele homem fazia ali, um homem que ela sempre chamara de «anjo negro», num momento tão terrível como aquele.

Mas não conseguia ignorar a sua presença. Angelos Rousakis olhava para ela directamente nos olhos com a sua cabeça arrogante inclinada para um lado, como se estivesse à espera que fosse ela a dar o primeiro passo. Percebeu que o resto das pessoas esperava o mesmo. Sentiu, de repente, os olhos de todos os convidados sobre ela. Afinal de contas, ela era a única descendente de Marty que continuava viva, embora só fosse parente dele devido ao casamento da sua mãe, e correspondia-lhe a tarefa de anfitriã no funeral. O lógico, o que todos esperavam, era que se aproximasse para cumprimentar o recém-chegado. Isso fora o que estivera a fazer durante pouco mais de uma hora.

Conseguiu reunir a força necessária para se dirigir para ele. Levantou o queixo e endireitou as costas para que ninguém reparasse como lhe tremiam as pernas, mas imaginou que todos reparariam que estava nervosa enquanto atravessava o tapete desgastado. Os amigos do seu padrasto afastaram-se para lhe abrir caminho.

Ele não parava de olhar para ela. Os seus olhos, perigosos e escuros, estavam fixos nela, deu-lhe a impressão de que nem sequer pestanejava. Era um olhar penetrante que parecia ter a capacidade de lhe queimar a pele.

Não entendia o que fazia ali nem porque aparecera no pior momento possível.

– Não voltes! – gritara ela, naquela noite. – Não voltes! Não quero voltar a ver-te!

– Não te preocupes, linda – respondera-lhe Angelos. – Nenhum homem quereria passar novamente por algo do género. Não sou assim tão tolo.

Mas voltara, tinha a prova à frente dos seus olhos. A sua presença grande e forte enchia tudo. Pareceu-lhe que o seu corpo esbelto se fortalecera muito desde que o vira pela última vez.

Nesse momento, desejou mais do que nunca ter a presença de Chris ao seu lado, mas o seu noivo tinha uma reunião de negócios importante em Londres, uma que não pudera adiar. Portanto, tinha de passar por aquilo sozinha, sem a companhia reconfortante do seu noivo. Se soubesse que Angelos Rousakis ia sair do esconderijo onde estivera metido durante os sete anos anteriores e aparecer na casa naquele momento, teria rogado a Chris que ficasse ao seu lado, custasse o que custasse. Mas ela nunca poderia ter imaginado que a parte mais vergonhosa do seu passado podia materializar-se na sala da sua casa como acabara de acontecer.

Não sabia porque estava ali. Sempre temera que voltasse a aparecer na sua vida, à procura de vingança. Esses mesmos olhos pretos e poderosos tinham-na açoitado nos seus pesadelos durante meses. Não conseguia esquecer o último olhar de ódio e ressentimento que lhe lançara antes de sair da sua vida. Custara-lhe superar aquilo e, naquele momento, estava a perceber que não o esquecera.

Respirou fundo e abanou ligeiramente a cabeça para tentar acalmar-se e concentrar-se no que estava a acontecer naquele momento. Conseguiu fazer com que o ataque de pânico desaparecesse.

Peters anunciara a presença de um novo convidado, nesse caso Angelos Rousakis, tal como fizera com as pessoas que tinham chegado para o funeral. O mordomo esperara a sua presença porque Simeon Hilton já o avisara, mas era a última pessoa que teria esperado ter de cumprimentar naquele dia. Decidiu que tinha de o tratar como os outros.

– Senhor Rousakis – disse, num tom fraco. – Obrigada por vir.

Esforçou-se para que ninguém conseguisse perceber o ódio e o desprezo que sentia.

Custou-lhe, mas ofereceu-lhe a mão. A sua mãe educara-a bem e não podia esquecer as suas boas maneiras, nem sequer naquelas circunstâncias.

Custou-lhe não fazer uma careta de desagrado quando sentiu a mão de Angelos Rousakis na dela, queimando-lhe a pele, fazendo com que todo o seu corpo tremesse.

– Menina Marshall… – replicou ele, em jeito de cumprimento.

De perto era mais imponente, quase insuportável. Apesar de calçar sapatos de salto alto, era bastante mais baixa do que ele e tinha de levantar a cabeça para olhar para ele nos olhos. A sua pele bronzeada parecia ter vida própria e contrastava muito com a palidez do resto dos convidados. Estava vestido de preto tal como todos, mas tinha uma elegância de que os outros homens careciam.

A sua roupa era cara e de boa qualidade. Não era o tipo de roupa que o jovem que acabara de ser contratado como rapaz das quadras teria podido comprar há sete anos quando ela o conhecera. Vestia uma camisa preta, um fato da mesma cor que parecia feito à medida e um casaco elegante sobre os seus ombros largos. Tal como o usava parecia mais uma capa do que um casaco e fê-la pensar no traje dos cavalheiros elegantes do século XIX. A chuva ensopara o tecido do casaco e parecia ainda mais escuro. E também molhara o seu cabelo preto, enchendo-o de gotas brilhantes. Percebeu que até as suas pestanas espessas e escuras estavam encharcadas.

– Lamento muito a sua perda.

Parecia o comentário mais apropriado naquelas circunstâncias, mas o seu tom frio fê-la tremer novamente. Não conseguia ignorar o nó que tinha no estômago e voltou a deixar-se apanhar pelo pânico. Também falara com um pouco de dificuldade, como se lhe custasse fazê-lo, mas não conseguia enganá-la, sabia que estava a gostar de a ver incomodada. Sabia que Angelos Rousakis tinha alguma coisa em mente.

Viu-o nos seus olhos e não conseguiu evitar tremer. E o complexo de culpa que arrastara durante anos estava a fazer com que se sentisse ainda pior.

– Acho que foi o senhor Hilton que lhe comunicou o falecimento do meu padrasto…

– É verdade. Telefonou-me assim que soube. Teria vindo antes, mas estive fora numa viagem de negócios – respondeu ele, sem parar de olhar para ela fixamente nos olhos.

O seu rosto não transmitia nenhuma emoção, nem boa nem má e não sabia o que esperar. A única coisa que sabia era que Angelos Rousakis sabia muito bem o que estava a fazer. Só tinha de reparar no sorriso que curvava a sua sensual boca para saber que era assim.

Não duvidou nem por um segundo que ele tinha alguma razão para estar ali, não podia ser casual nem achava que tivesse aparecido do nada para a acompanhar no funeral do seu padrasto e para lhe apresentar os seus pêsames.

Porque sabia, entre outras coisas, que Angelos Rousakis nunca sentira respeito por Marty, antes pelo contrário. O ódio fora o único sentimento que os dois homens tinham partilhado. Um ódio que ela aumentara até proporções insuspeitáveis por culpa da sua conduta irreflectida e impetuosa. A situação chegara até tal ponto que todos se viram afectados.

Embora percebesse ao vê-lo que ele não parecia ter sofrido muito. Para ela, tudo o que acontecera fora devastador, pelo menos de um ponto de vista emocional.

Angelos Rousakis saíra impune de tudo o que se passara, não restara nenhuma sequela emocional. Para ela, pelo contrário, significara uma mudança radical na sua vida.

As coisas eram muito diferentes se as analisasse de um ponto de vista económico. Nesse sentido, entendia que Angelos Rousakis a odiasse tanto como odiara o seu padrasto. Ou até mais, porque ela fora a culpada de perder o seu trabalho e a razão pela qual tivera de sair daquele lugar.

– Não entendo… – começou ela.

Mas Peters aproximou-se naquele momento.

– O director da funerária está pronto, menina Marshall – informou o mordomo.

Não conseguiu evitá-lo, olhou para Angelos Rousakis. Continuava a observá-la da porta, não conseguia ignorar a sua presença misteriosa e escura. O seu aparecimento surpreendente conseguira transtorná-la por completo e não sabia muito bem o que fazer. Sentia que o chão começava a tremer por baixo dos seus pés, tudo mudara numa questão de segundos, já não sabia muito bem onde estava e perdera por completo o equilíbrio.

Angelos Rousakis afastou-se da porta para a deixar passar.

– Tem coisas para fazer – replicou Angelos. – Falaremos mais tarde.

Qualquer pessoa que não conhecesse a sua história e o seu passado teria pensado que lhe falava com amabilidade e cortesia, mas ela via frieza e ódio no seu olhar.

Não sabia o que pensar. Talvez estivesse a imaginar coisas e fosse o seu próprio medo e a sua consciência pesada que fazia com que visse uma ameaça nas suas palavras. Perguntou-se se ela era a única que conseguia ler mais além do seu tom cortês. Deu-lhe a impressão de que na sua voz havia matizes sinistros que a preocuparam ainda mais. E com o seu olhar frio deixava-lhe muito claro que estava a observá-la e que entendia perfeitamente porque é que a sua presença naquela casa a afectava tanto.

Angelos Rousakis conhecia-a bem e sabia que não faria nada que pudesse provocar uma cena à frente de todos, à frente de membros destacados da sociedade, os que tinham sido amigos do seu padrasto. Precisava que esse funeral, a última coisa que ia poder fazer por Marty, fosse um evento digno e respeitoso. A última coisa que queria era perder o controlo por culpa daquele homem e dizer coisas de que depois pudesse arrepender-se.

– Falaremos mais tarde? – murmurou ela.

Foi tudo o que conseguiu fazer, dadas as circunstâncias. Estava cheia de vontade de lhe dizer para sair dali, para a deixar em paz e para nunca mais voltar a aparecer.

Mas recordou então que aquele homem fora convidado para assistir ao funeral. Convidado pelo advogado do seu padrasto. Portanto, decidiu não dar rédea solta ao seu aborrecimento. Fechou a boca e controlou as suas palavras. Olhou por cima do seu ombro, para o hall. A porta de entrada para a casa estava aberta e conseguiu ver o carro fúnebre à espera que todos saíssem.

– Mais tarde – murmurou, enquanto saía da sala com a cabeça erguida e os lábios cerrados.

 

 

– Mais tarde… – repetiu Angelos, enquanto Jessica Marshall passava ao seu lado.

As suas palavras eram uma promessa tanto para ela como para ele. Não conseguiu evitar sorrir enquanto a observava. Tinha as costas muito direitas e a cabeça bem erguida.

– Sim… Falaremos mais tarde, menina Marshall – sussurrou.

Não se importava de deixar que ela tivesse um momento de triunfo e pensasse que tinha a situação sob controlo. E não o incomodava ter de esperar um pouco mais e deixar que continuasse com o seu papel de senhora da casa. Afinal de contas, achava que quanto mais tempo esperasse e mais confiante Jessica estivesse, de mais alto cairia. E desejava vê-la sofrer.

Não ignorara o facto de, desde que a vira pela última vez, Jessica Marshall ter mudado muito. O seu corpo de menina fora apenas uma promessa do que estava para chegar. Transformara-se numa mulher muito bela e sensual. Estava mais alta e magra, mas com curvas onde precisava de as ter. Não ignorou os seus seios arredondados nem as suas ancas suaves. E bastou-lhe pensar no que esconderia sob o tecido do fato preto modesto para sentir que o seu coração acelerava. Reparou na blusa branca delicada que vestia sob o casaco. Estava abotoada até acima e não deixava entrever nada senão a pele branca do seu pescoço.

A sua cara perdera a redondez da juventude. As suas maçãs do rosto estavam mais marcadas e todos os traços eram mais definidos. Os seus olhos, entre azuis e cinzentos, pareciam mais claros do que recordava e contrastavam com o castanho quente do seu cabelo. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi a sua boca, sensual e rosada.

Durante um segundo, permitiu-se recordar o que fora saborear e provar esses lábios doces. Tratava-se de uma memória cheia de conotações eróticas, mas o que acontecera depois desse beijo era uma lembrança muito dolorosa.

O que não mudara em Jessica Marshall fora a frieza e o desdém com que olhava para as pessoas que não eram do seu agrado. Recordava muito bem essa sensação. Essa jovem conseguia fazer com que qualquer pessoa se sentisse mal. Era a mesma expressão que lhe dedicara há sete anos, mas tinha a força de uma mulher sete anos mais madura e que passara todo esse tempo a fazer o que queria.

Mas sabia que isso estava prestes a acabar. Jessica Marshall ia saber em breve o que fazia ali e, então, não conseguiria continuar com a sua fachada fria e perderia o controlo.

O resto dos convidados que enchiam a sala começou a sair atrás dela. Já não chovia tanto. Havia uma longa fila de carros escuros à espera deles. O seu plano teria de ser adiado. Tinha de assistir a um funeral. Ao funeral de um pai que não pudera conhecer. Um pai que Jessica Marshall lhe arrebatara.