cover.jpg

portabian1335.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Patricia A. Kay. Todos os direitos reservados.

A NAMORADA DO MEU IRMÃO, N.º 1335 - Julho 2012

Título original: Wrong Groom, Right Bride

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0561-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversion ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Chloe Patterson não conseguia evitar sorrir enquanto acabava de se maquilhar. Continuava a sentir vontade de se beliscar para se convencer de que tudo o que lhe tinha acontecido nos últimos seis meses não fora um sonho. Primeiro, o seu noivado com Todd Hopewell, um dos solteiros mais cobiçados de Riverton, de Nova Iorque, e, em seguida, a notícia maravilhosa que tinha confirmado naquela semana.

Mas nenhuma das coisas fora um sonho. O diamante de dois quilates que brilhava no anelar da sua mão esquerda era muito real. Aproximando a mão do feixe de luz crepuscular que entrava pela janela do seu quarto, ficou a contemplar, encantada, o arco-íris que desenhava no ar.

Estava tão contente, tão entusiasmada! A vida parecia correr-lhe às mil maravilhas. E as perspetivas eram ainda melhores. Os dias escuros tinham ficado para trás. Entusiasmada com a perspetiva de voltar a ver o seu noivo, colocou o seu perfume favorito e procurou no seu guarda-joias os seus brincos de ouro.

Quase um mês era muito tempo para estarem separados, sobretudo, quando faltavam menos de seis semanas para o dia do casamento. Sabia que Todd devia sentir o mesmo. Que ultimamente se tivesse mostrado distante ou que não lhe tivesse telefonado nem enviado mensagens desde a sua chegada à Califórnia não significava nada.

Não estava a descuidá-la. Simplesmente, estava muito ocupado. Sabia o que significava para ele aquela viagem a São Francisco. Para eles e para o seu futuro. Todd explicara-lhe que precisava de demonstrar algo à sua família, que fora a primeira vez que lhe tinham confiado um projeto de tanta importância para a empresa. Que, quanto mais se esforçasse, mais depressa regressaria a casa. E agora... Estava prestes a chegar. Dentro de alguns minutos.

Acariciou o ventre, ainda plano, ainda encobrindo o seu segredo. Era lógico, já que só estava grávida de um mês. Supunha que tivesse sido concebido na noite anterior à viagem de Todd e era demasiado cedo para que se notasse. De facto, ainda nem sequer tinha ido ao médico, mas fizera dois testes de gravidez. E ambos tinham dado positivo.

Além disso, tinha os seios mais sensíveis e sentira um ou outro enjoo. Indubitavelmente, estava grávida. Durante os últimos dias, desde que vira confirmada a notícia, quase tivera medo de tanta felicidade. Não era de admirar, já que desejava ter um bebé desde que tinha idade para pensar naquelas coisas. Ainda lhe era difícil acreditar que todos os seus sonhos se tinham realizado tão depressa. Que estivesse prestes a ter um marido e um filho, uma família e um lar próprios.

Receberia Todd a notícia do bebé com tanta alegria como ela? Esperava que não lhe parecesse demasiado cedo. Ao fim e ao cabo, ela tinha quase trinta anos e ele, trinta e dois. Já não eram dois jovenzinhos. Certamente, ficaria contente. Mordendo o lábio, perguntou-se o que diria a mãe de Todd quando soubesse. Quando pensava na fria e elegante Larissa Lenore Hopewell, com aquela maneira tão altiva e depreciativa que tinha de a olhar, parte da sua felicidade evaporava-se.

O que teria a mãe de Todd que era tão intimidante? Porque é que Chloe, que demonstrava tanta segurança na sua vida profissional, que era independente e autossuficiente desde os dezoito anos, se transformava numa idiota balbuciante perante o mínimo comentário crítico de Larissa?

– Oh, para de pensar nela... – murmurou para si mesma. E, no entanto, não podia deixar de recordar que Todd se calara cada vez que lhe comentara que tinha a certeza de que a sua mãe não gostava dela. Por outro lado, Todd nunca respondera, nem se opusera a nada que a sua mãe tivesse dito.

Tentou afastar aqueles pensamentos traiçoeiros. Era normal que Todd se mostrasse atencioso e solícito com a mãe e com as suas opiniões. Eram importantes tanto para ele, como para o seu futuro... E para o futuro dos dois. As coisas seriam diferentes quando estivessem casados. Teria de ser paciente com ele.

Mesmo assim, era relevante o que Larissa Hopewell pudesse pensar. Era lógico que uma mulher desejasse contar com a aprovação da sua futura sogra. Ao fim e ao cabo, a mãe de Todd seria a avó do seu filho, a única que teria, já que a mãe de Chloe tinha morrido há muito tempo. E, o que era ainda mais importante, aquele bebé seria o primeiro neto dos Hopewell, porque nenhuma das irmãs mais velhas de Todd tinha filhos. E certamente que isso contaria muito para Larissa.

Chloe suspirou. Teria de se esforçar muito para conquistar a sua futura sogra.

Bateram à porta. O coração disparou-lhe. Todd! Desceu as escadas a correr e atravessou o hall. Quase tropeçou na pilha de caixas vazias que estava apoiada contra a parede. As caixas onde tinha intenção de começar a guardar os seus pertences para se mudar para a casa do seu noivo.

– Todd! – gritou, abrindo a porta.

Mas não era Todd. Quem estava à porta era um mensageiro da FedEx.

– Menina Patterson? Uma encomenda para si. Assine aqui, por favor.

Chloe olhou para o envelope com o selo de «Urgente» e assinou o recibo.

– Obrigado – o homem sorriu-lhe, entregou-lhe o envelope e voltou rapidamente para a carrinha.

Franzindo o sobrolho, Chloe fechou lentamente a porta. O remetente era Todd, em São Francisco. Como podia ser? Ter-se-ia enganado na data? Teria acontecido alguma coisa? Por acaso, não chegaria naquele dia?

Cada vez mais nervosa, abriu o envelope. Lá dentro só havia uma folha. O coração pulsava-lhe a toda a velocidade.

 

Querida Chloe,

 

Sei que isto vai ser uma grande surpresa para ti. Ontem, casei-me com Meredith. Quando receberes esta carta, estaremos de lua de mel nas Fiji. Durante semanas, tentámos negar os nossos sentimentos, até que descobrimos que não tinha sentido. Espero que possas perdoar-me um dia. O anel é teu. Vende-o, se quiseres. Desculpa.

Todd

 

Consternada e estupefacta, ficou a olhar fixamente para a carta, como se pretendesse com isso transformar aquelas palavras em algo que tivesse um mínimo de sentido. Casara-se! E com Meredith!

Abanou a cabeça. Não podia ser. Aquilo não podia estar a acontecer. Meredith Belson era a assistente de Todd. Uma amiga de infância, que se mostrara muito amável com Chloe. Inclusive, tinha-lhe recomendado um organizador de casamentos. Sempre a tinha considerado uma boa amiga. De facto, para além de Molly, a prima e a melhor amiga de Chloe, Meredith era a última pessoa de quem teria esperado semelhante traição.

Tremendo, aproximou-se das escadas e sentou-se. Como percebendo a sua tristeza, Samson, o seu gato, começou a ronronar e a roçar-se nela. Chloe continuava a ler aquelas palavras: «Ontem, casei-me com Meredith». Como pudera Meredith...? «Mas a culpa não foi dela, senão de Todd», recordou a si mesma. «Foi ele que te disse que te amava, que te pediu que te casasses com ele. Foi ele que te traiu.»

Sentia-se demasiado aturdida para chorar. Todd. Todd e todos os seus sonhos de um futuro em comum evaporaram-se. Casara-se. Com outra mulher.

Enquanto aquelas palavras cruéis ecoavam no seu cérebro, as lágrimas afloraram finalmente. Mas não eram lágrimas de tristeza, senão de raiva. Arrancando o anel do dedo, atirou-o contra a parede. Samson deu um salto, alarmado, e fugiu. O diamante engastado em platina ricocheteou e caiu ao chão. Ali ficou, como vão e triste símbolo do que nunca chegaria a acontecer.

«O que vou fazer agora?», perguntou-se. Então, percebeu a consequência mais grave da traição de Todd. «O nosso bebé.» Oh, meu Deus! Como tinha podido esquecer-se do bebé? Do bebé cuja existência Todd ignorava.

Engoliu em seco, com um nó no estômago. Uma pontada absurda de esperança assolou-a de repente. Certamente, quando Todd soubesse, dar-se-ia conta de que tinha cometido um erro terrível e voltaria para ela. Para eles. Tinha de lho dizer. Sem mais demora, naquele momento. Chloe conhecia Todd suficientemente bem para saber que, embora estivesse de lua de mel nas Fiji, jamais teria ido sem o seu BlackBerry. «Vou mandar-lhe uma mensagem», decidiu.

Mas, inclusive enquanto começava a subir as escadas para ir buscar o seu telemóvel, convenceu-se de que a ideia carecia de sentido. Desejava que Todd voltasse por arrependimento, por se sentir culpado? Era óbvio que não. Ela queria que ele a amasse! Por nada do mundo tentaria chantageá-lo ou fazer com que se sentisse culpado. Mais uma vez, sentou-se na escada. Daquela vez, as lágrimas que começaram a cair pelo seu rosto eram de desespero. Teria de ter o seu bebé sozinha.

De facto, não queria sequer que Todd soubesse da sua existência. Rejeitá-la a ela equivalia a rejeitar também o seu filho.

 

 

Simon Foster Hopewell III começava a sentir uma enxaqueca monstruosa enquanto revia o orçamento para o novo ano fiscal, que começaria no primeiro dia do próximo mês de junho.

Não podia acreditar naquele orçamento do departamento de produção. E era a terceira vez que o revia. Empunhando um lápis vermelho, foi sublinhando as quantias. De alguma forma, os diretores dos departamentos precisavam de aprender a cingir-se às diretrizes que recebiam, quer gostassem quer não. Talvez, agissem assim na casa deles, tirando de um lado para o meter noutro, mas não na Empresas Hopewell. Pelo menos, enquanto ele estivesse no comando.

Soltando um suspiro exasperado, recostou-se na sua poltrona giratória e olhou para o grande retrato a óleo do seu tetravô, o primeiro Simon Hopewell. Um homem tão severo, que teria ficado petrificado se visse a maneira como se faziam negócios presentemente. O velho Simon nunca tinha pedido emprestado dinheiro na vida.

Fechou os olhos. Estava cansado. Cansado de carregar o peso da empresa e também de carregar o peso da sua família. Desde que o seu pai falecera com um enfarte dois anos antes, a maior parte da responsabilidade, tanto do negócio como da família, tinha recaído nos seus ombros.

Certamente, não recebia nenhuma ajuda de Noah, que não queria saber nada da empresa e passava os dias a trabalhar num albergue para sem-abrigo e as noites a tocar com a banda que tinha fundado. Era um bom tipo. Simon admirava-o pelas suas convicções e pela sua falta de cobiça, mas tinha de enfrentar a realidade: nunca poderia contar com o irmão.

Restava Todd. Se fizesse um bom trabalho com os clientes de São Francisco, Simon ponderava atribuir-lhe uma maior responsabilidade na empresa. Mas a verdade era que não estava muito certo de que fosse acontecer. De facto, desde que lhe confiara o trabalho de São Francisco, estivera mais do que preocupado com ele.

Todd era um menino mimado. E impulsivo. Começara com entusiasmo, mas o seu interesse poderia desvanecer-se rapidamente. A sua mãe mimara-o desde o dia em que conseguira perceber que era o favorito. Não gostava de trabalhar, embora soubesse falar e tivesse muita lábia.

Uma coisa que Todd fizera bem, no entanto, fora escolher a mulher com quem pensava casar-se. A sua escolha tinha-o surpreendido, sobretudo, depois de saber a opinião pouco favorável que a sua mãe tinha dela. E a sua surpresa fora ainda maior quando Simon se atrevera a discordar.

Simon gostava de Chloe. Desde que a conhecera, tinha-lhe parecido uma rapariga sensata e prática, o tipo de mulher capaz de moderar a tendência de Todd para se meter de cabeça em qualquer coisa sem pensar antes.

E, depois de a investigar discretamente, resistente, mas certo de que, se não o tivesse feito ele, teria acabado por o fazer a sua mãe, convenceu-se ainda mais do acertado da sua decisão.

Sim, Chloe procedia dos bairros mais pobres de Riverton. Sim, a sua mãe tinha-a abandonado quando ela tinha apenas oito anos para partir com um amante muito mais jovem e voltar com o rabo entre as pernas cinco anos depois. E, sim, o seu pai tinha-se tornado alcoólico e suicidara-se pouco tempo depois. Para cúmulo, Chloe não tinha recebido a educação dos irmãos Hopewell, de maneira que não contribuiria com dinheiro, nem com posição social para o seu casamento com Todd.

Mas, e Simon dava muito mais importância a essas características do que ao dinheiro ou à posição social, Chloe começara a trabalhar aos dezoito anos e estudara à noite na universidade local. Além disso, tinha criado o seu próprio negócio como web designer enquanto trabalhava a tempo inteiro numa pequena empresa de alta tecnologia nos subúrbios de Mohawk. Segundo o detetive privado cujos serviços tinha contratado, tinha ganhado mais de sessenta e cinco mil dólares no ano anterior e estava em vias de ultrapassar essa marca. Tinha um seguro de saúde e carro próprio, e contava com algumas poupanças, não uma fortuna, óbvio, mas o suficiente. Se quisesse comprar um apartamento ou uma casa pequena, não teria nenhum problema em financiar a hipoteca.

Era jovem e forte, e seria uma grande companheira para Todd. Simon estava convencido disso. Era encantadora, tinha um sorriso lindo, uns olhos verdes maravilhosos e uma cabeleira castanha comprida e brilhante. Para além de também possuir umas pernas compridas e perfeitas.

«Foi uma pena que não a tivesse conhecido primeiro.» Não era a primeira vez que tinha aquele pensamento. O problema era que, quando um homem queria conhecer o tipo de rapariga suscetível de ser uma grande esposa e mãe, tinha de se esforçar. E Simon não fizera nenhum tipo de esforço desde a sua aventura com Alexis.

O intercomunicador tocou naquele momento. Os pensamentos sobre Alexis, Chloe e Todd desvaneceram-se enquanto pegava no auricular.

– O teu irmão ao telefone – informou-o Maggie, a sua secretária.

– Noah?

– Todd.

Simon olhou para o relógio Wedgwood que havia sobre a sua secretária antiga de mogno. Todd já devia ter voltado.

– Bem-vindo a casa – disse, assim que Maggie lhe passou a chamada. – Como correu a viagem?

– Hum... Escuta, Simon, eu, hum... Não estou em casa. Eu... Estou nas Fiji.

– Nas Fiji! O que... O que estás a fazer aí?

Simon escutou, aniquilado, as explicações do seu irmão. O coração tinha-lhe acelerado e a enxaqueca voltou com toda a força. Era consciente de que, se o seu irmão estivesse ali naquele momento, teria de se reprimir para não acabar por o estrangular.

– Canalha! – resmungou, quando Todd se calou. – Como pudeste fazer algo tão covarde e tão irresponsável?

Quando Todd tentou justificar-se, dizendo coisas do tipo «não consegui evitá-lo», «eu sempre amei Meredith» ou inclusive «Chloe era um erro, já a mamã o dizia», a indignação de Simon aumentou.

– Chloe já sabe?

– Eu... Hum... Enviei-lhe uma carta.

– Enviaste-lhe uma carta – repetiu Simon.

– Eu, bom... Pensei que era a melhor maneira.

– És inclusive mais imbecil e insensível do que pensava.

– Isso não é justo, Simon! Meu Deus, comportas-te como se tivesse matado alguém! Só acabei um noivado.

– Não, fizeste muito mais do que isso, traíste e humilhaste uma boa pessoa, alguém que não merecia ser tratado assim. E, como é habitual em ti, agora esperas que outro resolva a porcaria que fizeste, não é?

– Que porcaria? Tu não tens de fazer nada. Para de me tratar como se fosse um menino.

– Então, deixa de te comportar como tal. Quando vais voltar para casa? Até quando terei de esperar pelo teu relatório de São Francisco?

– Terás o teu relatório amanhã – disse Todd, ressentido. – Enviar-to-ei por fax. E Meredith e eu só voltaremos na semana que vem. Ou talvez não. Merecemos uma boa lua de mel.

Aquela justificação final do seu comportamento zangou tanto Simon, que nem se incomodou em responder. Simplesmente, desligou o telefone.

 

 

– Todd telefonou-te? – perguntou Simon à sua mãe.

Em lugar de lhe telefonar imediatamente depois de ter falado com Todd, dissera a Maggie que se ia embora e que cancelava a reunião daquela tarde com o departamento de produção. E tinha-se dirigido para a grande casa familiar de Maple Hill, o bairro residencial elegante de Riverton.

– Sim – respondeu Larissa. A sua expressão satisfeita era eloquente.

– E não estás zangada?

– Bom, certamente, teria preferido que não se tivesse comprometido com ela desde o princípio. E sabes que eu nunca aprovei o seu noivado com aquela mulher.

«Aquela mulher. Nem sequer é capaz de pronunciar o seu nome», pensou Simon. Tentou escolher cuidadosamente as suas palavras.

– Mas só faltava um mês e meio para o casamento com Chloe... A igreja, o clube de campo... Estava tudo preparado e reservado. Não te parece que não só foi injusto com ela, como também se comportou de maneira imatura e irresponsável, algo que não honra o sobrenome da família? – «o sobrenome da família ao qual tu dás tanta importância», acrescentou para si próprio.

– Sinceramente, Simon, às vezes, não te entendo – disse-lhe a sua mãe, com olhos brilhantes de indignação. – Onde está a tua lealdade? Deverias estar contente por a ter deixado. Ela nunca teria encaixado na família e tu sabe-lo. Ela não era merecedora de usar o nosso sobrenome.

– Não sei nada disso – replicou Simon, com frieza. – Eu gostava dela. Na minha opinião, teria sido uma boa esposa para Todd – «e uma lufada de ar fresco para esta família».

– Não compreendo como podes dizer isso. É uma mulher banal. Simplesmente, não é da nossa classe. Duvido que o seu casamento tivesse durado sequer um ano.

Simon apertou os dentes para não lhe dizer o que estava a pensar. Que sentido teria? A sua mãe nunca mudaria.

– E não te parece que lhe devemos alguma coisa? Pelo menos, deveríamos pagar as despesas em que tenha incorrido com os preparativos do casamento.

– Está bem – encolheu os ombros. – Faz-lhe uma oferta.

– Estás de acordo?

– Não é relevante, pois não? De qualquer forma, fazes sempre o que queres. Como os teus irmãos, incluindo Todd. Pelo menos, ele reconheceu que, no que se referia àquela mulher, eu tinha toda a razão.

E, dito aquilo, continuou com o que estava a fazer quando ele a interrompera. Simon ficou a olhá-la durante um bom bocado, antes de se despedir:

– Adeus, mãe – permaneceu imóvel durante alguns segundos, mas ela nem se dignou a virar-se.

Enquanto se dirigia para o seu carro, decidiu não esperar nem mais um dia para telefonar a Chloe e oferecer-lhe a sua ajuda. Só esperava que ela aceitasse vê-lo. Porque, se estivesse no lugar dela, expulsaria qualquer Hopewell que se atrevesse a aparecer-lhe à porta.

Capítulo 2

 

Chloe não conseguia dormir. Finalmente, por volta das três da manhã, deu-se por vencida, para consternação de Samson. O gato, que passava as noites aos pés da sua cama, não estava habituado a semelhante mudança de rotina. Seguiu-a escada abaixo até à cozinha, onde a sua dona já estava a pôr água a aquecer. Pensava preparar uma boa chávena de chocolate quente, enquanto tentava averiguar o que ia fazer agora que o seu futuro fora destruído daquela maneira.

Samson dedicou-se a incomodá-la, até que conseguiu o que queria: o pequeno-almoço. Chloe não conseguiu evitar sorrir enquanto o via a comer. O que faria sem o seu companheiro? Esperava não ter de o descobrir.

Foi para a sala, com a chávena e um prato de bolachas, e instalou-se na sua poltrona favorita. Não teve necessidade de acender o candeeiro, a luz da lua entrava pela janela grande, iluminando a sala. Normalmente, quando se deitava, corria as cortinas, mas, na noite anterior e naquela noite, desde que recebera a carta de Todd, tinha a impressão de não ser ela mesma.

«O que vou fazer agora?», perguntou-se mais uma vez. Se não estivesse grávida, o dilema não existiria. Continuaria zangada com Todd pela maneira como a tinha tratado, sim, e talvez inclusive vivessem um ou outro momento incómodo quando voltassem a encontrar-se, algo inevitável numa cidade tão pequena como Riverton, mas conseguiria superá-lo.

O problema era que estava grávida. Tal como vinha fazendo ultimamente, levou uma mão ao ventre.

– Quero-te – sussurrou. – Aconteça o que acontecer, quero-te.

Chloe perguntou-se sobre a reação da sua tia Jane e da sua prima Molly quando soubessem do fim do noivado e da sua gravidez. No dia anterior, estivera prestes a telefonar-lhes, mas decidira esperar até ter uma ideia do que ia fazer a esse respeito. Não telefonar às duas pessoas que durante tanto tempo tinham constituído a sua única família fora, sem dúvida, uma das coisas mais difíceis que tivera de fazer na vida, mas queria ter a certeza de que não começaria a chorar quando falasse com elas. Não queria preocupá-las. Era problema dela, não delas.

Quando o céu começava a clarear, já tinha chegado à conclusão de que não poderia ficar em Riverton. Não se quisesse manter o seu bebé afastado da família Hopewell. Riverton era uma cidade muito pequena. Se continuasse a viver ali, os Hopewell acabariam por descobrir e... Quem sabia o que poderia acontecer? Poderiam tentar inclusive desacreditá-la de alguma forma ou, pior ainda, tirar-lhe o bebé.

Não. De maneira nenhuma podia arriscar-se a isso, por muito que lhe doesse ter de deixar a sua tia e a sua prima. Não tinha outra opção senão mudar de cidade. Felizmente, podia trabalhar em qualquer lado. Como proprietária do seu negócio de conceção e manutenção de páginas Web, só necessitava de um computador e de um telefone para atender os seus clientes. Suspirando, levantou-se para se dirigir para o escritório. Depois de se sentar à sua secretária, pegou no seu livro de contabilidade, ligou-se à Internet e acedeu à sua conta bancária.

Durante a hora seguinte, esteve a fazer algumas contas. Quando acabou, era mais do que evidente que, se seguisse a sugestão de Todd e vendesse o anel de noivado, teria dinheiro suficiente para se mudar de Riverton e assumir os gastos que fossem necessários para ter o seu filho sozinha, sem ajuda. Seria um pouco apertado, mas conseguiria fazê-lo sem tocar nas suas poupanças. Reprimiu um suspiro. Oxalá pudesse permitir-se atirar o anel à cara de Todd! Mas tinha de ser prática. Embora o orgulho fosse importante, o bem-estar do seu bebé era-o mais.

Perguntou-se de quanto tempo disporia até que começasse a notar-se a gravidez. Até àquele momento, o seu corpo não parecia ter mudado. Fez algumas contas rápidas. Estavam em meados de maio. Supunha que só dentro de um ou dois meses é que se notasse alguma coisa, sobretudo, se usasse roupa mais larga do que o normal. Mas imaginava que em meados de julho ou nos princípios de agosto já lhe seria impossível disfarçar a gravidez. De maneira que teria de se mudar em breve, provavelmente, no início de julho. Dispunha de um mês e meio para organizar tudo. Dado que já contava deixar a sua casa para ir viver com Todd depois do casamento, pelo menos, o seu senhorio já estava avisado.

Agora que já tomara as decisões mínimas sobre o seu futuro, sentia-se bastante melhor. Depois de tomar um duche rápido e vestir-se, decidiu telefonar à sua tia.

– Bom dia, Chloe.

– Olá, tia Jane. Não te acordei, pois não?

– Claro que não. Estou levantada desde as seis e Molly acaba de sair do duche. Queres falar com ela?

– Não, de facto, pensava ir aí. Se não tiverem nenhum plano, claro.

– Não temos nenhum plano. Eu pensava trabalhar um pouco no jardim e sabes que Molly tem sempre de fazer algumas coisas aos sábados, mas ambas as coisas podem esperar. És sempre bem-vinda. Aconteceu alguma coisa? – uma nota de preocupação tingiu a sua voz.

– Não, não. Eu só, hum... Conto-te aí, está bem?

– Está bem, querida. Prepararei outra cafeteira de café. Já tomaste o pequeno-almoço?

Chloe sorriu.

– Se contarem umas quantas bolachas durante a madrugada...

Meia hora depois, Chloe estacionava à frente de um pequeno bangaló, num dos bairros mais antigos de Riverton, onde a sua tia vivia desde que Chloe se lembrava. Tudo ali eram boas lembranças. Do ácer enorme que projetava a sua sombra sobre a parede lateral da casa pendia um baloiço com um pneu, o favorito de Molly e de Chloe. As duas tinham patinado juntas pelas calçadas do bairro e brincado com as suas bonecas no alpendre dianteiro. Naquele momento, não conseguiu evitar pensar, triste, no quanto ia sentir a falta daquelas visitas. Mas não havia outro remédio.