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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Stella Bagwell. Todos os direitos reservados.

CÍRCULO DE AMOR, N.º 1339 - Agosto 2012

Título original: The Christmas She Always Wanted

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0592-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

– Estou apresentável para servir o jantar aos convidados? – perguntou Angela Malone, enquanto levantava os braços e girava à frente da cozinheira do rancho Sandbur.

– Não sei, não sei... – replicou a cozinheira, enquanto observava a sua jovem ajudante. – Se tirasses o avental, parecerias uma princesa com esse vestido preto. Mas, como esta noite servimos grelhados, acho que é melhor que não o tires.

Angela apercebeu-se de que tinha razão. Estivera dois anos a trabalhar como empregada de mesa num restaurante de Goliad e o seu início tinha sido um pouco acidentado. Os molhos e os purés tinham acabado muitas vezes na sua roupa em vez de no prato do cliente.

Mas as coisas tinham mudado muito desde então e a sua situação melhorara quando a sua amiga Nicci lhe arranjara aquele emprego no rancho Sandbur. Desde então, tornara-se ajudante da cozinheira e trabalhava na casa principal, onde viviam a matriarca do rancho, Geraldine Saddler, e o filho, Lex.

Para além de ajudar a cozinheira, Angela também servia as refeições, estava a cargo das empregadas que faziam as limpezas, fazia as compras necessárias para as duas moradias do rancho e ocupava-se de outros assuntos.

– Acho que tens razão, não tirarei o avental – disse à cozinheira. – Mas a menina Saddler queria que prestasse atenção aos pormenores esta noite, acho que tem algum convidado especial.

A cozinheira, uma mulher de setenta e muitos anos, muito magra e alta, aproximou-se ao ver que estava prestes a entornar a bandeja com os aperitivos.

– Não há razão para ficares nervosa, querida. Não é o teu primeiro dia de trabalho – disse-lhe, enquanto lhe compunha o travessão com que prendera o cabelo castanho. – Estás linda – acrescentou, dando-lhe uma palmadinha carinhosa na face. – Vá, vai servir os aperitivos antes que Geraldine tenha de vir à cozinha para ver porque estamos a atrasar-nos tanto.

Sorridente, pegou na bandeja com decisão. Usou o ombro para abrir a porta da cozinha e percorreu depressa o corredor até ao salão principal. O aroma das gambas fumadas que levava na bandeja recordou-lhe que não comera nada todo o dia.

Com o jantar daquela noite, não tivera tempo para nada. Tinha passado o dia a ajudar a cozinheira na elaboração daqueles pratos e a certificar-se de que as empregadas limpassem os quartos de hóspedes e colocassem flores frescas em cada jarra da casa.

Começou a ouvir vozes e gargalhadas ao aproximar-se do salão. Alguém pusera um CD de Bob Wills and his Texas Playboys e suspirou ao ouvir a música que estava a tocar naquele momento.

Seguiu o ritmo na sua cabeça. Sonhava poder dançá-la nos braços de algum homem a quem não importasse que fosse mãe solteira.

Mas não era a melhor altura para pensar naquelas tolices. Respirou fundo e entrou no salão. Viu que estava cheio.

Passou com cuidado entre os convidados, pois queria deixar a bandeja na mesa que tinham colocado num canto do salão. Estava prestes a colocar as gambas ao lado de um prato de pimentos assados quando ouviu a voz de Geraldine Saddler.

– Angie, o que tens na bandeja? Se forem as gambas, trá-las para aqui, por favor. Há espaço de sobra na mesa central.

Virou-se para fazer o que a sua patroa lhe tinha pedido.

– Tens de provar as gambas, Jubal. Derretem-se na boca – comentou Geraldine.

Angela ficou gelada ao ouvir aquele nome, mas sabia que não podia tratar-se dele. Seria demasiada coincidência que o tivessem contratado para ser o novo veterinário do Sandbur, o homenageado com aquele jantar.

O coração começou a pulsar-lhe com força e levantou a cabeça devagar. Foi assim que se encontrou de repente com o rosto que andava a tentar esquecer há cinco anos.

Jubal...

Não sabia se chegara a pronunciar o nome ou se só o tinha imaginado. Empalideceu imediatamente.

Notou que ele a tinha reconhecido. Parecia tão perplexo como ela. Não esperou até que pudesse reagir. Desculpou-se rapidamente e saiu quase a correr do salão.

Chegou à cozinha sem fôlego. As suas pernas trémulas mal a seguravam. Não teve outro remédio senão deixar-se cair na primeira cadeira que viu.

A cozinheira, ao vê-la assim, deixou o que estava a fazer para se aproximar dela.

– Angie! O que se passou? Estás muito pálida. Vais vomitar?

Respirou fundo para tentar acalmar-se e passou as mãos pela cara. Estava a suar.

– Estou bem. Não comi nada o dia todo, é só isso.

A cozinheira continuava a olhá-la com preocupação, não parecia acreditar na sua desculpa.

– Parece-me estranho que tenhas ficado assim tão de repente – disse-lhe, com o sobrolho franzido. – O que aconteceu no salão?

Pensou em Jubal, sentado no sofá com a família Sandbur e os seus amigos.

– Nada.

– Deixaste cair a bandeja? Tropeçaste em alguém?

As suas palavras pareceram-lhe muito apropriadas. Mas a verdade era que o tropeção acontecera cinco anos antes, não naquela noite.

– Não... Não aconteceu nada. Estou um pouco enjoada, só isso.

Fechou os olhos e tentou acalmar-se. Não sabia como poderia voltar ao salão e servir o jantar de cinco pratos que tinham preparado. Parecia-lhe impossível, não se via capaz de o fazer.

– Toma, come um pouco enquanto acabo de preparar as saladas – ordenou-lhe a cozinheira. – Talvez assim consigas recuperar a cor.

Abriu os olhos e viu que a mulher pusera diante dela um prato com feijão preto e pão. Tinha um nó na garganta, duvidava que conseguisse engolir alguma coisa, mas pegou na colher e obrigou-se a comer um pouco.

A comida conseguiu tranquilizá-la ligeiramente. Levantou-se e aproximou-se da cozinheira. Tinha de a ajudar, sabia que tinha de continuar em frente, não podia permitir que as suas emoções a paralisassem.

– Eu acabo as saladas – disse à cozinheira. – Trata do resto.

A mulher olhou para ela, notava-se que continuava muito preocupada.

– Ainda estás muito pálida. É melhor avisar a menina Nicci. Até a gente jovem pode sofrer enfartes, sabias?

Doía-lhe o coração, mas sabia que não se tratava de uma doença cardíaca.

– Não, não quero que incomodes a menina Nicci esta noite. Incomodamo-la sempre com urgências médicas de todo o tipo.

– Angie...

Interrompeu-a antes que pudesse contrariá-la:

– Não te preocupes. Não se passa nada, não estou doente – disse-lhe. – Vi uma pessoa na festa... Alguém que não via há anos. De facto, pensei que nunca mais voltaria a encontrar-me com ele e foi uma grande surpresa. E só isso, a sério.

A cozinheira não lhe fez perguntas pessoais e ela agradeceu-o.

– Queres que peça a Alida que sirva à mesa esta noite?

Era uma das empregadas que trabalhava há mais anos para as famílias Sandbur e Sánchez. Naquele momento, estava na sua casa, a cuidar da sua filha, enquanto Angela trabalhava. Decidiu que não podia incomodá-la, preferia que ficasse com Melanie.

Levantou a cara e olhou para a cozinheira com decisão.

– Não, não é necessário. Fá-lo-ei eu.

 

 

Jubal Jamison tentava concentrar-se na conversa, mas não conseguia. Ver Angie novamente desconcertara-o. Pensava que nunca mais voltaria a ver o seu belo rosto, não depois de ter deixado Cuero cinco anos antes. Não entendia o que fazia naquele lugar. Parecia claro que trabalhava no rancho; era a primeira notícia que tinha dela.

Embora fosse lógico que ninguém o tivesse avisado. Afinal, ninguém sabia que Angela fora o amor da sua vida.

«O que vais fazer agora, rapaz? Vais fugir? Vais virar-lhe novamente as costas?», pensou, com amargura.

Não, não pensava fazer algo parecido. Depois de ela ter saído de Cuero, tinha pensado que nunca mais voltaria a vê-la e não pensava deixar passar a oportunidade que a vida acabava de lhe dar.

Além disso, já tinha aceitado ser o novo veterinário do rancho e estavam a construir uma clínica para os animais. No dia seguinte, o equipamento dispendioso chegaria de Dallas.

Ouviu que alguém anunciava que o jantar estava pronto e levantou-se da poltrona como um zombie, seguindo o resto dos convidados até à sala de jantar. Pouco depois, encontrou-se sentado à direita de Geraldine Saddler, a presidir a mesa.

Era uma sala comprida, de teto baixo com vigas rústicas de cipreste. Numa das paredes havia várias janelas em arco com vista do jardim. Tinham enfeitado as palmeiras mexicanas com luzes, pois as festas natalícias estavam próximas. A mesa estava decorada com centros florais em tons dourados e vermelhos, acrescentando mais cor ao jantar.

Tinha crescido numa família rica, mas as reuniões e festas que os seus pais costumavam organizar eram modestas comparadas com aquele jantar elegante. Mesmo assim, tanto Geraldine como a família dela eram pessoas simples e afáveis. Lamentou que os seus pais não fossem mais como eles, porque talvez assim tivessem entendido a sua relação com Angie. Mas tinha de reconhecer que não podia culpá-los da sua separação. Infelizmente, ele fora o culpado e andava há muito tempo a pagar por esse erro.

 

 

Quando acabou de servir o café, Angela estava fora de si. A sua surpresa inicial fora-se transformando em raiva ao ver que Jubal a tinha ignorado durante o jantar. Não tivera sequer a decência de a cumprimentar. Não entendia porque se comportava assim, como se a esposa estivesse sentada ao lado dele, a vigiá-lo. Não esperava nada dele, apenas que a cumprimentasse com cortesia, achava que não era pedir muito. Mas Jubal não fora suficientemente cavalheiresco para o fazer.

– Bolas... – praguejou entredentes, enquanto entrava na cozinha. – Estão a comer a sobremesa – anunciou à cozinheira.

– Suponho que fiquem a conversar mais um pouco, mas já podes ir para casa, para junto da tua menina. Encarregar-me-ei de que as empregadas arrumem tudo, não te preocupes.

Com o sobrolho franzido, sentou-se à frente da cozinheira.

– Não vou deixar-te sozinha com esta confusão. Como estás tão sorridente? Não estás exausta?

– Claro que sim, mas gosto de dar de comer a Geraldine e aos seus amigos. Acho que aqueles cozinheiros sofisticados que aparecem na televisão não poderiam tê-lo feito melhor.

– Estás orgulhosa do teu trabalho – compreendeu. – Eu gostava... – parou de falar, mas a cozinheira incitou-a a contar-lhe o que desejava. – Gostava que a minha mãe tivesse sido mais como tu. Vivíamos numa povoação bastante pequena e ela trabalhava como cozinheira num restaurante. Estava sempre a queixar-se, dizia que cozinhar era trabalho de pobres, para quem não conseguia arranjar outro emprego. A verdade é que nada a faz feliz.

– Acho que a tua mãe não está bem da cabeça. Eu não me sinto menos importante do que eles por trabalhar na cozinha – replicou a cozinheira, enquanto indicava a sala de jantar com a cabeça.

– Eu também não – replicou Angela.

Não sabia se a sua mãe continuaria a trabalhar no restaurante Mustang, nem se ela e o seu pai continuariam a viver perto de Cuero. Não voltara a vê-los desde que a tinham expulsado de casa.

Levantou-se, suspirando, e foi até aos armários. Havia muita coisa para arrumar. Já a tinha afetado muito ver Jubal naquela noite, não podia permitir-se deixar-se levar também pelo que sentia cada vez que pensava nos seus pais. Ainda lhe doía que lhe tivessem virado as costas quando mais os tinha necessitado.

Em pouco mais de meia hora, as duas mulheres acabaram de limpar a cozinha e despediram-se.

Angela saiu pela porta das traseiras, com uma caixa cheia de sobras do jantar. Havia comida suficiente para que a sua filha e ela jantassem dois ou três dias.

Foi até onde tinha estacionado o seu carro. Estava a colocar a caixa no banco de trás quando ouviu passos atrás dela. Olhou por cima do ombro e viu que se tratava de Jubal. Estava sozinho e ia ao seu encontro.

Para seu pesar, o coração começou a pulsar-lhe com mais força. Fechou a porta e virou-se para ele. Aquele homem fizera-lhe muito mal, mas preferia não pensar nisso. Sabia que só deveria sentir ódio por ele, mais nada. Mas, por muito que o tentasse, não conseguia desprezá-lo. Afinal, dera-lhe, sem saber, o presente mais maravilhoso que um homem podia dar a uma mulher: um filho.

– Olá, Angie – disse-lhe ele.

Estavam quase às escuras e mal conseguia distinguir o seu rosto, mas não importava. Não tinha esquecido as suas feições. Nem o brilho dourado dos seus olhos verdes, nem o seu cabelo loiro-escuro a cair sobre a testa. Tinha uma cara demasiado atraente para a esquecer facilmente.

Engoliu em seco, antes de responder:

– Olá, Jubal.

Tinha as mãos nos bolsos das calças. Olhou para ele de cima a baixo. Continuava em forma, o seu corpo não mudara muito naqueles cinco anos. Ainda tinha os ombros largos, a cintura estreita e umas coxas fortes e musculosas. Estava igual a quando o conhecera, ajoelhado no chão, a cuidar de uma das cabras dos seus pais.

Ficaram algum tempo em silêncio.

– Fiquei à espera depois do jantar, com a esperança de conseguir ver-te. Não consegui falar contigo na sala de jantar – disse-lhe Jubal.

Estava cada vez mais zangada com ele, mal conseguia controlar a sua raiva.

– Bom, servi nada menos do que um jantar de cinco pratos, não admira que não tivesses ocasião de levantar o olhar para me cumprimentar – disse-lhe ela, com ironia.

Jubal suspirou e passou a mão pela cara. Parecia muito incomodado, como se não soubesse o que fazer ou dizer. Mas não podia compadecer-se dele. Afinal, tinha a vida que tinha decidido ter e a verdade era que esperava que não fosse muito boa.

– Lamento não te ter dito nada antes – disse-lhe, – mas ver-te novamente... A verdade é que foi uma grande surpresa. O que fazes no rancho? Nunca pensei encontrar-te num sítio como este.

Custava-lhe cada vez mais controlar o seu aborrecimento. Jubal parecia não compreender porque tinha servido o jantar daquela noite, como se fosse algo que se fizesse por diversão.

– Trabalho aqui. O que fazes tu aqui? Estás a passar tempo com os ricos? – perguntou-lhe, antes de tapar dramaticamente a boca com a mão. – Não, espera, já me esquecia! Tu és um deles!

Jubal franziu o sobrolho e aproximou-se mais um pouco dela.

– Esperava que me atirasses algumas coisas à cara, Angie, mas não algo parecido.

A dureza da sua voz fê-la repensar e sentiu que lhe ardiam os olhos. Tinha vontade de chorar. Não era uma mulher vingativa, nem ressentida, não entendia porque estava a comportar-se daquela maneira com Jubal.

– Já não sou uma menina, Jubal, agora sou uma mulher. E suponho que agora veja tudo de outra maneira.

Com Jubal, fora uma jovem feliz, carinhosa e livre. Tudo fora positivo durante aquele tempo, não havia espaço no seu ser para a amargura, mas tudo mudara quando ele decidira acabar a sua relação e ficar com outra mulher. Aquela experiência traumática mudara-a para sempre e custava-lhe confiar nas pessoas.

Jubal tirou as mãos dos bolsos e cruzou os braços. Ela olhou-lhe para o anelar. Já se apercebera durante o jantar de que não usava aliança. Recordou que também não vira Evette. Era uma noite muito importante para Jubal e não conseguia entender como é que alguém com as aspirações sociais de Evette não aproveitara a ocasião para partilhar a atenção que tinham dedicado ao seu marido.

– Não tinha ideia de que estavas a trabalhar aqui – admitiu Jubal. – Se o soubesse... teria vindo ver-te antes.

Tinham passado cinco longos anos sem que soubesse nada dele. Mas, naquela noite, o destino levara-o de volta à sua vida. Custava-lhe a acreditar que ele tivesse querido encontrá-la.

Tinha sofrido muito por sua culpa e as suas palavras recordaram-lhe essa dor.

– A sério? – perguntou-lhe ela, com incredulidade.

Jubal franziu os lábios.

– Não sou tão canalha como pensas, Angie – disse-lhe ele.

Não havia malícia, nem raiva na sua voz. Também não admirava. Jubal não tinha motivos para a odiar. Afinal, tinha conseguido o que queria.

Cada vez lhe custava mais controlar-se para não chorar.

– Trabalho aqui há dois meses – explicou-lhe ela. – Já tinha ouvido dizer que iam contratar um veterinário. Até esta noite, não imaginei que fossem contratar-te a ti. Mas não te preocupes, Jubal, não vou incomodar-te a ti, nem à tua família, não é minha intenção tentar reviver alguma coisa.

Viu que parecia muito incomodado.

– Isso não me preocupa – replicou Jubal, baixando o olhar.

Não disse mais nada e ela decidiu fazer-lhe a pergunta que lhe rondava a cabeça. Afinal, imaginava que não voltariam a falar-se depois daquela noite.

– E onde está Evette? Não quis vir esta noite?

Jubal levantou o olhar. Viu algo nos seus olhos que a deixou sem fôlego por um instante.

– Já não estamos casados.