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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Susan Bova Crosby

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

União apaixonada, n.º 662 - Março 2015

Título original: Hot Contact

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6476-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Capítulo Dezassete

Capítulo Dezoito

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Capítulo Um

 

Quando Joe Vicente entrou no seu escritório, o primeiro que viu foi um homem gigantesco deitado no chão, com meia dúzia de punhais cravados por todo o corpo. Após estudar cuidadosamente o corpo e a cor artificial do sangue que emanava das «feridas», Joe fez o que qualquer investigador de homicídios teria feito naquele momento: desatar a rir.

– Bom disfarce, Reggie! – disse Joe, andando de costas para a sua mesa. – Vais pedir doces no caminho para casa?

– Bah. Combinei com a minha mulher no Blue Zoo para a festa de Halloween. Queres vir?

– Não, obrigado. Se não estou em casa para dar doces às crianças, enchem tudo de ovo.

Reggie endireitou-se e ajeitou o disfarce.

– Pensava que as crianças já não faziam essas coisas.

– No meu bairro, sim – disse Joe, que ao virar-se deparou com o novo Al Capone, vestido com fato de riscas, camisa preta, gravata branca e chapéu.

Tratava-se de Tony Mendes, um investigador recém chegado à Divisão de Roubos e Homicídios da Polícia de Los Angeles; o colega de Joe.

Joe sorriu. Há sete anos que estava naquele departamento, e não se lembrava de ter visto ninguém disfarçado no Halloween, mas há pouco que o Blue Zoo, o bar mais popular entre os polícias da zona, mudara de dono e estava a tentar atrair novos clientes.

Joe deixou cair o caderno que levava nas mãos sobre a mesa e observou o tenente Morgan, que se dirigia para ele.

– Sala de interrogatórios dois, Vicente – disse a Joe. – Agora.

Pelo tom de voz do tenente, Joe soube que não o estavam a convidar para uma festa.

Ao sair atrás de Morgan, tentou não olhar para os outros investigadores nos olhos. Uma vez na sala, sentou-se numa mesa em frente do tenente e começou a sentir aquele horrível ardor no estômago. Decidiu não tirar do bolso um dos antiácidos que tomava como se fossem rebuçados; não à frente do chefe.

Morgan reclinou-se sobre a cadeira, com expressão impassível. Com os seus quase dois metros de altura, era tão alto como Joe, ainda que dez anos mais velho e quinze quilos mais gordo. Morgan era um bom chefe; era justo.

– Põe-me a par do caso Leventhal.

– Beco sem saída. Um atrás do outro.

O tenente permaneceu em silêncio, o que fazia Joe revolver-se no seu assento. Estava a usar uma táctica que Joe conhecia e usava: consistia em calar-se e fazer com que a outra pessoa falasse primeiro.

– Quero que tires quatro semanas de férias – disse Morgan, sem deixar de olhá-lo.

Joe ficou tão surpreendido que quase lhe custou manter o equilíbrio. Férias, não, por favor. Tinha perdido a paciência em muitas ocasiões recentemente, mas o último que necessitava então eram férias, ver-se com tempo livre. Nem pensar.

– Já sei que não está contente com o meu trabalho.

Morgan encolheu os ombros.

– Isto não tem nada a ver com o teu trabalho. És um bom polícia, mas estás prestes a conseguir que te expulsem do corpo, prestes.

– Não posso tirar férias.

– Necessitas sair daqui, já. Antes que te magoes ou a outra pessoa. Para mim tanto faz que estejas há muito tempo a trabalhar no caso Leventhal, já tinha de estar arquivado.

– Não consigo que as testemunhas cooperem, e sabe disso.

– Sim, e estás a pagá-lo com os que te rodeiam. Comportas-te como um insociável e o capitão também já notou. Guardo-te o lugar, mas começa as férias amanhã.

Sentiu-se invadido pelo desespero. Sem trabalho, não poderia sobreviver. O ardor constante das suas entranhas aumentaria e não queria nem pensar nas consequências para a sua insónia.

– Duas semanas – sugeriu Joe. Talvez pudesse suportar duas semanas.

– Quatro. E se alguém te vir no palco do tiroteio Leventhal ou souber que tentaste entrar em contacto com alguma testemunha, não terás secretária para onde voltar.

Joe sabia que Morgan tinha razão, que tinha de mudar algo, mas separar-se do trabalho não seria a solução. Legalmente, também não podiam obrigá-lo a gozar férias.

– Sabe que não posso sair da cidade – disse Joe, quase a suplicar.

– Talvez seja exactamente disso que necessitas – respondeu o tenente. – Há quanto tempo não sais? Que não tens um encontro? Sei que passaste por um inferno, por isso o melhor é que descanses, que esclareças as ideias e que retomes a tua vida.

– Ou que não volte?

Morgan cruzou de braços.

– Quero o processo do caso e as notas na minha mesa antes que te vás esta noite.

Joe tinha trinta e nove anos e estava há dezanove no departamento de polícia de Los Angeles. Sabia reconhecer uma ameaça de despedimento e sabia que o último que tinha a fazer era discutir com o chefe, especialmente quando este pensava que lhe estava a fazer um favor.

– Quem se encarregará do caso Leventhal?

– Mendes.

– Ainda está muito verde – disse Joe, dissimulando uma careta.

– Tão verde como podias estar tu há sete anos.

Joe ficou mais uma hora a ordenar as suas notas; sabia que não lhe telefonariam para casa com perguntas de trabalho, mas, ainda assim, decidiu facilitar. Em qualquer caso, Mendes estava ao corrente de quase tudo.

Quando Joe deixou a pilha de papéis na mesa do tenente, toda a gente já tinha saído menos eles dois.

– Obrigado – disse Morgan. – Vejo-te depois do Dia de Acção de Graças.

Joe assentiu com a cabeça e virou-se para se ir embora. Apertando os dentes, pensou que pelo menos, Morgan cria que continuava a ser um bom polícia mesmo que não estivesse a lidar bem com a frustração que lhe produzia aquele caso. E a sua vida.

– Telefona-me de vez em quando para dizer-me como vai tudo – disse Morgan.

– Está certo – respondeu, reunindo todas as suas forças para ir-se.

E agora? Ia para casa enfrentar crianças mascaradas a pedir doces? Seria mais fácil limpar as manchas de ovo das paredes de casa. Ia ao Blue Zoo e esquecia-se de tudo com o álcool e a conversa? Não tinha disposição e certamente acabaria nalguma briga.

Quando chegou ao carro viu no banco um convite que recebera há um par de semanas. Tratava-se de uma festa de máscaras em casa de Scott Simons, o oficial que o formou após sair da academia de polícia. Quando Scott se reformou, há doze anos, tornou-se advogado e adquiriu uma sólida reputação por ganhar casos penais difíceis. A festa ia ser na sua casa de Santa Mónica e começaria dentro de uma hora.

Joe tamborilou os dedos no volante. Disfarce e mascarilha obrigatórios, dizia o convite. A ele não lhe agradavam as máscaras, mas na festa de Scott, entre advogados de prestígio e bons clientes, poderia manter o anonimato sem estar só. Era a melhor alternativa, muito melhor do que ficar em casa e beber até perder a consciência, o último que o seu estômago necessitava.

«Retoma a tua vida»; as palavras do tenente ainda ecoavam na sua cabeça.

Ligou o carro e saiu do estacionamento, espantando-se a si mesmo ao pensar onde poderia alugar um disfarce decente às seis da tarde no dia de Halloween.

Aquilo era surrealista, pensou Joe enquanto abanava a cabeça. Rir-se-ia, mas também não lhe parecia engraçado.

 

 

A festa estava no seu máximo apogeu; a música alta e os convidados a desfrutarem. Era o tipo de festa que Arianna Alvarado adorava. Muita gente e muito ruído, para compensar a tranquilidade do seu trabalho diário. Deu um golinho no seu martini e comeu uma das azeitonas verdes que o acompanhavam.

– Tens a certeza que não vai vir? – perguntou ao homem que tinha ao lado.

– Disse-te que era o mais provável – estavam de pé na entrada da casa e Scott não parava de cumprimentar os convidados recém chegados. – Se não pode vestir calças de ganga e botas, certamente que não virá.

– Se acrescentar uma camisa de ganga e um chapéu, tem um traje muito típico.

– Mas continua a ser uma fantasia.

Arianna encolheu os ombros.

– Mas não disse que não, pois não?

– Se pensasse vir, teria telefonado.

Arianna sentiu-se decepcionada.

– Porque não lhe ligas para a esquadra da polícia?

– Isso não me dá jeito.

Scott olhou-a, divertido.

– Portanto, não disseste toda a verdade quando me pediste que o convidasse. É algo pessoal, não profissional.

– É profissional, de um ponto de vista pessoal – concedeu ela, com um sorriso. Aquilo era só assunto seu.

– Gosta de mulheres bonitas. Agradar-lhe-ás muito, Arianna.

– Adulador – respondeu ela. Não pretendia que o investigador Joe Vicente se apaixonasse por ela. Quando se viram pela primeira vez, sentiu-se atraída por ele e pareceu ser recíproco, mas nenhum dos dois fez nada para continuar com aquilo. Foi atracção mútua, juntamente com desinteresse mútuo. Ela não se importou, porque teria sido difícil repeli-lo. E tê-lo-ia rejeitado.

– Disse-te que estás impressionante com esse traje de flamenca? – disse Scott olhando para a enorme rosa vermelha que tinha atrás da orelha. Piscou-lhe o olho. – Não me importaria que dançasses para mim em privado.

Ela olhou-o com cara de ódio, mas, como usava uma máscara supôs que ele não se teria dado conta. Arianna sabia que não tinha nenhum interesse em funções privadas, já que tinha uma linda mulher que adorava, mas, divertida, levantou um braço e fez soar as castanholas por cima da sua cabeça. A saia de folhos chegava-lhe aos joelhos à frente e aos tornozelos atrás. Queria chamar a atenção do investigador Vicente, mas fora um esforço em vão. Com uma gargalhada, deu um carinhoso puxão à peruca branca de rolos de Scott e afastou-se em direcção ao jardim. Ao passar diante do balcão, pediu ao empregado que lhe pusesse mais um palito carregado de azeitonas no martini que lhe duraria toda a noite, e depois afastou-se em direcção à piscina, à procura de um lugar tranquilo para pensar sobre o que faria então. Como poderia conseguir que o investigador Vicente a ajudasse extra oficialmente?

Ela encaminhou-se, pelo atalho que se afastava da piscina, para uma zona de vegetação exuberante, seguindo o som da água até à fonte da qual procedia: uma cascata de rochas escondida numa zona húmida e verde.

Então deteve-se. Acabava de ver um homem vestido de preto ao lado da cascata, perdido nos seus pensamentos. Era alto, magro, com o cabelo preto. Tinha botas altas, calças justas, camisa branca ampla e uma cartola de aba larga. Uma mascarilha cobria a sua cara. Era O Zorro. Tinha a postura perfeita, com um toque da arrogância do Zorro e ela deu por si à espera que desembainhasse a espada e desenhasse um «Z» no ar em qualquer momento.

Intrigada, Arianna ajustou a mascarilha e deu um passo para ele. Talvez ter ido à festa tivesse servido de algo.

 

 

Uma fragrância picante assaltou o olfacto de Joe, criando-lhe uma sensação imediata de calor por todo o corpo. Procurou com a vista a procedência de tão cheirosa flor e então viu uma mulher que se aproximava dele, alta, de cabelo escuro apanhado num monho e um corpo de sonho. A sua máscara era exótica: com um decote pronunciado e alças muito finas, incrivelmente justa às suas curvas, acabava num monte de folhos que sussurravam a cada passo seu. Pernas compridas, saltos altos. Vermelho e preto, renda e cetim. Lábios vermelhos e uma rosa vermelha atrás da orelha, um diminuto sinal junto da boca. Mascarilha preta com debrum de renda e olhos pretos ocultos atrás dela.

Era como se o sexo tivesse tomado forma humana.

– Boa noite – disse ela, com perfeito sotaque espanhol, mostrando os dentes brancos contra os vermelhos lábios.

– Boa noite – respondeu ele, tentando adivinhar a sua idade. Cerca de trinta anos. Não usava aliança.

– Posso fazer-te companhia? – perguntou ela.

Ele, em resposta, estendeu uma mão para ajudá-la a saltar o trecho final de rochas até ao ponto onde ele estava. Os seus seios estavam tão só cobertos por uma fina renda e os seus mamilos marcavam-se contra o fino tecido. Ele tentou olhar-lhe para a cara enquanto ela lhe soltava a mão.

– Obrigada – disse ela, depois olhou ao seu redor. – Isto é lindo, não é? Espero não interromper.

– Pois interrompes, mas agradeço-te.

Ela sorriu.

A voz era-lhe familiar. A sua voz, o seu corpo, aquela segurança em si própria… devia ser uma actriz, decidiu. Talvez a tivesse visto em algum filme. Se tirasse a mascarilha…

– Não puseste a capa, Zorro – disse a mulher.

– Não era uma festa de etiqueta.

O seu riso soava leve e musical, como se tivesse um poder mágico. O ardor que sentia no estômago foi-se acalmando.

– Danças? – perguntou ele.

– Claro. Como toda a gente.

– Quero dizer tal e como estás vestida; flamenco – queria vê-la movimentar-se, voltar a cheirar o seu perfume enfatizado pelo calor do seu corpo. Há tanto que não sentia nada parecido à luxúria que mal pôde reconhecer os seus sintomas: a respiração profunda, o pulso acelerado, o corpo tenso, como se estivesse frente a um sinal de perigo. A precaução que fosse para o diabo.

– Sim – disse ela, com confiança, mas sem se oferecer para fazer uma demonstração. A tensão crescia entre eles. – Conheces o Scott? – prosseguiu ela.

– Só por motivos profissionais – respondeu ele, voltando de repente à vida real. – E tu?

– O mesmo.

Voltou a pensar que ela lhe era familiar. Tê-la-ia defendido Scott em algum caso notório?

Ela fez um gesto apontando para o caminho que levava à zona da piscina.

– Acho que é melhor que me vá embora e te deixe em paz – disse ela, com expressão de desculpa atrás da mascarilha.

– Não – ele agarrou-lhe a mão. Não se apercebera do pouco que tinha falado. Era óbvio que aquilo a fizera sentir-se incómoda. – Tive um dia duro – e uma semana, um mês, um ano. – Pensei que era um sonho.

– Pois sou de carne e osso.

– Estou a ver – não sabia o que mais dizer. Ela era como um farol no mar embravecido e ele queria ir para a luz que emitia, para iluminar a sua existência. Era puro egoísmo, já que não tinha nada para oferecer a uma mulher. Os seus sentimentos estavam mortos, a sua mente transtornada, provavelmente tinha uma úlcera e estava exausto por uma insónia persistente. Além disso, a estabilidade do seu posto de trabalho oscilava…

«Retoma a tua vida». Foi novamente assaltado pelas palavras do tenente, e então decidiu que desejava recuperar a sua vida, mas não como estava dantes, mas para melhor.

A mulher voltou a estudá-lo e ele não desviou o olhar dos seus olhos. Não pôde. Havia algo nela que lhe pedia que a olhasse nos olhos, para que ela pudesse correspondê-lo. Por fim, ela colocou o martini de lado e avançou para ele.

– Danças? – perguntou ela, em voz baixa e suave.

Ele tomou-a entre os braços, consciente da melodia que chegava da casa. O corpo da mulher era leve e ágil. Ele tirou-lhe a flor do cabelo e acariciou-lhe a face com ela; os seus olhos lançavam chispas e ele, ao ver aquilo, sentiu que todo o seu corpo se endurecia de desejo.

Uma alça do seu vestido deslizou pelo seu ombro e ele voltou a colocá-la no devido lugar. Ela não protestou nem o animou a que fora mais além. Ele percorreu a alça com o dedo, para baixo até chegar ao tecido do decote. Podia sentir o seu peito debaixo da mão e notou como a respiração dela se detinha, para depois se aproximar mais dele. Sem deixar de olhá-la, ele inclinou a cabeça procurando a sua boca e…

– Vejo que se encontraram – disse Scott Simons no meio daquele momento mágico.

Joe praguejou uma obscenidade.

Capítulo Dois

 

Arianna sentiu-se adulada pela zanga daquele estranho, mas antes que pudesse perguntar-se o motivo, ele já se tinha desviado para trás. Sentiu alívio e decepção ao mesmo tempo; excitara-se muito e só estava há dez minutos com ele! Tinha de agradecer que Scott tivesse chegado nesse momento, mas…

– Todos já tiraram as mascarilhas – disse Scott, sorrindo como se estivesse à espera de algo.

Arianna olhou para o homem vestido de Zorro. Parecia reticente em tirar a mascarilha, embora talvez estivesse afectado pelo que aconteceu há um instante. Ela dançara com ele porque reconhecera algo nele que nem a sua mascarilha pôde ocultar: uma afinidade entre os dois, o fastio da luta que ela também sentia. Tinham afugentado os pensamentos sombrios um ao outro.

Arianna tirou a mascarilha e ele pareceu deixar de respirar nesse momento. Ela pôde ver como fechava os olhos durante um momento, para depois tirar o chapéu e desatar a mascarilha.

– Sim, encontrámo-nos – disse ele. – Senhorita Alvarado, é um prazer vê-la de novo.

Arianna teria esbofeteado Scott até lhe fazer desaparecer aquele estúpido sorriso.

– Investigador – ela lembrou-se que fora à festa para se encontrar com ele. – Como está?

– Deixo-os a sós para que falem «de trabalho» – disse Scott, antes de afastar-se.

– O que quis dizer com isso? – perguntou Joe.

– Por acaso alguém sabe por que diz Scott o que diz? – replicou ela, apertando os punhos.

Ele esboçou um sorriso.

– O de antes foi interessante.

– Com que então «interessante»… – disse ela, cruzando os braços. Ainda tinha que pedir-lhe um favor. – Normalmente não vou tão rápido.

Ele levantou as sobrancelhas, como se não acreditasse. Voltou a colocar-lhe a flor no cabelo e acariciou-lhe primeiro a orelha e depois o pescoço com as pontas dos dedos, com uma expressão séria.

– Obrigado pela dança.

Ela tremeu e sentiu-se surpreendida. O que lhe estava a acontecer? Mesmo sabendo muito bem como controlar as suas reacções, nem sequer tentou. Sentia a mesma atracção que na primeira vez que se encontraram, em Dezembro passado.

– De nada.

Ela desejava perguntar-lhe por que tinha ido, apesar do que dissera Scott.

– Gosto da máscara que escolheste – disse ela.

– Estou desejoso de a tirar. E tu?

Ela decidiu ignorar a possível segunda intenção da frase.

– Eu estou cómoda na minha – não podia estar com ele a sós nem mais um minuto. Nunca se sentira tão atraída por ninguém, mas se desejava a sua ajuda, tinha de ser profissional e não comportar-se como uma adolescente de trinta e três anos. – Voltamos à festa?

– Está bem – disse ele, quase surpreendido. – Suponho que a tua empresa trabalha para Scott.

– Sim – disse ela. – Trabalhamos juntos há vários anos – ela era investigadora privada há sete anos e a sua empresa, a ARC Segurança e Investigações, trabalhava para muitos advogados da zona, especialmente em casos importantes.

– Eu conheci-o há dezoito anos – disse Joe. – Foi o oficial responsável pela minha formação quando saí da academia e depois continuámos em contacto. Há dois anos que não o via, anda muito ocupado.

– Eu também o vejo sobretudo na televisão – afirmou ela, olhando para os outros convidados. Não lhe falaria do que ia pedir-lhe nessa noite, mas também não queria deixá-lo sozinho, não fosse Scott dizer-lhe algo.

Como não podia ir-se embora até que ele o fizesse e também não podia afastar-se dele, só lhe restava falar.

– Conheces algum dos convidados? – perguntou ela.

– Não. Vieste sozinha?

«Queria ver-te».

– Sim.